Por Etevaldo
Amorim
Antônio Xavier de Assis |
Desde o dia 17 de março
de 1855, cumprindo o ideal de Inácio Barbosa, então Presidente da Província de
Sergipe, a florescente Aracaju vem sendo a Capital dos sergipanos, sucedendo à
velha e histórica São Cristóvão.
Atualmente, a cidade é
administrada pelo prefeito Edvaldo Nogueira Filho, nascido em Pão de Açúcar em 25 de janeiro de 1961. Filho seu Edvaldo e
dona Lourdes, Edvaldinho partiu ainda muito jovem para estudar em Aracaju, onde
chegou a cursar medicina, até ser absorvido pela política, iniciando nas lides
estudantis e progredindo na atividade parlamentar e executiva.
O fato é que Edvaldo não
é o primeiro a governar a cidade. Muito antes dele, lá no início do século XX,
outro pão-de-açucarense esteve à frente dos seus destinos administrativos:
ANTÔNIO XAVIER DE ASSIS.
Foi o próprio Edvaldo
Nogueira Filho que, no lançamento da mais importante obra de Xavier de Assis –
ESBOÇO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO BAIXO SÃO FRANCISCO, assim se expressou a
respeito:
“Quis o destino e a História – vejam vocês –
que cem anos depois, em 2006, nossa bela Aracaju estivesse sendo administrada
novamente por um pão-de-açucarense. Agora, enquanto exerço o terceiro mandato
de prefeito de Aracaju, uma nova coincidência me dá a oportunidade de render as
mais justas homenagens a esse grande alagoano-sergipano, que em 2020 completa o
sesquicentenário de nascimento.
E se ainda não bastasse essa boa
conspiração do acaso, ocorre que um neto de Xavier, igualmente um intelectual
de intensa participação na vida política, administrativa e cultura do Sergipe
contemporâneo, é um dos nossos parceiros nas homenagens que prestamos e nas
iniciativas para preservar sua memória. Refiro-me ao conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado, Carlos Pinna de Assis, membro da Academia Sergipana de Letras.”
Aspecto de Aracaju em 1903. |
Foi eleito Intendente em 1º de setembro de 1903, tomando posse em 1º de janeiro de 1904. Exerceu o mandato até 31 de dezembro e 1905, quando terminou o seu biênio[i].
Antônio Xavier de Assis
nasceu na, então, Vila de Pão de Açúcar, Estado de Alagoas, a 15 de junho de
1870, quando governou o Partido Conservador, tendo como presidente o Barão de
Itaboraí, e quando governava a província de Alagoas o brigadeiro José Miranda
da Silva Reis.
Era filho legítimo do
agricultor e negociante de gado Manuel Xavier de Assis e de D. Maria Inês da Soledade
Tavares Nunes de Assis.
Realizou os estudos
primários em sua terra natal, não prosseguindo nos outros graus por lhes
faltarem suficientes recursos.
Dotado de viva e
penetrante inteligência, foi se fazendo autodidata e adquirindo conhecimentos
variados, tomando gosto, cada vez maior pela vida da imprensa, a despeito das
deficiências do meio em que vivia e operava. Iniciou-se sob a orientação de um
antigo apaixonado pelo jornalismo, Achilles Balbino de Leles Mello, em cujas
oficinas tipográficas entrara, como aprendiz, aos 12 anos de idade, já órfão de
pai e mãe, em 1882, isto em Pão de Açúcar, onde o mesmo Achilles Mello fundara
o jornal “O Trabalho”.
Ainda com Achilles, que
se transferiu com seu jornal para Penedo, em 1893, Xavier de Assis se mudou
para a mesma cidade. Ali fundou, por sua vez, em 16 de junho de 1893, o jornal “O
Estímulo”, de parceria com Joaquim Mazoni e Amarantho Filho, tendo o jornal
tipografia própria. Era folha quinzenal. Em 18 de julho de 1897, fundou, ainda
em Penedo, o hebdomadário “Tribuna Popular”, de que foi diretor-proprietário. Esse
jornal não era órgão político. Todavia, mantinha uma coluna de oposição ao
governo do Estado. Daí, talvez, o clima de intolerância criado em torno de si,
forçando-lhe a se mudar para Sergipe, o que fez recorrendo à amizade que
travara com o Dr. Josino Menezes, quando este residia em Penedo, exercendo a
profissão de farmacêutico. Foi isto no começo da administração do Mons. Olímpio
Campos, da qual era Secretário-Geral o Dr. Josino. A nova situação, comandada
pelo Monsenhor Olimpio Campos, foi inaugurada em 24 de outubro de 1899.
