Por Etevaldo Amorim
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| O Sr. Joaquim Rezende |
Joaquim
Cruz Rezende nasceu na fazenda Lagoa Redonda, na época situada em território de Gararu, hoje Povoado Lagoa Redonda, território do município de Itabi, no dia 12 de março de 1902. Ali
estabeleceu-se no comércio, em 1928, com loja de fazendas e miudezas.[i]
Foi prefeito de Belo Monte, entre 1936/37, mas, pela sua profícua atuação em
Pão de Açúcar, onde chegou a ser prefeito de 19/08/1938 a 08/04/1941, tornou-se
uma personalidade digna de figurar entre os mais destacados pão-de-açucarenses.
Era
filho de Manoel Cruz Rezende e Maria do Céu Rezende, tendo como avós paternos:
Justino Salazar de Rezende e Josepha Maria do Couto; e, maternos: José de Souza
Menezes e Angélica Maria de Oliveira.
Em
1924, casou-se, em Belo Monte, com a Srtª Aurita de Freitas Melro (filha de
Joaquim de Freitas Melro e Maria do Valimento Melro), com que teve os filhos
Geraldo de Freitas Rezende[ii],
Luiz de Freitas Rezende, Maria do Valimento de Freitas Rezende e Antônio de
Freitas Rezende.
Na
década de 1940, já viúvo pelo falecimento de Dona Aurita (21 de fevereiro de
1939), o Sr. Joaquim Rezende iniciou relacionamento com a Srta. Lourdes Melo (filha
de Álvaro Gomes de Carvalho Mello e Maria da Glória de Mello Filha).
Em
24 de setembro de 1946, o casal foi brindado com o nascimento de uma menina,
que se chamaria Ana Dayse Melo Rezende (nome de casada Ana Dayse Rezende Dória).
Tornando-se
professora e médica, ela ingressou, por concurso, no corpo docente da
Universidade Federal de Alagoas, chegando a ser Reitora. Ocupou ainda, por duas
vezes, o cargo de Secretária de Educação do Município de Maceió.
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Para melhor dizer o quanto foi e fez o cidadão Joaquim Rezende, valho-me do depoimento de um seu amigo, o jornalista e escritor capixaba Francisco Escobar Filho[iii], que também era Agente Fiscal do Imposto de Consumo do Ministério da Fazenda. Aliás, já publicamos aqui um artigo dele na revista Carioca, RJ, nº 484, de 30 de dezembro de 1944: PÃO DE AÇÚCAR – OÁSIS DO SERTÃO ALAGOANO.
Escobar
Filho publicou um artigo no Jornal do Comércio, do Recife, poucos dias depois do
assassinato do amigo, em 28 de agosto de 1954, artigo este replicado pela Gazeta
de Alagoas, de 16 de setembro de 1954.
Ao
afirmar que “Quase todos os melhoramentos de Pão de Açúcar foram obra de
Joaquim Rezende”, faz um minucioso relato da cidade:
“Pão
de Açúcar é uma das mais bonitas cidades da margem do baixo São Francisco.
Cidade pequenina, com uns cinco mil habitantes na zona urbana, mas bem cuidada.
Uma
avenida ampla, de mais de quinhentos metros de comprimento por sessenta de
largura, calçada a pedra sabão, com ajardinamento central, arborização de “fleurs”
e tamarineiros e outra avenida paralela, um pouco menor, e ainda não de todo
concluída, à beira do rio.
Ruas
transversais com excelentes moradias, uma bela imagem do Cristo Redentor no
alto de um pequeno morro semelhante aos pães de açúcar, com iluminação indireta
de poderosos refletores.
O
rio é largo em frene à cidade, passando de um quilômetro, e a coroa, que só
desaparece nas épocas de grandes enchentes, dá impressão de uma praia.
As
casas mais modestas, nas ruas principais, têm platibanda, o que dá um aspecto
moderno e simpático à cidade.”
Em
seguida, fala do homem, do empreendedor, do homem de negócios:
“A
atividade de Joaquim Rezende, em Pão de Açúcar, constituiu para mim a primeira
e mais fecunda lição de economia política no Nordeste. Nunca fiz ideia, no Rio
ou em São Paulo, de que fosse o comércio de uma pequena cidade do interior de
um pequeno Estado. Aprendi em Pão de Açúcar o que hoje sei a respeito de
produção e financiamento no interior. Aprendi vendo o trabalho de Joaquim
Rezende.
Homem
de poucas palavras, de sobrecenho cerrado, agia como nos bons tempos do penhor
do fio de barba. Sua palavra bastava para que uma transação se considerasse
feita. Nascido em Gararu, cidade sergipana da margem do São Francisco,
radicara-se em Pão de Açúcar, e tornara-se o homem da região, porque esta
cidade é a porta do sertão alagoano.
Trabalhava
com os bancos de Propriá, que arrebatou a Penedo, no São Francisco, o título de
empório da zona ribeirinha. Semanalmente, levantava cerca de quinhentos mil
cruzeiros, num movimento mensal de mais de dois milhões. Sua canoa principal, a
“Goiana”, com a capacidade para seis toneladas de carga, saía de Pão de Açúcar
no dia seguinte à feira semanal, isto é, nas terças-feiras, descendo o rio rumo
a Propriá.
Joaquim
Rezende viajava nas quintas-feiras no excelente navio da linha Penedo-Piranhas
e descia em Propriá, indo às vezes até Aracaju. Nos sábados, voltava a Pão de
Açúcar na “Goiana”. Não sei se todos sabem que, no baixo São Francisco, como já
assinalei em crônica publicada pela “Carioca”, do Rio, a tarefa de subir o
curso d’água é mais fácil e rápida do que a de descer, o que contraria tudo o
que sabemos de navegação fluvial. Deve-se à ação do vento, que é um só, pelo
dia, o Nordeste.
Na
outra segunda-feira, Joaquim Rezende comprava tudo o que vinha do sertão para a
feira da cidade: algodão, amendoim, arroz, farinha, feijão, milho e renovava a
sua faina. Adiantava dinheiro para as plantações, substituindo, por ação
pessoa, a falta de bancos e a organização de crédito agrícola que, a rigor,
ainda não possuímos.
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Tinha
máquina de algodão, prensa, usina de beneficiamento, mantinha o cinema da
cidade, organizara a empresa de iluminação, instalara um curtume, abrira
fazendas, do lado de Alagoas e na margem sergipana, criando gado,
industrializando os derivados do leite. Construíra um campo de aviação em sua
fazenda.
Como
operara na chamada pecuária, tendo bois, foi envolvido nas restrições de
crédito adotadas pelo Banco do Brasil no início do Governo Dutra, e que
representaram caminho tão errado para corrigir os excessos das negociatas e
trampolinagens dos empréstimos de fomento pecuarista no Estado Novo.
Ferido
o lidador na sua faina, nem assim se deixou abater. Com o seu sacrifício,
sofreu toda a cidade de Pão de Açúcar. Sofreu toda a zona do sertão. Pude
conhecer, aí, a extensão do erro do nosso principal estabelecimento de crédito,
multiplicando o caso de Joaquim Rezende por tantos outros que estariam
ocorrendo pelo interior do Brasil, sobretudo no Nordeste.
Mas,
afinal, retirando-se oficialmente da direção dos seus negócios, Joaquim Rezende
reagiu bem à pressão econômica e salvou-se. Estava reintegrado no seu poderio
financeiro, restabelecendo a atividade fecunda que sempre exerceu no seu meio.
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Consegui
levar Joaquim Rezende ao Rio de Janeiro, onde ele nunca fora, em meados de
1945. Daí ele aprendeu o caminho do Distrito Federal e de São Paulo.
Seu
filho mais velho, professor secundário, foi chamado para ajudá-lo nas tarefas
de sua indústria e lavoura em Pão de Açúcar; outro filho é hoje capitão do
Exército e está no Recife. Um outro dos seus filhos, que estudara em São Paulo,
morreu aqui num desastre de avião. A filha mais velha casou-se e foi morar no
Rio. Em companhia de Joaquim ficara a filha pequenina, que ainda não tem dez
anos. (Nota: Familiares informam que o acidente de que foi vítima o militar da aeronáutica Antônio de Freitas Rezende não foi de avião, mas de carro).
Recebi
há poucos meses sua visita aqui no Recife. Queria que eu fosse à festa de Pão
de Açúcar. Disse-me que estava como delegado de polícia, o que me causou
surpresa. Aceitara o cargo por espírito público, que nele era uma constante e
uma paixão. Integrado na UDN, não resistira ao apelo de um governador udenista
e concordara em exercer uma função policial.”
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| O Jornalista Escobar Filho |
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NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA
E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes.
Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta
documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão,
solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer
trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo
também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é
correto e justo.
[i]
Cadastro: comercial, industrial, agrícola e informativo do Estado de Sergipe,
1933.
[ii][ii]
Geraldo de Freitas Rezende nasceu em Gararu-SE, em 16 de outubro de 1925. Estudou
no Colégio Pedro II, formando-se em 1942. Em 1978 era coronel do Exército. Faleceu
em Curitiba em 28 de julho de 2004.
[iii]
Francisco Escobar Filho. Nasceu a 25 de agosto de 1901, filho de Francisco de
Lima Escobar Araújo e de Leocádia Ribeiro Escobar. Faleceu a 10 de outubro de
1966, na cidade de São Bento do Sul, Estado de Santa Catarina, aos 65 anos de
idade. Foto revista Vamos Ler, RJ, 20/07/1944.


Excelente artigo sobre o conhecido e muito citado personagem em nossa terra, Joaquim Rezende. Muitos detalhes são novos para mim, apesar do distante parentesco.
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