PÁGINAS

sábado, 11 de agosto de 2012

AS MÃOS DO MEU PAI


Mário Quintana


As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
 — como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento? Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...
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sábado, 4 de agosto de 2012

CORTAR O TEMPO

                                                          Carlos Drumond de Andrade

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui prá diante vai ser diferente.