Por
E. C.[i]
Graças à visita efetuada, de alguns anos para cá, por diversos cavalheiros residentes nesta província, já se vão tornando mais conhecidas essas belíssimas cachoeiras, verdadeira maravilha da natureza e realmente digna desta grandiosa e admirável terra do Brasil.
Cachoeira de Paulo Afonso. Foto: Marc Ferrez, 1875. |
Entusiasmados
pela narração d’uma viagem, realizada em fevereiro último pelo conhecido
explorador francês Mr. Marcel Monnier[ii],
o nosso mais vivo desejo era empreender uma excursão, na primeira ocasião, o
que não se fez esperar.
Visitado
ultimamente por dois distintos viajantes, M. M. Prosper Loques[iii]
e Eduardo Morel[iv],
representantes de casas de comércio de França e encarregados pelo governo de
sua nação de estudos comerciais, conseguimos fazer entender aos nossos amigos e
patrícios que uma visita às margens do São Francisco não seria destituída de
todo interesse para o comércio europeu, e que, além disto, as cachoeiras de
Paulo Afonso valiam bem a pena de se desviarem eles do itinerário pré-fixado.
Resolvida a excursão, embarcamos no dia 28 de julho e voltamos a 15 de agosto, maravilhados de tudo quanto presenciamos e ao mesmo tempo penhorados pelo amável tratamento que encontramos durante todo o percurso, tanto da parte dos funcionários do Estado, como dos particulares, o que mais uma vez confirmou a proverbial hospitalidade dos brasileiros.
Marcel Monnier, 1892. |
É
muita audácia de nossa parte procurar descrever o que são as cachoeiras de
Paulo Afonso, quando tantos talentos já se recusaram a este trabalho, sob o
pretexto de que tais maravilhas são indescritíveis. Com efeito, o são, e dignas
da pena de um Agassiz[v] ou
Humboldt[vi];
mas, possuído de sincero reconhecimento para com todas as pessoas com que
entretivemos relações, sempre procuraremos manifestar as nossas impressões, com
o único intuito de serem úteis e proveitosas àquela região do Brasil.
Segundo
opiniões muito sérias, não há comparação que se possa fazer entre a muito
reputada queda do Niágara, nos Estados Unidos da América do Norte, e as
cachoeiras de Paulo Afonso.
Ali
existe uma enorme e única queda d’água, de quarenta e tantos metros de altura;
aqui são oito cachoeiras escadadas em quatro planos, avaliados em cento e
tantos metros, do leito do rio ao fundo da última queda.
A
chamada “primeira vista” é o lugar onde o Rio São Francisco, ainda de uma
grande altura, acha-se dividido em quatro quedas de uns dez metros de altura e
mais um rápido, que se reúnem todos numa bacia, para de novo se precipitarem em
uma só cachoeira de 6 a 8 metros de altura.
Marcel Monnier. Foto: Gállica |
Essa
enorme massa d’águas quebradas, espumantes, formam um curso de 30 metros de
comprimento sobre 20 de largo que parece mais um enorme monte de algodão
desfiado posto em movimento por uma força invisível. Este mesmo curso atira-se
de novo num abismo de alguns metros de profundidade e lá então vem juntar-se a
outro braço do São Francisco da província da Bahia, chamado vulgarmente de
Trapera, que é uma linda catadupa de uns vinte e cinco metros de altura e que
parece ter dez a doze metros de altura.
Todas
as águas do São Francisco reunidas, torcendo-se, parecendo ferver e com uma
violência extraordinária caem num sorvedouro imenso, cuja profundidade não pode
ser avaliada exatamente atenta à pulverização das águas que formam, ao levantar
do sol, um esplêndido arco-íris. É a isto que se chama a “queda grande”.
Aqui terminam as cachoeiras, e o majestoso rio segue outra vez o seu curso no mesmo sentido da última queda, num percurso de cerca de duzentos metros entre montes muito elevados e, bruscamente, quase a ângulo direito, volta pela direita deixando do outro lado um leito com pouca água, de cerca de sessenta metros, que só enche na ocasião das cheias, e cujo fundo é a entrada da Furna ou Gruta dos Morcegos.
Gruta dos Morcegos. Foto: Adalberto Marroquim |
Voltemos
agora à Cachoeira de Paulo Afonso para falar da vista chamada “o Angiquinho”. É
o ponto mais elevado donde se tem a vista geral de todas as cachoeiras da
direita e pela esquerda e aos pés, numa profundidade de mais de cinquenta
metros a Grande Queda.
Angiquinho. Foto: Ignácio F. Mendo, 1880.
|
A sensação que se experimenta vendo-se aquilo não pode se explicar! Fica-se maravilhado e no mesmo tempo aterrorizado pelo grandioso e encantador espetáculo que se contempla.
Toda
sorte de reflexões passa pelo cérebro e fica-se em admiração diante do
esplendor da Grande Natureza!
