terça-feira, 24 de novembro de 2015

HELENA TAVEIROS, MISS ALAGOAS 1929.

Por Etevaldo Amorim
Enquanto as nações europeias estavam em ruinas e tentavam se recuperar dos drásticos efeitos da Primeira Grande Guerra (1914-1918), os Estados Unidos experimentavam uma fase de grande prosperidade com a produção e exportação de farta quantidade de bens de consumo, dominando mercados em todo o mundo. E foi exatamente essa superprodução que, aliada à alta especulação na bolsa, levaram ao acontecimento conhecido por “Crash de 1929” ou “Quebra da bolsa de Nova York”. Por isso, o dia 29 de outubro daquele ano ficou conhecido como “quinta-feira negra”.
Mas, no início daquele ano, a sociedade americana não tinha ainda sinais do que viria a acontecer e apenas desfrutava da fartura e dos prazeres das noites, em boates e clubes e nos cinemas, que se tornara uma grande diversão. Eram os chamados “loucos anos 20”.
Uma dessas badalações era o Concurso Internacional de Beleza de Galveston, no Texas, região da Costa do Golfo. No Brasil, o jornal carioca A Noite promoveu o Concurso Miss Brasil, cuja vencedora seria eleita representante brasileira no Concurso daquela cidade americana. Os Estados, então, enviariam suas representantes ao Rio de Janeiro, então Capital Federal.
Foi assim que, em março de 1929, um concurso promovido pelo Jornal de Alagoas movimentou a sociedade alagoana e, em especial, a de Maceió. No dia 20, perante vultosa assistência, o Júri se reuniu na Academia do Comércio[i] para a eleição da mais bela alagoana daquele ano.
Composto por Barreto Cardoso, Guedes de Miranda, Jayme d’Altavila, Lourenço Peixoto, Lima Junior, Carlos Garrido e Jorge de Lima, nomes da mais alta respeitabilidade, o Júri elegeu em 1º lugar a Srtª Helena de Miranda Taveiros; em 2º lugar, a Srtª Totola Paes e, em 3º, Luzia Pinto.


Helena Taveiros. Foto: O Malho, Ano XXVIII, nº 1.388, RJ, 20 de abril de 1929, p. 35.

Nascida de uma tradicional família alagoana, Helena de Miranda Taveiros era filha do comerciante Avelino de Alcântara Taveiros e de D. Maria Amélia de Miranda Taveiros (filha do Cel. Manoel Joaquim de Miranda). Seu avô paterno era o Cel. Galdino de Alcântara Taveiros, que foi Deputado Provincial nas legislaturas 1899-1900; 1901-1902; 1903-1904; e 1905-1906; e Secretário da Fazenda no Governo do Barão de Traipu, em 1895. Sua avó paterna, Philomena de Albuquerque Taveiros, era filha do advogado Francisco Remígio de Albuquerque e de D. Leonor Rosaura de Albuquerque, e tia do jornalista Carlos Araújo e do farmacêutico e poeta Cypriano Jucá.


O Cel . Galdino de Alcântara Taveiros. Foto: O Malho, Ano VI, nº 274, RJ, 14 de dezembro de 1907, p. 32.


Avelino de Alcântara Taveiros (pai de Helena) e seu irmão Rutílio de Alcântara Taveiros. Foto. O Malho, Ano VI, nº 236, RJ, 23 de março de 1907, p. 25.

Consagrada como “a mais bela mulher alagoana”, Helena Taveiros estava habilitada a representar o Estado no Concurso Miss Brasil, patrocinado, como já dissemos, pelo jornal A Noite, no Rio de Janeiro, como parte do Concurso Internacional de Beleza de Galveston, Texas, Estados Unidos. Nessa condição, seguiu de trem para o Recife no dia 24 de março, acompanhada pelo seu irmão de Hermes de Miranda Taveiros, onde hospedaram-se no Hotel Central no aguardo da data para o embarque. [i]
No dia seguinte, 25 de março, um grupo de alagoanos ofereceu um jantar à miss no famoso Restaurante Leite, no Recife. O Sr. Leopoldo Rocha, em nome do “Club Rio Negro”, ofereceu-lhe um lindo presente;
Na Capital Federal, toda a colônia alagoana aguardava a chegada da sua miss. Tanto que, a 28 de março, o Cel. Amilcar Nelson Machado, Presidente do Centro Alagoano, recebe o seguinte telegrama do deputado alagoano Luiz Silveira:

“Bordo ‘Arlanza” seguiu senhorita Helena Taveiros proclamada Miss Alagoas. Cordiais saudações”

Embarcou para o Rio de Janeiro a bordo do vapor Arlanza, em companhia do seu irmão Hermes de Miranda Taveiros e da Miss Pernambuco, Srtª Connie Braz da Cunha[ii]. No Rio, as misses ficaram hospedadas no hotel Itajubá, na Cinelândia.
No dia 8 de abril, as 15 Misses[iii] compareceram ao Teatro Lírico, quando lhes foi oferecido um espetáculo de gala com a apresentação da ópera O Guarani, de Carlos Gomes.


8 de abril. O Teatro Lírico lotado para a apresentação das misses. Fonte: A Noite, 9 de abril de 1929.

As candidatas eram, literalmente, decantadas em prosa e verso. A poetisa Luiza Ruas, que também era modista e professora de música no Rio de Janeiro, dedicou esses versos à representante alagoana:
 “Vejo-te altiva, altaneira, convencida de tua missão
Bandeirante da beleza da linda Pátria alagoana
Sinto toda essa beleza ao beijar a tua mão
Como um fluido sereno que do teu ser emana.

Em teu vestido branco com longos fios de prata
Faze lembrar a mais linda cascata
Que maravilha e assombra com as belas cachoeiras,
A Europa, o Novo Mundo e essas terras brasileiras.

És a Uyara misteriosa dessas grutas tenebrosas
Dos pélagos profundos e das montanhas alterosas
De suas quedas d’água, emblema de força e poder,
Deste majestoso país que nos viu nascer.

Em teus braços vivo Brasil e teu manto constelado
Onde o Cruzeiro do Sul nele está assinalado
De belezas incomparáveis, mostrando ao mundo inteiro
O valor, a nobreza do povo brasileiro.

Recebe, pois, ‘Miss Alagoas’, meus sinceros cumprimentos
Pelas excelsas virtudes, pelos nobres sentimentos
Que revelas em tua fina educação
E pela magnitude do teu belo coração. ”

Enquanto Olegário Mariano saudava a representante de Pernambuco, o poeta alagoano Goulart de Andrade oferecia esses versos:

“A Pátria que deu à História
Os marechais da vitória republicana,
Ao prélio da formosura
Manda a beleza mais pura
Para a vitória alagoana.

Vibrem por toda a imensidade,
Não as canções que a guerra inspira,
Mas o louvor da Gran Beldade!

Desfira,
Na argêntea lira
Um canto real. ”

Do mesmo modo, no Jornal das Moças, edição de 2 de maio, uma poesia de Manoel Gregório saudava a nossa miss:

Embaixatriz da graça e da beleza
Da terra dos ilustres Marechais,
Tens um porte fidalgo de princesa,
Tens o encanto gentil dos madrigais!

Teu coração, tão cheio de nobreza,
Teu riso de meiguices magistrais
E teus modos de tanta gentileza
São atrativos que não têm rivais!

Oh! Minha conterrânea ilustre e altiva,
Tu és da nossa terra a flor mais viva,
A perfumar, sorrindo, os nossos lares...

A vitória de tua formosura
Fez-te a Rainha, cheia de candura,
Da hospitaleira terra de Palmares! ...

A prova final para a escolha da Miss Brasil estava marcada para o dia 14 de abril. Porém, o mau tempo fez com que fosse remarcado para o dia 16. O desfile aconteceu no estádio do Fluminense Futebol Clube, que ficou totalmente tomado pelo público, fazendo com que o desfile fosse feito no Salão Nobre, apenas para o Júri.


Membros do júri: Em cima: os pintores Rodolpho Chamberland e Rodolpho Amoedo; Raul Leitão da Cunha, professor de anatomia da Faculdade de Medicina. Em baixo: Escritor Coelho Neto, presidente do Júri; Paulo Filho, Presidente da Associação Brasileira de Imprensa; Escultor Honório Cunha.


Aspecto do Estádio do Fluminense, comportando verdadeira multidão para assistir ao desfile.



Outro aspecto do estádio do Fluminense na final do Concurso. Fonte: revista Fon-fon, Ano XXIII, Nº 17, 27 de abril de 1929, p. 42.


As misses reunidas no Salão Nobre do Fluminense Futebol Clube logo após o desfile perante a Comissão Julgadora. Helena Taveiros é a terceira da esquerda para a direita. Foto: Revista Careta, Ano XXII, Nº 1.087, 20 de abril de 1929, p. 16.

Todas as misses cumpriam intensa programação social: visita a corporações militares, hospitais, escolas, recitais, jantares, etc. E o comércio faturava com presentes os mais diversos, o que era recompensado com generosos anúncios nos jornais e nas revistas.
Helena Taveiros recebeu de membros da colônia alagoana um “mimo”: uma medalha de madrepérola com o busto de Santa Terezinha do Menino Jesus, em rica moldura de platina e brilhante, com cordão do mesmo metal, adquirida na joalheria M. L. Krause e Cia, que foi entregue à miss pelos drs. Frederico Souto, Clementino do Monte, Antônio B. Passos e Povina Cavalcanti. (Diário Carioca, 5 de maio de 1929.)

Helena Taveiros na ocasião em que era homenageada por membros da colônia alagoana na Capital Federal. O quarto e o quinto, da esquerda para a direita, são o Deputado penedense Clementino do Monte e Hermes Taveiros.

Vistas da fachada e do interior da joalheria M. L. Krause & Cia., vendo-seao centro o seu proprietário, Sr.  Max Lewin Krause. Foto: revista Vida Doméstica, ano V, nº 82, novembro de 1926, p. 14.

A Medalha com que Helena Taveiros foi presenteada pela colônia alagoana.


Outro presente lhe foi oferecido pela firma S. R. Soares, estabelecida com confecção de meias na rua Theodoro da Silva, 180-A: uma dúzia de pares de meias finíssimas, marca “Parisette”, de seu fabrico. (A Noite, 13 de abril de 1929) Também a Casa Pereira de Souza (Rua Gonçalves Dias, 4), lhe ofereceu um lindo chapéu de passeio.
No dia 20 de abril, esteve no Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro (O Jornal, 21 de abril de 1929), na Praça da República, em visita a um parente seu que fazia parte da Corporação, o bombeiro Petrônio Correia Gil. Chegando no automóvel do Comandante Maximino Barreto, foi recebida por uma comissão de oficiais composta pelo capitão Athanázio Gomes Vieira e pelos tenentes Hermillo Costa e Silva e Oscar Pires Velloso, sendo saudada pelo Oficial do Dia, Cap. Alexandre Loureiro Júnior.


Helena Taveiros em visita do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal em companhia do seu irmão Hermes Taveiros, penúltimo à esquerda. A seu lado, o Cel. Maximino Barreto, comandante daquela corporação. Revista O Clarão, maio de 1929, p. 27.


No Corpo de Bombeiros, Helena Taveiros ao lado de sua tia e, em pé, o seu primo bombeiro Petrônio Correia Gil, seu irmão Hermes Taveiros e o Tenente Hermillo. Foto: revista O Clarão, junho de 1929, p. 27.


Algumas misses em visita à Escola Nacional de Belas Artes. A partir da esquerda: miss Paraíba, miss Alagoas, miss Pernambuco, miss São Paulo e miss Espírito Santo. Fonte: O Malho, 20 de abril de 1929.



Algumas misses em visita à Escola Nacional de Belas Artes. A partir da esquerda: miss Paraíba, miss Alagoas, miss Pernambuco, miss São Paulo e miss Espírito Santo. Fonte: Revista Careta, Ano XXII, Nº 1.087, 20 de abril de 1929, p. 35.

No dia 23 de abril, visitou o contratorpedeiro Alagoas (A Manhã, 24 de abril de 1929), acompanhada de pessoas de sua família e do Capitão-Tenente Carlos Oscar Guimarães, sendo recepcionada pelo seu comandante, Capitão de Corveta João Bittencourt Calazans e pelo Imediato, Cap. Tenente Eugênio da Costa Mattos. Na ocasião, o comandante mostrou à miss a velha bandeira que a sociedade alagoana lhe oferecera há mais de vinte anos. Um ano depois, Helena presentearia o navio com uma bandeira nova, de bela confecção de costureiras alagoanas.
O comandante proferiu um longo e comovente discurso, que foi respondido pelo Sr. Hermes Taveiros. Em seguida o sargento Henrique Olsen presenteou a Miss com uma fotografia do Alagoas, encaixada em bela moldura. (A Manhã, 24 de abril de 1929).
Enquanto esteve no Rio de Janeiro, a miss Alagoas recebeu uma carta do sentenciado Benedito Carneiro. Dizendo-se tuberculoso, pedia algumas coisas de que precisava: uma colcha, um lençol, um colchão de palha e uma camisa de meia. Helena foi, então, até a Casa de Detenção para atender ao pedido, sendo recebida pelo Coronel Meira Lima, Diretor daquela Instituição. (Gazeta de Notícias, RJ, 4 de maio de 1929, p. 2.)
Antes de deixar o Rio de Janeiro, visitou a redação de A Note, ocasião em que deixou impressões sobre a sua participação no Concurso:
“Ainda me encontro sob a impressão de deslumbramento, que desde a minha chegada a esta Capital toda me domina, e me guia os passos e me inspira as palavras. O concurso de beleza, que poderia sido, sem dúvida, uma simples parada de vaidade, uma grande festa de caráter fútil, o povo brasileiro o transformou em uma formidável demonstração de civismo. Sentiu-o durante todo o desenrolar da campanha e disso estou, no momento, convencida. O carinho, o entusiasmo, a exuberância da alma que nos cercaram, dia a dia, desde o primeiro até o instante em que parto, são disso a melhor prova. E nós outras, investidas das representações, que poderíamos ter considerado o caso como um pretexto de entretenimento, sentimos todas que a representação nos trouxe, ao contrário, responsabilidades seríssimas perante nossos Estados e o Brasil, responsabilidades que continuam. Eu, por mim, desejaria, até não sei quando, viver imaterialmente uma vida de beleza, uma vida de símbolo...”
Perguntada se partia saudosa, Helena respondeu:
“Mas, de certo! Eu padeço a nostalgia da minha terra. Não só do meu Estado, mas também, e principalmente, do meu recanto natal, da cidade que me viu nasceu e me assiste. Aqui, igualmente, sinto essa nostalgia a me doer no espírito, a me solicitar, a me acenar, de longe. Entretanto, o fulgor desses dias de alegria, de cordialidade e, por que não dizer, de glória, cercada do aplauso do povo, sinto-o em mim como uma fascinação irresistível. Eu, que receara desmerecer-me, sinto-me engrandecida pela nobreza e pelo resplendor do torneio. E, repare, eu que sobro no momento a nostalgia da minha terra, tenho a certeza de que partirei para a minha terra com as lágrimas nos olhos e o choro no coração”.
E, de fato, diz o jornal, Helena Taveiros “Miss Alagoas” partiu chorando do Rio.
Cumprida a sua missão, a 10 de maio, Helena embarcou de regresso a Maceió pelo vapor Pará, do Lloyd Brasileiro, em companhia da Miss Piaui, Antônia de Arêa-Leão, que depois seguiria para seu Estado.


Embarque de Helena Taveiros no porto do Rio de Janeiro. Foto: A Noite, 10 de maio de 1929.



Embarque de Helena Taveiros no porto do Rio de Janeiro. Foto: Revista Careta, Ano XXII, Nº 1.087, 20 de abril de 1929, p. 16.

Misses Rio de Janeiro, Alagoas e Pernambuco. Foto: Revista Careta, 6 de abril de 1929, p. 13.


A No dia 13, tocando o “Pará”, do Lloyd Brasileiro, o porto de Salvador, as duas misses desceram para um breve passeio. À tarde, as colônias de Alagoas e Piauí, sediadas na Bahia, ofereceram um chá dançante a bordo.
No dia 14 de maio, por volta das 15:00 horas, Helena desembarcava em Maceió, sendo recebida por cerca de duas mil pessoas. Depois de ser saudada pelo estudante Carlos Duarte, tomou lugar na limousine do Governo do Estado, onde estada o governador Álvaro Paes que, em companhia de sua irmã Mariazinha Paes, a levou para a sua residência, onde foi festivamente recepcionada. Também a bordo do Pará, veio a miss Piauí, Srtª Antônia Arêa-Leão, que também se dirigiu à residência do governador no luxuoso Pockard da Prefeitura, oferecido pelo Prefeito em Exercício, Dr. José Carneiro.
Um extenso cortejo de automóveis e bondes se formou no trajeto entre o porto e a casa da miss. Ali, então, foi novamente saudada pelo estudante Raul Lima que, em nome dos que a receberem, lhe ofereceu “um caro anel de platina e brilhantes” e “um rico relógio-pulseira de platina e ouro”, diz o jornal pernambucano A Província, acrescentando ainda:
Miss Alagoas será ainda homenageada com um baile na sede dos ‘Alliados’ e outro na sede do C. R. B, um five-o-clock no Café Continental e uma consagração artística no cinema Capitólio”. De fato, o Club dos Alliados ofereceu um ‘Café Paulista’, com a presença do Governador Álvaro Paes, ocasião em que foi saudada pelo orador do Club, Sr. Lauro Jorge.”
Segundo José Franklin Casado de Lima, em “Maceió, década de 20”, Helena Taveiros teria participado do filme “Casamento é negócio? ”, produzido pela Gaudio Filmes e financiado pela Companhia Petróleo Nacional, com direção, argumento e fotografia de Guilherme Rogato. Trata-se de um curta metragem com locação na Praça Deodoro, Sítio Leopoldis, Praça D. Pedro II e lagoa Manguaba, um dos primeiros filmes feitos em Alagoas. Entretanto, o site da Cinemataca Brasileira (cinemateca.gov.br), não traz no Elenco o nome de Helena Taveiros, mas de Morena Mendonça, que, aliás, é o nome da personagem principal. O filme, ainda disponível na internet, mas em péssimo estado, traz ainda no cast: Bonifácio da Silveira (o major Bonifácio), Luis Girard, Moacir Miranda, Josefa Cruz, Agnelo Fragoso, Orlando Vieira, Armando Montenegro, Antônio Portugal Ramalho e Claudio Jucá. (Fonte: http://www.brasilbrasileiro.pro.br/jfranklin.pdf).

***  ***  ***
A grande vencedora do concurso foi a Miss Distrito Federal (miss Botafogo), Srtª Olga Bergamini de Sá[i], que foi a Galveston representando o Brasil. A Miss Universo foi a representante da Áustria, Srtª Lisl Goldarbeiter. Mas essa já é uma outra história.


Miss Brasil, Olga Bergamini de Sá, ao lado do Embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sr. Sylvio Gurgel do Amaral. Fonte: Museu Histórico Nacional.


Miss Áustria, Srtª Lisl Goldarbeiter (Viena, 23/03/1909, Budapest, 14/12/1997), eleita Miss Universo 1929.






[i] Olga Bergamini de Sá, filha do comerciante português Francisco Marques Ferreira de Sá (que se suicidou em 29 de julho de 1931) e da italiana Luiza Bergamini de Sá e sobrinha do Deputado Adolfo Bergamini. Casou-se, em 1935, com o Dr. Danilo Bracet. Nasceu no dia 8 de maio de 1911 na vila Martins Mota, Rua do Catete, nº 92, casa XXII, Rio de Janeiro.











[i] Diário de Pernambuco, 26 de março de 1929.
[ii] Constance Braz da Cunha (1911-1997), representante da Associação Pernambucana de Atletismo, filha de uma inglesa rica. Ficou hospedada no Copacabana Palace.
[iii] Edna Frazão Ribeiro, Amazonas; Elza Bezerra, Pará; Maria Nazareth Silveira, Ceará; Connie Braz da Cunha, Pernambuco; Helena Taveiros, Alagoas; Marieta Reivas, Rio de Janeiro; Olga Bergamini de Sá, Distrito Federal; Didi Caillet, Paraná; Bia Ortiz, Rio Grande do Sul; Nelly Menezes, Sergipe; Nair Pedreira de Freitas, Bahia; Jesuina Pimentel Marinho, Minas Gerais; Yvone de Freitas, São Paulo; Glycia Serrano, Espírito Santos; Eimar Pinto Pessoa, Paraiba; Zulma da Costa Freyerleben, Santa Catarina; Marietta Relvas, Estado do Rio de Janeiro; Maria de Lourdes Pantoja, Maranhão; Hilda Netto, Paraíba; 






[i] Instituição de ensino mantida pela Sociedade Perseverança e Auxílio dos Empregados do Comércio.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

VIRGÍLIO MAURÍCIO — GENIAL E POLÊMICO

Por Etevaldo Amorim
Considerado uma das mais destacadas personalidades do meio artístico brasileiro nas primeiras décadas do século XX, este alagoano se notabilizou pelo seu talento para a pintura, revelado ainda na sua juventude em Maceió como discípulo do talentosíssimo Rosalvo Ribeiro.

VIRGÍLIO MAURÍCIO DA ROCHA nasceu em Lagoa da Canoa, então município de Traipu, a 4 de abril de 1892. Filho do Coronel Antônio Maurício da Rocha e de D. Maria José de Melo Rocha, tinha como avós paternos Manuel Maurício da Rocha e Jardulina Maria da Conceição e, maternos, Bruno José de Melo e D. Rita da Fonseca Barbosa.
O pintor Virgílio Maurício. Foto: Revista da Semana, Ano XIX. Nº 12, RJ, 27 de abril de 1918, p. 21.

Cel. Antônio Maurício da Rocha e D. Maria José de Melo Rocha, pai e mãe de Virgílio Maurício. Fonte: Revista Genealógica Latina, Vol. 8, 1956.

Seu pai, o Coronel Antônio Maurício da Rocha, que foi Deputado Provincial, era comerciante muito conhecido e acreditado em Lagoa da Canoa. Em 1897, mudou-se para Maceió estabelecendo-se em Jaraguá, na Rua do Saraiva, no ramo de comissões e consignações, incumbindo-se de transações de compra e venda de açúcar, algodão, couros e cereais. Em 1899, tornou-se proprietário da Loja Louvre, na Rua do Comércio, 130. Essa loja era vizinha do famoso Café Colombo (que ficava na esquina da Rua do Comércio com a Rua Tibúrcio Valeriano, antigo Beco São José). Antes, chamava-se Casa Silva Cravo & Cia, até ser inaugurada no dia 24 de agosto de 1896, já tendo como proprietário José Custódio & Cia. Em 1º de agosto de 1907, constituiu nova sociedade mercantil, em sociedade com Aureliano Barbosa, denominada Maurício & Cia, localizada na Rua do Comércio, 122.


A Loja Louvre em 1905, essa com o poste à frente, de propriedade do Coronel Antônio Maurício da Rocha, pai de Virgílio Maurício. Foto: Maceió antiga: Disponível em: www.facebook.com/MaceioAntiga/photos.

Em 1905, o menino Virgílio entrava no 1º Ano do Colégio Diocesano, sob a direção dos Irmãos Maristas, obtendo excelente aproveitamento nos exames. Ali já participava nas atividades culturais e religiosas, como na visita do Bispo D. Antônio Brandão ao colégio, no dia 29 de novembro de 1905, em que recitou “O Livro e a América”, de Castro Alves.
Em 15 de maio de 1910, aconteceu, nos salões do Lyceu Alagoano, uma exposição de pintores e pintoras discípulos de Rosalvo Ribeiro. Virgílio Maurício expôs ali os trabalhos: “Velho octogenário”, “Demócrito”, “Depois de caça”, “Lavando a boneca”, “Perfil”, “Estudo”, “Praia estrangeira”, “Neve”, “Pôr do sol”, “Paisagem”, “Rosas amarelas”, “Limões portugueses”, “Malvaiscos”, “Os cormorans” e “Ataque a um comboio”. Ao lado dele estavam: Joaquim Brígido, Armênia Coelho, Maria José Mafra, Dulce de Vasconcelos, Laura Duarte, Lucila de Vasconcelos, Nina Viana, Alice Duarte, Maria Almeida (Dandy). (Fonte: jornal O Norte, órgão do Partido Civilista das Alagoas).
Seguiu, no dia 5 de julho de 1910, para o Rio de Janeiro, onde já iniciara o Curso de Medicina[i].
Em 1911, cinco dos seus quadros já tinham sido expostos em Paris e no Rio de Janeiro, obtendo valorosas premiações. (Fonte: Gutenberg, 19 de fevereiro de 1911), mas sua primeira exposição em Maceió aconteceu na Sede da Sociedade Perseverança e Auxílio, cujo vernissage se deu a 23 de março de 1911, tendo a ela comparecido Eusébio de Andrade, Guedes Lins, pelo Jornal de Alagoas; Augusto Andrade, Gilberto Andrade, Alípio Goulart; Luiz Monteiro; Carlos Rubens, pelo Correio de Maceió; Lima Júnior, pela Argos; Messias de Gusmão, Galba Paiva, pelo Correio da Noite; e Menezes Júnior, pelo Gutenberg.Entre os dias 25 de março e 10 de abril, realizou-se a Exposição propriamente dita, a cuja abertura compareceu e a presidiu o Governador do Estado, Euclides Malta, e outras altas personalidades da sociedade maceioense. Foram adquiridos os seguintes quadros: “Praça da República”, pelo Dr. Goulart de Andrade; “Praia de Paquetá”, pelo Dr. Guedes de Miranda; “Rio Petrópolis”, pelo Cel. Manoel de Mello Barbosa; “Copacabana”, pela Srtª Izaura Alves; “Jardim Botânico” e “Quinta da Boa Vista”, pelo Governador Euclides Malta. A tela “Ataque a um comboio” não foi exposta porque estaria prometida ao Marechal Hermes, que pretendia adquiri-lo para ornamentar a Sala Nobre do Clube Militar.

Parte da exposição num dos Salões da Sociedade Perseverança e Auxílio dos Empregados do Comércio, em Maceió. Foto: O Malho, Ano X, Nº 458, Rio de Janeiro, 24 de junho de 1911, p. 44.


Em 1912, realizou concorridíssima exposição em Belo Horizonte, ocasião em que foi vivamente prestigiado pela elite cultural mineira. Um dos seus quadros, o “Praia do Icarahí”, foi adquirido pelo Governo do Estado de Minas Gerais, por intermédio do Secretário do Interior, Dr. Delfim Moreira (que depois se tornaria Presidente da República, na condição de Vice-Presidente, após o falecimento do Titular Rodrigues Alves).

Vernissage da exposição de Virgílio Maurício em Belo Horizonte. À frente, da esquerda para a direita: Borges Fleming; Jorge Modesto; Gustavo Penna; Correia e Castro; Virgílio Maurício, de branco; Augusto de Lima; Horácio Guimarães. Em pé, na mesma ordem: Renato de Lima; Carneiro de Castro; Egberto Prado Lopes; Heraldo Lima; Celso Wernech; Costa Junior; José das Neves; A. de Paula Lima. Fonte: O Malho Nº 499, Ano XI, Rio de Janeiro, 6 de abril de 1912.

Também nesse ano, em 8 de junho, fez exposição em Belém, do Salão Nobre do Teatro da Paz, ao final da qual cedeu 21 quadros, entre eles o “Ataque ao comboio” por 10:000$000 Rs (dez contos de réis) à Intendência de Belém e ofereceu para o Palácio do Governo do Pará o quadro “Calma da tarde”, que figurou na Exposição de Belas Artes de São Paulo. A 12 de julho chegou ao Recife.
Ainda em 1912, realiza nova Exposição em Maceió com enorme concurso de visitantes. O Jornal do Recife de 5 de setembro informa que ele teve, em Alagoas, “o melhor acolhimento, tendo-lhe dedicado uma edição especial o Correio de Maceió”.
A 8 de setembro, embarca no vapor inglês Avon para a Paris (Jornal do Recife, 5 de setembro de 1912), anunciando que pretendia concluir o quadro “Retirada da Laguna”, inspirado no romance de Visconde de Tounay, cujo tema é um episódio da Guerra do Paraguai.


Exposição de quadros de Virgílio Maurício em Maceió. Sentados, da esquerda para a direita: Cônego José Maurício, Secretário do Bispado de Maceió, irmão do pintor; Cel. Antônio Maurício da Rocha, seu pai; Srª Marieta Fonseca, esposa do Governador; Governador Clodoaldo da Fonseca; Virgílio Maurício; Dr. Helvécio Limoeiro, Secretário Particular do Governador; Leonino Corrêa e Cypriano Jucá. Foto: O Malho, RJ, Nº 521, Ano XI, 7 de setembro de 1912.

