PÁGINAS

domingo, 16 de dezembro de 2018

MATHEUS DE ALBUQUERQUE


Por Etevaldo Amorim
Matheus de Albuquerque, 1917.
Foto: revista Literatura Hispano Brasileira.
Matheus Rodrigues de Albuquerque nasceu em Porto Calvo, Estado de Alagoas, a 21 de setembro de 1880. Era filho de Cassiano Carlos de Albuquerque e de dona Gertrudes Rodrigues de Albuquerque. Eram seus irmãos os também poetas Cassiano de Albuquerque e Theóphilo de Albuquerque, além de Maria de Albuquerque (que se casou com Antenor dos Santos Lima). Seu pai era próspero comerciante na histórica cidade alagoana, estabelecido com padaria e loja de fazenda de miudezas, além de ter sido Sub-Delegado de Polícia;
Iniciando seus estudos em Maceió, já aos 17 anos passou a colaborar na imprensa local, publicando crônicas e poemas. Um desses, o Orbe de 7 de abril de 1900, noticia a sua mudança para o Recife. Dia seguinte, ele efetivamente viaja para a Capital pernambucana, onde começou a trabalhar como Auxiliar do Comércio, no ofício de Guarda-Livros (Contador, na terminologia da época), inicialmente numa loja de louças, na Rua do Crespo.[i] Naquele centro mais adiantado, passou a escrever no A Província, onde se tornou editor literário, e na Gazeta do Norte. Por essa época, foi também Secretário da Sociedade Protetora dos Alagoanos, uma entidade criada em 1901 para dar apoio aos que procuravam, na Capital pernambucana, melhoria na sua condição de vida.
A 19 de setembro de 1907, Matheus, então com 26 anos, casa-se com Joanna de Luna Freire (22 anos), filha de Manoel de Araújo Luna Freire e de Idalina Hosana de Luna Freire, natural de Olinda, onde passa a residir, na Rua dos Milagres, nº 7. A essa altura, seu pai já era falecido. Sua mãe faleceria no ano seguinte, a 12 de agosto, em Maceió, aos 58 anos.
No ano seguinte, contrata com a Livraria Econômica, de Manuel Nogueira de Souza, a publicação do seu livro de versos intitulado Visionário.
Do seu casamento com Joanna, nasceu no Recife, a 22 de março de 1910, Hyrcania de Albuquerque, que foi batizada na matriz da Boa Vista, a 8 de dezembro do mesmo ano. Ela se casaria, em Marseille, França, a 30 de abril de 1929, com o Industrial francês Gèrard de Croze-Magnan.
Em 1910, Matheus foi aceito como Sócio Correspondente da Associação dos Críticos Literários Franceses, com sede em Paris.[ii]
A 10 de abril de 1911, muda-se para o Rio de Janeiro, com sua mulher e uma filha.[iii] No dia 16, a bordo do paquete Rio de Janeiro, desembarca na Capital Federal para experimentar novos desafios.[iv] A princípio, passa a colaborar no jornal O Paíz, para depois escrever em O Imparcial e no El Paiz. Neste mesmo ano, tendo esgotada a primeira edição do Visionário, contrata uma segunda com a livraria Chardron, do Porto.
Foi justamente em O Paiz, edição de 18 de maio de 1912, em artigo intitulado EÇA DE QUEIRÓZ, lança a ideia de a cidade do Rio de Janeiro erguer uma estátua em homenagem ao famoso escritor português. A ideia foi encampada por um grupo de intelectuais, que constituíram uma Comissão para arrecadar fundos, tendo à frente o poeta Coelho Neto. A homenagem só foi concretizada em 1923.
Inauguração do monumento a Eça de Queiróz. Fon-Fon, 3 de março de 1923.
1. Prefeito Alaôr Prata. 2. Escultor Pinto do Couto; 3. Embaixador de Portugal
Duarte Leite; 4. Coelho Neto; 5. Júlia Lopes de Almeida. Foto Fon-Fon.  

Em 1913, lança o livro Crônicas Contemporâneas, tendo a oportunidade de, em 6 de junho de 1913, em visita ao Presidente da República, Hermes da Fonseca, o presenteia com um exemplar.
Em 1915, funda, no Rio de Janeiro, o semanário Era Nova, sob sua direção, ao lado de Evaristo Marques Costa, José Raul de Moraes, Mário de Vasconcelos. O Secretário era o irmão de Matheus, Theóphilo de Albuqerque e a Direção artística de Julião Machado, segundo O Paíz de 5 de julho de 1915. Em 1916, lança “Sensações e Reflexões”.
Foi então que, sob os auspícios do notável estadista Barão do Rio Branco, iniciou a carreira diplomática, tornando-se Diretor da Seção de Negócios Políticos e Diplomatas na América.
Em fevereiro de 1916, foi designado Cônsul do Brasil em Cádiz, Espanha, tomando posse em julho daquele mesmo ano.
Em 1919, lança o livro Da Arte e do Patriotismo. 
Estando em férias no Rio de Janeiro, seus amigos e admiradores lhe ofereceram, no dia 15 de abril de 1923, um almoço no Palace Hotel.
Almoço no Palace Hotel. Sentados, da esquerda para a direita: Graça Aranha 
J. M. Goulart de Andrade. A partir do 5º: o Vice-Presidente Estácio Coimbra; 
Matheus de Albuquerque; Ronald de Carvalho; Frederico Castello Branco Clarck;

Elysio de Carvalho. O Malho_21.04.1923.
Em 1925, como Cônsul do Brasil em Bordeaux recepcionou, no dia 1º de abril, véspera do jogo contra o Bastidienne, os atletas do Club Athético Paulistano, com Friedenreich, não só recebendo a delegação na estação, como proporcionando aos estudantes que compunham a delegação, uma visita à universidade. Em 1928, era Cônsul Geral do Brasil em Lisboa.
Em 24 de janeiro de 1935, foi recebido pelo presidente da Espanha, Alcalá Zamora, como Adito Comercial à Embaixada Brasileira. A 24 de junho de 1937, foi removido desse cargo e recebeu o título honorífico de Conselheiro Comercial do Consulado Geral em Lisboa, onde chegou em 21 de agosto daquele ano. Em 1939, assume o consulado Geral em Barcelona.
Em 1946, foi nomeado pelo Ministro das Relações Exteriores para uma missão Cultural, ligada à Divisão de Cooperação Intelectual na Itália, França, Espanha, Portugal e Suíça.
Faleceu em Petrópolis-RJ, no dia 26 de setembro de 1967. Na imprensa carioca, em que tanto atuou com extraordinário brilhantismo, nota-se uma escassez injustificada de notícias. Apenas O Jornal, em edições de 4 e 14 de janeiro do ano seguinte, fez referencia ao fato:
“Os tempos, o temperamento e a doença muito o distanciaram do quadro literário contemporâneo. Os tempos, porque os de hoje não haveriam de bem avaliar o mérito de sua poesia de corte parnasiano e de sua prosa “vieux style”, os seus ensaios e romances ricos de pátina; o temperamento, porque era de natural esquivo, querendo ficar quieto no seu canto, exilado em Petrópolis para fugir do bulício da cidade das letras; e a doença porque, surdo e quase cego no fim da vida".
Nesses últimos anos de sua vida, diz ainda a matéria de O Jornal, teve a companhia do escritor Povina Cavalcanti e do poeta Oliveira e Silva.




[i] A partir de 1870, com o fim da Guerra do Paraguai, muitas ruas do Recife receberam nomes alusivos àquele conflito. A Rua do Crespo, homenagem a Manoel de Souza Crespo, marinheiro português que se estabeleceu na região como comerciante. Passou a se chamar 1º de Março, data do final do conflito. GASPAR, Lúcia. RUAS DO RECIFE.
Disponível em:
[ii] O Alto Purus, Sena Madueira, 12 de junho de 1910, p. 2.
[iii] Diário de Pernambuco, 12 de abril de 1911, p. 2.
[iv] O Paiz, 17 de abril de 1911, p. 3.

sábado, 1 de dezembro de 2018

OLHOS GARÇOS

Massilon Silva[1]

À sombra desse olhar descansa o vento 
Que agita os verdes mares, as campinas,
Que faz girar as saias das meninas, 
Fazendo-as ir na rua a passos lentos. 

E descansam também meus sentimentos, 
Exaustos de invadir-lhes as retinas, 
Com feixes das imagens fesceninas 
Que se me vão formando em pensamentos. 

Assim, tomado de eternal desejo, 
E da incessante busca de um andejo, 
Sei que o destino guiará meus passos

A, um dia, como Orfeu buscando Eurídice, 
Buscar no Olimpo o Supremo Opífice, 
Que desenhou esses teus olhos garços.




Advogado, nascido em Pão de Açúcar, a 6 de março de 1954. Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Maceió - FADIMA, estudou também Observação Meteorológica de Superfície - SUDENE/OMM, Curso Básico de Jornalismo - Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas e Teologia (não concluído) - Faculdade ALFA, Aracaju. Atuou como corresponde do Jornal de Alagoas, Jornal de Hoje e Desafio, todos de Maceió/AL. Participou das antologias Tempo Definido e outras, da Editora Scortecci, São Paulo e da coletânea Aperitivo Poético, Aracaju/SE. É membro da Academia de Letras de Pão de Açúcar/AL e da Academia Alagoana de Literatura de Cordel e da Academia Sergipana de Cordel.