MAJOR LUIZ
Por Etevaldo Amorim
Da escola, na verdade uma banca de
estudos – espécie de cursinho para o Exame de Admissão ao Ginásio, que tinha
como professor o meu bom e velho amigo Lindalvo Costa — ouvimos um barulho
de lancha chegando ao porto. Não era o horário das lanchas que faziam a linha
Penedo-Piranhas. Logo soubemos que nela chegara o ex-governador Luiz
Cavalcante.
Desembarcou acompanhado apenas de um
assessor e logo foi cercado por um grande número de meninos e meninas, e até
moças, que o conheciam muito bem, já que alguns anos atrás ele visitara o
Limoeiro como Governador do Estado. Naquela ocasião, com uma grande comitiva,
distribuiu muitos presentes: brinquedos para as crianças, cortes de chita para
as senhoras... depois foi embora no velho navio Comendador Peixoto, que já dava
seus últimos apitos. Agora, num belo dia do ano de 1968, retornava como
Deputado Federal.
Subiu do “porto de baixo” direto para a
Rua do Meio. Conversou um pouco com Seu Josias, um carpinteiro que improvisava
uma oficina à sombra do oitão da Igreja. Trocou com ele algumas palavras, numa
prosa que parecia ser de dois homens do mesmo nível. Lembro-me bem desta frase:
— “Então o senhor é o carapina daqui,
heim?!!!.
Seu Josias sorriu e ele se voltou para
nós. Reuniu a meninada, e iniciou uma espécie de olimpíada de brincadeiras
(corridas de saco, adivinhações, etc.) com as quais premiava os vencedores.
Ficamos assim por algum tempo até juntar todos na alta calçada da casa de Seu
Juca para uma fotografia. Algum tempo depois, ele nos
mandou a fotografia que tiramos juntos e que segue abaixo.
Já na descida para o porto de baixo,
sentou-se na calçada da casa de Seu João Gringo, sempre cercado da garotada. O
sol já pendia para o poente e já fazia sombra naquele local. Dali se avistava o
nome daquela rua, inscrita na própria parede do prédio dos Correios, na esquina
do lado oposto: — RUA MÁRIO VIEIRA — . Ele, então, lançou a pergunta:
— Quem é Mário Vieira?
Ninguém respondeu. Fiquei meio tímido,
mas tomei coragem e falei:
— Mário Vieira era um homem daqui do
Limoeiro, que foi político e morreu assassinado há muitos anos...
O Major, satisfeito e sorridente,
disse-me:
— Muito bem, garoto! Então você conhece
a história da sua terra...
Eu poderia não saber de qualquer outra
história daquela antiga vila em que passei a morar a partir de 1964, vindo de
Campinas, onde nasci. Mas aquela história eu conhecia muito bem. Meu pai me
contava que, em janeiro do ano de 1936, durante a Festa dos padroeiros do lugar
(Jesus, Maria e José), um grupo de policiais das Volantes (forças que combatiam
os cangaceiros), procedentes de Belo Monte, ali chegaram e começaram a
desacatar algumas pessoas do lugar. Admoestado por Seu Mário Soares Vieira, que
acabara de chegar a cavalo do então povoado São José da Tapera, um deles lançou
mão de um fuzil e disparou contra ele a queima-roupa. Em seguida saiu atirando
a esmo, atingindo mais duas pessoas, entre estas o garoto Jonas, irmão de meu
pai.
Luiz de Souza Cavalcante, embora já
General do Exército, continuava sendo chamado de Major Luiz, o mesmo nome com
que era tratado ao entrar para a política depois de um bom trabalho à frente da
Companhia de Estradas de Rodagem, atual DER. Foi governador, vindo depois a ser, sucessivamente Deputado
Federal e Senador pelo partido do Governo, a ARENA – Aliança Renovadora
Nacional, depois mudado para PDS – Partido Social Democrático. Malgrado suas
posições políticas, tinha um comportamento pessoal bastante afável, o que o
tornava muito popular entre a população mais humilde.
Dedico este simples artigo
ao meu prezado amigo e colega Engº Agrônomo Hibernon Cavalcante, sobrinho do “Major”.
O Deputado Federal Luiz Cavalcante em Limoeiro (Pão de Açúcar), 1968.
Revendo documentos antigos nos arquivos da minha mãe, encontrei
esta foto do Major, distribuída durante a sua visita como Governador. Nela se
lê a inscrição: SIMBOLO DA PAZ E DO PROGRESSO. Data de Nascimento: 18 DE JUNHO DE 1913. Noto que, justo hoje, faz
CEM ANOS do seu nascimento.
O Major Luiz Cavalcante foi meu avô. Com ele aprendi a não ter orgulho de títulos pessoais para tentar impor qualquer tipo de superioridade com outras pessoas. Como o próprio texto muito bem informou, ele foi general, governador, deputado federal e senador, mesmo assim nunca perdeu a simplicidade.
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