Panorama
igual nunca se olvida! Pensa-se somente nas grandezas da criação neste lugar
quase deserto e de um encanto inimaginável.
Uma
única casinha de barro e palha, a do vaqueiro que nos hospeda, fica distante
meio quilômetro.
Só
se ouve o estampido das águas, que parece a voz de um gigante ainda não
imaginado!
Para
o enlevo dos visitantes desejamos que as cachoeiras fiquem ainda muitos anos
como estão, tias quais foram criadas; e somente por este motivo continuarão a
ser mil vezes superior ao afamado Niágara onde a civilização já colocou
fábricas de cerveja, restaurantes, etc, etc...
A
vista chamada “Limpo do Imperador”, situada do outro lado da Furna, é realmente
bonita. Mas a queda principal e a Trapera acham-se um pouco mais escondidas por
uma enorme pedra que sobressai do lado esquerdo. Por esta razão, os nossos companheiros,
M. M. Loques e Morel, tendo que tirar umas fotografias, procuraram entre o
lugar Angiquinho e a volta do rio, um ponto livre de impedimentos. Depois de
muito trabalho, acharam a ponta extrema de um rochedo, de onde se pode ver a
Queda Grande e a Trapera. Este lugar foi, com a devida licença, batizado de “Vista
dos Franceses”, nome que os habitantes do lugar prometeram conservar. Foi
colocada uma bandeirinha com o dístico seguinte escrito a lápis:
“VIVA
O BRASIL! VIVA A FRANÇA!
VISTA
DOS FRANCESES
5
DE AGOSTO DE 1887
Distante
das grandes cachoeiras um quilômetro, existe a cachoeira, ou antes, os rápidos
do “Vai-e-Vem”, chamados assim pelo movimento das águas.
Imagine-se
uma garganta entre pedras, de 6 a 8 metros de largura, sobre 30 de comprimento
e cujo terreno é areia finíssima: é esse o lugar dos banhos.
Os
amadores entrando para água, que sobre e desce constantemente com bastante
rapidez – verdadeiro fluxo e refluxo do mar – num momento tem água até aos
joelhos e até o peito. Os banhos aí são agradáveis, visto a constante renovação
do elemento. Este movimento de vai e vem é causado pelo encontro de duas
correntezas de braços diferentes do Rio São Francisco.
A
vida que se passa nas cachoeiras é a mais primitiva que se pode desejar. Encontra-se,
entretanto excelente leite de vaca, ovos, galinha, deliciosa carne do sol,
muitas cabras, cabritos e porco. Há bastante caça, sobretudo rolas, rolinhas,
periquitos e papagaios.
O
homem que nos dá hospitalidade ali se chama Luiz de França do Nascimento; é vaqueiro
do Exmº Sr. Barão de Água Branca[vii],
riquíssimo capitalista e proprietário de uma imensa porção de terrenos para
criação de gado, junto às cachoeiras.
A
casa do vaqueiro é pequena e tem duas saletas: a da frente, geralmente
oferecida aos hóspedes, não tem porta; de sorte que não é raro serem estes
visitados durante a noite por cabras, cabritos e porquinhas, sem falar de
outros animaizinhos.
Praticará,
portanto, um ato de caridade e ao mesmo tempo de patriotismo bem entendido S.
Excª o Sr. Barão de Água Branca se se resolver a mandar fazer ali uma casa mais
cômoda.
É
bem certo que logo que o mais simples conforto faltar, as cachoeiras de Paulo
Afonso serão visitadas por um número mui limitado de pessoas, porém mais certo
é que no dia em que os visitantes tiverem a certeza de que não serão obrigados
a dormir à la belle étoile, expostos
ao sereno, ao frio e à chuva, do sul e norte do Império e, quem sabe?, talvez
da Europa, os touristes hão de afluir
e contribuirão para enriquecer a região, que entre parênteses, nos pareceu
assaz pobre e de vegetação raquítica, pois, afora a criação de gado e pequenas
plantações, não notamos outras espécies de rendimento para a população.
Esperamos
que S. Exª o Barão de Água Branca se dignará de ouvir o humilde apelo que fazemos
aos seus sentimentos e que mandará levantar uma casa onde todos os visitantes
possam estar ao abrigo das inclemências do tempo.
A
viagem para as cachoeiras de Paulo Afonso, que deve ser efetuada de Junho até
Outubro por causa da baixa das águas, é muito fácil como poderão julgar os que me
levem pelo itinerário que damos abaixo; e se não fosse a falta absoluta de
conforto no seu término, estamos certos de que a estrada de ferro teria uma
receita mais vantajosa do que tem atualmente.
De
Jatobá, ponto extremo da linha às cachoeiras, ou antes, dos rápidos de
Itaparica a distância é de 3 a 4 quilômetros.
