Por Etevaldo Amorim
Mesmo
depois de Santos Dumont conseguir a dirigibilidade dos balões, os voos em balões
convencionais, os chamados aeróstatos, continuaram a acontecer e, em muitos
casos, por mera exibição.
Foi
assim que, num final da tarde do dia 23 de fevereiro de 1908, lá pelas 17:50 h,
a aeronauta portuguesa Laurinda Silva, subiu aos céus de Maceió a bordo de um
balão denominado Granada.
A
ascensão teve lugar na Praça Euclides Malta, atual Sinimbu, tendo como ponto de
partida a área interna do Lyceu de Artes e Ofícios. O balão, que seguia o
modelo inventado pelos irmãos franceses Joseph Michel e Jacques-Èienne Montgolfier,
era propriedade do Sr. Magalhães Costa, também aeronauta.
O
fotógrafo amador Luiz da Rosa Machado, gerente da Empresa telefônica, foi
extremamente feliz ao registrar esse fato. Postado na margem esquerda do riacho
Maceió (hoje Salgadinho), de costas para o mar, ele revelou a Maceió do início
do Século XX. Mostra, em primeiro plano, o riacho passando sob a Ponte dos
Fonseca; mais além a estação da Companhia de Trilhos Urbanos e o Lyceu de Artes
e Ofícios. Ao fundo, o morro da Jacutinga, destacando-se o Farol, o mastro de
sinais semafóricos e, entre estes, a casa do faroleiro.
Segundo
o jornal Gutenberg, vários fotógrafos amadores registraram o fato, mas nenhum
tão feliz como Rosa Machado. O seu trabalho ficou exposto na redação do jornal
Gutenberg por vários dias.
O
balão atingiu a altura de 950 metros, indo cair nas imediações do Matadouro
Público, depois de atravessar a cidade de Norte a Sul.
Uma
nova subida chegou a ser anunciada para o dia 8 de março, dessa feita tendo
como partida a Praça dos Martírios. Porém, alegando motivos de segurança,
Laurinda desistiu e se desligou da empresa do Balão Granada.
Pça dos Martírios, Maceió, 1908. Preparativos para ascensão do balão
Granada. Revista do Brasil (BA), 15/08/1908, p. 7.Foto: L. Machado. |
O
jornal Gutenberg, de 29 de fevereiro, tirou uma onda com a situação, simulando
uma carta pretensamente escrita por um dos irmãos Montgolfier:
“O
público alagoano já admirou a intrepidez assombrosa dessa a quem ele, num
momento de alto entusiasmo, denominou Rainha dos Ares. Desse modo, guarda e
conservará a melhor impressão.
O
que se faz mister a apresentar-se o Sr. Capitão Magalhães Costa que, a julgar
pela leitura dos jornais do Norte e do Sul do país, é um aeronauta de
tirocínio. Suba agora Sua Senhoria. Não lhe são absolutamente estranhas as
ascensões pois que ele, ao que se diz, já as tem feito em número de 59.
A
cidade de Maceió bem merece expectar uma dessas arriscadas sortes do intrépido
navegador do espaço.
O
Capitão Magalhães Costa bem poderia fazer na terra alagoana a sexagésima
ascensão.
O
público maceioense já sabe que a Srª Laurinda Silva é de uma coragem espantosa
a orçar pelas raias da mais perfeita loucura.Venha agora, Sr. Redator, a
ascensão do bravo Capitão aeróstata Magalhães Costa! A Rainha dos Ares já nos
deu um sucesso.
Que nos diz a isso
o maquinista do balão, o álacre Sr. Romero?
De certo
concordará e dirá ao Capitão:
— Ahora se
marchará usted, Guilherme! Como non?!
— Bueno! Concluirá
o povo.
E aqui fico.
Atenciosamente.
(a) Montgolfier.”
Com
a desistência de Laurinda, a empresa escalou o árabe Felippe Manuel, que dela
já fazia parte, para uma ascensão no dia 15.
No
dia marcado, Praça cheia de gente, subiu o Sr. Felippe. O balão subiu
rapidamente até bem acima do sobrado do Sr. Pontes de Miranda. Daí em diante,
foi baixando até quase tocar na chaminé da usina da Nova Empresa Luz Elétrica.
E diz o Gutenberg: “O aeróstato baixava, como de fato baixou, num dos sítios da
Cambona, perto dos Martírios, pouco além dos biombos do Paulo. ” [i]
No
trajeto, enroscou nas palhas dos coqueiros, momento em que, estando o a
cestinha do piloto bem perto do solo, este saltou e saiu ileso. Aliviado do
peso, o balão voltou a subir e seguiu na direção do Flexal para depois cair na
lagoa do Bebedouro.
Laurinda Silva e o Balão Granada. Foto Luiz da Rosa Machado. Fonte: Revista O Malho, Ano VII, Nº 291, 11 de abril de 1908, p. 25. Disponível em: memoria.bn.br |
Guilherme Antônio Magalhães Costa. Fonte; Revista Fon-Fon, Ano VIII, nº 3, 17 de janeiro de 1914, p. 14. |
[i]
“Biombos do Paulo” eram casebres
de propriedade do Sr. Paulo José de Azevedo, situados na Rua Coronel Paes
Pinto, atualmente denominada Dr. Francisco de Menezes, por onde passa a linha
férrea.
Guilherme
Antônio Magalhães Costa. Fonte; Revista Fon-Fon, Ano VIII, nº3, 17 de janeiro
de 1914, p. 14. Disponível em: memoria.bn.br.
Foto:
revista O Malho, Ano VII, Nº 291, 11 de abril de 1908, p. 25. Disponível em:
memoria.bn.br.
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