segunda-feira, 12 de outubro de 2015

BALÕES NO CÉU DE MACEIÓ

Por Etevaldo Amorim

Mesmo depois de Santos Dumont conseguir a dirigibilidade dos balões, os voos em balões convencionais, os chamados aeróstatos, continuaram a acontecer e, em muitos casos, por mera exibição.
Foi assim que, num final da tarde do dia 23 de fevereiro de 1908, lá pelas 17:50 h, a aeronauta portuguesa Laurinda Silva, subiu aos céus de Maceió a bordo de um balão denominado Granada.
A ascensão teve lugar na Praça Euclides Malta, atual Sinimbu, tendo como ponto de partida a área interna do Lyceu de Artes e Ofícios. O balão, que seguia o modelo inventado pelos irmãos franceses Joseph Michel e Jacques-Èienne Montgolfier, era propriedade do Sr. Magalhães Costa, também aeronauta.
O fotógrafo amador Luiz da Rosa Machado, gerente da Empresa telefônica, foi extremamente feliz ao registrar esse fato. Postado na margem esquerda do riacho Maceió (hoje Salgadinho), de costas para o mar, ele revelou a Maceió do início do Século XX. Mostra, em primeiro plano, o riacho passando sob a Ponte dos Fonseca; mais além a estação da Companhia de Trilhos Urbanos e o Lyceu de Artes e Ofícios. Ao fundo, o morro da Jacutinga, destacando-se o Farol, o mastro de sinais semafóricos e, entre estes, a casa do faroleiro.
Segundo o jornal Gutenberg, vários fotógrafos amadores registraram o fato, mas nenhum tão feliz como Rosa Machado. O seu trabalho ficou exposto na redação do jornal Gutenberg por vários dias.
O balão atingiu a altura de 950 metros, indo cair nas imediações do Matadouro Público, depois de atravessar a cidade de Norte a Sul.
Uma nova subida chegou a ser anunciada para o dia 8 de março, dessa feita tendo como partida a Praça dos Martírios. Porém, alegando motivos de segurança, Laurinda desistiu e se desligou da empresa do Balão Granada.
Pça dos Martírios, Maceió, 1908. Preparativos para ascensão do balão
Granada. Revista do Brasil (BA), 15/08/1908, p. 7.Foto: L. Machado.

O jornal Gutenberg, de 29 de fevereiro, tirou uma onda com a situação, simulando uma carta pretensamente escrita por um dos irmãos Montgolfier:
“O público alagoano já admirou a intrepidez assombrosa dessa a quem ele, num momento de alto entusiasmo, denominou Rainha dos Ares. Desse modo, guarda e conservará a melhor impressão.
O que se faz mister a apresentar-se o Sr. Capitão Magalhães Costa que, a julgar pela leitura dos jornais do Norte e do Sul do país, é um aeronauta de tirocínio. Suba agora Sua Senhoria. Não lhe são absolutamente estranhas as ascensões pois que ele, ao que se diz, já as tem feito em número de 59.
A cidade de Maceió bem merece expectar uma dessas arriscadas sortes do intrépido navegador do espaço.
O Capitão Magalhães Costa bem poderia fazer na terra alagoana a sexagésima ascensão.
O público maceioense já sabe que a Srª Laurinda Silva é de uma coragem espantosa a orçar pelas raias da mais perfeita loucura.Venha agora, Sr. Redator, a ascensão do bravo Capitão aeróstata Magalhães Costa! A Rainha dos Ares já nos deu um sucesso.
Que nos diz a isso o maquinista do balão, o álacre Sr. Romero?
De certo concordará e dirá ao Capitão:
— Ahora se marchará usted, Guilherme! Como non?!
— Bueno! Concluirá o povo.
E aqui fico. Atenciosamente.
(a) Montgolfier.”
Com a desistência de Laurinda, a empresa escalou o árabe Felippe Manuel, que dela já fazia parte, para uma ascensão no dia 15.
No dia marcado, Praça cheia de gente, subiu o Sr. Felippe. O balão subiu rapidamente até bem acima do sobrado do Sr. Pontes de Miranda. Daí em diante, foi baixando até quase tocar na chaminé da usina da Nova Empresa Luz Elétrica. E diz o Gutenberg: “O aeróstato baixava, como de fato baixou, num dos sítios da Cambona, perto dos Martírios, pouco além dos biombos do Paulo. ” [i]
No trajeto, enroscou nas palhas dos coqueiros, momento em que, estando o a cestinha do piloto bem perto do solo, este saltou e saiu ileso. Aliviado do peso, o balão voltou a subir e seguiu na direção do Flexal para depois cair na lagoa do Bebedouro.

Laurinda Silva e o Balão Granada. Foto Luiz da Rosa Machado. Fonte: Revista O Malho,
Ano VII, Nº 291, 11 de abril de 1908, p. 25. Disponível em: memoria.bn.br



Guilherme Antônio Magalhães Costa. Fonte; Revista Fon-Fon,
Ano VIII, nº 3, 17 de janeiro de 1914, p. 14. 











[i]Biombos do Paulo” eram casebres de propriedade do Sr. Paulo José de Azevedo, situados na Rua Coronel Paes Pinto, atualmente denominada Dr. Francisco de Menezes, por onde passa a linha férrea.











Guilherme Antônio Magalhães Costa. Fonte; Revista Fon-Fon, Ano VIII, nº3, 17 de janeiro de 1914, p. 14. Disponível em: memoria.bn.br.


Foto: revista O Malho, Ano VII, Nº 291, 11 de abril de 1908, p. 25. Disponível em: memoria.bn.br.




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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia