Por
Etevaldo Amorim
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Matheus de Albuquerque, 1917.
Foto: revista Literatura Hispano Brasileira. |
Matheus
Rodrigues de Albuquerque nasceu em Porto Calvo, Estado de Alagoas, a 21 de
setembro de 1880. Era filho de Cassiano Carlos de Albuquerque e de dona
Gertrudes Rodrigues de Albuquerque. Eram seus irmãos os também poetas Cassiano
de Albuquerque e Theóphilo de Albuquerque, além de Maria de Albuquerque (que se
casou com Antenor dos Santos Lima). Seu pai era próspero comerciante na
histórica cidade alagoana, estabelecido com padaria e loja de fazenda de
miudezas, além de ter sido Sub-Delegado de Polícia;
Iniciando
seus estudos em Maceió, já aos 17 anos passou a colaborar na imprensa local,
publicando crônicas e poemas. Um desses, o Orbe de 7 de abril de 1900, noticia
a sua mudança para o Recife. Dia seguinte, ele efetivamente viaja para a
Capital pernambucana, onde começou a trabalhar como Auxiliar do Comércio, no
ofício de Guarda-Livros (Contador, na terminologia da época), inicialmente numa
loja de louças, na Rua do Crespo.[i]
Naquele centro mais adiantado, passou a escrever no A Província, onde se tornou
editor literário, e na Gazeta do Norte. Por essa época, foi também Secretário
da Sociedade Protetora dos Alagoanos, uma entidade criada em 1901 para dar
apoio aos que procuravam, na Capital pernambucana, melhoria na sua condição de
vida.
A
19 de setembro de 1907, Matheus, então com 26 anos, casa-se com Joanna de Luna
Freire (22 anos), filha de Manoel de Araújo Luna Freire e de Idalina Hosana de
Luna Freire, natural de Olinda, onde passa a residir, na Rua dos Milagres, nº
7. A essa altura, seu pai já era falecido. Sua mãe faleceria no ano seguinte, a
12 de agosto, em Maceió, aos 58 anos.
No
ano seguinte, contrata com a Livraria Econômica, de Manuel Nogueira de Souza, a
publicação do seu livro de versos intitulado Visionário.
Do
seu casamento com Joanna, nasceu no Recife, a 22 de março de 1910, Hyrcania de
Albuquerque, que foi batizada na matriz da Boa Vista, a 8 de dezembro do mesmo
ano. Ela se casaria, em Marseille, França, a 30 de abril de 1929, com o Industrial
francês Gèrard de Croze-Magnan.
Em
1910, Matheus foi aceito como Sócio Correspondente da Associação dos Críticos
Literários Franceses, com sede em Paris.[ii]
A
10 de abril de 1911, muda-se para o Rio de Janeiro, com sua mulher e uma filha.[iii]
No dia 16, a bordo do paquete Rio de Janeiro, desembarca na Capital Federal para
experimentar novos desafios.[iv] A
princípio, passa a colaborar no jornal O Paíz, para depois escrever em O
Imparcial e no El Paiz. Neste mesmo ano, tendo esgotada a primeira edição do
Visionário, contrata uma segunda com a livraria Chardron, do Porto.
Foi
justamente em O Paiz, edição de 18 de maio de 1912, em artigo intitulado EÇA DE
QUEIRÓZ, lança a ideia de a cidade do Rio de Janeiro erguer uma estátua em
homenagem ao famoso escritor português. A ideia foi encampada por um grupo de
intelectuais, que constituíram uma Comissão para arrecadar fundos, tendo à
frente o poeta Coelho Neto. A homenagem só foi concretizada em 1923.
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Inauguração do monumento a Eça de Queiróz. Fon-Fon, 3 de março de 1923.
1. Prefeito Alaôr Prata. 2. Escultor Pinto do Couto; 3. Embaixador de Portugal
Duarte Leite; 4. Coelho Neto; 5. Júlia Lopes de Almeida. Foto Fon-Fon. |
Em
1913, lança o livro Crônicas Contemporâneas, tendo a oportunidade de, em 6 de
junho de 1913, em visita ao Presidente da República, Hermes da Fonseca, o
presenteia com um exemplar.
Em
1915, funda, no Rio de Janeiro, o semanário Era Nova, sob sua direção, ao lado de
Evaristo Marques Costa, José Raul de Moraes, Mário de Vasconcelos. O Secretário
era o irmão de Matheus, Theóphilo de Albuqerque e a Direção artística de Julião
Machado, segundo O Paíz de 5 de julho de 1915. Em 1916, lança “Sensações e Reflexões”.
Foi
então que, sob os auspícios do notável estadista Barão do Rio Branco, iniciou a
carreira diplomática, tornando-se Diretor da Seção de Negócios Políticos e
Diplomatas na América.
Em
fevereiro de 1916, foi designado Cônsul do Brasil em Cádiz, Espanha, tomando
posse em julho daquele mesmo ano.
Em
1919, lança o livro Da Arte e do Patriotismo.
Estando em férias no Rio de Janeiro, seus amigos
e admiradores lhe ofereceram, no dia 15 de abril de 1923, um almoço no Palace Hotel.
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Almoço no Palace Hotel. Sentados,
da esquerda para a direita: Graça Aranha e
J. M. Goulart de Andrade. A partir do 5º: o Vice-Presidente
Estácio Coimbra;
Matheus de Albuquerque; Ronald de Carvalho; Frederico Castello
Branco Clarck;
Elysio de Carvalho. O Malho_21.04.1923.
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Em
1925, como Cônsul do Brasil em Bordeaux recepcionou, no dia 1º de abril, véspera
do jogo contra o Bastidienne, os atletas do Club Athético Paulistano, com
Friedenreich, não só recebendo a delegação na estação, como proporcionando aos
estudantes que compunham a delegação, uma visita à universidade. Em 1928, era
Cônsul Geral do Brasil em Lisboa.
Em
24 de janeiro de 1935, foi recebido pelo presidente da Espanha, Alcalá Zamora,
como Adito Comercial à Embaixada Brasileira. A 24 de junho de 1937, foi
removido desse cargo e recebeu o título honorífico de Conselheiro Comercial do
Consulado Geral em Lisboa, onde chegou em 21 de agosto daquele ano. Em 1939,
assume o consulado Geral em Barcelona.
Em
1946, foi nomeado pelo Ministro das Relações Exteriores para uma missão
Cultural, ligada à Divisão de Cooperação Intelectual na Itália, França, Espanha,
Portugal e Suíça.
Faleceu
em Petrópolis-RJ, no dia 26 de setembro de 1967. Na imprensa carioca, em que
tanto atuou com extraordinário brilhantismo, nota-se uma escassez injustificada
de notícias. Apenas O Jornal, em edições de 4 e 14 de janeiro do ano seguinte,
fez referencia ao fato:
“Os tempos, o
temperamento e a doença muito o distanciaram do quadro literário contemporâneo.
Os tempos, porque os de hoje não haveriam de bem avaliar o mérito de sua poesia
de corte parnasiano e de sua prosa “vieux style”, os seus ensaios e romances
ricos de pátina; o temperamento, porque era de natural esquivo, querendo ficar
quieto no seu canto, exilado em Petrópolis para fugir do bulício da cidade das
letras; e a doença porque, surdo e quase cego no fim da vida".
Nesses
últimos anos de sua vida, diz ainda a matéria de O Jornal, teve a companhia do
escritor Povina Cavalcanti e do poeta Oliveira e Silva.
[i]
A partir de 1870, com o fim da Guerra do Paraguai, muitas ruas do Recife
receberam nomes alusivos àquele conflito. A Rua do Crespo, homenagem a Manoel
de Souza Crespo, marinheiro português que se estabeleceu na região como
comerciante. Passou a se chamar 1º de Março, data do final do conflito. GASPAR,
Lúcia. RUAS DO RECIFE.
Disponível em:
[ii] O
Alto Purus, Sena Madueira, 12 de junho de 1910, p. 2.
[iii]
Diário de Pernambuco, 12 de abril de 1911, p. 2.
[iv] O
Paiz, 17 de abril de 1911, p. 3.