sexta-feira, 9 de setembro de 2016

PADRE PINTO, ENTRE O PÚLPITO E O PALANQUE

Por Etevaldo Amorim
Padre José Soares Pinto
Sempre que posso, recorro aos arquivos da Paróquia de Pão de Açúcar, repositório de valiosos documentos da história daquela cidade sertaneja do São Francisco. Numa dessas visitas, entre uma pilha de livros de assento de nascimentos, casamentos e óbitos, lanço mão do Livro nº 05, que contém uma nota de significativa importância. Ali, o vigário de Belo Monte, que substituía o titular da paróquia, anotou o fato contristador:
“Aos dois de fevereiro de mil, novecentos e trinta e nove, no Rio de Janeiro, em Madureira, Freguesia de São Luiz de Gonzaga, na residência do Monsenhor Achilles Mello, vigário da Paróquia, faleceu piedosamente, confortado com todos os sacramentos que a Santa Igreja concede in articulo mortis, o Revmº Vigário desta Paróquia de Pão de Açúcar, o sempre saudoso Pe. José Soares Pinto, que, aos seus últimos momentos, ainda pronunciou palavras de saudades para sua cara Paróquia. Ao seu funeral compareceram muitas pessoas, inclusive alguns Sacerdotes que o acompanharam até o Cemitério de Jacarepaguá, onde está sepultado em túmulo, e mais uma vez foi encomendada a sua alma. E para constar mandei fazer este assento que assino. O vigário encarregado, Pe. Jasson Souto”
Falecia, longe de seus conterrâneos, o Padre José Soares Pinto. O Monsenhor Achilles Mello, vigário de Madureira, seu primo, que o acolheu no Rio de Janeiro para onde fora em busca de tratamento, faz publicar no jornal A Noite, edição daquele mesmo dia 2 de fevereiro, uma nota de falecimento, convidando os amigos para o seu sepultamento, às 16:00 horas, no cemitério de Jacarepaguá, saindo o cortejo da sua residência, à rua Cândido Benício, 698.
A morte o levou aos 55 anos, interrompendo uma trajetória de intensa atividade, tanto na prática religiosa como na atividade política. Difícil dizer em qual delas foi mais efetivo. Fiquemos, então, com esses breves traços sobre a vida dessa destacada personalidade pão-de-açucarense, que foi um dos mais destacados clérigos de Alagoas, estando à frente da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus durante 29 anos.
Em artigo de publicado na Gazeta de Alagoas, edição de 21 de novembro de 1954, Adherbal de Arecippo o descreve como possuidor de boa dicção e voz potente, a qual, ajudada pela acústica do templo, dispensaria alto-falantes. Destaca ainda uma de suas grandes qualidades: a elevada atenção e piedade com que ele atendia aos moribundos que necessitavam e pediam a sua assistência espiritual nos últimos instantes da existência humana.
Era filho do Capitão José Soares Pinto e de Rosa Maria Dória; esta, filha de Bernardo Machado da Costa Dória e de Maria das Dores da Costa Dória.
Sendo sua mãe natural do povoado Mocambo, município de Porto da Folha, Estado de Sergipe, situado na margem oposta do rio São Francisco, e sendo comum naquele tempo as primíparas terem seus filhos sob os cuidados da mãe, nasceu a 8 de fevereiro de 1884 naquele pequeno lugarejo fronteiriço ao morro do Farias, acidente geográfico de Pão de Açúcar e referência natural dos que por ali navegavam.
Em 1902, ainda aos 18 anos, iniciou seus estudos no recém-criado Seminário de Alagoas, fundado pelo bispo D. Antônio Brandão, instalado a 15 de fevereiro daquele mesmo ano, funcionando provisoriamente na cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro). O jornal penedense A Fé Cristã, em sua edição de 22 de novembro, noticia a presença, naquela cidade sanfranciscana, dos seminaristas daquela cidade que, oriundos do Seminário de Maceió, que para ali retornavam para passar férias, entre eles José Soares Pinto.[i]
No dia 10 de novembro de 1907, então com 23 anos, em Ato do bispo D. Antônio Brandão, o então Diácono recebeu o grau de Presbítero, juntamente com Júlio Albuquerque e Affonso Tojal.[ii]
