Jayme d’ Altavilla
Entre algas e
corais, lá no fundo do Oceano,
sossegada e feliz
uma concha vivia;
e, ouvindo retumbar
o clamor desumano,
do seu dorso
ostentava a tersa fidalguia...
Uma noite, porém,
num desespero insano,
o Mar tanto a
impeliu que, à praia, no outro dia,
foi ter a concha,
enfim, para auferir o dano
de irmanada viver à
infinda Nostalgia.
Mas, embora infeliz,
sob o Destino atroz,
guardou consigo,
então, a ventura de outrora:
do mar, em
tremulina, a enternecida voz.
Também do coração me
impeliste a vagar...
mas eu guardo, inda
assim, a tua voz sonora
como a concha
guardou a linguagem do mar...
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Publicado no jornal O Semeador, Maceió,
31 de outubro de 1916.