Por muitos anos, Xavier
de Assis exerceu atividade comercial em Aracaju, sendo o primeiro proprietário
da Tipografia e Papelaria Moderna, que passou a ser depois Livraria Brasileira –
a maior e melhor livraria do Estado, à época. Montou, ainda em Aracaju, uma
fábrica de sabonetes e perfumaria com aparelharem importada da França e da
Alemanha, o que fez por meio da sociedade com o húngaro Ringald Biélla. Foi
proprietário do Sítio Palestina, que se tornaria bairro da capital, onde
recebia, em efusões de afeto, parentes e amigos. Em 1914, salgo engano, seguiu
para Maceió, levando sua família, com o propósito de fixar residência onde, no
período, comprou duas fábricas – uma de bebidas e outras de doce e tomatada.
Dois anos depois
regressou a Aracaju, ainda militando no comércio. Tornou-se, então,
representante, em Sergipe, de diversas firmas comerciais de Pernambuco, Bahia,
Paraíba e Rio de Janeiro, explorando os ramos de couros e peles, madeiras,
algodão, mica, charque e bacalhau.
Foi também proprietário
do Hotel dos Estados, em Aracaju, de sociedade com o inteligente artista
pirotécnico Pedro Barros. Após deixar o cargo de Intendente, foi eleito membro
do Conselho Municipal de Aracaju. Colaborou nos jornais do seu tempo, entre
eles o Correio de Aracaju, Jornal do Povo, O Estado de Sergipe e Jornal de
Notícias, todos de Aracaju. Colaborou, também, na importante “Revista
Brasileira”, que se publicava na cidade do Rio de Janeiro.
Entrando para o
funcionalismo público do Estado, exerceu os ofícios de Inspetor Escolar da 1ª
Zona do Estado, Diretor, sucessivamente, dos Grupos Escolares “General Siqueira”
e “Barão de Maroim”, ambos sediados em Aracaju, aposentando-se nesse último
lugar. Além disso, exerceu a provisão de advogado, devidamente provisionado
pelo antigo Tribunal de Relação do Estado.
Casou-se em Penedo,
Alagoas, no dia 25 de janeiro de 1895, com D. Maria Isaura de Viveiros Oliveira
e Silva, filha do antigo notário Joaquim Tibúrcio de Oliveira e Silva e D. Rita
Dorotéa Viveiros de Oliveira e Silva.
Depois do casamento, dona Isaura passou a se chamar Maria Isaura de
Viveiros Xavier de Assis.
Faleceu em Aracaju na
manhã de 21 de novembro de 1939, quando no governo do Estado, como Interventor
Federal, estava o Dr. Eronides Ferreira de Carvalho.
Fonte: Intendentes e
Prefeitos de Aracaju, de Epifânio Dória.
Para melhor conhecer
esse rico personagem, deixemos que ele próprio o diga em crônica:
“O QUE SERÁ DEPOIS
O
LUGAR ONDE EU NASCI E A TERRA QUE ESCOLHI.
Eram as terras dos
Meirus e dos Xocós, habitantes de Jaciobá e Ipueira.
Em 1757, começa a
catequese, com a chegada às mesmas terras de Dom Domingos do Loreto Couto[ii],
que estabelece missão à margem do Itipicamunhã[iii],
e em Tupiriá do outro lado do Parapitinga (que quer dizer: rio de pelo branco).
Vindo da queda d’água
da Mata Grande, o Parapitinga vai por 90 quilômetros de leito pedregoso e 210
quilômetros de leito arenoso, até a foz do grande mar.
O altaneiro Pão de
Açúcar, com seus velhos povoados do Cavalete, Pau Ferro, Paciência, Campo
Grande, São Domingos e Aranha, contempla o rio e o vaivém das barcas grandes e
canoas de tolda que transportam coisas e gente. Passam lentas na correnteza
entre as embarcações dos pescadores, sequer balançadas pelo suave marulhar das
águas claras.
Dia e noite, chova ou faça sol, o Pão de Açúcar é o baluarte natural que guarda o ponto bom de guarda, como um novo Almoroul, lar de míticos gigantes e lindíssimas princesas, na imitação do velho Tejo. Aliás, daqui do Pão de Açúcar, e do seu mais interno sertão, salta-se para o mundo, na propícia velocidade da correnteza do rio, para além da margem da penedia. Depois é só cruzar a corrente. E da Vila Nova que se põe à frente, alcançar afinal o destino.
É esse percurso que fiz e quero descrever. A surpresa de mares pouco abrigados, das areias e dos coqueirais infinitos onde viemos viver: Aracaju.
AS
CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA
Hoje, 15 de junho de 1931,
completo sessenta e um anos de idade e conclui o que posso considerar a obra da
minha vida: o livro sobre o Rio São Francisco na parte que conheço desde sempre
e desde sempre naveguei. Era um projeto antigo, do qual me afastaram as
exigências da vida de gráfico, comerciante e industrial e, afinal, as lidas
políticas nas quais quase que impertinentemente ingressei.
Nos muitos anos em que vivo em Aracaju, de 1899 até agora, com uma pequena interrupção em 1914 – tive o São Francisco em mente e almejei uma primeira publicação de fôlego no quadricentenário de sua descoberta (em 1901), que não pude cumprir diante do ingresso na política sergipana, na agitação do fim do governo do Monsenhor Olímpio Campos e na preparação do início do governo do meu amigo, Doutor Josino de Menezes.
Fui Intendente de
Aracaju e dirigi a Capital em 1904 e 1905, tendo sido eleito em 1º de setembro
de 1903 – com 252 votos – para suceder o Senhor Francisco de Andrade Mello, que
cumprira o biênio anterior. Já tinha o então jornal “O ESTADO DE SERGIPE” e
militei na imprensa sergipana escrevendo, também, para o “Correio de Aracaju”,
“Jornal do Povo” e “Jornal de Notícias”.
Depois, na sequência
dos fatos trágicos da política sergipana no início deste Século XX, e apesar do
confronto do olimpismo com o faustismo, tive a sorte de poder retornar às
minhas atividades comerciais com a Livraria Brasileira, posto que já tínhamos
então sete filhos, a mais velha é Ismênia, ainda adolescente, mas dividindo com
Marocas os cuidados com os mais novos e com as casas, que são três: a da
cidade, na Avenida Coelho e Campos; a do Sítio Palestina, no extremo oeste de
Aracaju, e a de São Cristóvão, onde passamos os verões.
No Governo Siqueira Menezes
(1911/14), assumi cargo público na área educacional do Estado, permitindo-me
trazer a Sergipe as ideias novas dos grupos escolares e das bolsas de estudos
na Capital Federal, não apenas para estudantes que se destacavam no ensino
médio nas mais variadas áreas de conhecimento, mas, também, para os jovens
promissores nas artes plásticas, musicais e literárias que no Rio de Janeiro
podiam ampliar os seus conhecimentos, técnicas e talentos.”
Cavalete, Pão de Açúcar-AL. Foto: Abílio Coutinho, 1869. |
Dr. Carlos Pinna de Assis (1949-2023), neto de Xavier de Assis. |
Edvaldo Nogueira Filho, atual Prefeito de Aracaju.. Foto: Danillo França. |
*** ***
Nota 1.
Tive o privilégio de
receber, do próprio Cons. Carlos Pinna de
Assis, um exemplar da obra ESBOÇO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO O BAIXO XÃO FRANCISCO,
com que se dignou presentear-me, em 5 de junho de 2021. Lamentavelmente, o
mesmo veio a falecer pouco tempo depois, a 5 de abril de 2023.
NOTA 2.
Caro leitor,
Deste Blog, que tem
como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações
históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em
geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica.
Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em
qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas
fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências.
Isso é correto e justo.
[i]
O lugar de Intendente fora quadrienal, pela Constituição do Estado de 18 de
maio de 1892, tendo sido anual pela malograda Constituição de 8 de junho e
1891, que deu ao referido lugar a designação de Edil. Foi, ainda, dissolvida
revolucionariamente em 28 de novembro do mesmo ano, passando a bienal pela
tumultuária Reforma Constitucional de 5 de abril de 1895. Fonte: Epifânio
Dória.
[ii]
Domingos do Loreto Couto nasceu no Recife, provavelmente no ano de 1696. Era
filho de Laura Soares Godim e João Álvares do Couto. Sua mãe, natural da terra,
era filha do Capitão Mor Marcos Velho Gondim, fidalgo da casa Real, cavaleiro, professor na
Ordem de Cristo, capitão de infantaria paga na cidade do Maranhão e
capitão mor do Pará, e de Isabel Soares da Fonseca, filha do Capitão Bartholomeu Soares Canha. Bruno Kawai Souto Maior de Melo. ENGRE
FRANCISCANOS E BENEDITINOS – O CASO DE DOMINGOS DO LORETO COUTO (1696-1762).
[iii] Itipincacunã (Pau Ferro).
Como pão-de-açucarense, e distante dessa terrinha há mais de 57 anos, foi um prazer ficar conhecendo fatos tão importantes narrados por conterrâneos tão ilustres.
ResponderExcluirDesde criança ouvia de amigos e parentes sobre essa migração de conterrâneos para a capital sergipana. Com os anos, compreendi que um dos motivos da busca de oportunidade em nosso querido Estado vizinho era, na época a melhor facilidade de acesso. Outra, porque muitos de nossos ascendentes vieram de terras ribeirinhas sergipanas.
ResponderExcluir🙌🏼🙌🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
ResponderExcluir