Por Etevaldo
Amorim
Há exatos sessenta e
quatro anos, ainda experimentando seus primeiros passos, inaugurava-se o prédio
próprio daquela que se constituiria uma das mais importantes e sólidas
instituições de ensino: o Ginásio Dom Antônio Bandão.
Objeto da formação de
tantas e tantas gerações de pão-de-açucarense, e até de outras cidades da Região,
o Ginásio foi uma luz que se acendia naquela plaga alagoana. Quem por ali passou, jamais se esquecerá. Os mestres, os funcionários, os colegas; e até as salas
com seus nomes, as carteiras, são lembranças que cultivamos com carinho e com
saudade.
Considerando ser esta a
melhor forma de relembrar esse fato relevante para a história de Pão de Açúcar,
transcrevemos a reportagem contida na Revista Mocidade, que me foi presenteada
pelo meu prezado amigo Álvaro Antônio Melo Machado.
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Prédio-Sede do Ginásio D. Antônio Brandão, situado à R. Cônego Jasson Souto
e defronte à R. Rosália Sampaio Bezerra, inaugurado no dia 21/04/1956.
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“O GINÁSIO DOM ANTÔNIO
BRANDÃO, DE PÃO DE AÇÚCAR, INAUGURA SEU PRÉDIO PRÓPRIO.
O Ginásio Dom Antônio
Brandão, de Pão de Açúcar, existe desde 1951. Entretanto, sempre viveu em casa
alheia. Começou no prédio do Grupo Escolar. Depois, o saudoso Cônego Jasson
Souto[i] conseguiu
que a Diocese de Penedo emprestasse a Casa de São Vicente, para onde se
transferiu Ginásio. O velho professor Antônio Machado[ii],
um velho moço, dinâmico, idealista, começou a trabalhar. Deu prá aperrear os
deputados, os senadores, o povo, todo mundo. O então deputado Freitas
Cavalcanti[iii],
neto de Pão de Açúcar, como ele se intitula, por ter sido esta cidade o berço
do seu progenitor, ficou impressionado com os rogos do Antônio Machado, e
resolveu aplicar uma sangria nos cofres da Nação, em favor do pupilo. E correu
alguma coisa. A isto se juntou muita coragem, muito esforço. Quando começaram a
subir as paredes, muita gente derrotista dizia: “Isso não vai para diante”. Não iria se não houvesse gente boa na frente.
E aí está o prédio, que foi inaugurado em sua primeira etapa a 21 de abril
último.
MOCIDADE fez-se
representar. E lá vai a reportagem de nosso enviado especial:
COMO
FOI A FESTA
- Como é, seu
motorista, chega ou não chega a Pão de Açúcar?
- Calma, seu repórter,
chega já.
- E os índios?
- Não faz mal. Levamos
aqui dois filhos de caciques: o Zé Barbosa e o Zé Hamilton. Nada farão conosco.
E o carro devorava as
estradas. De repente, após uma curva da estrada, divisa-se ao longo o São
Francisco. Esse querido rio da unidade nacional e sua bela Jaciobá, o espelho
da lua, com todos os seus encantos, estendendo-se aos pés do Cristo do monte,
pináculo glorioso, a derramar suas preciosas bênçãos sobre o povo daquela
terra.
Chega a Matriz. Estava
sendo celebrada a Missa Solene. Ginásio, Escola Normal Rural, Grupo Escolar,
gente muita, o padre[iv]
no altar, uma schola cantorum do
próprio Ginásio, e lá, nos primeiros bancos, felicíssimo, moço, cheio de vida,
o herói do dia, o professor Antônio Machado.
- Cheguei muito tarde,
Átila?
- Qual nada, padre! Os
senadores Freitas e Rui ainda não chegaram. O Sr. dá notícias deles?
- Nada, meu velho! Mas
sem dúvida eles vêm por aí. O velho seu pai tem prestígio para eles. Não vão
faltar.
Acabada a missa,
desfile escolar. Bandas marciais abrem a parada. Muito garbo, muita ordem,
muita disciplina. Esse Ginásio Dom Antônio Bandão está mesmo uma maravilha.
- Professor Antônio
Machado: eu estou encantado com tudo isto. Que maravilha!
- É isto mesmo, padre.
A rapaziada tem gosto. Os professores ajudam. E esse João José de Melo é pau
prá toda obra. Ensaia a missa cantada, dirige a parada e faz verdadeiros
prodígios.
- Mas que tal se
fôssemos ao encontro dos senadores?
- Ótimo padre!
Já perto de Pão de
Açúcar, lá vem o carro que os conduz para as festas de inauguração do prédio
próprio do Ginásio.
Troca de cumprimentos.
E rumam todos à cidade.
Na frente do Ginásio,
alunos uniformizados, famílias, autoridades, o povo em geral esperava a
comitiva. O Serviço de alto-falantes local anuncia a chegada. Prorropem
aplausos. Fala a normalista Maria José de Melo, que convida o senador Freitas
Cavalcanti a cortar a fita simbólica, inaugurando o prédio construído com o
dinheiro das sangrias.
Depois, fala o senador.
Como sempre com eloquência e vibração cívica. É, de fato, o homem público
consagrado.
E bento depois o
Ginásio. Oficia o padre Teófanes[v]. E
em seguida abramos um parêntese. Uma página de saudade.
O Ginásio inaugura uma
sala em homenagem ao nosso inesquecível Élio
de Lemos França. Para inaugurar a sala Élio de Lemos, fala o professor João
José de Melo. É um trabalho repassado de muita emotividade. É lembrada a estima
e apreço que Élio devotava ao Ginásio Dom Antônio Brandão. E logo em seguia a
aluna Maria Sara declama o poema “Cachoeira cruel”, de Vinícius Ligianus,
pseudônimo sob o qual modestamente se oculta um educador que também e poeta, o
protagonista do dia, nosso grande professor Antônio Machado.
E o padre Teófanes
recorda-se que, anos atrás, na Casa de São Vicente, quando lhe era prestada uma
homenagem com a dedicação de uma sala com seu nome, Élio Lemos agradeceu em seu
lugar agradecendo. Agora chegara a hora em que deveria falar por Élio
homenageado falecido. A comoção embarga-lhe a voz. Mas consegue sempre falar,
mostrando não somente o valor do grande jovem como seu elevado apreço ao
Ginásio Dom Antônio Brandão e a seu Diretor.
Fala inda o professor
Átila Machado[vi].
Ressalta o quanto deve aquela obra aos ilustres visitantes. Demonstra a
gratidão da cidade pão-de-açucarense. E a professora Maria do Carmo Nepomuceno,
diretora do Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, em nome do Grupo saúda o Ginásio
em eloquentes palavras, manifestando o regozijo que sente o professorado da
terra com o progresso daquela Instituição.
Vem ao microfone o
Senador Rui Palmeira[vii].
Sempre vibrante e cheio de entusiasmo, Rui felicita o povo da terra e enaltece
os méritos que levaram avante aquele empreendimento. E por fim o deputado local
Segismundo Andrade[viii],
também usa da palavra, como filho da terra, para dizer alguma coisa da alegria
que experimentava em ver o progresso de uma obra que tanto prezava, como o
Ginásio Dom Antônio Brandão.
Falou ainda o professor Antônio Machado, muito
emocionado para agradecer as referências elogiosas a sua pessoa.
O
NOVO PRÉDIO
Acha-se muito bem
instalado o Ginásio Dom Antônio Bandão. Quatro amplas salas de aula, dentro dos
requisitos da didática moderna, diversas salas especiais, instalações
sanitárias, área coberta, tudo já pronto. E já estão iniciados os demais
pavilhões. Já sobem as paredes das novas salas de classe, do auditório vasto e
de outras salas especiais. Será um prédio escolar dos melhores do nosso
interior. Podem os pão-de-açucarenses se orgulharem disso.
E depois...
Um lauto almoço na
residência do professor Antônio Machado. Brilharam pela eloquência o Senador
Freitas e do Deputado Segismundo. O Senador Rui, sempre irônico e ferino. O
reverendo sereno, calmo, sorridente. E a turma da segunda mesa, sem o
convencionalismo de praxe, livre, ardorosa, pronta para tudo.
- Vamos embora, seu
motorista.
- Às ordens, seu
repórter.
- E os índios?
- Vão ficar. Os
caciques requisitaram. Vai haver festa na taba.
E o carro deixa Jaciobá,
que vai ficando atrás, conduzindo a caravana MOCIDADE pelos sertões de Alagoas,
onde a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos já começa a acender seus
luzeiros para iluminar o povo de nosso querido e desolado Sertão”.
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Transcrito da revista
MOCIDADE, Ano X – Abril e Maio de 1956, nºs 31 e 32.
Cônego Jasson Alves Souto. Filho de Antônio Alves Souto e Olímpia Souto. (20/04/2047-06/01/1953).
Nasceu em Jacaré dos Homens (então município de Pão de Açúcar-AL) a 22 de
outubro de 1909. Faleceu em Pão de Açúcar a 12 de dezembro de 1955.
Professor Antônio de Freitas Machado. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 3 de maio
de 1895. Filho de Miguel de Freitas Machado e de Cândida Delfina de Andrade
Freitas. Faleceu em Pão de Açúcar a 1º de agosto de 1970.
Cônego Teófanes Augusto de Araújo Barros, Padre Teófanes como era conhecido,
nasceu no dia 13 de julho de 1912, no município de São José da Laje/AL. Faleceu
em Maceió-AL, no dia 21 de junho de 2001. Filho de Teófilo Augusto de Araújo e
de Otília Barbosa de Araújo Barros.
Dr. Átila Pinto Machado. Filho de Antônio de Freitas Machado e Ana Soares
Pinto. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 2 de maio de 1930. Faleceu em Maceió a 1º
de abril de 2001.
Senador Rui Soares Palmeira nasceu em São Miguel dos Campos (AL) no dia 2 de
março de 1910, filho de Miguel Soares Palmeira e de Teresa Ferro Soares
Palmeira. Faleceu no dia 16 de dezembro de 1968.
Deputado Federal Segismundo Gonçalves de Andrade. Nasceu em Pão de Açúcar a 19
de julho de 1922. Filho de José Gonçalves de Andrade (Zequinha Andrade) e Maria
Etelvina Andrade. Faleceu a 24 de setembro de 2008.
Dr. José Hamilton Maciel Silva. Médico. Nasceu em Pão de Açúcar (AL), aos 22 dias do mês de outubro de 1940. É filho de Milton Gonzaga da Silva e Albertina Maciel da Silva.
Zé Barbosa. José Barbosa dos Anjos. Filho de Serafim Barbosa de Medeiros e de Amália Barbosa dos Anjos (Dona Mocinha).