PÁGINAS

terça-feira, 18 de junho de 2013

MEU ENCONTRO COM...

MAJOR LUIZ

Por Etevaldo Amorim

Da escola, na verdade uma banca de estudos – espécie de cursinho para o Exame de Admissão ao Ginásio, que tinha como professor o meu bom e velho amigo Lindalvo Costa — ouvimos um barulho de lancha chegando ao porto. Não era o horário das lanchas que faziam a linha Penedo-Piranhas. Logo soubemos que nela chegara o ex-governador Luiz Cavalcante.

Desembarcou acompanhado apenas de um assessor e logo foi cercado por um grande número de meninos e meninas, e até moças, que o conheciam muito bem, já que alguns anos atrás ele visitara o Limoeiro como Governador do Estado. Naquela ocasião, com uma grande comitiva, distribuiu muitos presentes: brinquedos para as crianças, cortes de chita para as senhoras... depois foi embora no velho navio Comendador Peixoto, que já dava seus últimos apitos. Agora, num belo dia do ano de 1968, retornava como Deputado Federal.

Subiu do “porto de baixo” direto para a Rua do Meio. Conversou um pouco com Seu Josias, um carpinteiro que improvisava uma oficina à sombra do oitão da Igreja. Trocou com ele algumas palavras, numa prosa que parecia ser de dois homens do mesmo nível. Lembro-me bem desta frase:

— “Então o senhor é o carapina daqui, heim?!!!.

Seu Josias sorriu e ele se voltou para nós. Reuniu a meninada, e iniciou uma espécie de olimpíada de brincadeiras (corridas de saco, adivinhações, etc.) com as quais premiava os vencedores. Ficamos assim por algum tempo até juntar todos na alta calçada da casa de Seu Juca para uma fotografia. Algum tempo depois, ele nos mandou a fotografia que tiramos juntos e que segue abaixo.

Já na descida para o porto de baixo, sentou-se na calçada da casa de Seu João Gringo, sempre cercado da garotada. O sol já pendia para o poente e já fazia sombra naquele local. Dali se avistava o nome daquela rua, inscrita na própria parede do prédio dos Correios, na esquina do lado oposto: — RUA MÁRIO VIEIRA — . Ele, então, lançou a pergunta:

— Quem é Mário Vieira?

Ninguém respondeu. Fiquei meio tímido, mas tomei coragem e falei:

— Mário Vieira era um homem daqui do Limoeiro, que foi político e morreu assassinado há muitos anos...

O Major, satisfeito e sorridente, disse-me:

— Muito bem, garoto! Então você conhece a história da sua terra...

Eu poderia não saber de qualquer outra história daquela antiga vila em que passei a morar a partir de 1964, vindo de Campinas, onde nasci. Mas aquela história eu conhecia muito bem. Meu pai me contava que, em janeiro do ano de 1936, durante a Festa dos padroeiros do lugar (Jesus, Maria e José), um grupo de policiais das Volantes (forças que combatiam os cangaceiros), procedentes de Belo Monte, ali chegaram e começaram a desacatar algumas pessoas do lugar. Admoestado por Seu Mário Soares Vieira, que acabara de chegar a cavalo do então povoado São José da Tapera, um deles lançou mão de um fuzil e disparou contra ele a queima-roupa. Em seguida saiu atirando a esmo, atingindo mais duas pessoas, entre estas o garoto Jonas, irmão de meu pai.

Luiz de Souza Cavalcante, embora já General do Exército, continuava sendo chamado de Major Luiz, o mesmo nome com que era tratado ao entrar para a política depois de um bom trabalho à frente da Companhia de Estradas de Rodagem, atual DER. Foi governador, vindo depois a ser, sucessivamente Deputado Federal e Senador pelo partido do Governo, a ARENA – Aliança Renovadora Nacional, depois mudado para PDS – Partido Social Democrático. Malgrado suas posições políticas, tinha um comportamento pessoal bastante afável, o que o tornava muito popular entre a população mais humilde.


Dedico este simples artigo ao meu prezado amigo e colega Engº Agrônomo Hibernon Cavalcante, sobrinho do “Major”.

O Deputado Federal Luiz Cavalcante em Limoeiro (Pão de Açúcar), 1968.

Revendo documentos antigos nos arquivos da minha mãe, encontrei esta foto do Major, distribuída durante a sua visita como Governador. Nela se lê a inscrição: SIMBOLO DA PAZ E DO PROGRESSO. Data de Nascimento:  18 DE JUNHO DE 1913. Noto que, justo hoje, faz CEM ANOS do seu nascimento.



quinta-feira, 13 de junho de 2013

PENSAR EM TI

                                          André Papini Goes¹

“Isso é amor e desse amor se morre”
                                  Gonçalves Dias

Pensar em ti é cantar um hino santo,
É tornar-me risonho quando choro,
É, acordado, sonhar com o teu encanto,
É admirar-te porque mais te adoro.

É da ave ouvir o sonoroso canto,
É sentir da rosa o sublime odoro,
É da virgem beijar o sacro manto,
Aos pés do altar em que contrito exoro.

Pensar em ti é viver num paraíso,
É existir perecendo de saudade,
É lembrar quanto é belo o teu sorriso.

É ver a sã visão da castidade,
É ouvir o brando tilintar d’um guiso.
Pensar em ti é voar à eternidade.
....    ....    ....
Publicado no jornal O Progresso, Penedo-AL,
24 de outubro de 1926.
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¹ ANDRÉ PAPINI GOES, político “penedense”, embora tenha nascido em Brejo Grande, Estado de Sergipe, a 18 de outubro de 1908. Filho de Manoel da Cunha Goes, ainda jovem foi trabalhar no comércio de Penedo, onde funda com seus colegas uma associação de classe da qual se torna um dos diretores.
Com 21 anos, muda-se para o Rio se Janeiro, onde trabalha em banco particular. Logo regressa a Alagoas. Em Maceió, passa a ser auxiliar de gabinete do interventor Hermilo de Freitas Melro, cargo que também ocupa quando da interventoria de Tasso de Oliveira Tinoco. Em 1932, integra um batalhão de voluntários da Polícia Militar de Alagoas, que foi lutar contra os constitucionalistas de São Paulo.
De retorno a Maceió, atua no Departamento Geral de Estatísticas do Estado e, posteriormente, no Departamento de Assistência aos Municípios, bem como no Departamento de Assistência ao Cooperativismo. Entre 1938 e 1940, secretaria, em Porto Alegre, o Departamento de Estatística do Rio Grande do Sul. Retorna, em 1943, para Maceió, mas logo depois passa a estudar na Faculdade de Direito do Recife, onde se forma em 1947². Como estudante, participou de congressos nacionais da UNE – União Nacional dos Estudantes, como representante de Alagoas. Secretaria o Jornal de Alagoas e, em seguida, passa a ser diretor do A Voz do Povo, jornal do Partido Comunista.
Eleito, em 19 de janeiro de 1947 Deputado Estadual, pelo Partido Comunista do Brasil, juntamente com José Maria Cavalcante e Moacir Andrade. Em 1948, os três foram cassados. Papini passa a viver no Recife onde advoga, principalmente em defesa dos operários. Aprovado em concurso, torna-se Fiscal do Imposto de Consumo, tendo trabalhado em João Pessoa, Manaus e Maceió, onde foi lotado na Contadoria Seccional do Ministério da Fazenda. Transferido para o Rio de Janeiro, foi assessor do diretor de rendas internas, do Ministério da Fazenda, cargo que ocupava quando veio a falecer, a 7 de julho de 1966.
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Fonte: ABC das Alagoas, Francisco Reynaldo Amorim de Barros.
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² Foram colegas de André Papini: Jacques Azevedo, Djalma Souto Maior Paes, Kerginaldo Rodrigues de Carvalho, Pedro Viana Neto, Sebastião Marinho Muniz Falcão, Natanael Bezerra Vale, Luiz Alves Pinto, Danilo de Carvalho Lima, Aluisio Alves, Antônio Meira Bastos, Helio Gazzaneo e Nelson Deodato Fernandes de Negreiros.

Fonte: Revista MOCIDADE, Maceió, Janeiro de 1948.

sábado, 8 de junho de 2013

SONETO DO AMOR PERDIDO

                        Massilon Ferreira da Silva¹

Tanto tempo esperei falar-te, e agora
Que estás aqui não sei o que dizer-te.
Era tão grande o medo de perder-te,
Que te fui perdendo pela vida afora.

O tempo que cuidou de aproximar
Nossos caminhos, de igual modo fez,
Como num sonho, o encanto se quebrar.
E assim fazendo te perdi de vez.

E agora, ao fim de tanto tempo,
Vejo, do alto do meu desalento,
Que a todo tempo te busquei a esmo.

Tanto te amava e tanto de queria,
Tanto te achava e tanto te perdia,
Que não te vi morrer em mim mesmo.
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¹ É advogado. Nascido em Pão de Açúcar-AL a 6 de março de 1954.