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sábado, 30 de novembro de 2024

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - MONSENHOR LINDOLFO LISBOA

 Por Etevaldo Amorim

O Pe. Lindolfo. Foto: Paróquia de NS de Fátima

Houve um tempo, lá pelo início da década de 1970, em que os moradores do Limoeiro, pequeno povoado pertencente ao município de Pão de Açúcar, contavam nos dedos os seus filhos que lograram alcançar uma formação superior. Mesmo em todo o município, o historiador Aldemar de Mendonça, em seu livro MONOGRAFIA DE PÃO DE AÇÚCAR, só conseguiu enumerar, 52 pessoas.


Contavam apenas quatro limoeirenses: o Dr. Pedro Soares Vieira, Advogado, filho do Sr. Inocêncio Vieira e de dona Otília dos Anjos; o Dr. Neiwton Silva, Engenheiro Agrônomo, filho do Sr. Jaime Silva e dona Maria Alves Feitosa; e mais dois sacerdotes: o Padre Paulo Lima, filho do Sr. Jaime Castro e de dona Maria dos Prazeres Lima (Dona Prazerinha); e o Padre Lindolfo Lisboa, filho de Filinto Aragão Lisboa e dona Leopoldina Fernandes de Melo.


É esta a personalidade que enfocamos hoje. Pouco conhecido, pois deixou sua terra natal muito cedo e, ao que nos consta, não mais retornou, o Padre Lindolfo ali deixou seu irmão Danúbio e sues meios-irmãos Lauro Lisboa, Lienarde e dona Leonor (casada com o Sr. José Lima  Sobrinho), estes de um segundo relacionamento de seu pai com a Srª Maria Umbiliana Rocha Lisboa, conhecida por “Maria do Ouro”.


Ele nasceu em Limoeiro (por muitos anos chamado Alecrim), no município alagoano de Pão de Açúcar, situado na margem esquerda do Rio São Francisco, no dia 1º de agosto de 1929.


Depois de longa carreira eclesiástica, toda ela na cidade do Rio de Janeiro, soubemos agora do seu falecimento, no dia 15 de setembro último.


De uma nota do Arcebispo Dom Orani Tempesta, publicada no Site do Arquidiocese, temos muitas informações sobre ele:


Monsenhor Lindolfo Lisboa na casa do Pai

Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2024


Com profundo pesar, comunicamos a partida do vigário paroquial no Santuário São Judas Tadeu, no Cosme Velho, monsenhor Lindolfo Lisboa, para a Casa do Pai, ocorrida neste domingo, 15 de setembro, às 21h, na CTI do Hospital São Lucas, no Rio de Janeiro, aos 95 anos e 63 anos de sacerdócio.


O corpo de monsenhor Lindolfo será velado no Santuário São Judas Tadeu, em Cosme Velho, na segunda-feira, dia 16 de setembro, e a missa de exéquias será às 14h30, seguida de sepultamento na quadra dos padres da Irmandade de São Pedro, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.

....   ...

 

Formou-se no Seminário Arquidiocesano de São José, cursando Filosofia de 1955 a 1957, e Teologia de 1958 a 1961. Recebeu a ordenação diaconal no dia 12 de março de 1961 e, pelas mãos do Cardeal Jaime de Barros Câmara, a ordenação sacerdotal, no dia 29 de junho do mesmo ano.


Como sacerdote, monsenhor Lindolfo, exerceu os ofícios de coadjutor na Paróquia Santo André, em São Cristóvão (nomeado em 1962), capelão do Hospital São Sebastião (nomeado em 1962), pároco da Paróquia Menino Jesus de Praga, em Bangu (nomeado em 1965), vigário cooperador na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana (nomeado em abril de 1971), pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Marechal Hermes (nomeado em outubro de 1973), pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz, no Rocha (nomeado em setembro de 1999), e vigário paroquial no Santuário São Judas Tadeu, no Cosme Velho (nomeado em fevereiro de 2005).


No dia 30 de maio de 2016, o Papa Francisco lhe conferiu, por nossa proposta, o título de Capelão de Sua Santidade, mais conhecido como monsenhor, em reconhecimento pelos serviços que prestou à Igreja do Rio de Janeiro.


À luz da liturgia deste 24º Domingo do Tempo Comum, podemos afirmar que, nos primeiros anos de sua vida, monsenhor Lindolfo foi convidando pelo Senhor a segui-lo (Mc 8, 34). Renunciando a si mesmo ele aceitou o chamado, e na presença do Senhor carregou sua cruz (Sl 114, 9), proclamou que Cristo é o filho de Deus (Mc 8, 29), deu testemunho de sua fé pelas obras e (Tg 2,18), na hora de sua partida para a eternidade, teve a certeza que salvou sua vida por causa de Cristo e do Evangelho (Mc 8, 35).


Ao reitor e pároco do Santuário São Judas em Cosme Velho, monsenhor Henrique Jorge Diegues, ao clero diocesano, familiares, amigos e fiéis que conviveram ou estiveram sob o pastoreio de monsenhor Lindolfo, manifesto minha unidade, solidariedade e orações.


Monsenhor Lindolfo combateu o bom combate, completou a corrida, guardou a fé e agora lhe está reservada a coroa da justiça (2Tm 4,7-8). Fortalecidos pela esperança que não decepciona (Rm 5,5), conquistada na cruz, pelo sangue de Jesus Cristo, Nosso Senhor, rezemos pelo seu descanso eterno e louvamos a Deus pela sua vida e vocação, pelo bem que fez e os exemplos que dele recebemos.


Que Maria Santíssima, a Senhora das Dores, que contemplamos pela fé, aos pés da cruz, tendo nos braços o corpo sem vida de seu Filho, seja a intercessora de monsenhor Lindolfo para que ele, sem dores e sofrimentos, possa viver a bem-aventurança eterna.


Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno. E que a luz perpétua os ilumine. Descansem em paz. Amém.

 Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro-RJ.

***

O Mons. Lindolfo Lisboa. Foto: Arquidiocese do RJ.


Sobre a sua passagem pela Paróquia do Menino Jesus de Praga, o jornal católico A CRUZ, em edição de 26 de fevereiro de 1967, noticiou o que seria o nascedouro daquela circunscrição religiosa e o enorme esforço desprendido pelo padre, no tempo em que morava na casa numero 11, da Rua Eletricista:


“VILA ALIANÇA - PARÓQUIA DO MENINO JESUS DE PRAGA

Uma paróquia que se levanta. Vila Aliança, Bangu. Clima ameno, em cerca de 2 quilômetros de extensão, surge a Paróquia do Menino Jesus de Praga. Ali vivem perto de 10.000 almas. Gente humilde, pobre mas, sobretudo, trabalhadora. Nela, com grande dificuldade, num exíguo barraco de madeira onde as chuvas penetram intensamente, o atual pároco Reverendíssimo Lindolfo Lisboa celebra os Santos Ofícios. Com a ajuda do povo local, e com esmolas de outras igrejas, o reverendo construiu um modesto salão paroquial de 11 x 22, faltando apenas a cobertura para ter a edificação da futura igreja da paróquia.”


Em pequenas notícias de jornal, aqui e acolá encontramos traços da sua personalidade. Em 1970, em meio a acirradas discussões sobre uso de cabelos grandes pelos homens e uso de calças pelas mulheres, o jornal carioca Correio da Manhã publica uma matéria intitulada TODOS CONTRA PROIBIÇÃO DOS CABELUDOS NO FORUM.


O Tribunal de Justiça havia baixado uma Portaria proibindo o acesso de “cabeludos e barbudos) no forum do Estado da Guanabara (Unidade Federativa constituída apenas pela cidade do Rio de Janeiro, ex-Capital Federal, depois unificada à do Estado do Rio de Janeiro).


Dizia a matéria que Afonsinho, jogador do meio-campo do Botafogo, estudante do 3º ano de medicina, ameaçava deixar o futebol se fosse obrigado a tirar a barba. Dizia ele: “eu não tiro a barba de jeito nenhum”.

 

Por outro lado, o Governador Negrão de Lima aprovava o uso de calças compridas pelas funcionárias do Estado.


Sobre isso, disse o Padre Lindolfo:

“Autoridade é autoridade. Mas, na minha opinião, não há problema se a pessoa usa cabelo comprido ou não, desde que respeite a ordem. Quanto à quersão de a moça trabalhar de calça comprida, acho mais decente do que a mini-saia. O importante é a decência e a virtude está no meio termo. O carater do cabeludo não é determinado pela aparência, é só uma questão de ética, porque se o cabelo for muito comprido, é até anti- higiênico.”


Flamenguista declarado, o Padre Lindolfo era visitado constantemente em sua paróquia de São Judas Tadeu (padroeiro do Clube) para benzer as camisas dos jogadores e rezar pelo sucesso nas pelejas futebolísticas.

 

Pe. Lindolfo com Joel Santana e Márcio Braga. Foto Cézar Loureiro, Agência O Globo. Correio Braziliente, 11/03/2008

HOMENAGEM.

Em 1995, em Sessão Plenária realizada em 31 de março de 1995 a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou o Requerimento n º 611, de autoria do Vereador Américo Camargo, concedendo a Medalha do Mérito Pedro Ernesto ao Padre Lindolfo Lisboa. A Resolução, que tomou o número 2.646, foi publicada no Diário da Câmara Municipal em 5 de abril de 1995. É a mais alta condecoração concedida pela Câmara do Rio de Janeiro.

O Mons. Lindolfo


O Mons. Lindolfo com o Arcebispo D. Orani Tempesta.

Limoeiro (Alecrim), Pão de Açúcar-AL, terra natal do Pe. Lindolfo, 1968. Foto: Jim Squires
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Limoeiro (Alecrim), Pão de Açúcar-AL, terra natal do Pe. Lindolfo, 1968. Foto: Jim Squires
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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

Tratamento de imagens: Vívia Rodrigues Amorim.

sábado, 23 de novembro de 2024

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - SEGISMUNDO ANDRADE

 

Por Etevaldo Amorim

Segismundo Andrade. Foto Max Rosenfeld


SEGISMUNDO GONÇALVES DE ANDRADE nasceu em Pão de Açúcar no dia 19 de julho de 1922. Filho de José Gonçalves de Andrade (Zequinha Andrade) e de Maria Etelvina Dantas (Dona Branca), casados em 29 de novembro de 1906. Seus avós paternos eram Leopoldo Gonçalves de Andrade e Antônia Clotildes de Andrade e, avós maternos, Manoel Vieira Dantas e Maria Nicácia Souza Dantas.


O avô Leopoldo, que faleceu aos 28 anos de idade, era filho de José Gonçalves de Andrade e Cândida Delfina do Coração de Jesus e foi professor em Jacaré dos Homens.


Em 11 de abril de 1950, Segismundo casa-se com a Srtª Helena Pereira do Carmo Sarmento, filha do industrial Climério Wanderley Sarmento e Josepha da Cunha Pereira do Carmo, com quem teve os filhos Climério e Segismundo, este já falecido. 


Depois de receber os primeiros ensinamentos em Pão de Açúcar, fez o curso Ginasial no Colégio Tobias Barreto, em Aracaju-SE, de 1935 a 1939, para cuja formatura foi escolhido orador oficial. Cumpridos os cinco anos, que era o período do Ginasial na época, foi para o Recife, onde fez os dois anos complementares, já decidido a fazer o Curso de Direito, para o qual prestou vestibular e foi aprovado em janeiro de 1942.

Segismundo jovem.


Sua passagem pela Faculdade de Direito, entre 1942 e 1946, quando se formou em 12 de dezembro, coincidiu com o período de redemocratização do país, que vivia sob o jugo ditatorial de Getúlio Vargas. A participação ativa nos movimentos estudantis  lhe custou 24 horas de reclusão, no dia 7 de setembro de 1944. 


Ao anoitecer, os agentes da Polícia detiveram, na pensão Sion, os acadêmicos de Direito Segismundo Andrade e Alírio Torres Dantas...[i] 


A pensão Sion situava-se na Rua Barão de São Borja, nº 60, no bairro da Boa Vista.


Mais de dois anos depois, por meio da Portaria nº 1.381, de 13 de dezembro de 1946, o Secretário de Segurança Pública do Estado de Pernambuco, Major Humberto Melo, determinou a incineração dos prontuários das pessoas presas por ocasião das manifestações.  O prontuário de Segismundo Andrade, ainda como “estudante”, de número 9456, só foi incinerado em janeiro de 1947.  (Diário da Manhã, do Recife-PE, de 21 de janeiro de 1947).


Crescia a oposição a Vargas. A indisfarçável predileção de membros de seu Governo pelas ideias nazistas de Adolf Hitler desagradava amplos setores nacionais, entre eles a classe estudantil e até mesmo homens do Governo como Oswaldo Aranha. Pressionado a apoiar as forças aliadas, e ante o torpedeamento de navios da marinha mercante brasileira pelos alemães, Getúlio declara guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão), em 1942.


Em 26 de janeiro de 1945, o jornal Correio da Manhã, de Carlos Lacerda, publica  bombástica entrevista do político paraibano José Américo de Almeida, pedindo o fim da ditadura e a restauração da democracia. No mesmo dia, à tarde, o jornal O Globo lança a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à Presidência da República.


Segismundo participa, de forma destacada, do primeiro comício pela redemocratização do país, promovido pelos estudantes da Faculdade de Direito do Recife, em 3 de março de 1945. O ato, inicialmente marcado para a Praça 13 de Maio, foi proibido pelo Interventor Etelvino Lins. Já mobilizados, os estudantes, que já contavam com o apoio de importantes segmentos sociais e de personalidades políticas como Carlos de Lima Cavalcante e Juracy Magalhães, resolveram fazer uma passeata desde a Faculdade até a sede do Diário de Pernambuco. Lá chegando, ante a multidão que se formara em frente ao prédio do importante jornal pernambucano, usaram as sacadas do edifício como palanque.


O primeiro a falar foi o estudante Odilon Ribeiro Coutinho[ii]. Chega, então, a polícia com o propósito de dispersar a manifestação. Os policiais disparam tiros para todos os lados. Um deles atingiu o jovem estudante Demócrito de Souza Filho[iii], que estava ao lado de Segismundo. Na sacada vizinha, estava o sociólogo Gilberto Freire, que se elegeria Deputado Federal naquele ano, e para quem, segundo alguns afirmavam, tinham sido dirigidos os tiros. No meio do povo, foi também ferido mortalmente o operário Elias dos Santos[iv].

Demócrito de Souza Filho

Para evitar que o jornal publicasse a notícia das mortes, os policiais invadiram a redação e destruíram a edição do dia 4. Para não se submeter à censura, o jornal deixou de circular de  4 de março a 8 de abril, só retornando quando obteve garantias por uma sentença favorável à liberdade de imprensa, concedida pelo juiz Luiz Marinho.

Sabedores de que a viúva e filhos do operário Manoel Elias dos Santos passava por dificuldades,  os estudantes da Faculdade de Direito a visitaram, acompanhados da reportagem do Diário de Pernambuco e, pelas mãos do estudante José Rafael de Menezes, entregaram à Srª Evangelina Moura a importância de 10 mil cruzeiros. (DP, 27 de abril de 1945)



Manoel Elias dos Santos. Foto DP

O Diário de Pernambuco, em edição do dia 29 de abril de 1945, em matéria alusiva ao à rendição da Alemanha, estampa a manchete “ENORME VIBRAÇÃO POPULAR - COM AS NOTÍCIAS DA QUEDA DE BERLIM O POVO REUNIU-SE NA PRAÇA DA INDEPENDÊNCIA EM VERDADEIRO DELÍRIO.” 
Muitas manifestações de destacados líderes políticos pernambucanos ali estão. Entre elas, a fala de Segismundo:


“O povo está novamente na praça, que é do povo, e não de propriedade do Governo, como queriam os fascistas nacionais, para comemorar esta data tão ansiosamente esperada pelas consciências livres de todo o mundo.

Esta vitória, que foi conquistada com o sangue dos soldados de Eisenhower, dos soldados de Voroshilov, dos soldados de Mascarenhas de Morais; esta vitória, que é o fim do nazismo germânico, nos enche de alegria por constituir uma esperança de que bem próximo se encontra também a vitória da democracia brasileira.

Os anos negros de cafajestadas, dos “DIPS” e de massacres em praça pública hão de passar como uma exigência da consciência democrática da nação, que nunca se amoldou aos princípios gestalianos[v] de garroteamento da consciência brasileira. Esta vitória que o povo está comemorando em frente ao Diário, essa trincheira inexpugnável da liberdade e do pensamento democrático do Brasil, em frente a este velho Diário, que é a única chama de liberdade nesta “terra ocupada de Pernambuco”, esta vitória é a certeza de que levaremos às urnas o nome do brigadeiro Eduardo Gomes, que salvará a Nação de tantos desmandos e de tantos “anos de desgraça pública”.

 

No dia 18 de julho de 1945, partiu do Recife para o Rio de Janeiro, no avião “Tio Sam”, da companhia Santos Dumont, a delegação pernambucana para o Congresso dos Estudantes Brasileiros, convocado pela UNE - União Nacional dos Estudantes. Entre eles, Segismundo Andrade. Junto com eles seguiu um representante da Faculdade de Direito de Alagoas: o estudante José Franklim Casado de Lima.[vi] Nesse Congresso, foi eleito para a presidência da entidade o estudante carioca Ernesto Bagdócimo, ligado à UDN.

No dia 8 de setembro de 1945, realizou-se em Maceió, no Salão Nobre da Associação Comercial, a Convenção da UDN, com a presença de Juracy Magalhães. Em seu discurso, Segismundo agradece aos estudantes da Faculdade de Direito local por ter incluído o nome de Demócrito de Souza Filho como “orador oficial” da Turma daquele ano. (DP, 13 de setembro de 1945)

Pressionado mais uma vez, Getúlio Vargas convoca as eleições para a Assembleia Constituinte, que se realizaram no dia 2 de dezembro de 1945. Organizaram-se o PSD - Partido Social Democrático, de sustentação ao Governo; e a UDN - União Democrática Nacional, que aglutinava forças oposicionistas.


O Diretório da UDN em Alagoas é organizado por Juracy Magalhães. Segismundo é convidado a participar da criação do Partido no Estado, ao lado de Rui Palmeira, Melo Mota, Joaquim Leão, Alfredo de Maya, Mário Gomes de Barros, Antônio de Freitas Cavalcante e outros. Em Pão de Açúcar, a UDN era formada por seu pai, José Gonçalves de Andrade, Joaquim Rezende, Pedro Soares Vieira (Pedrito), Frutuoso Pereira Barbosa, Antônio Rodrigues Souto e José Gonçalves da Silva (seu Zé Gonçalves), entre outros.

Segismundo Andrade na sua formatura em 1946. Foto: arquivo familiar.
 

Instalada em 31 de janeiro de 1946, a Assembleia Constituinte promulga, em 16 de setembro do mesmo ano, a nova Constituição do Brasil, que já marcava eleições para Governador e Deputado Estadual.


Em Convenção da UDN, realiza em 25 de outubro de 1946, foi lançada a candidatura do deputado Rui Palmeira para Governador do Estado; e para o Senado, Costa Rego (suplente: Quintela Cavalcanti). Segismundo é incluído no rol de candidatos a Deputado Estadual[vii]. Recém formado, com apenas 24 anos, é eleito em 19 de janeiro de 1947 para a Legislatura 1947 a 1951. Foi reeleito para a Legislatura 1951 a 1955.


Como Deputado Estadual, na Ordem do Dia da Sessão do dia 13 de junho de 1947, Segismundo apresenta emenda ao Projeto Constitucional, criando o município de Delmiro Gouveia. Tal proposição, no entanto, não foi aprovada, posto que aquele município, antes pertencente a Água Branca, só viria a alcançar a sua emancipação em 16 de junho de 1952, pela Lei Estadual nº 1.628.[viii]


Findos os dois períodos em que atuou na Assembleia Legislativa Estadual, candidata-se à Câmara Federal, sendo eleito sucessivamente para as Legislaturas: 1955 a 1959, 1959 a 1963, 1963 a 1967 e 1967 a 1971, quando foi Vice-Líder da bancada da UDN, de 1955 a 1960, cujo Líder era Carlos Lacerda; e membro das Comissões de Orçamento, Relações Exteriores e Economia. Participou das Comissões Especiais de: Valorização Econômica da Amazônia: 1959; Bacia do São Francisco: 1959, 1963; Polígono das Secas: Suplente 1967.


Participou de CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito: Estudo sobre o problema do arroz no Baixo São Francisco, 1955; de Energia Atômica: 1956; Apurar as transações efetuadas entre empresas nacionais e estrangeiras: Membro, 1968.


Integrou Conselhos, Frentes e Grupos Parlamentares: Grupo Brasileiro da União Interparlamentar, Membro, 1967, Suplente, 1968, 1970. Associação Interparlamentar de Turismo, Suplente, 1967.


Participou de diversas missões no exterior, como membro da Comissão Executiva Parlamentar, em Belgrado, Copenhague, Genebra, Roma e Palma de Malhorca. Recebeu condecoração do Governo da Síria.


Foi também Vice- Presidente Nacional do seu Partido e citado como destaque entre os parlamentares da 4ª Legislatura[ix], o único da bancada alagoana.


Como resultado da sua intensa atuação política, Pão de Açúcar recebeu importantes melhoramentos, tais como: a instalação da Comissão do Vale do São Francisco (depois transformada em SUVALE - Superintendência do Vale do São Francisco e, posteriormente, em CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco); construção, equipagem e garantia de funcionamento do Hospital do SESP - Serviço Especial de Saúde Pública (depois F-SESP e Fundação Nacional de Saúde); Serviço de Abastecimento de Água da cidade (o mesmo até hoje em funcionamento) e a eletrificação da cidade com energia de Paulo Afonso, melhoramentos que chegaram até nós muito antes de terem alcançado outras importantes cidades do Estado.

 

Segismundo Andrade com o Deputado Freitas Cavalcante e o Presidente Jânio Quadros. Foto: arquivo pessoal.

O Dep. Segismundo Andrade com o Presidente do Egito Gamal Abnel Nasser, em missão do parlamento brasileiro.


O Dep. Segismundo Andrade em visita à China, em missão do parlamento brasileiro.


Segismundo em visita ao Papa Paulo VI.



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Em 2004, por ocasião dos festejos comemorativos do Sesquicentenário da sua Emancipação Política, Pão de Açúcar recebeu a visita daquele que fora seu representante por longos anos. Na noite do dia 2 de março, no Iate Clube Pão de Açúcar, ele recebeu a Comenda Bráulio Cavalcante, concedida pela Câmara Municipal.

Naquela ocasião, falando para uma plateia composta, em sua maioria, por pessoas que não o conheciam, ele pronunciou um discurso memorável, em que discorreu sobre a sua longa atividade parlamentar.

Notava-se nele uma enorme satisfação em estar ali falando aos seus conterrâneos e familiares, entre estes a Presidente da Câmara, a saudosa vereadora Maria Etelvina Andrade Cruz Almeida - “Branca”.

Referindo-se ao seu discurso, disse ser aquele o seu “canto do cisne”, última palavra e derradeiro ato diante dos pão-de-açucarenses. Quatro anos e meio depois, faleceria em Maceió, no dia 24 de setembro de 2008.



Segismundo Andrade (ao lado de Etevaldo Amorim) quando recebia a Comenda Bráulio Cavalcante. Foto: Duan Cícero, 2004.



Para saber mais sobre Segismundo Andrade e os motivos que o levaram a se afastar da vida pública, acesse O DISCURSO QUE ENCERROU UMA BRILHANTE CARREIRA



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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. (Tratamento de imagens: Vívia Rodrigues Amorim)



[i] ALVES, Antônio de Brito. O Estudante Demócrito e a Campanha pela Redemocratização na Faculdade de Direito do Recife. Recife: Typografia Marista, 1977. Alírio Torres Dantas (Teixeira-PB 05/03/1922-Recife-PE 06/10/2003). Filho de José Torres Dantas e Jovita Rodrigues Caetano. Casado com Dulce de Queiróz Campos.

[ii] Odilon Ribeiro Continho (Santa Rita-PB, 12/07/1023 - Rio de Janeiro-RJ, 07/07/2000). Filho de João Úrsulo Ribeiro Coutinho e Helena Pessoa Ribeiro Coutinho. Eleito Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte em 1962, pelo PDC - Partido Democrata Cristão.

[iii] Demócrito Cézar de Souza Filho, natural do Recife-PE (27/10/1923-03/03/1945). Filho de Demócrito Cézar de Souza (conceituado advogado, que foi colega de Turma, em 1911, de outro pão-de-açucarense: Bráulio Cavalcante) e Maria Cristina Coelho Tasso.

[iv] Manoel Elias dos Santos, conhecido como “Manuel Carvoeiro”. Nasceu em Bezerros-PE no dia 21 de dezembro de 1918. Filho de Elias José dos Santos e Josefa Auta dos Santos. Casado com Evangelina Moura dos Santos, deixou as filhas Edenise e Evanise e um filho ainda no ventre da mãe, que veio a nascer no dia 24 de abril de 1945.

[v] Talvez tenha querido dizer “Gestaltiana”, em referência a Gestalt, que é uma palavra de origem alemã que pode ser traduzida como “forma total” ou “forma global”.

[vi] Diário de Pernambuco, 18 de julho de 1945.

[vii] Relação de candidatos da UDN referendados na Convenção realizada em outubro de 1946: José Paulino Sarmento, Lourival Melo Mota, Carlos Gomes de Barros, Ulisses Braga Junior, Alfredo de Barros Lima Junior, Eustáquio Gomes de Melo, João Carlos Filho, Benon Maia Gomes, Hermano Plech, Oceano Carleial, Inácio Brandão Gracindo, Luiz Moreira de Mendonça, Jaques Azevedo, João Martins, Mário Guimarães, Manoel Vasconcelos Teixeira, Diógenes Jucá Bernardes, Donizetti Calheiros, Joaquim Leão, Luiz Calheiros Junior, Francisco Rizzo, Aurélio Viana, José Lourenço do Monte, Segismundo Andrade, Anfilófio Guerra, José Magalhães da Silveira, Raul Freitas Melro, Paulo Medeiros, Lincoln Cavalcante, Francisco Gomes Ferreira, Luiz Serapião Simões, Carlos Santa Rita, Francisco Arlinso Silva, José Rezende e Alcides Sá. Fonte: A Manhã, RJ, 26 de outubro de 1946.

[viii] Correio da Manhã, RJ, 14 de junho de 1947.

[ix] FRANCO, Afonso Arinos de Melo. A Câmara dos Deputados-Síntese Histórica. Rio de Janeiro: IBGE, 1976.

[x] Dwight David "Ike" Eisenhower. General de cinco estrelas do Exército Americano. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele serviu como o Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa.

foi o 34º Presidente dos Estados Unidos de 1953 até 1961. Antes disso, ele foi um

[xi] Kliment Yefremovich Voroshilov, Marechal da União Soviética, Comissário para os Assuntos militares e Marítimos  e Comissário da Defesa.

[xii] João Batista Mascarenhas de Morais. Comandante da Força Expedicionária Brasileira, na Segunda Guerra Mundial durante a Campanha da Itália, entre 1944 e 1945.

[xiii] Talvez tenha queriso dizer “Gestaltiana”, em referência a Gestalt, que é uma palavra de origem alemã que pode ser traduzida como “forma total” ou “forma global”.

 



[i] ALVES, Antônio de Brito. O Estudante Demócrito e a Campanha pela Redemocratização na Faculdade de Direito do Recife. Recife: Typografia Marista, 1977. Alírio Torres Dantas (Teixeira-PB 05/03/1922-Recife-PE 06/10/2003). Filho de José Torres Dantas e Jovita Rodrigues Caetano. Casado com Dulce de Queiróz Campos.

[ii] Odilon Ribeiro Continho (Santa Rita-PB, 12/07/1023 - Rio de Janeiro-RJ, 07/07/2000). Filho de João Úrsulo Ribeiro Coutinho e Helena Pessoa Ribeiro Coutinho. Eleito Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte em 1962, pelo PDC - Partido Democrata Cristão.

[iii] Demócrito Cézar de Souza Filho, natural do Recife-PE (27/10/1923-03/03/1945). Filho de Demócrito Cézar de Souza (conceituado advogado, que foi colega de Turma, em 1911, de outro pão-de-açucarense: Bráulio Cavalcante) e Maria Cristina Coelho Tasso.

[iv] Manoel Elias dos Santos, conhecido como “Manuel Carvoeiro”. Nasceu em Bezerros-PE no dia 21 de dezembro de 1918. Filho de Elias José dos Santos e Josefa Auta dos Santos. Casado com Evangelina Moura dos Santos, deixou as filhas Edenise e Evanise e um filho ainda no ventre da mãe, que veio a nascer no dia 24 de abril de 1945.

[v] Talvez tenha queriso dizer “Gestaltiana”, em referência a Gestalt, que é uma palavra de origem alemã que pode ser traduzida como “forma total” ou “forma global”.

[vi] Diário de Pernambuco, 18 de julho de 1945.

[vii] Relação de candidatos da UDN referendados na Convenção realizada em outubro de 1946: José Paulino Sarmento, Lourival Melo Mota, Carlos Gomes de Barros, Ulisses Braga Junior, Alfredo de Barros Lima Junior, Eustáquio Gomes de Melo, João Carlos Filho, Benon Maia Gomes, Hermano Plech, Oceano Carleial, Inácio Brandão Gracindo, Luiz Moreira de Mendonça, Jaques Azevedo, João Martins, Mário Guimarães, Manoel Vasconcelos Teixeira, Diógenes Jucá Bernardes, Donizetti Calheiros, Joaquim Leão, Luiz Calheiros Junior, Francisco Rizzo, Aurélio Viana, José Lourenço do Monte, Segismundo Andrade, Anfilófio Guerra, José Magalhães da Silveira, Raul Freitas Melro, Paulo Medeiros, Lincoln Cavalcante, Francisco Gomes Ferreira, Luiz Serapião Simões, Carlos Santa Rita, Francisco Arlinso Silva, José Rezende e Alcides Sá. Fonte: A Manhã, RJ, 26 de outubro de 1946.

[viii] Correio da Manhã, RJ, 14 de junho de 1947.

[ix] FRANCO, Afonso Arinos de Melo. A Câma dos Deputados-Síntese Histórica. Rio de Janeiro: IBGE, 1976.

[x] Talvez tenha querido dizer “Gestaltiana”, em referência a Gestalt, que é uma palavra de origem alemã que pode ser traduzida como “forma total” ou “forma global”.