Em 1913, Virgílio Maurício expôs no Salon des Artistes Français, no Grand Palais de Paris, sob a presidência de Beaumetz, conquistando medalha de bronze com o quadro “Aprés de réve” e sendo felicitado pelos artistas Léon Bonnat, Carolus Duran. Expôs: “L’heure de souter”, “Dans de réve”, “Aprés le réve” e “More, le garçon boucher”.
Em 26 de setembro de 1914, embarca em Bordeux, França, chegando ao Brasil no dia 12 de outubro, a bordo do paquete Flandre, em sua primeira viagem à América do Sul. Esse navio, da Compagnie Générale Transatantique, veio especialmente para trazer os brasileiros e argentinos que desejavam sair da Europa, no início da Primeira Grande Guerra.
No dia 11 de novembro de 1914, Virgílio Maurício volta a Maceió, mas passa a residir do Recife, onde, em 1915, inaugura seu atelier no nº 54 da Rua de Santa Cruz, bairro de Boa Vista. O jornal A Província (5 de maio de 1916) noticia que o artista está pintando, em seu atelier no Recife, um novo quadro a que chamou de “Após o baile” e informa que uma rapariga rumaica se prestou a ser modelo. Do mesmo modo, o jornal carioca A Lanterna, dirigido por Costa Rego, também diz que o quadro foi pintado publicamente, “confundindo seus inimigos”. Foi ali que, em 1917, ele recebeu a visita do General Dantas Barreto, que houvera sido Governador do Estado de Pernambuco e era também homem de letras. Ele se interessava pelo quadro “Após o baile” e outros que retratavam paisagens do Recife: “Praia de Olinda”, “Tacaruna”, “Um trecho de Dois Irmãos”, “Estudos de Monteiro”, “Fortaleza do buraco – dois estudos”. (Jornal do Recife, 29 de janeiro de 1917).
Em 1923, Virgílio Maurício passou a fazer parte das bancas examinadoras do Instituto Moderno de Educação e Ensino, em Minas Gerais, nomeado pelo Conselho Superior de Ensino, educandário dirigido pelo professor Henrique del Castilho. Entre os seus colegas de Banca está o também jornalista Pereira Rego[i], um dos fundadores do jornal O Globo, juntamente com Irineu Marinho.


Professores do Instituto Moderno de Educação e Ensino, em Belo Horizonte. Na fila da frente, da esquerda para a direita: Prof. Mário França; Prof. Jayme de Barros Gomes; Virgílio Maurício; Dr. João Alfredo Pereira Rego, Inspetor do Governo Federal; `Prof. Henrique del Castilho – de branco, Diretor do Instituto; Prof. Souza Lima e Prof. Alípio de Barros. No plano superior, na mesma ordem: Prof. Oliveira Braga; Prof. Lopes Cançavo; Prof. Eurico de Miranda Gomes; Prof. Ferreira de Abreu; Prof. Luiz Quirino de Magalhães Gomes; Prof. Goertz; Prof. Vellozo Rebello; Prof. Francisco Malta; Prof. Anníbal Costa e Prof. Aldimir São Paulo. Foto: Revista Fon-Fon, Ano XVII, Nº 1, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1923, p. 41.


No dia 8 de agosto de 1925, um sábado, no Salão Nobre do Club Juiz de Fora, Virgílio Maurício proferiu Conferência sobre o famoso escultor mineiro “O Aleijadinho”. Belmiro Braga[i], que faria a sua apresentação ao público, mas não podendo fazê-lo por motivo de viagem, justifica-se em carta, da qual se extrai as seguintes impressões:
“... não é de hoje que sou um grande devoto de tua alma e de teu talento e eu sinto não ter ocasião de dizer em público o que vales como pintor exímio da pena e do pincel. Lê aos meus patrícios estas duas rápidas linhas e recebe as palmas que antecipadamente aqui te envio.  – Abraços do coração do admirador e amigo. ”
Em 1926, realiza uma Exposição no Rio de Janeiro, em que são exigidos 65 quadros. Nesse mesmo ano, forma-se em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, que havia interrompido em maio de 1912, quando da sua mudança para a Europa.
Em 1932, foi recebido em audiência pelo General Carmona (António Óscar de Fragoso Carmona – 1860-1951), Presidente da República de Portugal. Em Lisboa, foi homenageado pelo Sindicato Nacional de Imprensa, oferecendo-lhe, em sua sede social, um posto de honra. Nessa ocasião, foi saudado pelo escritor e bibliógrafo Albino Forjaz de Sampaio (1884-1949) e por Maria Amélia Teixeira, diretora da revista Portugal Feminina.
ACUSAÇÕES
Seu nome frequentou as colunas dos jornais e revistas do seu tempo com tal profusão que seria capaz de aturdir o mais perspicaz dos pesquisadores, particularmente pela diversidade de opiniões a seu respeito, estabelecendo-se um confronto entre as manifestadas por seus admiradores contra aquelas propaladas por seus críticos, que chegaram até a o acusarem de plagiário.
Diziam, por exemplo, que o seu quadro “Cabeça de velho” era, na verdade, de autoria de Rosalvo Ribeiro. E que Rosália Sandoval, grande poetisa alagoana, teria visto o mestre Rosalvo “retocar” a famosa tela. (Fonte: semanário A.B.C, Ano II, Nº 58, Rio de Janeiro, 15 de abril de 1916.
Do quadro “Assalto a um comboio”, adquirido pela municipalidade de Belém, diziam ser uma cópia do famoso quadro do pintor francês Eduardo Detaille: “L’Assant”.
O pintor Guttmann Bicho, em carta publicada no vespertino Sete Horas, o acusava de comprar quadros de artistas menos conhecidos e neles apor a sua assinatura.
Em contraposição a essas acusações, que não nos é possível aqui apurar se são verdadeiras ou apenas fruto de intriga ou despeito, acorrem em sua defesa muitos cronistas e críticos de arte.
O jornalista Gustavo Barroso, sob o pseudônimo de Jotaenne, emite opinião sobre ele na revista Fon-Fon, de 28 de abril de 1917:
“Virgílio Maurício, o autor de “Aprés le réve” e “L’heure du Gôuter”, que os catálogos franceses estampam, montou seu atelier no Recife e, sem que ali tenha aparecido qualquer artista misterioso, e sem a possibilidade de virem quadros da Europa, pintou uma tela famosa – “Aprés le bal”. Os seus amigos viram-no pintar. Visitantes ilustres surpreenderam-no de palheta na mão, os pinceis osculando as carnes nuas duma figura de mulher em tamanho natural. Toda a capital pernambucana conhece a criatura que lhe serviu de modelo e reconhece nas formas pintadas as formas verdadeiras, salvo as modificações artísticas e imprescindíveis. Da rua do Crespo à da Imperatriz, dos Afogados à Lingueta. Da Madalena ridente e sossegada à Olinda vetusta e monacal, ninguém ignora os fatos aqui sucintamente expostos”.
Ronald de Carvalho, em O Jornal, Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1919, p. 6:
“Pesados os argumentos, balanceadas as manifestações pró e contra o Sr. Virgílio Maurício, que restará no conceito de um espírito imparcial, sereno e amigo da verdade? De um lado, a sua obra, de outro um acervo de negações que vão, desde a desconfiança honesta e natural, até a injúria pessoal, párvula e mesquinha. Eu não procuro defender nem atacar o artista em questão, quero deixar patente que só um desejo de justiça move a minha pena, preparada há muito tempo para aplaudi-lo ou vergasta-lo impiedosamente, caso tudo quanto se propala a seu respeito se verifique. ”
Ainda sobre ele falou o cronista Oscar Lopes, n’O Paiz:
“Não há, nunca houve na vida artística do Brasil, fenômeno mais interessante, mais complicado, mais perturbador, e, certas vezes, mais apaixonantes das opiniões do que o que envolve, como uma estranha e disparatada atmosfera, a um tempo de tempestades furibundas e gloriosas iluminações solares, a personalidade de Virgílio Maurício, festejado entusiasticamente por uns como o pintor felicíssimo de alguns quadros de mestre e, por outros, dura e violentamente atacado por lhe emprestarem todo o desplante e toda a criminosa audácia do maior mistificador da nossa época.”
Sobre ele falou o jornalista Costa Rego, em sua coluna de 19 de junho de 1911, no Correio da Manhã:
“Onde o jovem artista brasileiro se revela muito discreto e fiel é nos seus estudos de modelo vivo. Ele não procura poses e atitudes falsas. Seus nus são de um apuro esmerado: não têm exageros de tintas; são, antes, servidos de uma sobriedade excelente, sem efeitos de luz desastrados. Não foram demasias os encômios que Gonzaga Duque, um dos nossos mais reputados críticos de arte, lhe dispensou”.
Romeu de Avelar[ii] também escreveu sobre ele n’O Pharol, jornal mineiro de Juiz de Fora, em 19 de agosto de 1922:
“Virgílio Maurício é, quer queiram quer não, um dos vultos mais concretos de pintores que o Brasil tem tido. Mais tarde, quando morrer o homem, os seus detratores serão os primeiros a colocar-lhe sobre a cabeça silenciosa a palma do acanto – glorificadora inútil da posteridade! ”
RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA E A SOCIEDADE

