Dr. Thomaz do Bomfim Espíndola |
Por Etevaldo
Amorim
Thomaz
do Bomfim Espíndola nasceu em Maceió no dia 18 de setembro de
1832. Seu pai, Florêncio do Bomfim Espíndola, foi membro da Câmara Municipal de
Maceió nos idos de 1844, quando do governo de Bernardo de Souza Franco.[i] Sua
mãe, Luzia Roza do Bomfim Espíndola, falecida em Maceió a 21 de outubro de 1895.
Tinha como irmãos Januário Domingos Espíndola e André de Carvalho Espíndola.
Formou-se pela
Faculdade de medicina da Bahia em 17 de dezembro de 1853, contando 21 anos de
idade, tendo defendido a tese Dissertação “Acerca da Influência Progressiva da
Civilização Sobre o Homem”. Aliás, no seu último ano na Faculdade, juntamente
com os colegas do 6º Ano[ii],
colaborou na redação d’ O Acadêmico, periódico científico e literário sob a
direção de Joaquim Esteves da Silveira, impresso na tipografia de Epiphanio
Pedroza, na Rua dos Capitães, nº 49-A. Nele escreveu o artigo “Algumas
considerações sobre o tratamento médico dos aneurismas”, em 24 de abril de
1853”
Voltando à Província,
estabeleceu-se nesta capital adquirindo pelo trabalho de sua profissão médica e
grande clínica a bem merecida fama de médico exímio.
No exercício de sua
nobre profissão, prestou os mais relevantes serviços, já no desempeno de
diversas e importantíssimas comissões médicas, algumas gratuitamente, nas
críticas épocas das epidemias de Cólera Morbus, Febre Amarela e outras, desde
1853 e 1871, já na sua clínica particular. Nunca recusou nem a um enfermo sua
assistência a qualquer hora do dia ou da noite, dentro ou fora desta cidade. Para
ele não havia cômodos nem mau tempo, desde que seus serviços eram reclamados a
cabeceira de qualquer enfermo pobre ou rico, desvalido ou poderoso.
Ocupando o encargo de
presidir, na ausência do Conselheiro - Visconde de Sinimbu, o diretório do
Partido Liberal em Alagoas, fez por muitos anos parte ativa da imprensa como um
dos mais ilustrados redatores do órgão
do partido – O Liberal.
Após ser nomeado Lente
de Geografia, Cronologia e História do Lyceu de Maceió, no dia 5 de fevereiro
de 1855, Thomaz Espíndola recebeu do presidente da Província, Sá e Albuquerque,
a incumbência de fazer o levantamento estatístico e geográfico de Alagoas,
trabalho que só foi concluído em 1860.
Eleito para a
Assembleia Provincial pelo Partido Liberal, na legislatura 1860-61, pelo 1º
círculo; reelege-se em 64-65, já agora pelo 1º distrito, e volta a se reeleger
em 1866-67, ainda pelo mesmo distrito. Autor, entre outros, do projeto que
criou a Biblioteca Pública Estadual. Foi Deputado Geral nas legislaturas
1878-81 e 81-84, pelo Partido Liberal.
Quando se lançou
candidato a essa última Legislatura, dirigiu aos eleitores do 1º Distrito a
seguinte mensagem:
“Quando,
em 1860, as minhas convicções políticas unidas aos desejos de ser útil ao meu
pais, máxime à minha província, à qual consagro meus constantes labores pelo seu bem estar e grandioso futuro,
levaram-me, mui espontaneamente, a partilhas das fadigas e sacrifícios dos
lidadores da liberdade, amigos do progresso da Nação Brasileira, tive sempre
como dever de honra respeitas as opiniões dos meus adversários, defender quanto
em mim coubesse os direitos dos meus correligionários e amigos; sem comprometer
a lealdade do político sincero e honesto, que só vence quando persuade, que só
quer a conquista do direito, da justiça e do merecimento.
Desvaneço-me,
sem o menor vislumbre de vaidade, em asseverar que os atos de minha vida, nos
combates das urnas, da imprensa e da tribuna, são testemunhos eloquentes e
irrefragáveis de minha dedicação e amor às instituições do meu partido. Firme
nas minhas convicções, certo da lealdade e patriotismo dos meus
correligionários, convicto da sinceridade e esforços de meus amigos, venho
apresentar-me candidato à Representação Nacional nas próximas eleições, sem
receio de que as contrariedades d’ocasião me façam sucumbir!
Senhores
eleitores, a Lei nº 3029, de 9 de janeiro de 1881, acurado estudo dos políticos
sinceros e amigos dos brasileiros, vos elevou a uma identidade moral e
independente e vos deu uma existência própria
- livrando-vos de serdes feitura
de quem vos constrangesse e violentasse no exercício de vossos direitos
políticos; assim no gozo de tão ampla liberdade não encontrareis embaraço, nem
tropeços em vossa escolha, que será expressão genuína de vossa vontade.
Honrado
em todos os tempos com o consenso e apoio de muitos de meus comprovincianos,
que, como vós, exerciam o direito do voto, declaro-me candidato pelo 1º
Distrito desta Província, assegurando-vos desde já minha perdurável gratidão
pela distinta honra que me fizerdes.
Maceió,
25 de maio de 1881 – Dr. Thomaz do Bomfim Espíndola”
Como presidente da
Câmara Municipal, tomou posse no governo de Alagoas a 30/07/1867, permanecendo
até 6 de agosto. Nesse curto espaço de tempo, apenas sete dias, um
acontecimento importante aconteceu: foi inaugurada a navegação do Rio São
Francisco, unindo Penedo a Piranhas.
Nomeado, em 30/01/1878,
1º Vice-presidente, assume a administração em 8 de fevereiro, permanecendo até
11 de março do mesmo ano. Ocupou, ainda, os cargos de inspetor-geral da
Instrução; inspetor de Higiene; professor de Geografia, Cronologia e História
do Liceu Alagoano. Patrono da cadeira 11 da AAL. Sócio efetivo do IHGAL -
empossado em 18/02/1870. Patrono da cadeira 38 do IHGAL.
Obras[iii]:
Geografia Física, Política, Histórica e Administrativa da Província de Alagoas,
Maceió: Tip. do Jornal de Maceió: 1860. Dessa obra foi tirada uma segunda
edição, corrigida e aumentada, sob o titulo Geografia Alagoana ou Descrição
Física, Política e Histórica da Província das Alagoas, O Liberal, Maceió: 1871;
Profilaxia do Cólera Morbus Epidêmico, Sintomas, Tratamento Curativo Desta
Moléstia, Dieta, Convalescença, Considerações Gerais e Clinicas, Ceará: 1862;
Relatório com que o Dr. Thomaz Bomfim Espíndola, Presidente da Câmara Municipal
de Maceió: Entregou a Administração da Província de Alagoas ao 1º Vice-Presidente
Dr. Francisco Duarte, em 06/08/1867. Descrição das Viagens do Dr. José Bento
Cunha Figueiredo Júnior ao Interior da Província de A1agoas, Maceió: 1870;
Viagem do Presidente da Província Francisco de Carvalho Soares Brandão a
Povoação de Piranhas e Paulo Afonso, Maceió: 1878; Relatório da Instrução
Pública e Particular da Província das Alagoas, Maceió: Tip. do Bacharel Felix
da Costa Moraes, 1866; Elementos de Geografia e Cosmografia Oferecidas à
Mocidade Alagoana pelo Dr. T. do Bonfim Espíndola, Maceió: Tip. da Gazeta de
Notícias, 1874.
Era sócio efetivo, e
foi por diversas vezes eleito Vice-Presidente do Instituto Arqueológico e
Geográfico Alagoano, e de muitas outras associações científicas, bilaterais e
beneficentes desta, de outras províncias, e estrangeiras, como, por exemplo: do
Instituto Médico Pernambucano.
Pelos seus serviços à
causa da humanidade e da instrução popular, mereceu do governo imperial ser agraciado com o
hábito de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa e depois com o oficialato da
mesma Ordem.”
Casou-se em primeiras
núpcias com a Srª Maria Idalina Coutinho, com quem teve os filhos: Octaviano e
Maria Idalina. Octaviano Coutinho Espíndola, médico formado pela Faculdade do
Rio de Janeiro em 1883, que se casou com a Srª Eugênia Bicudo[iv],
filha do Barão de Itapeva (Inácio Bicudo de Siqueira Salgado), de abastada
família de Pindamonhangaba, Estado de São Paulo, onde faleceu em 12 de junho de
1895. Já a sua filha, Maria Idalina Coutinho Espíndola, casou-se com José de
Amorim Salgado (o Barão de Santo André, em 1883, proprietário do Engenho Santo
André, Barreiros, Pernambuco).
Maria Idalina Espíndola Salgado,Baronesa de Santo André. Fonte: Fundação Joaquim Nabuco. |
Viúvo de Maria Idalina,
o Dr. Espíndola contraiu segundas núpcias, em 26 de janeiro de 18 84, com Emília de
Andrade, filha única do Comendador Eugênio José das Neves Andrade (natural de
Coimbra, Portugal e naturalizado brasileiro, falecido a 27 de julho de 18 96) e de
Henriqueta Pinto de Andrade (casados a 14 de fevereiro de 18 44, ela filha de Antônio
Luiz Pinto e Maria Rosa do Rego).
Nascida a 2 de dezembro de 18 44,
Emília também era viúva, já que houvera se casado, em 6 de agosto de 1870, com
o comerciante José Joaquim de Oliveira, que faleceu em Paris, a 10 de abril de
1882, onde foram buscar alívio para a moléstia que o acometia. Com o
falecimento do Dr. Espíndola, voltou a se casar, desta feita com o negociante Joventino
da Silva Cravo, em 25 de abril de 1896, de quem se divorciou, depois de
rumoroso processo judicial em que o esposo era acusado de mal administrar a sua
fortuna. Ela era co-proprietária dos Trapiches: Segundo e Faustino, em Jaraguá.
Do consórcio com D.
Emília, o Dr. Espíndola teve três filhas: Alice, que veio a se casar com o
negociante Simeão de Oliveira e Silva; Elisa, que se casou com Eugênio Teles da
Silveira Fontes; e Eponina, que faleceu a 3 de maio de 1889, com apenas dois
anos e meio de idade, pouco antes de se completar dois meses do falecimento do
pai.
Faleceu às 10 horas da
noite do dia 6 de março de 1889, no palacete nº 1 da rua 1º de Março, em
Maceió, vitima de “congestão do bulbo medular”, segundo atestou o Dr. Manoel
José Duarte. Há, entretanto, um dado contraditório: segundo consta no registro
de óbito emitido pelo tabelião Agnello Castilho de Aguiar, teria ele falecido
aos 64 anos de idade. Para ser isso
verdadeiro, ele teria que ter nascido em 1825 e não em 1832, como informam
diversas fontes.
Após o falecimento do
pai, Elisa se tornara noiva de Francisco José de Oliveira e Silva, tendo sido
já anunciados os proclamas. Porém, esta desistiu do casamento. O noivo então,
profundamente contrariado e possesso, adentrou a sua residência e a feriu com
12 punhaladas, tendo ela, felizmente, ficado com vida.[v] Isso
aconteceu no dia 28 de janeiro de 1901.
A mesma Elisa viria a
ser, anos depois, a 25 de outubro de 1919, vítima de outro membro da família. Um
seu sobrinho, estudante de engenharia Aguinaldo de Oliveira e Silva, que lhe
desfechou vários tiros de revólver, vindo ela a ficar em estado grave.[vi]
Dias depois, por conta dessa notícia veiculada no Correio da Tarde, de Maceió,
o mesmo jovem agrediu o seu diretor, o jornalista Costa Bivar.[vii]
Thomaz Espíndola empresta
seu nome a uma das principais avenidas da Capital alagoana, no bairro do Farol,
importante ponto de intersecção da parte baixa com as regiões altas da cidade.
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Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema
“HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com informações históricas
resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da
competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso
algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que
delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também a
necessária citação de autoria e as referências citadas. Isso é correto e justo.
Segue abaixo, como exemplo, a
forma correta de referência:
AMORIM, Etevaldo Alves. Maceió –
Praças e monumentos (Floriano Peixoto). Maceió, Abril de 2015. Disponível em:
http://www.blogdoetevaldo.blogspot.com.br/. Acesso em: dia, mês e ano.
[i] Diário
Novo, 22 de outubro de 1844.
[ii]
Com a colaboração dos acadêmicos Américo Marques Santa Rosa, Benjamim
Constâncio Franco de Sá, César Augusto Marques, Hermógenes de Miranda Souto,
José Augusto de Souza Pitanga, Pedro Autran da Matta e A. Junior, Sinfrônio
César Coitinho, Thomaz do Bomfim Espíndola; e dos Srs. Dr. Antônio Gonçalves
Dias, Dr. Ascânio Ferraz da Motta, Dr. Demétrio Cyriaco Tourinho, Dr. Domingos
Rodrigues Seixas, Eng.º Firmo José de Mello, Dr. Joaquim Alves de Araújo
Amazonas e Dr Sallustiano José Pedroza.
[iii]
BARROS, Francisco Reynaldo Amorim de. ABC DAS ALAGOAS.
[iv]
Correio Paulistano, 12 de setembro de 1890, p. 2.
[v] O
Lynce, Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 1901.
[vi]
Diário de Pernambuco, 1º de novembro de 1919.
[vii]
A Províndia, Recife-PE, 20 de janeiro de 1920.