Já ordenado, achava-se em Pão de Açúcar quando foi chamado para ocupar a Freguesia em Maceió, durante a ausência do Cônego Machado e de seu coadjutor[iii] e já em 20 de maio de 1909 tomou posse como vigário da Freguesia de Nossa Senhora Mãe do Povo, em Jaraguá.[iv] Foi nomeado vigário de Pão de Açúcar e 13 de outubro de 1910.
O Padre Soares Pinto com um grupo de teatro amador de Pão de Açúcar, em 1916. Fonte: Pão de Açúcar, história e efemérides, Aldemar de Mendonça.
Não tardaria, entretanto, que lhe aflorasse a vocação política. Tanto que, em 1917, adere à campanha do General Gabino Besouro, participando como sócio de um Centro Cívico em prol daquela candidatura. Com efeito, em excursão do candidato ao interior do Estado, este visitou Pão de Açúcar. Na ocasião, hospedou-se na casa do Cel. Perdiliano de Carvalho Mello, mas visitou o Padre Pinto, que lhe ofereceu um brinde de champanhe.[v] O Coronel Perdiliano, aliás, já presidia um Centro Cívico Pró-Gabino Besouro, que se compunha com os seguintes membros efetivos: Pedro Souto, Olegário Simas, e Theodoro Barbosa, além do Dr. Manoel Lyra como orador e Euclydes Souza como tesoureiro.
O Padre Pinto acompanha distribuição de víveres para os flagelados da enchente de 1919, em Pão de Açúcar.
Eleito Deputado, em 2 de abril de 1923, assiste à abertura dos trabalhos da Assembleia Estadual.[vi] No ano seguinte, juntamente com Euclides Malta, Eusébio de Andrade, Araújo Gois, Natalício Camboim, Alipio Minervino da Silva, os Coronéis João Lessa e José Malta de Sá, Antônio Florentino e Manoel Francelino dos Santos, assina manifesto de apoio às candidaturas do Dep. Federal Costa Rego e do Dr. Luiz Torres para Governador e Vice-Governador, respectivamente.[vii]
Em 1927, lança-se candidato ao Prefeito. A imprensa pernambucana repercute o fato com destaque:
 “Em Pão de Açúcar, o candidato apresentado por uma das correntes em que se bifurcou ali o Partido Democrata, encontrará o antagonismo de outra corrente, que lançará a candidatura do respectivo vigário da Freguesia, Padre José Soares Pinto, ex-Deputado Estadual.
Este último candidato é amparado pelos mais valiosos elementos daquela Unidade do Estado, e reúne todos os requisitos indispensáveis para merecer espontâneos e entusiásticos sufrágios populares.
Espírito moderado, cheio de abnegação e tolerância, o Padre José Soares Pinto granjeou a estima de todos os seus paroquianos, dispondo de ótimos recursos que lhe assegurarão completa vitória sobre o seu competidor.
Num pleito livre, como vai ser o de 7 de novembro, os pao-de-açucarenses absolutamente não abandonarão o seu respeitável cura, que até hoje nunca visou o seu proveito pessoal, tendo-se consagrado, com o maior fervor, ao bem da sociedade em cujo regaço nasceu e tem vivido.[viii]
Naquele Pleito, o Padre sagrou-se vencedor contra o Cel. Perdiliano por 189 a 136 votos.[ix]
Ainda hoje é lembrada essa campanha. Havia até uma musiquinha cantarolada pelos seus adversários. Algo assim:
            “Linda morena, eu quero ver,
Nessa eleição, Padre Pinto vai perder.
O Padre Pinto já mandou tocar o sino
No salão da Prefeitura, onde está seu Agripino...
Linda morena eu quero ver...”
Mas, Perdiliano não era o único adversário do Padre Pinto. O colunista João Domingos, do Jornal Pequeno, do Recife, falando acerca do ódio dos inimigos políticos ao político pernambucano Etelvino Lins, lembra o ódio de um político de Penedo, em relação ao Padre. Dizia esse adversário:
- Aquele sujeito é tão desgraçado que nem ao menos tem uma amante, como vários dos seus colegas, para a gente falar dele.
Da esquerda para a direita: Juca Feitosa, Manoel Rego, Vieira Damasceno, Luiz Menezes da Silva Tavares, o homenageado Dr. Paes Barreto, Padre Pinto, João Domingos, Álvaro Machado, Ermínio Veríssimo e Manoel Santana. Na sacada do sobrado está D. Maria Cândida, neta do Major João Machado, barão de Piaçabuçu.
O fato é que, como Prefeito, Soares Pinto foi bastante efetivo. Em 1929, contribui consideravelmente com o Governo Estadual, tendo à frende o Dr. Álvaro Corrêa Paes, na ampliação da malha viária, abrindo novas estradas, continuando os esforços iniciais dos governadores Fernandes Lima e Costa Rego. O primeiro, diz o Diário de Pernambuco em sua edição de 13 de outubro de 1929, “pôs em comunicação franca a metrópole do Estado com o extremo Norte, abrindo uma rodovia, que é geralmente louvada pelos serviços que presta a uma região de difícil acesso”.
A Costa Rego coube ligar Maceió ao Pilar e à Zona Sul de Alagoas. Por fim, veio o Dr. Álvaro Paes, que visou a região sertaneja. Mandou abrir a estrade de Atalaia a Palmeira dos Índios e conseguiu com que as prefeituras dos municípios adjacentes se comprometessem em fazer outras estradas de interesse local, propiciando, mediante autorização legislativa, a concessão de pequenos empréstimos. E prossegue o mesmo jornal: “Dessas estradas de interesse local se salientam pela perfeição de seu acabamento a que se dirige de Pão de Açúcar para Santana do Ipanema e a que vai desta para Palmeira dos Índios.”,  para depois concluir: “Os gabos que se fazem a essas rodovias são unânimes e recaem sobre os prefeitos que as fizeram: o Padre Soares Pinto, de Pão de Açúcar; e Graciliano Ramos, de Palmeira dos Indios.”
Cabe destacar, conforme Mensagem do Governador Álvaro Paes ao Congresso Legislativo, em 19 de novembro de 1929, que coube ao Prefeito de Santana do Ipanema, Sr. Ormindo Barros, a construção das referidas estradas nos trechos incluídos em seu território, isto é, da cidade até Olho D’Água das Flores e, por outro lado, da Sede até o limite com Palmeira dos Indios, totalizando aqui 14 km.
Em 1930, o Padre Pinto recebe o Governador Álvaro Paes, que em viagem de oito dias pelo interior do Estado inspecionando obras de estradas, participa de reunião para a criação do Banco Agrícola de Pão de Açúcar, com capital inicial de Cinquenta Cotos de Réis.[x]
O jornalista Garcia de Rezende, colunista do jornal carioca Diário de Notícias, que esteve em Alagoas com o fim de observar os resultados da Revolução de 30, relata uma viagem que fez em companhia do Padre Soares Pinto, de Penedo a Maceió. Em oito horas de viagem, num “fordinho” sujo e desengonçado, o padre, que segundo o jornalista, envergava uma batina enlameada e rota, trazia na face visíveis sinais de abatimento. Inquirido sobre as razões do seu desalento, esboçou um sorriso amargo e desabafou:
Acabo de viver dez dias no mato, acossado de perto pelo bando de Lampião. O facínora entrou com os seus cabras em Pão de Açúcar, levando os seus habitantes a viver horas amargas de provação. O senhor não pode imaginar o que significa, como espetáculo de degradação humana, a passagem do bando de Lampião por um povoado. É uma tragédia imensa. O país possui exército, polícia, aviões, metralhadoras, mas Lampião continua a infelicitar o Nordeste com o seu bando sinistro. Quanto mais o perseguem mais sanguinário e forte ele se torna, elevando-se à condição de Rei da horda do cangaço. Amanhã ou depois essa horda sinistra virá fazer o saque e a matança no litoral”.
Por Ato de 6 de setembro de 1934, o Interventor Federal, Sr. Osman Loureiro, exonera, a pedido, o Sr. Augusto de Freitas Machado e nomeia o Padre Pinto para o cargo de Prefeito.[xi]
Prefeito pela segunda vez, assim que toma posse, encaminha telegrama ao Interventor comunicando a composição do Partido Republicano Conservador em Pão de Açúcar: Presidente: Padre José Soares Pinto; Secretário: farmacêutico Antônio de Freitas Machado; membros: Manoel Pastor da Veiga, João Freias, Mário Soares Vieira, Manoel Rego, José Gonçalves Filho e Antônio Silva Pereira. (Diário de Pernambuco de 21 de setembro de 1934).
Em 8 de janeiro de 1935, conforme noticia o Jornal do Brasil, em edição do dia 16 daquele mês e ano, o mesmo Interventor o exonera para nomear Seraphim Soares Pinto.




