PÁGINAS

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SONHO DE AMOR

Bráulio Cavalcante

Sonho terno de amor, grata Esperança,
de meu verso azorraga a dor em treva.
Da saudade letal, aguda lança
não mais leve meu peito e, ao pó, me leva...

— Canaan deste amor, alguém te alcança?
— Esta prece que eu digo, que se eleva
pelo céu triste, azul pode em bonança...
me da gozos que, enfim, cantar eu dera?

Como herói de nova Argos, pelo meio
desta rota, num mar que, irado, atroa,
— nos lendários tesouros também creio,

— se, consolo dá minhas grandes mágoas,
a Esperança do amor me fala boa
com o rugido dos ventos e das águas!


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Extraído do O Evolucionista, Maceió, 2 de junho de 1906.
Disponível em www.bn.br.


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

AMOR EXTINTO

Bráulio Cavalcante

Agora Dulce vai tão descuidada
Do nosso amor de outrora que maldigo
O modo de permanecer comigo
O amor de que ela não se lembra nada! ...

Ai! Não recorda tanto afeto! Cada
Noite de enlevo e noite de perigo
Quando, num gesto carinhoso, amigo,
Eu lhe beijava a boca perfumada! ...

Isso não mais quer renovar agora
Quando mais forte esta paixão já sinto,
Quando a saudade mais tenaz devora

Este meu pobre coração! Pois, bem;
Se quer que fique o nosso amor extinto,
Certo não mais eu hei de amar ninguém!

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Extraído do Diário de Pernambuco, 28 de novembro de 1907, p. 2.

Disponível em www.bn.br.