domingo, 14 de outubro de 2012

44 ANOS SEM MANOEL BANDEIRA

No dia 13 de outubro de 1968, depois de vários dias no Hospital Samaritano no Rio de Janeiro, morria, aos 82 anos, o poeta pernambucano Manuel Bandeira. Foi sepultado no dia seguinte, no Mausoleu dos Acadêmicos, no Cemitério São João Batista.
Manuel Bandeira nasceu no Recife em 19 de abril de 1886. Desde 1940, pertencia à Academia Brasileira de Letras, quando foi eleito para a vaga de Luz Guimarães Filho, na Cadeira nº 24, que tem como patrono Júlio Ribeiro.

Um de seus últimos poemas:

PREPARAÇÃO PAR A MORTE

A vida é um milagre
Cada flor
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.

Cada pássaro com
sua plumagem, seu vôo, seu canto.
Cada pássaro é um milagre.

O espaço infinito,
O espaço é um milagre,
O tempo infinito,
O tempo é um milagre,
Tudo, menos a morte.
___________
Disponível em: memoria.br.br

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

SONETO (a Fernando Ferreira de Loanda)


                                                  Lêdo Ivo¹

À doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude eu me abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros.

Versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião

Irei, levando uma mulher comigo.
E serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo
____________________

 Poema publicado no suplemento dominical do
   jornal carioca A MANHÃ, em 10 de março de 1946.
   Disponível em: memória.br.br



¹ Ledo Ivo, poeta alagoano nascido em Maceió
   Em 18 de fevereiro de 1924.


  .

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia