Possidônio Calaça_foto_O Operário_Montes
Claros 31.01.1933.
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Por Etevaldo Amorim
POSSIDÔNIO JOSÉ
CALAÇA DO ESPÍRITO SANTO nasceu em Água Branca, Estado de Alagoas, a 17 de
maio de 1877. Era filho do Capitão Januário Gomes do Espírito Santo e de D.
Antônia Gomes Calaça[i]. Seus
avós paternos eram Manoel José Gomes do Espírito Santo e Josepha Gomes de Sá;
e, maternos, o Professor Manoel José Gomes Calaça Junior e Maria Alves Calaça.
Tinha como irmãos: Viridiana Calaça do Espírito
Santo; Maria Calaça de Figueiredo, esposa do Cel. José Amâncio de Figueiredo;
Antônio Calaça e José Calaça do Espírito Santo, este último cirurgião-dentista
radicado em Januária.
Bacharelou-se em Ciências e Letras no Ginásio de
Maceió. Já em 1894, prestava os Exames
de Preparatórios no Ginásio Nacional e na Escola Politécnica, no Rio de
Janeiro, chegando a cursar o primeiro Ano da Faculdade de Medicina e,
concomitantemente, o primeiro ano da Escola Politécnica.
Em 1897, passou a residir em Januária, Minas Gerais
com a família, onde seu pai foi Coletor de Rendas. Ali, foi professor na Escola
Normal Livre e exerceu também o jornalismo, tendo sido Gerente do Jornal A LUZ,
que circulou naquela cidade mineira por volta de 1903; e foi Presidente do
Diretório do Grêmio Literário Januarense.
Passou um tempo em Belo Horizonte como funcionário
dos Correios e professor particular, como também o foi em Pirapora, por volta
de 1916.
Como tantos outros poetas e boêmios daquele tempo,
Possidônio morreu cedo, aos 55 anos, em Januária, Minas Gerais, a 20 de janeiro
de 1932.
O Dr. Edmar Magalhães[ii],
Promotor Público januarense que, quando criança, conheceu o poeta no ocaso da
vida, o descreve como “todo curvo,
resguardado com panos ao pescoço, colete, paletó de pachá preto, calças
listradas e estreitas caindo sobre pés grossos, inchados, calçados com mais de
uma meia, e de chinelo de trança de calcanhar alto.” E prossegue,
reproduzindo a visão que tivera na venda do Sr. Alfredo Carneiro, “Trazia um chapéu largo à cabeça, e os seus
bolsos eram volumosos, deixando aparecer a ponta de um lenço grande, cheio de
quadrados vermelhos...”
Já Antônio Vieira Barbosa, na Gazeta de Paraopebas
(25/02/1940) reflete sobre suas lembranças de Possidônio, num encontro, em
1921, em casa comercia do professor Benedito Casqueiro. “Boêmio inveterado, desperdiçou em libações e noitadas com perda de sono
os melhores anos da vida, quando, em plena madureza intelectual, pudera
produzir com regularidade, dando-nos, ainda, as mais estremes cintilações do
seu estro magnífico.”
Possidônio,
desprendido e desregrado, sem qualquer compromisso com o equilíbrio financeiro
de sua vida, morreu pobre. Tanto que, tendo recebido, por herança, a vultosa
quantia de Dez Contos de Réis, sem qualquer plano de investimento, abandonou o quarto de solteirão que ocupava em
casa de um parente e mudou-se para o melhor hotel da cidade. Quando o dinheiro
acabou, e com a maior naturalidade, retornou à antiga moradia.
Eis alguns dos seus poemas:
SE EU AMO!! ..
Perguntaram-me um dia se eu amava,
Esperando a resposta com ardor...
E neste mesmo tempo eu meditava:
-Há quem possa existir sem ter amor?
Não amar, nesta vida, é impossível;
Impossível os passos dirigir...
Não pode homem nenhum, mesmo insensível,
Nem há de a natureza permitir.
Viver sem amor?! Ah! Nem sonhando;
Motivo para o amor não vai faltar
A SUBLIME EPOPÉIA
Em êxtase, desfolho o livro do infinito,
Em face ao mundo, ao tempo... e a tudo que extasia.
Reina em tudo o que vejo esplêndida magia
E imerso no cismar, atônito, me agito!
Contemplo a natureza, e a contemplar medito,
Por ver na criação mirífica harmonia!
Parece-me que Deus em tudo se anuncia,
Que tudo em Deus aclama altíssimo e bendito1
Do meu compreender, estreito ou limitado,
Eu busco perscrutar na atônita estreiteza,
Este grande universo, imenso, mal sondado....
Então, do peito meu, por ver tanta grandeza,
Parte, de íntima voz, do fundo d’alma o brado
Que diz: - Poeta é Deus – poema a natureza”
Mariana, 1906.
Publicado em O Malho, Ano V, nº 210,
Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1906, p. 28.
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MEU BERÇO
Sou filho de Alagoas. Água Branca
é meu berço natal, a vilazinha,
a terra em que
nasci.
O horizonte, a meus olhos tira, arranca
o céu do berço meu, da pátria minha,
Onde infante vivi.
Daqui não vejo o céu de minha terra,
essas matas virentes, o meu vale,
O meu nativo lar.
O belo céu azul que a Pátria encerra,
Mas, que em mim a saudade sempre fale,
Fazendo-me
lembrar.
Sou filho de Alagoas, bela plaga,
Que São Francisco beija quanto passa
No leito colossal,
O mesmo S. Francisco que hoje alaga
As terras que em limites ultrapassa
No solo marginal.
É tão belo o torrão alagoano!
Que formosas manhãs! Um céu sorrindo
Nos róseos
arrebóis!
Inda mais... Deodoro e Floriano
Dizem, na voz da história ressurgindo:
“És um berço de
heróis!”
Publicada em Antologia Remissiva, de Prof. Napoleão Mendes de Almeida.
Editora Annablume, São Paulo, 2003.