[i] A Fé Crhistã, 11 de janeiro de 1902, p. 3.
[ii] GUTENBERG, 10 de novembro de 1907, p. 2.
[iii] GUTENBERG, 24 de janeiro de 1908.
[iv] GUTENBERG, 20 de maio de 1909.
[v] CORREIO DO POVO, 18 de novembro de 1917, p. 2.
[vi] DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 17 de abril de 1923, p. 4.
[vii] DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 9 de março de 1924, P. 5.
[viii] DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 29 de setembro de 1927, p. 4.
[ix] DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 17 de novembro de 1927, p. 5.
[x] O MUNICÍPIO, Seabra, BA, 2 de fevereiro de 1930, p. 2.
[xi] DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 18 de setembro de 1934, p. 4.

domingo, 4 de setembro de 2016

HISTÓRIAS DO CANGAÇO EM PÃO DE AÇÚCAR (I)

Postado por Etevaldo Amorim

LAMPIÃO CONTINUA A ATEMORIZAR OS SERTÕES[i]

“Da última vez que Lampião esteve no município de Pão de Açúcar abandonou a estrada real, em seu regresso, e seguiu por uma vereda.
Caminhando, encontrou uma camponesa de nome Maria Gato e dois irmãos desta – Luiz e Francisco – os quais por ali se meteram para evitar um encontro com o grupo do bandoleiro.
Logo que Lampião avistou a senhorita Maria Gato, fez-lhe propostas julgadas menos honestas, que foram repelidas. Francisco aconselhou a irmã a se deixar matar com eles, antes de ceder o que o bando queria. Nesse comeno, Lampião ameaçou-a de disparar-lhe um tiro, dizendo a moça que podia fazê-lo, porquanto ela não tinha medo da morte.
Recuando de seus propósitos, Virgulino prometeu-lhe avultada quantia para que a moça aquiescesse aos seus desejos. Mas a sertaneja não quis.
O chefe dos bandoleiros declarou que desistia absolutamente do propósito de conquista Maria Gato, ou mesmo de subtrair-lhe a existência. Ouvindo isso, um do bando estranhou que aquela moça ficasse viva, quando Lampião já havia morto tantas moças brancas e bonitas, ao passo que aquela era mulata e feia.
Ao seu interlocutor respondeu Virgulino Ferreira, com um tom de absoluta firmeza, que aquela moça não morreria.
A conversa mudou de rumo e o facínora procurou sindicar dos rapazes quais eram as pessoas abastadas daqueles arredores.
Os dois camponeses, na melhor intenção e certos de que Virgulino não ousaria penetrar no perímetro urbano de Pão de Açúcar, informaram-no de que na rua (na cidade propriamente dita) havia muita gente rica.
Virgulino disse, então, que queria saber quais eram os ricos do interior. Responderam Luiz e Francisco que por ali reinava absoluta miséria, não havendo quem dispusesse de recursos. Mas o facínora perguntou se um tal de Janjão Maia não era rico, obtendo resposta negativa. Não convencido, Lampião forçou Luiz Gato a servir-lhe de guia até a propriedade do fazendeiro, sem conhecer que estava tratando com um campônio extremamente ladino e astuto.
Marchando, Luiz falou tanto que os cangaceiros lhe puseram a alcunha de “Canário”.
Este Canário, porém, conseguiu demonstrar que Janjão Maia não passava de um reles tirador de toneladas (lenha para o cotonifício de Penedo, vendida às toneladas) e que era apenas rico de filhos.
Preservando o fazendeiro da espoliação ou da desgraça iminente, Luiz Gato ainda atirou Lampião e o seu bando, que então se compunha de sete pessoas, ao risco de ser pegado, pois dizendo não conhecer veredas escuras por onde os levasse, intencionalmente os guiou pela estrada real, pelos lugares povoados.
Em um desses, denominado Quixaba, três léguas a montante de Pão de Açúcar, dormiram eles sossegadamente, sem serem incomodados pela numerosa tropa que ficava perto.
São assim os sertanejos, tão mal julgados por quem não lhes conhece a alma pura e bondosa.




[i] Extraído de A Nação, Fortaleza (CE), 16 de fevereiro de 1932, p. 8, dirigido por Júlio de Matos Ibiapina.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia