COROA DE ESPINHOS
AS ESTAÇÕES
Theophanes Bandão
Na granja de minha alma apenas mora
A lágrima de sangue vegetando
E desferindo cânticos eu ando
— Um crepúsculo eterno à luz d’Aurora.
Qu’estes sorrisos pálidos agora,
São d’alvas ilusões um triste bando,
Que neste coração murcharam quando
O amor batendo as asas foi-se embora!
Vai-me fugindo um resto de conforto,
Eu já não sinto mais, quase que morto,
Trinar um’ave em meus beirais
mesquinhos.
E minha alma a bater de porta em porta,
Aos corações de bem piedade exorta,
Mostrando um peito cravejado d’espinhos!
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Retirado do GERMINAL, Penedo, 30 de dezembro de 1909. AS ESTAÇÕES
Theophanes Brandão
Quando a menina corre pelos prados
Atrás das borboletas... primavera!
O amor corre a teus pés, lança-lhe
flores,
E aos seus ouvidos diz baixinho: —
ESPERA!
Quando a menina no verão ardente,
Mira a rolinha que o pombinho chama,
Ao sol poente, quando a brisa geme,
O amor a c’roa e diz baixinho: — AMA!
E no outono da vida a flor é fruto,
Sombria a mata, a lua é tão saudosa,
A moça é terna, seu amante abraça,
O amor diz baixinho aos seus ouvidos: —
GOZA!
O inverno chega quando tudo é calmo;
O sol da vida já não mais aquece:
Da mulher a beleza é já fanada,
Ela é tão só! E o amor diz baixinho: —
ESQUECE!
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Retirado de GERMINAL, Penedo-AL, 19 de dezembro de 1909.
DILÚVIO DE LÁGRIMAS
Theophanes
Brandão
Quem pode amar, se tem despedaçado
O peito pela mágoa a mais profunda,
Mágoa tão grande que a alma inteira
inunda,
Como um dilúvio todo ensanguentado?
Se tem o coração de lado a lado
Ferido pela lança aguda e fria
Da mais antiga e estúpida agonia
E à nostalgia vive condenado?
Se em lágrima de fel se despedaça,
E vê como entre rolos de fumaça,
Desvanecer-se a antiga fantasia?
Quem pode assim, quem pode, quando
A vida foge e a morte vem chegando
Solene; triste; trágica e sombria?
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Retirado de O CRUZEIRO, Penedo, Alagoas, 28 de
agosto de 1909.
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A AGONIA DO BOÊMIO
(Ao poeta Costa e Silva)
Theophanes Brandão¹
Um verso por um pão, dúzias de rimas,
Grita o boêmio, a cara dos burgueses,
Há nelas, a granel, vícios franceses.
Devassidões excêntricas e opimas.
Volúpia própria de diverso clima,
Verdadeiras cantaridas, às vezes,
Vermelhos e picantes estremezes,
Do que a velhice mais moderna estima.
Chocarrices faceiras, voluptuosas,
Serpentes negras abraçando rosas,
Ações trincando o defendido pomo
Rendilhado à linguagem mais devassa,
Tudo isso por um pão quase de graça;
Mas venha o pão que, há dias, que não
como.
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Retirado de O CRUZEIRO, Penedo(AL), 30 de setembro de 1909.
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¹ Theophanes Martins Brandão foi professor do colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro e autor de belos poemas, dentre os quais se destaca o denominado Trevas e Sóis. Filho de Manoel Martins Brandão e Maria Lusia Brandão, nascem em Porto Real do Colégio, Estado de Alagoas, no dia 27 de dezembro de 1875. Faleceu em Penedo no ano de 1954.
Teophanes Brandão - fonte: Casa do Penedo. Gentil oferta do historiador David Roberto Bandeira.
Revista FON FON, Rio de Janeiro, 25 de abril de 1925. O professor Theophanes Brandão durante a Conferência que proferiu no Centro Alagoano, no dia 19 de abril de 1925, com o tema Os dez mandamentos cívicos” ou “O decálogo da mocidade”