PÁGINAS

domingo, 25 de novembro de 2012

A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA DE FERRO PAULO AFONSO: FOTOGRAFIA E HISTÓRIA


    O Governo do Estado de Alagoas e o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas realizarão o lançamento do livro “A Construção da Estrada de Ferro Paulo Afonso: Fotografia e História”.
Dentre os pontos da análise de investigação do livro, destacam-se a verificação das alianças políticas para a construção da Estrada de Ferro Paulo Afonso, o processo de construção do sistema ferroviário e a significativa participação de trabalhadores sertanejos.
    O livro também apresenta um panorama histórico da experiência da construção no sertão alagoano, ocorrida na segunda metade do século XIX, trazendo à tona os diferentes momentos e as dificuldades enfrentadas por engenheiros e trabalhadores. A obra discorre sobre a importância desse meio de transporte enquanto viabilizador social e econômico, sobretudo através do escoamento da produção pelo rio S. Francisco. Ao final, o estudo também destaca o inédito registro fotográfico de Ignácio Mendo – além de informações sobre o contexto em que elas foram realizadas. Ao todo, são quatro capítulos e aproximadamente 90 fotografias, distribuídos em 112 páginas.
    A pesquisa e a elaboração do texto são de autoria do administrador Davi R. Bandeira, pesquisador do Núcleo de Estudos de Administração Brasileira (PPGAd/UFF). Lançamento: 28 de novembro de 2012

Local: Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas - Maceió
Hora: 15:00 h
Mais informações: ihgal@hotmail.com

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O AVIÃO QUE CAIU EM CAMPINAS


Por Etevaldo Amorim

Muitas lembranças eu ainda guardo da infância em Campinas. Entre elas um acontecimento trágico, de cujas proporções só agora tomo conhecimento.
Era noite alta, já madrugada. Meu tio nos acordou na casinha dos fundos onde morávamos e nos dirigimos à porta de sua casa, na Rua Amparo, no bairro Novo Campos Elíseos. Lá estava um carro com alguns homens, que arregimentavam voluntários para controlar um incêndio provocado pela queda de um avião. Favorecidos pelos espaços vazios que ainda havia naquela parte nova do bairro, pudemos avistar o fogaréu nos eucaliptos, a cerca de seis quilômetros de onde estávamos. Meu pai e meu tio foram com eles. Na volta, o relato estarrecedor: em meio ao fogo intenso, lutando com os poucos recursos de que dispunham, ainda se deparavam com corpos carbonizados e mutilados em meio aos destroços fumegantes do aparelho.
Agora, vasculhando os jornais da época, no precioso portal da Biblioteca Nacional, encontro detalhes daquele episódio que marcou a minha memória de criança. Na madrugada do dia 23 de novembro de 1961, o avião Arco-Iris, um COMET 4¹ prefixo LV-AHR, da Aerolineas Argentinas, procedente de Buenos Aires, decolara do Aeroporto Viracopos às 2:32 h com destino a Nova York, com escala em Trinidad. Depois de uma inexplicável demora de 20 minutos na cabeceira da pista nº 32, o avião decolou depois de o comandante dar o sinal convencional de que estava tudo em ordem a bordo. Um minuto e meio depois caiu na região denominada Sítio Lagoa, bairro Friburgo, três quilômetros do Aeroporto, devastando uma plantação de eucalipto de propriedade do Sr. Werner Schaefer, abrindo uma clareira de mais de trezentos metros e explodindo ao encontrar um aclive do terreno. O radiotelegrafista de bordo não teve tempo de fazer qualquer comunicação. A última foi momentos antes da decolagem.
Segundo informou depois o comando da IV Zona Aérea, as condições atmosféricas naquela noite eram boas, com teto de 400 metros e visibilidade de 6.000 metros. O plano de voo apresentado pelo comandante previa uma viagem de 5 horas e 16 minutos até a próxima parada: Trinidad.
O avião partira do aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, às 23 horas do dia 22, sob o comando de Roberto Môsca e tendo a seu lado o Co-piloto Raul Quesada. Ao chegar a Viracopos, a 1:15 h, cinco passageiros desembarcaram: Alan Skellenger, Maria Mila Sole, Manuel Bonino, Maria J. Z. de Bonino e Victor Ventura. O Sr. J. W. Glenz deixou de embarcar, escapando do sinistro.
Estavam a bordo 52 pessoas², sendo 40 passageiros e 12 tripulantes. Ambulâncias, viaturas policiais de três guarnições de bombeiros de Campinas, inclusive um helicóptero da FAB, acorreram ao local e, auxiliados por voluntários, conseguiram a muito custo debelar o incêndio, passando à fase de identificação dos corpos. Reconheceram imediatamente o comandante Roberto Môsca e o Co-piloto H. Loubert e apenas um passageiro, dadas as condições em que ficaram os demais.
         Bertoldo Antônio, morador há 200 metros do local da queda, declarou à reportagem do jornal carioca Última Hora: “Acordei ouvindo violentas explosões e julguei que fosse um tremor de terra. Corri ao local, mas nada pude fazer” Já o sitiante Werner Schaefer, de origem alemã, disse que, ao ouvir as seguidas explosões, supôs tratar-se de alguma revolução. Ainda segundo o Última Hora, sua esposa Olga Jurz declarou: “Julguei que fosse um terremoto. Saí com meu marido e vimos o avião envolto em chamas. Foi horrível”.
          O fotógrafo Neldo Cantanti, que registro o acidente, conta que “Era um amontoado de ferro retorcido e a gente pisava na terra queimada. Ainda chovia muito. Só sobraram a cauda e as turbinas.” Ele ainda lembra que um dos passageiros perdeu o voo devido à demora do taxista que o levava ao aeroporto. Perderia uma reunião muito importante e, por esta razão, ficou muito irritado com o motorista. Minutos depois, sabendo do acidente, agradeceu por salvar-lhe a vida.
                Além dos 52 mortos na queda, a tragédia fez mais uma vítima, a Srª Amália Fêit de Serrano, 69 anos, que faleceu em Córdoba ao saber da morte do filho, o arquiteto Ernesto Guilermo de Serrano.
                Acabou assim o fatídico voo 322.
               Vislumbro agora outra ligação com aquele fato. Meu pai era operário da DUNLOP DO BRASIL, uma fábrica de pneus de origem britânica, que foi depois vendida à PIRELLI. Essa Unidade de Campinas fornecia componentes à BOAC, fabricante do Comet 4. Lembro-me que ganhei um aviãozinho de brinquedo numa das festas de confraternização, uma miniatura do aparelho da BOAC.
                Essas lembranças da infância não se apagam nunca... e já faz 51 anos.
_____________
¹ Fabricado pela Britsh Overseas Airways, também conhecida por sua sigla, BOAC. Essa empresa aérea do Reino Unido surgiu como fusão entre a Britshi Airways Ltd. e a Imperial Airways no ano de 1939. Em 1974, a BOAC fundiu-se com a Britsh European Airways com ato do parlamento britânico de 1971. Em 1975, foi a primeira companhia aérea a utilizar um avião a jato para transporte de passageiros, com o De Havilland Comet.

² Procedentes de Buenos Aires: Horácio A. Esteverena, capitão da Marinha Argentina e sua esposa Marta Hortensia Martoreli; Eduardo Leonidas Vago, Gerente-Geral das Companhias Marítimas Argentinas; Carlos Francisco Bertoa de Liano, oficial do Exército argentino; Colette Lousberg de Arlia, belga de 31 anos; Bernardo Fridman, negociante argentino de 57 anos; Ramon Garcia, argentino 56 anos; Marta L. Smart, estudante argentina de 17 anos, filha do gerente-geral da Aerolineas Argentinas nos Estados Unidos, Albert Smart; Mário Antônio Couto, negociante argentino 40 anos; José Antônio Reyes, eletrotécnico argentino 42 anos; Gilbert Jean Luy, norte americano 47 anos e sua esposa Luciana Rosa Larreia de Luy, peruana 31 anos; Oscar Manuel Manna, despachante aduaneiro argentino 26 anos; Salomon Burstzein, argentino naturalizado 56 anos; David Smith, orador luterano argentino de 39 anos; Nicolas Susta, arquiteto argentino de 32 anos; José Antônio Talawe, 22 anos oficial do Exército argentino; Renee Sweig, industrial austríaco 43 anos; Edgar Bercebal, negociante argentino 30 anos; Ernesto Guilhermo Serrano, arquiteto argentino 43 anos; Emílio Giancola, sacerdote argentino naturalizado 31 anos; Maria Gracia Guerrieri de Barreiro, argentina 58 anos; Maria Rosa Guerrieri, argentina 31 anos; Ricardo Jesus Ezcurra, negociante argentino 46 anos; Oscar Reinaldo Buhrer, estudante argentino 10 anos; Amanda Maria Correia de Buhrer, argentina 45 anos; Abraham Wolf Kiszemberg, argentino naturalizado 37 anos; Francisco Colucci, piloto civil argentino 31 anos; Alejandro Martin, piloto civil argentino, 33 anos;Jorge Cesar Rodrigues, piloto civil argentino 36 anos; Francisco Carlos Gabrieli, piloto civil argentino 29 anos, diretor de aeronáutica da Província de Mendonza; Nicolas Rado, industrial argentino 35 anos; Clemente Gomez, argentino 31 anos; William Boryk; Carlos Leonardo Sersosino, argentino 35 anos funcionário da Aerolineas Argentinas, o único que se dirigia a Trinidad; C. Z. Omfz; Stig Forum Smitd, ex-chefe de pilotos em Nova Yorque, que viajava como passageiro. Embarcaram em Campinas: Isidor Hegyr; Erzsebt Biro Hagyi; Magid Raduan. Tripulantes: Roberto Môsca, piloto; Raul Mário Quesada, co-piloto; Maurício Loubet, co-piloto reserva; Boris Juan Marijanac, navegante; Carlos Leiva, mecânico; Juam Leira, engenheiro de vôo; Antônio Sigilli, operador de rádio; Washington Garcia, comissário; Ricardo Henrique Garcia, comissário; Cândida Perez, aeromoça; Lylian Casanovich, aeromoça;Manuel Vallecillos, navegante reserva.





Equipes de resgate em meio aos destroços do avião Foto: Neldo Cantanti.


Destroços do Comet 4. Foto: Neldo Cantanti.


Capa da edição extra do Correio Popular de Campinas, que fez a cobertura do acidente.


Indicação do possível local do acidente, arredores do Cemitério dos Alemães.
Fonte: Google. Edição: Edilberto Princi Portugal.

Comet 4, em 1961, no aeroporto de Orly, França. Foto: Georges Cozzika.


Nas pesquisas para compor este artigo encontrei esta foto no site http://aviation-safety.net/database/operator/airline.php?vai=6813. Como a sua reprodução estava condicionada à autorização do autor, solicitei de imediato. Getilmente, o Sr. Georges Cozzika, um francês de origem grega, físico nuclear aposentado, hoje com 71 anos, permitiu-me utilizá-la para ilustrar este pequeno relato.
Em 1961, câmera na mão, o jovem estudante interessado em aviões frequentava, na companhia de um amigo, o aeroporto de Orly, sul de Paris, quando fez esta foto do avião da Aerolineas Argentinas. Orly foi o principal aeroporto da França até a inauguração do Charles de Gaulle, em Roissy, em 1974. Noutras vezes, iam ao mais antigo, de Le Bourget, norte de Paris, onde Lindberg desembarcou em 1927, na célebre façanha de voar 33 horas e meia desde Nova Yorque. Revelou-me que, até bem pouco tempo, não tinha conhecimento de que aquele belo aparelho havia sido abatido por essa tragédia.

FONTES:

Diário de Notícias, 25/11/1961. Disponível em:
A Noite, 24/11/1961. Disponível em:

Diário da Noite, 24/11/1961. Disponível em:

Diário Carioca, 25/11/1961. Disponível em:

Última Hora, 25/11/1961. Disponível em:

Pró-memória – Campinas.


Portal do Aeroporto Internacional de Viracopos.







quinta-feira, 15 de novembro de 2012

HOJE NA HISTÓRIA

Há 59 anos, falecia no Rio de Janeiro o médico, político e poeta alagoano JORGE DE LIMA.
A homenagem deste Blog vai na forma do seu poema mais conhecido:

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente"

Um, dois, três lampiões acende e continua
Outros mais a acender, imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
- Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!




Veja a notícia da morte de Jorge de Lima na edição do dia 17 de novembro de 1953 do jornal DIÁRIO CARIOCA. Disponível em: www.memoria.bn.br. Acesse o link: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=093092_04&PagFis=21276






domingo, 4 de novembro de 2012

HOJE NA HISTÓRIA

PRÊMIO DEUTSCH PARA SANTOS DUMONT


Por Etevaldo Amorim

Há 111 anos, o brasileiro Santos Dumont foi oficialmente declarado vencedor do Prêmio Deutsch, oferecido pelo Aero Club de París, após seu voo com o dirigível N-6 em torno da Torre Eiffel.
O concurso foi promovido pelo milionário Deutsch de la Meurthe, empresário ligado à exploração e refino de petróleo e fazia parte das comemorações da virada do século. O desafio consistia em pilotar um dirigível ou aeroplano que contornasse a torre Eiffel, saindo do campo de Saint-Cloud, sobrevoando o rio Sena, o campo de Bagatelle e retornando ao pondo de partida em, no máximo, 30 minutos. No dia 19 de outubro, Santos Dumont concluiu o percurso em 30 minutos e 29 segundos.
Houve grande discussão em torno do resultado da prova. Foi então que, sob a presidência do Príncipe Rolando Bonaparte, a Comissão Julgadora, por 13 votos contra 9, conferia o prêmio a Santos Dumont. Para essa decisão muito contribuíram as opiniões dos membros do Instituto de France que, na comissão Cailletet, Bouquet de Lagrye, E. Moscart e Julio Violle.
Santos Dumont recebeu, no dia 5, 100 mil francos e, conforme havia anunciado, os distribuiu assim: 50 mil francos para os pobres de Paris, 20 mil francos para o seu secretário e infatigável companheiro  de trabalho Emmanuel Aimé e os 30 mil restantes aos operários que o ajudaram naquela empreitada.