Renato
de Alencar[i]
Até
o Governo Washington Luiz, o sistema eleitoral brasileiro era muito defeituoso
e se baseava na boa fé. Ora, sendo o povo desta nação facilmente levado a
cometer atos de má fé, especialmente na área da política, nada mais natural que
em nossas Atas eleitorais sempre houvesse fraudes às toneladas.
Uma
eleição para Presidente da República, deputados e senadores ou governador do
Estado, nunca deixou de ser contestada, e ainda há casos a apurar no emaranhado
de votos a bico de pena...
Em
muitos Estados do Norte do país se passavam episódios dignos de um novo
Cervantes, de um cronista que registrasse em livros bem ilustrados as
quixotadas dos nossos políticos sertanejos. Vamos referir-nos, nesta página, à
teima que sempre surgia em muitas cidades nordestinas, em torno da feira. Todo
chefe político local, coronel ou doutor, ou era negociante ou possuía parentes
estabelecidos na infalível “rua do comércio”. Ora, como os melhores locais eram
os pátios de feira, para onde afluíam os roceiros que vinham, semanalmente,
vender e abastecer-se, a política da cidade ou vila girava em volta do local da
feira. Quando o coronel Janjão subia, descia a feira da zona do Doutor Barnabé
e este ficava desmoralizado. Quando era este quem vencia a eleição, subia a
feira para o pátio de sua área comercial, enquanto o coronel, com sua numerosa
família, ficava espumando de raiva e prometendo vigar-se nas próximas eleições.
No
Estado de Alagoas havia muitas cidades em que o problema da feira constituía o
índice de prestígio do chefe político respectivo. Não era preciso ler
telegramas de Maceió ou do Rio para saber-se quem saíra vencedor na eleição.
Bastava que os matutos, com suas cargas de cereais, rapadura, farinha, jerimum,
etc., se instalassem na “rua de baixo” ou na “rua de cima”.
Dentre
muitas destas cidades destacava-se a de Traipu, no baixo S. Francisco, onde
imperava o conhecido e respeitado Coronel Serapião[ii], senhor de vinte
fazendas, político habilíssimo, chefe de numerosa família, com filhos e genros
magistrados e parentes no clero. O Coronel Serapião, certa vez, evitou a queda
de um governo em Alagoas, viajando de Traipu a Maceió, por terra, a cavalo três
dias, e a trem seis horas. Era ele Senador Estadual. Com o seu voto dentro de
uma Assembleia cercada de tropas e canhões do Exército ameaçando varrer tudo a
metralha, o magríssimo e alto Senador de Traipu evitou uma revolução e a queda
de um regime legal. Por isso lhe deram o pitoresco apelido de “Senador
Semente”.
Mas,
no íntimo, o Coronel Serapião não defendia a continuidade do governador; o que
ele fazia era lutar pela manutenção da feira na “rua de baixo”. Se perdesse a
parada, seus inimigos políticos, estabelecidos na “rua de cima”, levariam a
feira de Traipu lá para o pátio do alto, o que seria uma desgraça maior do que
a do terremoto de Lisboa...
O
velho Serapião, montado em seu cavalo a fiscalizar fazendas, era o tipo
perfeito de D. Quixote. Magro, meio curvado, rosto fino, olhos vivos, barbicha
esguia e bem tratada, ele mantinha entranhado amor à terra em que vivia,
protegia desvalidos, perdoava os fracos de mão, dava trabalho a retirantes,
defendia os governos constituídos e sabia fazer Atas eleitorais a bico de pena.
Só não suportava cigano e ladrão de cavalo.
Certa
vez o seu prestigio esteve por um fio. A política denunciava tormentas
colossais. As notícias de Maceió eram aterradoras. Filhos, netos, bisnetos,
sobrinhos, primos, genros, a esposa, parentes, afilhados, verdadeiro exército
feudal, formaram em volta do patriarca. Boatos borbulhavam pelas esquinas, nas
barbearias, no porto: “A feira agora sobe!” E os do coronel respondiam com
energia: “Não sobe!” E, se subir? Todos respondiam com vigor: “A feira desce!”
E os adversários: “Não desce!”
E a
feira jamais subiu enquanto esteve à frente da política de Traipu aquele
incrível coronel Serapião de Albuquerque, figura perfeita de Don Quixote, leal,
defensor dos humildes, corajoso, invencível. Velho danado!
______________
Extraído da Revista da Semana, 28/02/1950, p. 58.

[ii]
Serapião Rodrigues de Albuquerque. Foi Senador Estadual e Intendente e dá nome
à principal rua daquela cidade. Foi ainda pecuarista, proprietário de loja de
tecidos e de máquina de descaroçar algodão em Traipu. Foi comandante superior
da Guarda Nacional no 37º Batalhão de Infantaria, Traipu. Era pai de dr. Rosa
de Albuquerque, esposa do Dr. Miguel de Novaes Mello, o primeiro prefeito de
Pão de Açúcar.
Renato Peixoto de Alencar, irmão de minha bisavó Adélia Peixoto Japiassu. Cunhado de Antônio Japiassu.
ResponderExcluirMeu bisavô
ResponderExcluirOlá, descendo de uma tia dele e estamos tentando montar a árvore genealógica, poderia me enviar seu contato?
ExcluirContato pelo e-mail : seagrietevaldo@gmail.com
ExcluirAdélia era filha da bisavó Ana Gomes de Matos?
ResponderExcluirMinha bisavó era filha de Francisco e Maria. Ana seria tia dela e também de Renato. Sei que Renato, Adélia ( Minha bisavó ) tinham outra irmã chamada Olga
ExcluirA tia que criou meu avô, tinha 3 filhos homens e uma menina, irmão do meu avô, não sei o nome era conhecido por Peixotinho. Nunca soube o nome dele. Um bisneto da tia Ana. Franklin contou toda a história deles. Quando minha bisa foi para casa da irmã com os dois filhos Renato e Peixotinho. Sua irmã tinha 3 filhos e uma menina. Quando minha bisa morreu sua irmã criou todos como se fossem irmãos e não primos.
ResponderExcluirEle disse que ela não admitia que não se tratassem como irmãos. Criou os primos como verdadeiros irmãos. Foram muito bons com meu avô e seu irmão. Para que ele não se sentisse órfão de pai e mãe. Sou muito grata a a vovó Na minha é seu marido.
Adélia era o nome da menina, que era irmã do meu avô.
ResponderExcluirUma tarde estava na casa dela, e minha avó falou: "aquele ( a visita) é irmão do seu avô".
Não falei nada, mas pensei, " como são diferentes estes irmaos" estilo, altura, tudo diferente. Pensei como o irmão era um homem moderno, muito diferente do meu avô, que até em casa usava camisa social, o irmão com camisa esporte, queimado de praia. Estilo diferente. Não se pareciam em nada! Lógico! Eram primos!
O irmão, tio Peixotinho não conheçi. Criou raízes e família em Sergipe.
Meus avós romperam laços familiares com o nordeste. Pq a família da minha avó não aprovou o casamento da minha avó Noemia com meu avô Renato.
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