Um fato há que ser ressaltado: Virgílio Maurício sabia muito bem divulgar o seu trabalho. Desde os tempos de Maceió, utilizava-se da amizade com jornalistas para pôr em evidência a sua arte.
Por vezes, em viagem, como na que empreendeu ao Estado do Pará, em 1912, ao parar o vapor “Alagoas” em São Luiz, visitou o jornal Pacotilha, o que motivou a notícia da sua passagem, na edição de 6 de junho daquele ano.
Doutra feita, estando em Portugal, ofereceu ao ganhador um artístico bronze, num jogo entre o Vasco da Gama e o Futebol Clube do Porto, chamado à época de “Portuense”, no Estádio Lima, na cidade do Porto, no dia 19 de julho de 1931, em que o time carioca perdeu por 3 x 1, sob a assistência de 18 mil pessoas.



Virgílio Maurício, em Maceió, entre os jornalistas Leonino Corrêa e Cypriano Jucá. Fonte: O Malho, Nº 522, Ano XI, Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1912.

À época da publicação do seu livro Algumas Figuras, reuniu-se com um grupo de amigos, entre eles o poeta, escritor e jornalista Álvaro Moreyra, pai do também jornalista Sandro Moreyra e da jornalista da Rede Globo Sandra Moreyra, falecida ontem.


Virgílio Maurício, em Maceió, entre os jornalistas Leonino Corrêa e Cypriano Jucá. Fonte: O Malho, Nº 522, Ano XI, Rio de Janeiro, 14 de setembro de 1912.

Por ocasião do seu aniversário de 27 anos, a viúva Almirante Velho[i] (Ernestina dos Santos Velho), ofereceu-lhe alegre recepção em sua residência, na Sorocaba, nº 64, em Botafogo. Ao piano, as senhoritas Elvira Leni de Souza e Julinha Dias; em harpa, a virtuosa senhora Sinay; ao violino Júlio Nascimento; Mimi Andrade, executou composições francesas. Após o concerto, a dança até de manhã: presentes: Senhoritas Palmyra Leal de Souza; Julieta Velho, Julinha Dias, Mimi de Andrade, Eugênia Keller, Marieta Velho, Sulamita da Cunha, Celina de Aquino e Castro e Miryan Sinay. Senhoras: Viúva Almirante Velho, Madame Ministro Navarro, madame Andrade Leal de Souza. Cavalheiros: Comandante Velho Sobrinho, Comandante Leal de Souza, Clyto de Souza Lima, Luciano Saldanha, Gomes Barbosa, Dionísio Dutra, Eurico Mattos, Pontual Machado, Manoel Souza Lima, Antônio Reis Keller, Júlio Nascimento, etc.


Recepção a Virgílio Maurício (5º em pé, da esquerda para a direita) na residência da Madame Viúva Almirante Velho (Antônio Francisco Velho), por ocasião do seu aniversário, em 4 de abril de 1919.O 7º é Pontual Machado. Fonte: Revista Fon-Fon, Ano XIII, Nº 16, Rio de Janeiro, 19 de abril de 1919, p. 37.

No dia 5 de agosto de 1923, Virgílio Maurício ofereceu um almoço, no Palacete Hotel, ao colega jornalista Victor Hugo Aranha, Secretário do jornal carioca Gazeta de Notícias. Lá estavam: o Mal. Carneiro da Fontoura, Chefe de Política; o Dr. Wladimir Bernardes, que se tornaria no ano seguinte sétimo Presidente da CBD-Confederação Brasileira de Desportos; o Senador alagoano Euzébio de Andrade; os poetas Amadeu Amaral, Olegário Mariano, Osório Duque Estrada e Coelho Netto; Claudio de Souza; os jornalistas Cândido Campos, Porto da Silveira; Álvaro Moreyra; Georgino Avelino; Belisário de Souza; e Dr. Maurício Sobrinho, médico primo do Virgílio Maurício.


Da esquerda para a direita: Dr. Antônio Eugênio Arêa-Leão; Virgílio Maurício; Dr. Joaquim Vidal; Dr. Duarte Pinto; Dom José Maurício da Rocha - bispo de Corumbá, irmão de V. M.; Dr. Raul Leitão da Cunha; o Engenheiro Miguel Maurício da Rocha, também irmão de V. M. Fonte: Revista da Semana, Ano XXV, nº 48, Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1924, p. 29.

Não raro, deixava-se ouvir ao piano, como em uma homenagem que o governador catarinense Hercílio Luz prestou a Dom Joaquim de Oliveira, Bispo de Florianópolis, no dia 4 de dezembro de 1921. Na ocasião, executou “Adágio da Sonata Clair de Lune”, de Beethoven e um “Estudo para a Rhapsódia” de Listz.
O ÚLTIMO ANO.
Ainda no início do ano de 1937, foi acometido de uma infecção no olho esquerdo, que o afastou de suas atividades artísticas e literárias por um bom período, conforme noticia o JORNAL PEQUENO, de 12 de janeiro daquele ano; funda a revista O MENSÁRIO DA ARTE, em São Paulo e participa da exposição do Grupo Almeida Junior, no Palácio das Arcadas, em São Paulo.
Faleceu no dia 14 de dezembro de 1937, na Casa de Saúde São Lucas, em Belo Horizonte, no momento em que se submetia a uma operação.
Findava assim uma vida, pode-se dizer breve; mas intensamente vivida desse filho de Lagoa da Canoa. Aliás, essa terra alagoana, hoje um município de 18.343 habitantes, revelou grandes artistas e literatos: além do próprio Virgílio Maurício, os seus irmãos: Dom José Maurício da Rocha, bispo de Corumbá e Bragança Paulista; Miguel Maurício da Rocha, Matemático e professor da Escola de Minas de Ouro Preto e banqueiro (Acionista e Diretor do Banco da Lavoura em São Paulo. Esse Banco foi, na década de 1970, dividido em dois: Banco Real e depois Santander; e Bandeirante, depois Unibanco e depois Itaú); Agnelo Rodrigues de Melo, jornalista e poeta, que usava o pseudônimo de Judas Isgorogota; e o músico Hermeto Pascoal.
Nas suas múltiplas atividades, foi jornalista e crítico de arte, escrevendo para os jornais A Gazeta (SP), A Época (RJ); A Batalha; A Gazeta (SP), A Época (RJ), A Batalha, entre outros. Foi ainda Diretor da sucursal paulista da revista O Mundo Ilustrado.
Escreveu os livros: Algumas Figuras, Outras Figuras, O Trapézio da Vida, Da Mulher, Ouvindo a Ciência e Treze Meses em Portugal.
Pouco lembrado em sua terra, registre-se que há uma rua com seu nome (Rua Virgílio Maurício da Rocha na Chã do Bebedouro).


PARTE DE SUA OBRA:

Cabeça de velho. Fonte: revista Fon-Fon.

Amolando a foice. Gazeta de Notícias, 04.05.1912.

Couraceiros franceses. Revista FON-FON, Ano VIII, Nº 48, Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1914, p. 27.
Recebendo a visita do mestre francês Jean Paul Laurens em seu atelier à Rue de Beaux-Arts, em Paris. Fonte: Revista Fon-Fon, Nº 46, Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1914, p. 60.

Atelier de Virgílio Maurício, vendo-se o famoso quadro “Depois do baile”. Revista da Semana, Ano XIX, Nº 12, Rio de Janeiro, 27 de abril de 1918, p. 21.


Depois do Banho

DIVA, quadro de V. M_Jornal Pequeno_25.04.1936,


Mulher francesa. O Malho, Ano X, RJ, 5 de agosto de 1911. p. 47.

Virgilio Maurício, “Après le revê” - Depois do sonho, 1912, Pin. Est. SP

Virgílio Maurício. L'heure de gouter, tela, 1914, Pinacoteca de SP

Virgílio Maurício. L'heure de gouter, tela, 1914, Pinacoteca de SP

Sinfonia de pedras. Revista da Semana, ano XXXIV, nº 13, 11 de março de 1933.



 Saudade.




5 de agosto de 1923. Flagrante do almoço, no Palacete Hotel, oferecido por Virgílio Maurício (2º sentado, da esquerda para a direita) ao também jornalista Victor Hugo Aranha (4º na mesma ordem). O 5º é Joaquim Osório Duque Estrada e o último é Álvaro Moreyra. O 3º em pé, da esquerda para a direita, é o poeta Olegário Mariano. Foto: Para Todos, 4 de agosto de 1923, p. 37.





[i] Ernestina dos Santos Velho, viúva do Almirante Antônio Francisco Velho, falecido em 15 de fevereiro de 1915. Ele era um dos remanescentes da Guerra do Paraguai e participou da célebre “passagem de Humaitá”. Fonte: A Noite, 15 de fevereiro de 1915.



[i] Belmiro Ferreira Braga, grande poeta mineiro nascido em Vargem Grande (Juiz de Fora), atual município de Belmiro Braga, a 7 de janeiro de 1872 e falecido em 31 de março de 1937.

[ii] Nome literário de LUIZ DE ARAÚJO MORAIS, escritor, jornalista e historiador alagoano, nascido em São Miguel dos Campos a 23 de março de 1893 e falecido em Leopoldina, a 20 de dezembro de 1972.



[i] João Alfredo Pereira Rego, jornalista e advogado, faleceu no Rio de Janeiro a 1º de junho de 1943, atropelado por um ônibus quando, descendo de um bonde, atravessava a Rua 13 de Maio, esquina com a Avenida Almirante Barroso, em direção à sede do jornal O Globo. Segundo notícias da época, ele, já agonizante, teria feito um último pedido: um beijo de uma jovem que tentava socorre-lo. Esse fato real foi aproveitado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues que, em sua peça “O Beijo no Asfalto”, colocou um homem em lugar da moça.




[i] Em 1910, estava no 2º ano de Medicina. Notícia publicada no jornal Pharol, Rio de Janeiro, 11 de julho de 1911, registra a sua visita à redação daquele jornal, como “acadêmico de Medicina”, em companhia dos colegas Paulo Alvin Rezende e Alexandre de Oliveira e Salles.



A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia