domingo, dezembro 28

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES – JOAQUIM REZENDE

 

Por Etevaldo Amorim

 

O Sr. Joaquim Rezende


Joaquim Cruz Rezende nasceu  na fazenda Lagoa Redonda, na época situada em território de Gararu, hoje Povoado Lagoa Redonda, território do município de Itabi, no dia 12 de março de 1902. Ali estabeleceu-se no comércio, em 1928, com loja de fazendas e miudezas.[i] Foi prefeito de Belo Monte, entre 1936/37, mas, pela sua profícua atuação em Pão de Açúcar, onde chegou a ser prefeito de 19/08/1938 a 08/04/1941, tornou-se uma personalidade digna de figurar entre os mais destacados pão-de-açucarenses.


Era filho de Manoel Cruz Rezende e Maria do Céu Rezende, tendo como avós paternos: Justino Salazar de Rezende e Josepha Maria do Couto; e, maternos: José de Souza Menezes e Angélica Maria de Oliveira.


Em 1924, casou-se, em Belo Monte, com a Srtª Aurita de Freitas Melro (filha de Joaquim de Freitas Melro e Maria do Valimento Melro), com que teve os filhos Geraldo de Freitas Rezende[ii], Luiz de Freitas Rezende, Maria do Valimento de Freitas Rezende e Antônio de Freitas Rezende.


Na década de 1940, já viúvo pelo falecimento de Dona Aurita (21 de fevereiro de 1939), o Sr. Joaquim Rezende iniciou relacionamento com a Srta. Lourdes Melo (filha de Álvaro Gomes de Carvalho Mello e Maria da Glória de Mello Filha).


Em 24 de setembro de 1946, o casal foi brindado com o nascimento de uma menina, que se chamaria Ana Dayse Melo Rezende (nome de casada Ana Dayse Rezende Dória).


Tornando-se professora e médica, ela ingressou, por concurso, no corpo docente da Universidade Federal de Alagoas, chegando a ser Reitora. Ocupou ainda, por duas vezes, o cargo de Secretária de Educação do Município de Maceió.


­__  __  __


Para melhor dizer o quanto foi e fez o cidadão Joaquim Rezende, valho-me do depoimento de um seu amigo, o jornalista e escritor capixaba Francisco Escobar Filho[iii], que também era Agente Fiscal do Imposto de Consumo do Ministério da Fazenda. Aliás, já publicamos aqui um artigo dele na revista Carioca, RJ, nº 484, de 30 de dezembro de 1944: PÃO DE AÇÚCAR – OÁSIS DO SERTÃO ALAGOANO.


Escobar Filho publicou um artigo no Jornal do Comércio, do Recife, poucos dias depois do assassinato do amigo, em 28 de agosto de 1954, artigo este replicado pela Gazeta de Alagoas, de 16 de setembro de 1954.


Ao afirmar que “Quase todos os melhoramentos de Pão de Açúcar foram obra de Joaquim Rezende”, faz um minucioso relato da cidade:

 

Pão de Açúcar é uma das mais bonitas cidades da margem do baixo São Francisco. Cidade pequenina, com uns cinco mil habitantes na zona urbana, mas bem cuidada.


Uma avenida ampla, de mais de quinhentos metros de comprimento por sessenta de largura, calçada a pedra sabão, com ajardinamento central, arborização de “fleurs” e tamarineiros e outra avenida paralela, um pouco menor, e ainda não de todo concluída, à beira do rio.


Ruas transversais com excelentes moradias, uma bela imagem do Cristo Redentor no alto de um pequeno morro semelhante aos pães de açúcar, com iluminação indireta de poderosos refletores.


O rio é largo em frene à cidade, passando de um quilômetro, e a coroa, que só desaparece nas épocas de grandes enchentes, dá impressão de uma praia.


As casas mais modestas, nas ruas principais, têm platibanda, o que dá um aspecto moderno e simpático à cidade.”


Em seguida, fala do homem, do empreendedor, do homem de negócios:


“A atividade de Joaquim Rezende, em Pão de Açúcar, constituiu para mim a primeira e mais fecunda lição de economia política no Nordeste. Nunca fiz ideia, no Rio ou em São Paulo, de que fosse o comércio de uma pequena cidade do interior de um pequeno Estado. Aprendi em Pão de Açúcar o que hoje sei a respeito de produção e financiamento no interior. Aprendi vendo o trabalho de Joaquim Rezende.


Homem de poucas palavras, de sobrecenho cerrado, agia como nos bons tempos do penhor do fio de barba. Sua palavra bastava para que uma transação se considerasse feita. Nascido em Gararu, cidade sergipana da margem do São Francisco, radicara-se em Pão de Açúcar, e tornara-se o homem da região, porque esta cidade é a porta do sertão alagoano.


Trabalhava com os bancos de Propriá, que arrebatou a Penedo, no São Francisco, o título de empório da zona ribeirinha. Semanalmente, levantava cerca de quinhentos mil cruzeiros, num movimento mensal de mais de dois milhões. Sua canoa principal, a “Goiana”, com a capacidade para seis toneladas de carga, saía de Pão de Açúcar no dia seguinte à feira semanal, isto é, nas terças-feiras, descendo o rio rumo a Propriá.


Joaquim Rezende viajava nas quintas-feiras no excelente navio da linha Penedo-Piranhas e descia em Propriá, indo às vezes até Aracaju. Nos sábados, voltava a Pão de Açúcar na “Goiana”. Não sei se todos sabem que, no baixo São Francisco, como já assinalei em crônica publicada pela “Carioca”, do Rio, a tarefa de subir o curso d’água é mais fácil e rápida do que a de descer, o que contraria tudo o que sabemos de navegação fluvial. Deve-se à ação do vento, que é um só, pelo dia, o Nordeste.


Na outra segunda-feira, Joaquim Rezende comprava tudo o que vinha do sertão para a feira da cidade: algodão, amendoim, arroz, farinha, feijão, milho e renovava a sua faina. Adiantava dinheiro para as plantações, substituindo, por ação pessoa, a falta de bancos e a organização de crédito agrícola que, a rigor, ainda não possuímos.

__


Tinha máquina de algodão, prensa, usina de beneficiamento, mantinha o cinema da cidade, organizara a empresa de iluminação, instalara um curtume, abrira fazendas, do lado de Alagoas e na margem sergipana, criando gado, industrializando os derivados do leite. Construíra um campo de aviação em sua fazenda.


Como operara na chamada pecuária, tendo bois, foi envolvido nas restrições de crédito adotadas pelo Banco do Brasil no início do Governo Dutra, e que representaram caminho tão errado para corrigir os excessos das negociatas e trampolinagens dos empréstimos de fomento pecuarista no Estado Novo.


Ferido o lidador na sua faina, nem assim se deixou abater. Com o seu sacrifício, sofreu toda a cidade de Pão de Açúcar. Sofreu toda a zona do sertão. Pude conhecer, aí, a extensão do erro do nosso principal estabelecimento de crédito, multiplicando o caso de Joaquim Rezende por tantos outros que estariam ocorrendo pelo interior do Brasil, sobretudo no Nordeste.


Mas, afinal, retirando-se oficialmente da direção dos seus negócios, Joaquim Rezende reagiu bem à pressão econômica e salvou-se. Estava reintegrado no seu poderio financeiro, restabelecendo a atividade fecunda que sempre exerceu no seu meio.


___ 


Consegui levar Joaquim Rezende ao Rio de Janeiro, onde ele nunca fora, em meados de 1945. Daí ele aprendeu o caminho do Distrito Federal e de São Paulo.


Seu filho mais velho, professor secundário, foi chamado para ajudá-lo nas tarefas de sua indústria e lavoura em Pão de Açúcar; outro filho é hoje capitão do Exército e está no Recife. Um outro dos seus filhos, que estudara em São Paulo, morreu aqui num desastre de avião. A filha mais velha casou-se e foi morar no Rio. Em companhia de Joaquim ficara a filha pequenina, que ainda não tem dez anos. (Nota: Familiares informam que o acidente de que foi vítima o militar da aeronáutica Antônio de Freitas Rezende não foi de avião, mas de carro).


Recebi há poucos meses sua visita aqui no Recife. Queria que eu fosse à festa de Pão de Açúcar. Disse-me que estava como delegado de polícia, o que me causou surpresa. Aceitara o cargo por espírito público, que nele era uma constante e uma paixão. Integrado na UDN, não resistira ao apelo de um governador udenista e concordara em exercer uma função policial.”

 

O Jornalista Escobar Filho


___

 

NOTA:

 

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

 



[i] Cadastro: comercial, industrial, agrícola e informativo do Estado de Sergipe, 1933.

[ii][ii] Geraldo de Freitas Rezende nasceu em Gararu-SE, em 16 de outubro de 1925. Estudou no Colégio Pedro II, formando-se em 1942. Em 1978 era coronel do Exército. Faleceu em Curitiba em 28 de julho de 2004.

[iii] Francisco Escobar Filho. Nasceu a 25 de agosto de 1901, filho de Francisco de Lima Escobar Araújo e de Leocádia Ribeiro Escobar. Faleceu a 10 de outubro de 1966, na cidade de São Bento do Sul, Estado de Santa Catarina, aos 65 anos de idade. Foto revista Vamos Ler, RJ, 20/07/1944.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

PUBLICAÇÕES
Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia