Etevaldo Amorim
A implantação do primeiro trecho da Estrada de Ferro Paulo Afonso, todo ele em território alagoano — 28 km entre Piranhas e Olhos D’ Água — cuja inauguração se deu em 25 de fevereiro de 1881, foi marcada por um trágico episódio, que faria registrar também, na história de Pão de Açúcar, um fato contristador.
Naquele 17 de julho de 1880, de
subida para o local das obras, partiu a máquina “Piranhas”, rebocando cinco
vagões carregados de material, dormentes e trilhos para o assentamento da via
permanente. Sobre os carros iam muitas
pessoas: operários, engenheiros e visitantes. Necessitando abastecer-se de
água, o maquinista faz parar a locomotiva na linha de nível do Cipó, onde havia
um depósito, ao final de uma rampa de 4 km de extensão. Julgando estar seguro
para a manobra, inadvertida e imprudentemente desengata a máquina, num ponto em
que a rampa contava ainda com um declive de 3 %. Os vagões, com um peso de aproximadamente
35 toneladas, precipitam-se por uma extensão de mais de mil metros. Ainda
dentro de um “corte grande”, descarrilou um vagão, o que proporcionou a
retenção dos demais.
É possível que nada de mais grave
viesse a acontecer, não fosse outra intervenção do maquinista que, percebendo a
descida os vagões, voltou com a máquina a toda velocidade na tentativa de
alcançá-la. Quanto tentou frear já era
tarde. A locomotiva montou sobre os primeiros vagões, esmagando onze pessoas e
ferindo gravemente outras três. Os engenheiros Barcellos e Souza Reis,
pressentindo o perigo, saltaram logo, assim que os troles começaram a descer.
Escaparam ilesos.
Tudo
isso se deu entre as 11:00 h e o meio dia. Treze foram os mortos nesse pavoroso
desastre. Entre eles, o comerciante pernambucano Maturino Barroso e o Dr.
Ferreira de Novaes. Entre os muitos feridos, achava-se ainda um seu
irmão: Major João Marinho de Novaes Mello.
Ferreira de Novaes, à esquerda. Não teria mais que 17 anos, posto que o seu cunhado, João Francisco Paes Barreto, que aparece a seu lado, faleceu em 1873. |
Os jornais da época, nos mais diferentes pontos do país,
noticiaram o fato a partir da reprodução de telegramas entre as autoridades, a
exemplo do Jornal da Tarde, de São Paulo (SP); Gazeta do Norte, de Fortaleza
(CE); O Iniciador, de Corumbá (MT) e do O Baependyano, de Baependi (MG).
O Engenheiro Chefe da Estrada, Dr. Eduardo José de
Moraes, telegrafou ao Ministro da Agricultura Buarque de Macedo relatando o
ocorrido e informando que havia mandado prender o maquinista. O Ministro, por
sua vez, determinou ao Dr. Hermelindo Accioly de Barros Pimentel, 3º
Vice-Presidente, no exercício interino da Presidência da Província de Alagoas (cujo
Titular era o Dr. Cicinato Pinto da Silva), a adoção de imediatas providências
visando a apuração das causas do acidente. Assim, foi nomeada uma Comissão
composta do Dr. Theophilo Fernandes dos Santos, Tenente-Coronel Agapito de
Lemos Medeiros e Engenheiro Mecânico Eduardo Lima, todos residentes na cidade
do Penedo, a fim de examinar com toda minúcia e rigor as causas do desastre,
dando conta do resultado com a maior brevidade.
Antônio
Ferreira de Novaes Mello era filho do Major João Machado de Novaes Mello e de
D. Maria José Leite Sampaio. Nasceu em Pão de Açúcar, no dia 5 de dezembro de
1856. Aos vinte e três anos, já estava formado pela
Faculdade de Direito do Estado de São Paulo, colando grau em 10 de novembro de
1879. A essa 48ª Turma pertenceu Antônio Caio da Silva Prado (Caio Prado), que viria a ser Presidente
da Província de Alagoas de 05/09/1887 a 16/04/1888.
Ferreira de Novaes, com apenas 23 anos, já era Deputado Provincial em Alagoas, integrando as hostes do Partido Liberal. Pouco antes de voltar para Alagoas, exerceu o cargo de Promotor Público na cidade de Capivary, Estado de São Paulo. Quando iniciava sua carreira parlamentar, foi levado pela fatalidade. No dia 24 de julho de 1880, por encomenda do seu mestre, e também alagoano, José Francisco Soares, foi rezada uma missa na Igreja da Sé, na Capital paulista
Ferreira de Novaes, com apenas 23 anos, já era Deputado Provincial em Alagoas, integrando as hostes do Partido Liberal. Pouco antes de voltar para Alagoas, exerceu o cargo de Promotor Público na cidade de Capivary, Estado de São Paulo. Quando iniciava sua carreira parlamentar, foi levado pela fatalidade. No dia 24 de julho de 1880, por encomenda do seu mestre, e também alagoano, José Francisco Soares, foi rezada uma missa na Igreja da Sé, na Capital paulista
Seu pai, o Major João Machado de Novaes Mello – Barão de
Piaçabuçú, era destacado líder do Partido Liberal e chefe político daquela
Região e de uma família da qual sairia o primeiro Prefeito (Intendente) do
Município – o Juiz de Direito Dr. Miguel de Novaes Mello.
Uma
das principais avenidas da cidade, marginal ao rio São Francisco, adota o nome
de um membro de uma das mais importantes famílias de Pão de Açúcar. Pela Lei Nº
57, de 7 de janeiro de 1913, assinada pelo Intendente Cel. Manoel Antônio
Machado, a Rua da Praia passou a se chamar Avenida Ferreira
de Novaes.
Piranhas, vista da margem sergipana. Foto: Adolpho Lindemann. 1888.
Meu caro escritor, amigo.
ResponderExcluirBom dia.
Estou solicitando autorização para publicar em nosso blog essa matérias e algumas mais que voce escreve com tão boa paz. Parabéns!
Aguardo Vosso contato.
Um abraço,
Adeval Marques
Etevaldo, parabéns pela excelente matéria, finalmente o blog volta com todo o vapor.
ResponderExcluirEspero que continue a nos presentear com mais dados históricos para o enriquecimento da nossa cultura.
Muito bom o material. Estou muito feliz por encontrá-lo. Peço autorização para partilhá-lo. Helaine Noaves Paes Barreto Coutinho Sabbadini
ResponderExcluirNão estou certa se foi meu trisavô (ou tetra) que hospedou D Pedro II e recebeu dele o prato com os escritos carinhosos, dos quais tanto a família comenta, até mais que a titulação de Barão de Piaçabuçú.
ResponderExcluirHelaine,
ExcluirPrimeiramente, muito obrigado por acessar meu Blog.
Fique à vontade para compartilhá-lo. Ficarei imensamente honrado em ser citado em seus trabalhos ou mesmo em correspondências com pessoas de sua relação.
Boa noite! Grande material. Estou desenvolvendo um projeto e gostaria de saber se poderia usar o material como fonte. Se possível, queria algum contado para mais detalhes. Aguardo o retorno.
ResponderExcluirClaro que pode utilizar, Chelton. Será um prazer servir de referência para o seu trabalho. Sugestão para referência: AMORIM, Etevaldo Alves. Maceió – Desastre em Piranhas e a morte de Ferreira de Novaes. Maceió, _____ de ___. Disponível em: http://www.blogdoetevaldo.blogspot.com.br/. Acesso em: dia, mês e ano.
ExcluirContatos pelo e-mail: etamorim@hotmail.com
Obrigado amigo Etevaldo, pelo envio de mais esse pérola. Suas pesquisas são primorosas e nos enriquecem com suas sapiência. 🤝🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾
ResponderExcluirRelato bem escrito e de uma leitura interantíssima. Parabéns!
ResponderExcluirParabéns amigo Etevaldo , por nos proporcionar este aporte literário fruto de pesquisa rico de informações .
ResponderExcluirMeu caro Etevaldo, obrigada pelas excelentes aulas de história!
ResponderExcluirCada vez mais admiro o seu trabalho,meu amigo!Conhecer,através do seu blog, a história da cidade de Pão de Açúcar ,berço das primícias da minha vida profissional(dali guardo as melhores lembranças),explica o fascínio que a cidade exerceu desde q lá estive.Gratidão!E parabéns!
ResponderExcluirNossa! Comecei a pesquisar sobre meu bisa- tio de 4x ( Barão João ) e achei isso! Muito obrigada por esse blog. 😁
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