terça-feira, 27 de agosto de 2013

THEOPHANES BRANDÃO

          COROA DE ESPINHOS

                                                      Theophanes Bandão

Na granja de minha alma apenas mora
A lágrima de sangue vegetando
E desferindo cânticos eu ando
— Um crepúsculo eterno à luz d’Aurora.

Qu’estes sorrisos pálidos agora,
São d’alvas ilusões um triste bando,
Que neste coração murcharam quando
O amor batendo as asas foi-se embora!

Vai-me fugindo um resto de conforto,
Eu já não sinto mais, quase que morto,
Trinar um’ave em meus beirais mesquinhos.

E minha alma a bater de porta em porta,
Aos corações de bem piedade exorta,
Mostrando um peito cravejado d’espinhos!

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Retirado do GERMINAL, Penedo, 30 de dezembro de 1909.  

AS ESTAÇÕES

                                       Theophanes Brandão

Quando a menina corre pelos prados
Atrás das borboletas... primavera!
O amor corre a teus pés, lança-lhe flores,
E aos seus ouvidos diz baixinho: — ESPERA!

Quando a menina no verão ardente,
Mira a rolinha que o pombinho chama,
Ao sol poente, quando a brisa geme,
O amor a c’roa e diz baixinho: — AMA!

E no outono da vida a flor é fruto,
Sombria a mata, a lua é tão saudosa,
A moça é terna, seu amante abraça,
O amor diz baixinho aos seus ouvidos: — GOZA!

O inverno chega quando tudo é calmo;
O sol da vida já não mais aquece:
Da mulher a beleza é já fanada,
Ela é tão só! E o amor diz baixinho: — ESQUECE!

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Retirado de GERMINAL, Penedo-AL, 19 de dezembro de 1909.


DILÚVIO DE LÁGRIMAS

                                             Theophanes Brandão

Quem pode amar, se tem despedaçado
O peito pela mágoa a mais profunda,
Mágoa tão grande que a alma inteira inunda,
Como um dilúvio todo ensanguentado?

Se tem o coração de lado a lado
Ferido pela lança aguda e fria
Da mais antiga e estúpida agonia
E à nostalgia vive condenado?

Se em lágrima de fel se despedaça,
E vê como entre rolos de fumaça,
Desvanecer-se a antiga fantasia?

Quem pode assim, quem pode, quando
A vida foge e a morte vem chegando
Solene; triste; trágica e sombria?
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Retirado de O CRUZEIRO, Penedo, Alagoas, 28 de agosto de 1909.

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A AGONIA DO BOÊMIO

(Ao poeta Costa e Silva)

                        Theophanes Brandão¹

Um verso por um pão, dúzias de rimas,
Grita o boêmio, a cara dos burgueses,
Há nelas, a granel, vícios franceses.
Devassidões excêntricas e opimas.

Volúpia própria de diverso clima,
Verdadeiras cantaridas, às vezes,
Vermelhos e picantes estremezes,
Do que a velhice mais moderna estima.

Chocarrices faceiras, voluptuosas,
Serpentes negras abraçando rosas,
Ações trincando o defendido pomo

Rendilhado à linguagem mais devassa,
Tudo isso por um pão quase de graça;
Mas venha o pão que, há dias, que não como.
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Retirado de O CRUZEIRO, Penedo(AL), 30 de setembro de 1909.
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¹ Theophanes Martins Brandão foi professor do colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro e autor de belos poemas, dentre os quais se destaca o denominado Trevas e Sóis. Filho de Manoel Martins Brandão e Maria Lusia Brandão, nascem em Porto Real do Colégio, Estado de Alagoas, no dia 27 de dezembro de 1875. Faleceu em Penedo no ano de 1954.

Teophanes Brandão - fonte: Casa do Penedo. Gentil oferta do historiador David Roberto Bandeira.

Revista FON FON, Rio de Janeiro, 25 de abril de 1925. O professor Theophanes Brandão durante a Conferência que proferiu no Centro Alagoano, no dia 19 de abril de 1925, com o tema Os dez mandamentos cívicos” ou “O decálogo da mocidade” 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

NA PRAIA DA MINHA TERRA

                              Agrippino Ether

Ainda os vejo lá:
            os capacetes agitando,
            coqueiros do Sobral,
soldados,
                        de atalaia,
                                  guardando
                                        enfileirados
A enorme vastidão daquela praia.

O coqueiral!...
             De um lado —Jaraguá;
             do outro lado, tão bonita!
                        a cismar,
de verde toda enfeitada,
             naquela curva infinita,
             —a Pajuçara, sentada
na orla branca do mar.

No meio dessa esplêndida paisagem,
miragem,
             onde cantaram sereias,
              onde rolaram fetiches,
sobre o lençol tão branco das areias,
a reticência negra dos trapiches...

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Publicado na revista Fon Fon, Rio de Janeiro,
23 de janeiro de 1932.


Prof. Agrippino Ether. Foto disponível em:
 

AGRIPINO ALVES ETHER

(São Luís do Quitunde, segundo a informação da AAL. Solange Lages, no discurso de posse, pois o sucedeu, afirma ter nascido em Maceió AL 21/7/1886 (segundo Adalberto Marroquim), ou 23 ou 26/7/1885 ou 1887 - Rio de Janeiro RJ 23/10/1954) Jornalista, professor, dentista, advogado. Filho de Olímpio Dias Ferreira Ether e Francelina Alves Ether. Estudou no Colégio 24 de Fevereiro, depois no Seminário de Olinda e posteriormente no de Maceió, onde terminou o Curso de Filosofia. Bacharelou-se em Letras, no Liceu Alagoano, e logo depois, seguiu para a Bahia. Diplomado em Odontologia (1909), pela Faculdade de Medicina da Bahia. Retorna a Maceió, onde instala sua clínica, tendo sido o primeiro gabinete eletrodentário de Maceió. Mantém, contudo, sua atividade de jornalista, tendo sido um dos fundadores de O Semeador. Por razões políticas muda-se para o Rio de Janeiro. Forma-se em Direito, pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro (1930). Professor catedrático da Faculdade Fluminense de Medicina e da Faculdade Nacional de Odontologia. esta última da então Universidade do Brasil. Membro-fundador da AAL, sendo o primeiro ocupante da cadeira 28, da qual o poeta Franco Jatobá é o patrono. Secretario Geral do Instituto Brasileiro de Estomatologia (1935/36). Professor honorário da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Manaus. Faleceu, repentinamente, quando tinha sido escolhido paraninfo pelos doutorando da Faculdade Fluminense de Medicina. Pertenceu a sociedades científicas nacionais e internacionais. Um dos membros fundadores a Academia Brasileira de Odontologia. Patrono da cadeira n. 97 da Academia Brasileira de Medicina Militar. Dirigiu a revista Brasil Odontológico. Publicou: Inverno, 1920 (palestra literária); Ninféia, 1920 (palestra literária); Homenagem à Memória de Rui Barbosa. Discursos Pronunciados na Academia Alagoana de Letras, Maceió, 1923; Rui Barbosa, 1923 (estudo crítico); Cinzas (poesia); Mentira (poesia); Rictus Faciais no Crime; Moldagem em Prótese Buco-Facial, Rio de Janeiro, Ed. Pongetti, 1935; Silêncio, Rio de Janeiro, Empresa Número, 1931; Escute, Rio de Janeiro, Ed. Borsoi, 1938; Infecções em Foco, Revista Brasil Odontológico, 1925; O Molar dos Seis Anos, conferência na Associação Médica Cirúrgica de Alagoas, 1922; O Mercúrio nas Obturações Metálicas, Revista Brasil Odontológico, 1925; Odontologia ou Estomatologia, tese ao 2o. Congresso Odontológico Latino-Americano, Buenos Aires, 1925; A Luta Contra a Tuberculose, Revista Brasil Odontológico, 1925; Glândulas Endócrinas, livreto, 1926; As Infecções Dentárias. Brasil Odontológico, 3 (1-2): 5, jul. ago. 1926; O Câncer, Tese ao 3o. Congresso Latino-Americano de Odontologia, 1929; Pulpectomia versus Despulpação, Brasil Odontológico, 10(10); 170-172, abr. 1930 ; Um Dente Infectado Como Causa de Êxito Letal, Revista Farmacêutica Odontológica, (3):1/3, out., 1934; Com a .Vida Médica., livreto, 1934; Moldagem, 1935; Antro de Highmore, Revista de Farmácia e Odontologia, 1937; Fraturas Mandibulares, Revista Farmácia e Odontologia, p. 179, palestra no Curso de Preparação da Reserva Odontológica (1942-43); A Diafanização nos Domínios da Anatomia Patológica, Revista Farm. Odont. (88): 1-6, junho, 1948; A Diafanização: Sua Importância e o que a Mesma Nos Revela, (trabalho apresentado à Academia Brasileira do Odontologia (1952). In Agripino Ether (Necrológio), Revista do Sindicato dos Odontólogos do Rio de Janeiro, (2):32-42, out./nov. , 1954. Traduziu: Profilaxia do Câncer de Darier, Lemaitre e Monier, 1925; Cirurgia Oral de Francisco Pucci, 1929; Atlas Anatômico de Baillères, 1929. Teria deixado inéditos: Ururbu e Florilégio.

 
Fonte: BARROS, Francisco Reynaldo Amorim de. ABC DAS ALAGOAS. Disponível em: http://www.abcdasalagoas.com.br/public_html/verbetes


sábado, 10 de agosto de 2013

DIA DOS PAIS

O HERÓI

                              Judas Isgorogota¹

"— Papai, o que é um herói?
Eu pergunto por que tenho grande vontade
De ser herói também ...
Será que posso ser herói sem entrar numa guerra?
Será que posso ser herói sem odiar os homens
E sem matar alguém?"

O homem, que já sofrera as mais fundas angústias
E as mais feias misérias,
Trabalhando a aridez de uma terra infecunda
Para que não faltasse o pão no pequenino lar;

O homem, que as mais humildes ilusões perdera
No seu cotidiano e ingrato labutar;
Aquele homem, ao ouvir a pergunta do filho:
— "Papai, o que é um herói?"
Nada soube dizer, nada pôde explicar...

Tomou de uma peneira
E cantando saiu, outra vez, a semear!
______________

¹ Pseudônimo de Agnelo Rodrigues de Melo, poeta e Jornalista brasileiro. Nasceu em Lagoa da Canoa, Alagoas em 15 de setembro de 1901. Viveu em Maceió, mudou-se aos 23 anos para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo onde ganhou projeção internacional e veio a falecer em 1979. Era casado com Nazira César de Melo, com que teve uma filha chamada Rima, nascida em São Paulo, a 24 de outubro de 1934. Publicou 15 livros de poesias, uma novela e cinco de poesias infantis. Parte de sua obra poética traduzida para vários idiomas (francês, inglês, alemão, espanhol, italiano, húngaro, árabe, checo e lituano). Com toda essa bagagem é quase um desconhecido em sua terra. O poeta teve uma filha à qual deu o nome de Rima Augusta.

sábado, 3 de agosto de 2013

POEMAS


                Jorge de Lima


Remédios,
Carrapetas,
Taramelas,
E há a cana que dá tudo,
Porque dá ao homem triste dessas terras
A alegria cor de brasa da embriaguêz
E o esquecimento cor de cinza que vem dela.
______________

Publicado na revista O Malho-RJ, 20/07/1933.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia