PÁGINAS

domingo, 16 de dezembro de 2018

MATHEUS DE ALBUQUERQUE


Por Etevaldo Amorim
Matheus de Albuquerque, 1917.
Foto: revista Literatura Hispano Brasileira.
Matheus Rodrigues de Albuquerque nasceu em Porto Calvo, Estado de Alagoas, a 21 de setembro de 1880. Era filho de Cassiano Carlos de Albuquerque e de dona Gertrudes Rodrigues de Albuquerque. Eram seus irmãos os também poetas Cassiano de Albuquerque e Theóphilo de Albuquerque, além de Maria de Albuquerque (que se casou com Antenor dos Santos Lima). Seu pai era próspero comerciante na histórica cidade alagoana, estabelecido com padaria e loja de fazenda de miudezas, além de ter sido Sub-Delegado de Polícia;
Iniciando seus estudos em Maceió, já aos 17 anos passou a colaborar na imprensa local, publicando crônicas e poemas. Um desses, o Orbe de 7 de abril de 1900, noticia a sua mudança para o Recife. Dia seguinte, ele efetivamente viaja para a Capital pernambucana, onde começou a trabalhar como Auxiliar do Comércio, no ofício de Guarda-Livros (Contador, na terminologia da época), inicialmente numa loja de louças, na Rua do Crespo.[i] Naquele centro mais adiantado, passou a escrever no A Província, onde se tornou editor literário, e na Gazeta do Norte. Por essa época, foi também Secretário da Sociedade Protetora dos Alagoanos, uma entidade criada em 1901 para dar apoio aos que procuravam, na Capital pernambucana, melhoria na sua condição de vida.
A 19 de setembro de 1907, Matheus, então com 26 anos, casa-se com Joanna de Luna Freire (22 anos), filha de Manoel de Araújo Luna Freire e de Idalina Hosana de Luna Freire, natural de Olinda, onde passa a residir, na Rua dos Milagres, nº 7. A essa altura, seu pai já era falecido. Sua mãe faleceria no ano seguinte, a 12 de agosto, em Maceió, aos 58 anos.
No ano seguinte, contrata com a Livraria Econômica, de Manuel Nogueira de Souza, a publicação do seu livro de versos intitulado Visionário.
Do seu casamento com Joanna, nasceu no Recife, a 22 de março de 1910, Hyrcania de Albuquerque, que foi batizada na matriz da Boa Vista, a 8 de dezembro do mesmo ano. Ela se casaria, em Marseille, França, a 30 de abril de 1929, com o Industrial francês Gèrard de Croze-Magnan.
Em 1910, Matheus foi aceito como Sócio Correspondente da Associação dos Críticos Literários Franceses, com sede em Paris.[ii]
A 10 de abril de 1911, muda-se para o Rio de Janeiro, com sua mulher e uma filha.[iii] No dia 16, a bordo do paquete Rio de Janeiro, desembarca na Capital Federal para experimentar novos desafios.[iv] A princípio, passa a colaborar no jornal O Paíz, para depois escrever em O Imparcial e no El Paiz. Neste mesmo ano, tendo esgotada a primeira edição do Visionário, contrata uma segunda com a livraria Chardron, do Porto.
Foi justamente em O Paiz, edição de 18 de maio de 1912, em artigo intitulado EÇA DE QUEIRÓZ, lança a ideia de a cidade do Rio de Janeiro erguer uma estátua em homenagem ao famoso escritor português. A ideia foi encampada por um grupo de intelectuais, que constituíram uma Comissão para arrecadar fundos, tendo à frente o poeta Coelho Neto. A homenagem só foi concretizada em 1923.
Inauguração do monumento a Eça de Queiróz. Fon-Fon, 3 de março de 1923.
1. Prefeito Alaôr Prata. 2. Escultor Pinto do Couto; 3. Embaixador de Portugal
Duarte Leite; 4. Coelho Neto; 5. Júlia Lopes de Almeida. Foto Fon-Fon.  

Em 1913, lança o livro Crônicas Contemporâneas, tendo a oportunidade de, em 6 de junho de 1913, em visita ao Presidente da República, Hermes da Fonseca, o presenteia com um exemplar.
Em 1915, funda, no Rio de Janeiro, o semanário Era Nova, sob sua direção, ao lado de Evaristo Marques Costa, José Raul de Moraes, Mário de Vasconcelos. O Secretário era o irmão de Matheus, Theóphilo de Albuqerque e a Direção artística de Julião Machado, segundo O Paíz de 5 de julho de 1915. Em 1916, lança “Sensações e Reflexões”.
Foi então que, sob os auspícios do notável estadista Barão do Rio Branco, iniciou a carreira diplomática, tornando-se Diretor da Seção de Negócios Políticos e Diplomatas na América.
Em fevereiro de 1916, foi designado Cônsul do Brasil em Cádiz, Espanha, tomando posse em julho daquele mesmo ano.
Em 1919, lança o livro Da Arte e do Patriotismo. 
Estando em férias no Rio de Janeiro, seus amigos e admiradores lhe ofereceram, no dia 15 de abril de 1923, um almoço no Palace Hotel.
Almoço no Palace Hotel. Sentados, da esquerda para a direita: Graça Aranha 
J. M. Goulart de Andrade. A partir do 5º: o Vice-Presidente Estácio Coimbra; 
Matheus de Albuquerque; Ronald de Carvalho; Frederico Castello Branco Clarck;

Elysio de Carvalho. O Malho_21.04.1923.
Em 1925, como Cônsul do Brasil em Bordeaux recepcionou, no dia 1º de abril, véspera do jogo contra o Bastidienne, os atletas do Club Athético Paulistano, com Friedenreich, não só recebendo a delegação na estação, como proporcionando aos estudantes que compunham a delegação, uma visita à universidade. Em 1928, era Cônsul Geral do Brasil em Lisboa.
Em 24 de janeiro de 1935, foi recebido pelo presidente da Espanha, Alcalá Zamora, como Adito Comercial à Embaixada Brasileira. A 24 de junho de 1937, foi removido desse cargo e recebeu o título honorífico de Conselheiro Comercial do Consulado Geral em Lisboa, onde chegou em 21 de agosto daquele ano. Em 1939, assume o consulado Geral em Barcelona.
Em 1946, foi nomeado pelo Ministro das Relações Exteriores para uma missão Cultural, ligada à Divisão de Cooperação Intelectual na Itália, França, Espanha, Portugal e Suíça.
Faleceu em Petrópolis-RJ, no dia 26 de setembro de 1967. Na imprensa carioca, em que tanto atuou com extraordinário brilhantismo, nota-se uma escassez injustificada de notícias. Apenas O Jornal, em edições de 4 e 14 de janeiro do ano seguinte, fez referencia ao fato:
“Os tempos, o temperamento e a doença muito o distanciaram do quadro literário contemporâneo. Os tempos, porque os de hoje não haveriam de bem avaliar o mérito de sua poesia de corte parnasiano e de sua prosa “vieux style”, os seus ensaios e romances ricos de pátina; o temperamento, porque era de natural esquivo, querendo ficar quieto no seu canto, exilado em Petrópolis para fugir do bulício da cidade das letras; e a doença porque, surdo e quase cego no fim da vida".
Nesses últimos anos de sua vida, diz ainda a matéria de O Jornal, teve a companhia do escritor Povina Cavalcanti e do poeta Oliveira e Silva.




[i] A partir de 1870, com o fim da Guerra do Paraguai, muitas ruas do Recife receberam nomes alusivos àquele conflito. A Rua do Crespo, homenagem a Manoel de Souza Crespo, marinheiro português que se estabeleceu na região como comerciante. Passou a se chamar 1º de Março, data do final do conflito. GASPAR, Lúcia. RUAS DO RECIFE.
Disponível em:
[ii] O Alto Purus, Sena Madueira, 12 de junho de 1910, p. 2.
[iii] Diário de Pernambuco, 12 de abril de 1911, p. 2.
[iv] O Paiz, 17 de abril de 1911, p. 3.

sábado, 1 de dezembro de 2018

OLHOS GARÇOS

Massilon Silva[1]

À sombra desse olhar descansa o vento 
Que agita os verdes mares, as campinas,
Que faz girar as saias das meninas, 
Fazendo-as ir na rua a passos lentos. 

E descansam também meus sentimentos, 
Exaustos de invadir-lhes as retinas, 
Com feixes das imagens fesceninas 
Que se me vão formando em pensamentos. 

Assim, tomado de eternal desejo, 
E da incessante busca de um andejo, 
Sei que o destino guiará meus passos

A, um dia, como Orfeu buscando Eurídice, 
Buscar no Olimpo o Supremo Opífice, 
Que desenhou esses teus olhos garços.




Advogado, nascido em Pão de Açúcar, a 6 de março de 1954. Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Maceió - FADIMA, estudou também Observação Meteorológica de Superfície - SUDENE/OMM, Curso Básico de Jornalismo - Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas e Teologia (não concluído) - Faculdade ALFA, Aracaju. Atuou como corresponde do Jornal de Alagoas, Jornal de Hoje e Desafio, todos de Maceió/AL. Participou das antologias Tempo Definido e outras, da Editora Scortecci, São Paulo e da coletânea Aperitivo Poético, Aracaju/SE. É membro da Academia de Letras de Pão de Açúcar/AL e da Academia Alagoana de Literatura de Cordel e da Academia Sergipana de Cordel.

domingo, 11 de novembro de 2018

A REGIÃO DO SÃO FRANCISCO (MARGEM ESQUERDA)


Prof. Moreno Brandão¹

Árida, selvática, cheia de ásperos fraguedos, sem uma nota que amenize o painel que se avista, é a região que se contempla desde Piranhas até um pouco acima de Pão de Açúcar.

Em uma e outra margem do São Francisco tudo é rocha, morros escalvados, de um conspecto hostilíssimo, com uma pequena falda, em determinadas épocas verdejante, mas quase sempre lembrando a terra combusta de que nos fala a Bíblia. É um pequeno trato de terra que a cordilheira e o rio oprimem; a primeira, parecendo querer sobrepor-se-lhe; o segundo, tragá-lo.

É nessa nesga pedregosa e hispida de solo acidentado que jaz quase todo município de Piranhas, ao qual empresta bulício e rumor a feira semanal que ali se reúne.
Piranhas, 1910.

Sede de uma estrada de ferro, a obscura vila é um lugar morto, de topografia invulgar, onde os acidentes do terreno apresentam frequentes contrastes, parecendo que a casaria rui dos morros onde fora construída.

Trancada no muramento do recinto, ilhada, não se impregna da atividade do povo, não lhe veicula os largos surtos de expansão e trabalho, a Estrada de Ferro de Paulo Afonso. Ressonam ambas, atormentadas pelo bochorno.
Piranhas, 1910. Aspecto da feira.


Abaixo de Piranhas, o Entremontes pousa à margem do rio, na eterna sonolência das taperas, jungindo administrativamente à primeira, na mesma vida soturna e inglória.

Menos ruvinhoso é, contudo, o seu aspecto, parecendo a sua topografia tê-lo fadado a servir de núcleo a um grande centro de indústria, cujos prodromos latejam por ora, mal se deixando pressentir.
Desajudado e só, o modesto povoado formou-se, agremiou moradores, teve fase de intensa energia, longos colapsos... e vai definhando lentamente, até que um dia propício lhe traga a revivescência, cujos elementos jazem ocultos no seio avaro do seu solo. Mas nenhum nem outro têm ainda uma história cultural.

Simples entreposto comercial, ao primeiro valeu o fato de ser banhado pela parte, onde, depois da zona encachoeirada, começa a ser navegável o São Francisco.
Entremontes, Piranhas-AL. Foto: Edgar C. Falcão, 1939.

O segundo provém da ação do Jesuíta que, passando ali para uma estância bucólica que lhe fora provavelmente doada, entendeu montar um depósito de víveres sempre convenientemente abastecido pelas canoas que abicassem ao porto do sítio, batizado a princípio com o nome de Armazém. Recanto primitivo, onde o lirismo dos poetas bem poderia achar assuntos para idílios e slogans, tem um grande fato glorioso em sua história, que pode ser encerrada em duas linhas: foi o primeiro lugar do Brasil que libertou todos os seus escravos!!!!

Seguindo em demanda da foz do São Francisco, depois dos lugarejos descritos, encontra-se Pão de Açúcar, a ridente Jaciobá dos chocós.

Nasceu de uma dádiva régia de Dom João IV aos aludidos índios, aos quais os índios da aldeia próxima da Ilha de São Pedro vieram, enciumados do presente, dar combate em que saíram vitoriosos.
Expatriaram-se todos os aborígenes do lugar, transladando a taba para um ponto fronteiro, a que deram, pelas sugestões da nostalgia, o nome antigo da terra abandonada. Os caboclos de São Pedro assenhoraram-se da data de terra habitada outrora por seus rivais.

O Governo de Portugal extinguiu por decreto a aldeia de Jaciobá, mandou pôr em hasta pública em Penedo as terras da referida aldeia, sendo arrematadas pelo Capitão-Mor João de Souza Viera, que a cedeu a seu amigo Antônio Rodrigues Delgado, morador na Barra do Ipanema. Antônio Rodrigues Delgado mudou-se para Pão de Açúcar, cujo solo começou a lavrar.

Em 1853, já tendo algum desenvolvimento a terriola, foi criada a Freguesia do Sagrado Coração de Jesus, instituída a 28 de agosto do mesmo ano. Em virtude da Lei nº 233, de 3 de março de 1854, foi Pão de Açúcar elevado à categoria de Vila e Termo Judiciário. Em 1877, foi constituído em cidade, recebendo no ano seguinte a graduação de Comarca.

Pão de Açúcar é uma das cidades mais lindas do Estado de Alagoas. O seu solo é plano e sem ondulações notáveis. Quem desembarca nessa pitoresca cidade depara, em primeiro lugar, com uma praia de areias fulvas que formam, ao poente, vastas dunas e medões, os quais já se avolumaram tanto que ameaçavam submergir as casas, formando montículos elevados no rumo do noroeste. As ruas da cidade são largas e ornadas de frondescentes tamarineiros, copados gameleiros e encantadores flamboyants.
Pão de Açúcar, 1907. Visita do Gov. Euclides Malta.

É uma terra pobre e sem movimentação, habitada por um povo inteligente, mordaz e chocarreiro. O estágio de suas indústrias é incipiente e retardatário. A indústria pastoril e a extrativista são as mais exploradas.
Limoeiro, 1968. Foto: Jim Squires

Ao município de Pão de Açúcar pertence apenas um povoado que apenas desponta: Limoeiro. Junto a este vilar fica Belo Monte, designação oficial de Lagoa Funda, erigida em um montículo a cujas faldas se abrem lagoas muito férteis.
Belo Monte, a primitiva Lagoa Funda. Fonte: IBGE

Bojando para uma enseada semi-circular, banha o rio o município mais pastoril de Alagoas, aquele cujas pastagens criam os melhore tipos bovinos do Estado: Traipu.

É um lugar belo, salubre, porém dissociado quase da comunhão com os demais municípios. Tem, entretanto, muitos elementos de vitalidade, e o seu progresso será lento, porém seguro.

Data sua fundação dos fins do século XVII. Traipu envolveu, como quase todas as povoações marginais do São Francisco, de uma fazenda de gado. Teve primitivamente a denominação de Porto da Folha, posteriormente mudada na de que ora se usa.
Traipu, 1875. Foto: Marc Ferrez. Disp. http://www.getty.edu

São Brás e Colégio, duas pobres localidades entregas à atividade única dos dissídios locais, obscuramente vegetam na mendigues de que facilmente sairiam, se quisessem aproveitar as benignas e ridentes dádivas da natureza.

Porto Real do Colégio, ou simplesmente Colégio, representa a atividade do Jesuíta nos fatos iniciais da história do povoado, pois foi de um aldeamento que os discípulos de Loyola, visando intuitos de catequese fundaram, pelos meados do século XVII, que despontou o município em questão. Despontou e se manteve sempre num estado embrionário, numa estagnação lastimosa, como Piranhas, Pão de Açúcar, Belo Monte, Traipu e São Brás, jungida à servidão de Penedo, cidade próspera e florescente, a princesa do São Francisco.
Penedo_Rocheira_O Malho, 16, 22.06. 1939. Foto Gaston Coelho.
É um empório comercial e industrial de valor, topograficamente muito acidentado, com lindos pontos de vista, bons e vetustos edifícios, frequentado habitualmente por navios costeiros. Parece a quem a divisa do rio, imponente e suntuoso presépio.

Foi, o seu solo, o teatro de renhidas pugnas com os holandeses, em cuja expulsão aquela cidade foi cooperadora eficaz. De todos os povoados erigidos pelos primitivos fundadores da Capitania de Pernambuco, foi um dos que escaparam à inexplicável decadência que assolou os demais.

Entre Penedo e a foz do São Francisco ficam: Piaçabuçu e Pontal da Barra, constituindo um município, de que o primeiro é a Sede.

Piaçabuçu é uma vila arenosa, paupérrima, apenas da uberdade do seu solo propício à cultura da cana de açúcar e do arroz e, malgrado a proximidade das salinas que tão bons lucros poderiam dar.

Pontal da Barra consta de uma população de pescadores junto à qual se exibe a luta perene do rio que avança pelo mar e do oceano que estrondeia colérico, espumante, bravio, aos corcovos, empinando a vaga, de nitente espuma coroada.

Prestar-se-ia o Pontal da Barra para uma excelente estação balneária, porquanto fica junto ao Peba, risonho lugarejo ensombrado de viride coqueiral e orlado de uma enseada esplêndida.

Já fica longe o sertão: tudo ali tem outras modalidades. Sente-se o influxo das proximidades do Atlântico, reservatório inesgotável e precioso de infinitos bens cedidos generosamente a quem tiver a coragem de afrontar-lhe as iras incoercíveis e a instabilidade perpétua. Ali o vento, rugitando, sacode os espatos dos coqueiros e as frondes do cajueiro, que verga carregado de áureos cajus.

*** ***
Em quase todos esses lugares mencionados é acabrunhante a pasmaceira que domina. Muitos deles rotulados com a designação pomposa de cidade são miseras aldeolas, onde a população semibárbara gasta os dias em palestras infindáveis nas tavernas sujas, ou entregue a uma jogatina furiosa, em espeluncas escuras e sórdidas.

Não há decência, nem conforto, nesses lugarejos a que falta igualmente o menor cunho de arte. Trabalha-se pouco e goza-se ainda menos. São inúmeros os indivíduos sem profissão que vegetam no meio de uma natureza convidativa, entregues ao ócio, vivendo de expedientes ou agarrados a um mísero emprego, às vezes custeados pelo réditos que obtém de uma taverna sem sortimento.

Para não dispenderem maior esforço, reduzem ao mínimo as suas despesas, vivendo com uma parcimônia assombrosa. Falta-lhes o menor estímulo para a luta da vida, em que entram precocemente, sobrecarregados com o ônus da família imprudentemente constituída. Dessa imprevidência, aliás, cientificamente explicada pelas incertezas das estações, o resultado frisante é o êxodo quando sobrevêm as longas temporadas sem chuva, e os gêneros alimentícios muito escassos têm um preço fabuloso.
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Publicado no Diário de Pernambuco, 18 de abril de 1936, p. 7. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/029033_11/19039

¹
(Pão de Açúcar - AL 14/09/1875 - Maceió - AL  17/08/ 1938). Historiador, professor, deputado estadual, jornalista, funcionário público. Filho de Felix Moreno Brandão e Maria de Aguiar Moreno Brandão

sábado, 25 de agosto de 2018

LIVINO FARIAS BRAZÃO – POETA SERTANEJO


Texto de Álvaro Antônio Machado[i]


O poeta Livino Farias Brazão
A região sertaneja de Alagoas é uma das mais ricas em termos de Literatura de Cordel. Se, hoje em dia, esta arte popular parece estar em decadência, pois são poucos os novos poetas que surgem, ainda há grande procura por parte dos amantes do Cordel, no sentido de adquirir os folhetos nas feiras livres das cidades, mesmo que estes sejam cópias de folhetos famosos ou simplesmente narrem acontecimentos destacados que ocorreram e movimentaram a região em épocas passadas.
Mas os bons poetas de antigamente, os “reis do cordel”, estão desaparecendo. Tanto que no próprio Sertão, são raros os que ainda sobrevivem sendo respeitados e admirados como nomes de destaque na literatura de cordel. Entre esses escassos nomes, encontramos um que se destacou nessa arte popular e ainda hoje realiza trabalhos em prol da divulgação e melhoria da qualidade dos livros de cordel. Trata-se do Sr. Livino Farias Brazão, 78 anos de idade, conhecido nos sertões de Alagoas e Sergipe como “poeta sertanejo de primeira”.
QUEM É?
Livino Farias Brazão, ou simplesmente “Livino Bola”, apelido de infância que o torna mais conhecido entre os conterrâneos, nasceu em Pão de Açúcar a 12 de abril de 1902 e até hoje reside em sua terra natal. Poeta sertanejo, “trazendo na veia o sangue da poesia”, desde rapazinho começou a mexer com a rima e com os versos, elaborando folhetos, mas encontrando dificuldades em imprimi-los e vende-los nas feiras livres de Pão de Açúcar. O jeito era escrever os versos num papel e recitá-los numa roda de amigos ou numa festinha. Mas, aos poucos, a sua arte foi sendo respeitada, e os primeiros livros foram aparecendo: “O Combate de Piranhas”, “Pão de Açúcar em Foco” e “O Católico Combatendo Contra o Protestante” foram alguns deles.
Em 1933, Livino Farias Brazão casou-se com d. Rosalina Gomes da Silva, que sempre lhe incentivou na criação de novos livros. Deste casamento surgiram três filhos que já deram a “seu” Livino a alegria de ser um vovô alegre e feliz.
Em sua residência encontram-se dependurados na parede de uma das salas, dois diplomas dos quais Livino muito se orgulha: o que lhe concede a Medalha de Ouro por participar, com destaque, do II Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, realizado em São Paulo em 1969, e o de Sócio Delegado do Grêmio Brasileiro de Trovadores.
Além de poeta sertanejo e escritor de cordel, Livino Brazão reúne também as qualidades de “mezinheiro” (fabricante de remédios). Nessa nova arte, Livino diz que fabrica “remédios contra qualquer incômodo ou inflamações de qualquer tipo. Hoje, devido à idade, diminuí a quantidade do fabrico de remédios, mas sempre que me pedem para fazer alguns, eu faço”.
SUA OBRA
O seu trabalho em literatura de cordel está bastante enriquecido, após mais de cinquenta anos de pesquisas e publicações. Livino sempre foi muito procurado pelos leitores e, na banca de cordel da feira de Pão de Açúcar, seus livros eram dos mais vendidos. De linguagem simples e objetiva, seus versos facilmente agradavam.
“Caros leitores presentes/ leiam com bem atenção/ o povo está revoltado/ é triste a situação/ só Deus do céu apascenta/ sobre a era de sessenta/ o problema da Nação”.
“Está tudo revoltado/ com o Regime do Brasil/ se não mudar direção/ começa guerra civil/ esta nação brasileira/ entra todos na fileira/ para pegar no fuzil.”
Livino sempre tratou dos problemas nacionais, locais e, principalmente, dos relacionados com a classe trabalhadora rural, à qual pertencia:
“Para melhorar a Nação/ tem que haver um formulário/ registrar os agricultores/ em outro vocabulário/ matricular os trabalhadores/ com ganhos compensadores/ tendo direito a salário”.
“Os trabalhadores do campo/ que vivem da agricultura/ É quem sustenta a Nação/ do baixo à literatura/ com este modo moderno/ quando cair o inverno/ na terra se vê fartura”.
“Pelo contrário, ninguém/ melhora a situação/ continua a carestia/ cada dia alteração/ em nada se vê tabela/ pobre não ferve panela/ só se derem comissão”.
Para quem passou pouco tempo nas bancas escolares, Livino tinha uma visão extraordinária para compreender as coisas. E sempre expressou sua opinião nos livros que fazia:
“Os homens se candidatam/ ao governo da Nação/ gastam uma fortuna/ organizando a eleição/ ficando prejudicados/ os gastos são duplicados/ devido à exploração”.
“Todos que se elegem/ têm força independente/ começa do Prefeito/ a chegar no Presidente/ quando entra Governo novo/ precisa cobrar do povo/ o dinheiro decadente”.
“Se todos votarem lícitos/ como é nosso dever/ melhor situação/ futuramente se vê/ não sendo experiente/ votando inconsciente/ muito pior vai haver”.
OS LIVROS
Livino não possui, e isto ele lamenta muito, a relação de todos os livros que publicou até hoje. Mas fazendo um esforço de memória, ele consegue relacionar os principais:
“O Combate de Piranhas”, “A Seca de 1932”, “Pão de Açúcar em Foco”, “O ABC poético contra o Comunismo”, “O ABC poético sobre a Aliança Liberal”, A Civilidade dos Casamentes sem Futuro”, “O Católico Combatendo contra o Protestante”, “O ABC poético sobre os Tempos Mudados”, “A Morte de Joaquim Cruz Rezende”, “Versos sobre a Eleição de 1960”, “A vida do Tenente Bezerra”, “As Diligências do Capitão Lucena”, “Bendito e Profecia de Frei Enoque e Frei Elias”, entre outros.
Os seus livros estão enquadrados, segundo a classificação do professor José Maria Tenório da Rocha em “O Mundo Maravilhoso da Literatura de Cordel”, como sendo do tipo “História e Fatos Reais”, onde se encontram “os folhetos que tiveram a preocupação de relatar fatos reais e acontecimentos verdadeiros, que existiram no Brasil e particularmente no Nordeste, embora que deformados pela visão do poeta”.
Segundo revelação do próprio autor, os seus livros atingem uma vendagem que varia entre mil e dois mil exemplares por edição, dependendo da data em que foi publicado e sua aproximação com a data do acontecimento relatado no folheto.
Outra particularidade da arte de escrever de Livino Brazão é o seu gênero poético, onde ele utiliza quase que exclusivamente as Septilhas. Estas, são formadas por versos heptassílabos, com o seguinte esquema de rima: A B C B D D B, como neste exemplo:
“Quem comprar este livro (A)/ Tem muita felicidade (B)/ Prolonga bem sua vida (C)/ Procura ter humildade (B)/ Estudando esta lição (D)/ Tem a paz no coração (D)/ Ama Deus e a verdade (B).”
Livino Brazão, como todo bom poeta, além dos livros de cordel compôs vários hinos para clubes, escolas, e inclusive para destacar acontecimentos famosos que ocorreram no Brasil, como é o caso da inauguração de Brasília e em comemoração ao Dia da Bandeira, ocasião em que Livino compôs, respectivamente, o “Hino Oferecido a Brasília” e o “Hino Sob a Bandeira Brasileira”.
E mesmo beirando a casa dos oitenta anos, morando modestamente numa residência defronte ao Rio São Francisco e passando a maior parte dos dias sozinho, longe até da própria família, Livino ainda tem forças para fazer ressurgir novos versos sertanejos e conservar bem rica e viva a mais autêntica literatura do homem que nasce e habita os sertões do Nordeste.
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Publicado no jornal Gazeta de Alagoas, Maceió, domingo, 17 de agosto de 1980.





[i]
Médico pão-de-açucarense formado pela Universidade Federal de Alagoas, com Especialização em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, membro da Academia Alagoana de Medicina e da Academia de Letras de Pão de Açúcar.








segunda-feira, 25 de junho de 2018

O BAIXO SÃO FRANCISCO NA ROTA DA COMISSÃO GEOLÓGICA


Por Etevaldo Amorim
Muitos foram os cientistas e autoridades que se utilizaram do curso Baixo do rio São Francisco demandando a região sertaneja e, especialmente, a Cachoeira de Paulo Afonso. George Gardner, naturalista britânico, em 1838; Vieira de Carvalho e Halfeld, em 1854; o naturalista alemão Avé Lallemant e o Imperador D. Pedro II, em 1859; José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, em 1869; e, em 1879, técnicos da Comissão Hidráulica também estudaram e descreveram aquela Região com impressionante riqueza de detalhes.
Alguns desses viajantes produziram belos registros fotográficos dessa Região. Abílio Coutinho, integrante da Comitiva de José Bento da Cunha Figueiredo Junior, Presidente da Província das Alagoas, em 1869, retratou muitas localidades e paisagens desde Penedo até Piranhas. Adolpho Lindemann, fotógrafo francês estabelecido em Penedo, também fez, em 1888, registros de diversas cidades ribeirinhas. Agora, com a publicação do Museu J. Paul Getty, está disponível uma coleção de fotos de um dos maiores fotógrafos brasileiros, contratado pela Comissão Geológica do Império do Brasil.
Charles Frederick Hartt-
auto-retrato
Essa Comissão era chefiada pelo canadense (naturalizado americano) Charles Frederick Hartt. Ele veio ao Brasil pela primeira vez em 1865 como geólogo da Comissão Thayer (sob o patrocínio de diversas corporações científicas americanas e principalmente por Nathaniel Thayer), comandada por Louis Agassiz. Em 1870, liderou a expedição Morgan, cujo nome era devido ao coronel Edwin B. Morgan, um dos diretores da Universidade de Cornell, que doou dois milhões de dólares para realizar pesquisas no vale do Amazonas.
Estava o Império sob o Governo do “Gabinete de 7 de março”, chefiado pelo Visconde do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos, pai do Barão do Rio Branco, de mesmo nome). O Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr. José Fernandes da Costa Pereira Júnior (Campos dos Goytacazes, 20/01/1833 — Rio de Janeiro, 10/12/1899), pensou em estabelecer no Brasil uma exploração regular e sistemática do seu vasto território. Assim, em Aviso[i] dirigido ao Dr. Charles Frederick Hartt, em 30 de abril de 1875, comunica os objetivos e o nomeia para Chefe da Comissão:
O governo imperial resolveu mandar proceder aos estudos preparatórios para o levantamento de uma carta geológica do Império. Esses estudos deverão habilitá-los a conhecer, dentro de alguns anos, a estrutura geológica do país, a sua paleontologia, a riqueza dos seus minerais e facilidade de explorá-los”.
Nesse mesmo expediente, o Ministro autoriza o Dr. Hartt a contratar os ajudantes de que necessitar, inclusive um fotógrafo para acompanhá-lo em suas excursões. Ele então, confirmando a notória sabedoria, convidou Marc Ferrez.
O próprio Hartt o confirma em documento referido por Edgard Roquette-Pinto, no Diário de Notícias (RJ), de 16 de julho de 1938, p. 15:
Em 1874, tive a honra de receber do Sua Excelência o Conselheiro José Fernandes da Costa Pereira um pedido oficial de fazer uma proposta relativa à exploração sistemática da Geologia do Império, e foi ao Rio de Janeiro, no fim do ano, submetido logo ao Governo Imperial um plano para esse fim. Não havendo verba suficiente, Sua Excelência o Ministro propôs que eu começasse em uma escala mais modesta do que a da minha proposta. E no dia 1º de maio de 1875, fui nomeado Chefe da Comissão, sendo nomeado ajudante o Engenheiro Elias S. Pacheco Jordão. Geólogos auxiliares os senhores Orville A. Derby e Richard Rathburn, e Praticante o Sr. Francisco José de Freitas. Tendo o Governo me dado o direito de contratar um fotógrafo, escolhi o Sr. Marc Ferrez, da Côrte.”
Com efeito, em Portaria do Ministério da Agricultura, de 30 de abril de 1875, foram nomeados os seus membros: Chefe: Carlos Frederico Hartt; Richard Rathbum; John Casper Branner; Orville A. Derby e dois engenheiros brasileiros, Francisco José de Freitas e Elias Fausto Pacheco Jordão (1849-1901), este último o primeiro brasileiro a estudar Engenharia Civil na Universidade de Cornell, onde se doutorou em 1874, no mesmo ano do doutoramento de Orville Derby[ii]. Dela faziam parte, ainda, Frank de Yeaux Carpenter (Engenheiro Civil, formado na U. de Cornell) e Herbert H. Smith e Luther Wagoner.
Marc Ferrez[iii], recém-chegado da Europa onde fora readquirir materiais e equipamentos para recuperar o seu atelier destruído por um incêndio, aceitou o convite, com o objetivo empreender estudos e trabalhos preparatórios para o levantamento da Carta Geológica do Império do Brasil. Partiu do Rio de Janeiro a 10 de junho de 1875, a bordo do paquete Pará, chegando ao Recife em 18 de julho.
Depois de minuciosos estudos na capital pernambucana e adjacências, especialmente dos arrecifes, a Comissão decidiu explorar a Cachoeira de Paulo Afonso. Com efeito, a 16 de setembro, partiram para Penedo no vapor nacional Ipojuca. Para tanto, o Presidente da Província de Pernambuco, João Pedro Carvalho de Morais, determina à Companhia Pernambucana que ofereça passagem para a Comissão até Penedo, oficiando à Presidência das Alagoas que lhe ofereça transporte até Piranhas. Do mesmo modo, ordenou ao Arsenal de Guerra que lhe fornecesse barracas, que seriam úteis aos seus membros nos acampamentos.
Possivelmente já em preparativos para a viagem, obteve uma bela vista da cidade, em que aparecem algumas igrejas e o seu porto.
Penedo, 1875. Foto: Marc Ferrez
Embora já houvesse linha regular de vapores, a viagem de Penedo a Piranhas foi feita de canoa. De fato, para a realização de suas pesquisas, era de todo conveniente que a Comissão pudesse dispor do seu próprio meio de transporte para cumprir o percurso , cerca de 30 léguas (180 km).
A embarcação utilizada foi uma rústica canoa de tolda, de tamanho médio, equipada com um “pano-de-asa”, como era popularmente conhecido. Esse tipo de pano não era mais que um par de velas latinas, presas a um único mastro.
Morro do Chaves, abaixo de Propriá, 1875. Foto Marc Ferrez
Impulsionada pelo vento forte que soprava do mar, a canoa da Comissão chegou ao Morro do Cal, que então já se tornara conhecido por “Morro do Chaves”, em alusão ao proprietário daquelas terras, o Tenente-Coronel João José de Medeiros Chaves, político e grande latifundiário de  Propriá (falecido nessa cidade,  a 29 de janeiro de 1890, aos 70 anos). Nesse local acha-se assentada a base sergipana da ponte sobre o rio São Francisco, ligando Propriá (SE) a Porto Real do Colégio (AL). Marc Ferrez registrou ali uma bela vista do morro, em cuja fotografia anotou: “Camadas do terreno cretáceo fortemente inclinadas no morro do Chaves, perto de Propriá no rio S. Francisco”.
Propriá (SE), 1875. Foto Marc Ferrez (montagem)
Porto Real do Colégio, 1875. Foto: Marc Ferrez
Vista de Traipu, 1875. Foto: Marc Ferrez
Antes de seguir viagem, Ferrez não deixou de capturar imagens da margem alagoana, anotando “O rio São Francisco visto rio acima do lado oposto a Propriá”, que corresponde a Porto Real do Colégio. Adiante, passando ao largo, fez uma tomada de Traipu, com seu imponente templo dedicado a Nossa Senhora do Ó.
Morro de Belo Monte, 1875. Foto: Marc Ferrez
Beirando a margem esquerda, algumas léguas acima, mais uma foto. Desta vez, da encosta do morro do Belo Monte, então chamado Lagoa Funda, em que se pode avistar os combros da Terra Firme, próximo à Restinga, bem próximo do Limoeiro, já em território de Pão de Açúcar.
Pão de Açúcar, AL, 1875. Ao fundo, o morro do Cavalete. Foto: Marc Ferrez.

Chegando a Pão de Açúcar, os membros da Comissão acamparam mesmo ali à beira do rio. Anotação na própria foto indica: "Vista do morro do Cavallete, Pão d'Assucar, no rio São Francisco, olhando-se rio acima". Nela aparecem oito pessoas, sendo três da Comissão: o Professor Hartt e os engenheiros brasileiros Francisco José de Freitas e Elias Fausto Pacheco Jordão. Nota-se ainda, junto à proa e abaixo da tolda, uma réplica em miniatura da própria canoa. Foi, talvez, a partir dessa foto que Ferrez teve a ideia de subir até o alto do Cavalete, de onde se tem vista privilegiada de todo o entorno, tanto rio abaixo, alcançando até o Limoeiro, além do morro do Farias; como rio acima, vislumbrando o morro do Belmonte, entre o Bonsucesso e a Ilha do Ferro, onde naufragaria, 42 anos depois, a lancha Moxotó.
Marc fez, primeiro, algumas tomadas da Serra de Pão de Açúcar, também conhecida por Serra do Meirus. Na sequência, uma bela foto da Vila, que se tornaria cidade dois anos depois; outra em que focaliza o leito do rio e, finalmente, uma outra em que se vê a margem direita, pertencente à então Província de Sergipe, vendo-se o Morro do Saco Grande. 
Pão de Açúcar vista do morro do Cavalete, 1875. Foto: Marc Ferrez
O rio São Francisco visto do morro do Cavalete. Foto: Marc Ferrez
Margem direita do rio S. Francisco vendo-se o morro do Saco Grande.
Foto: Marc Ferrez
Detalhe da Serra do Meirus, Pão de Açúcar, 1875. Foto: Marc Ferrez

Virando-se para o Poente, o perspicaz fotógrafo dirige a sua lente para o leito do São Francisco, tendo-se uma sucessão de morros de ambos os lados: Pau-Ferro, Mampirá, Algodão, estes na margem alagoana. Completando o restante do percurso, obteve ainda imagens do cânion e da própria Cachoeira. 
Vista do São Francisco a montante do morro do Cavalete. Foto: Marc Ferrez
Cânion do São Francisco pouco abaixo das cachoeiras. Foto: Marc Ferrez
Vista das principais cachoeiras em Paulo Affonso, 1875. Foto: Marc Ferrez

Segundo se lê na "Biografia do Professor Americano Carlos Frederick Hartt" - 1878, feita pelo estudante Carlos Alberto Menezes, "Ferrez tirou as mais belas fotografias que se conhece e que foram mais tarde premiadas na Exposição da Filadélfia."
Os membros da Comissão encerraram os trabalhos em 1º de junho de 1877, durando apenas dois anos. Hartt, no entanto, para salvar o material coletado, conseguiu seu funcionamento até dezembro daquele ano.

OS MEMBROS DA COMISSÃO

Marc Ferrez em 1870, com 27 anos
MARC FERREZ
Marc Ferrez nasceu no Rio de Janeiro a 7 de dezembro de 1843. Era filho de Zépherin Ferrez e Alexandrine Ferrez. Faleceu em 12 de janeiro de 1923. Segundo Gilberto Ferrez, foi durante essa viagem que Ferrez contraiu uma doença no fígado, da qual nunca se curou. Fonte: http://brasilianafotografica.bn.br/?p=6305.

ELIAS FAUSTO PACHECO JORDÃO
Elias Fausto Pacheco Jordão
O Dr. Elias Fausto Pacheco Jordão nasceu em São João do Rio Claro (SP) em 18 de fevereiro de 1849, filho de José Elias Pacheco Jordão e de Maria Marcolina. Seu pai foi deputado provincial em São Paulo.
Após o curso primário em Rio Claro, matriculou-se no Seminário Episcopal, na capital paulista, mas não se adaptou ao clima e mudou-se para Itu. Residiu um breve período no Rio de Janeiro e mais uma vez voltou para Itu, onde estabeleceu uma casa de comércio. Para completar os estudos superiores, viajou para os Estados Unidos e formou-se em engenharia civil na Universidade de Cornell, em 2 de julho de 1874. Fonte: CPDOC, Fundação Getúlio Vargas.

Orville Derby
ORVILLE ADELBERT DERBY
Orville Adelbert Derby Nasceu a 23 julho 1851 em Kelloggsville, Cayuga, New York. Filho de John C. Derby (1808-1890) e Malvina Adéia Lindsay (1818-1898). Chegou ao Brasil em 1870, integrando a Comissão Morgan, organizada pelo Presidente da Universidade de Cornwell, Ittaca, Estados Unidos.
Faleceu em 27 de novembro de 1915, cometendo suicídio em seus aposentos no Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro. Naturalizado brasileiro pouco antes de morrer, era considerado o maior geólogo da América Latina. Fonte: A Rua, RJ, 27 de novembro de 1915, p.2
John Casper Branner
JOHN CASPER BRANNER
John Casper Branner nasceu em New Market, Tennessee, em 4 de julho de 1850. Formou-se em Cornell em 1882 e recebeu seu Ph.D na Universidade de Indiana em 1885. Era filho de Michael T. Branner e Alsey Baker. Em 22 de junho de 1883, casou-se com Suzan Dow Kennedy, com quem teve os fihos John Kennedy Branner, George Carper Branner e Elsie Branner.
Faleceu aos 72 anos, em Palo Alto, Califórnia (EUA)

Richard Rathbun
RICHARD RATHBURN
 Richard Rathburn ou Richard Rathbun (25/01/1852 – 16/07/1918)) nasceu em Buffalo, Nova York , filho de Charles Rathburn e sua esposa Marey (née Furey). Ele foi educado em Buffalo antes de se juntar à empresa de pedreiras de seu pai, Whitmore e Rathbun, por quatro anos. Em 6 de outubro de 1880, casou-se com Lena Augusta Hume, em Eastport, Maine.
Ele morreu em 16 de julho de 1918, de doença cardíaca resultante da febre amarela que sofrera 40 anos antes, [1] e foi sepultado no Cemitério Rock Creek . [2] Ele deixou sua esposa e seu único filho, o arquiteto Seward Hume Rathbun .

FRANK DE YEAUX CARPENTER. Nasceu Highland on Hudson, Estado de New York, Estados Unidos da América a 1º de setembro de 1848. Filho de Robert Carpenter e Júlia Carpenter.
Logo depois de formado, trabalhou na Comissão Geológica dos Estados Unidos. Em 1877, veio para o Brasil se incorporar à Comissão do Império, a convite de Hartt. Infelizmete, a Comissão já estava no fim. Mesmo assim, atuou como seu geógrafo e publicou livro a respeito da Comissão. Fonte: Revista Novo Mundo, New York, Vol. IX, Nº 99, 1879.
Em 1878, estando o seu professor Hartt à beira da morte, vítima da Febre Amarela, foi Carpenter que esteve com ele à sua cabeceira. Poucos dias depois foi ele, Carpenter, quem caiu doente. Conseguiu, porém, restabelecer-se. Retornando aos Estados Unidos, faleceu em sua terra natal a 19 de dezembro de 1883, com apenas 35 anos. Fonte: Revista de Engenharia, http://memoria.bn.br/DocReader/709743/1287.


HERBERT HUNTINGDON SMITH
 Herbert Huntingdon Smith ou Herbert Huntington Smith (Manlius, Nova York, 21 de janeiro de 1851 - Tuscaloosa, Alabama, 22 de março de 1919). Filho de Charles Smith e de Julia Maria Huntington.
Foi um naturalista americano e conchologista amador que trabalhou na flora e fauna do Brasil. Escreveu o Brasil, as Amazonas e a costa (C. Scribner's Sons, 1879) e Do Rio de Janeiro a Cuyabá: Notas de um naturalista (1922).
Ele primeiro foi ao Brasil em 1870 na expedição Morgan liderada por Charles Frederick Hartt. Ele voltou para ficar em Santarém de 1874 a 1876, e depois passou um ano explorando os rios Amazonas e Tapajós.
A morte de Smith foi trágica. Em sua caminhada para trabalhar no Museu de História Natural do Alabama, o naturalista surdo, que sofrera recentemente um surto de gripe, foi atropelado por um trem. O local no campus da Universidade do Alabama era conhecido por muitos anos como "Smith's Crossing".

JOHN LUHER WAGONER
John Luther Wagoner, geólogo, nasceu em Yadkin County, North Carolina, USA, a 16/02/1839 e faleceu a 2 de Janeiro de 1911. Foi sepultado no Macedonia Baptist Church Cemetery, Ronda, Wilkes County, North Carolina, USA. Filho de William Wagoner e Fanny Waggoner; Casou-se com Mary Jane Money Waggoner, com quem teve os filhos William Lee Waggoner. Chegou ao Brasil em 12 de maio de 1874, segundo Diário do Rio de Janeiro, 13 de maio de 1874, p. 3. Em 1876, substituiu Pacheco Jordão na Comissão. No ano seguinte era substituído por Frank Carpenter.

NOTA:
Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Segue abaixo, como exemplo, a forma correta de referência:
AMORIM, Etevaldo Alves. O Baixo São Francisco na Rota da Comissão Geológica. Maceió, Junho de 2018. Disponível em: http://www.blogdoetevaldo.blogspot.com.br/. Acesso em: dia, mês e ano.





[i] A Nação, RJ, 14 de maio de 1875, p. 2.
[ii] Fonte: CPRM – Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (Serviço Geológico Brasileiro – Ministério das Minas e Energia).
[iii] Marc Ferrez nasceu no Rio de Janeiro, a 7 de dezembro de 1843, filho de Zépherin e Alexandrine Ferrez, e faleceu em 12 de janeiro de 1923