Uma
excursão a esses rápidos é penosíssima e de pouco interesse comparada com a que
se faz à cachoeira de Paulo Afonso, apesar de que o braço principal do São
Francisco forma um admirável rápido: talvez o mais importante do mundo.
O
mais curioso nessas paragens são as pedras de formas excêntricas, de cor de
ferro ou bronze envernizado, denominadas “os caldeirões”; com efeito, parecem
caldeiras monstruosas usadas pelas grandes indústrias.
Encontra-se
uma grande variedade de pedrinhas curiosíssimas e bastante cristal e,
procurando-se com cuidado, encontrar-se-ão diamantes.
O
Rio São Francisco divide-se aí em diversos braços, sendo um tão estreito que os
guias atrevem-se, apesar do perigo, a pular de um lado para outro sobre apedra
lisa.
Itaparica
não dá ideia do que são as cachoeiras de Paulo Afonso e pode a gente
dispensar-se de ir até lá; são 46 quilômetros de menos pela estrada de ferro.
ITINERÁRIO E INFORMAÇÕES.
Do
Recife embarca-se nos vapores das Companhias Baiana ou Pernambucana, que saem
para Penedo, pelo menos semanalmente.
O
serviço de bordo é bem feito e a comida muito regular.
A
viagem do Recife a Maceió é de 10 a 12 horas e de Maceió 6 à Barra do São
Francisco.
Maceió. Deixa ao passageiro uma
impressão muito agradável: pressente-se que a capital da província das Alagoas
vai brevemente tomar grande desenvolvimento.
Macei, Rua do Comércio. Foto Julien Boquel 1872/Instituto Moreira Salles |
A
barra do grande rio é de um acesso bastante difícil, devendo-se aproveitar o
levantamento das ondas para passá-la e, apesar da perícia e grande prática não
só dos comandantes dos vapores como também dos práticos especiais, o navio dá
quase sempre algumas pancadas na areia.
Os
vapores sobem geralmente o rio até Penedo, mas às vezes, quando as águas estão
baixas, fundeiam a três ou quatro milhas da barra (a maré não se faz aí sentir
sensivelmente). Então, o prático do rio, os passageiros e malas são baldeados
para uma embarcação que faz lembrar a barcaça pernambucana, que no Rio São
Francisco chama-se: canoa.
A
canoa difere da barcaça tanto pela disposição da mastreação como pela colocação
do camarote, que é de palha e acha-se na proa e não na popa. Quanto à sua
mastreação, é composta simplesmente de um mastro grande, armado de duas velas
de cada lado, o que deu ocasião a S. M. o Imperador, o Sr. D. Pedro II, na sua
viagem às cachoeiras, lhe desse o nome tão bem aplicado de “Borboleta do São
Francisco”.
A
canoa contribuiu muito para a alegria da viagem.
Nada
mais interessante do que quando se encontram porções dessas borboletas subindo
o rio, às vezes com mais rapidez do que os vapores.
Chega-se
em Penedo no fim de duas horas, depois de ter passado o povoado de Ilha dos
Bois, vendo-se algumas plantações de cana, e Vila Nova, na província de
Sergipe, vila que nos pareceu em vias de prosperidade, graças à importante
fábrica de azeite de algodão e de outras qualidades de propriedade dos Srs. A.
Vaz de Carvalho & Cia.
O
aspecto de Penedo é muito bonito, mas, infelizmente a ilusão se perde ao
desembarcar: tal é o estado de desleixo em que se acha o lugar de desembarque.
Entretanto,
Penedo é um centro e talvez chamado a tornar-se uma cidade de grande
importância daí a pouco tempo. Muitas transações dali são efetuadas com a
capital da Bahia e poucas com a de Pernambuco.
Penedo
acha-se relacionado com todas as localidades do Rio São Francisco até Piranhas
por uma linha de vapores subvencionada pelo governo geral, linha de uma
importância capital e cujo serviço é pontualmente feito. Cada segunda-feira de
manhã segue o vapor para Piranhas, ponto extremo da navegação, situado mais ou
menos cem milhas acima, as quais são percorridas em 16 horas de marcha, não
contando a noite, durante a qual o vapor não anda, atentas as dificuldades da
navegação.
Esta
viagem é muito interessante e curiosa por causa das inúmeras voltas que faz
continuadamente o vaporzinho e que tornam o caminho duas vezes mais comprido.
É
preciso que a gente do bordo esteja muito acostumada para não encalhar, pois, a
cada instante, encontram-se bancos de areia chamados “coroa” e duas ou três milhas antes do termo da travessia navega-se
no meio de pedras: dois homens no leme são suficientes para o navio obedecer às
ordens do prático.
A
paisagem das margens do rio é admirável e nunca aborrece.
O
vapor levando as malas faz escala em quase todos os pontos habitados, e toma
passageiros em todo o percurso.
A
tarifa da passagem varia até 120 rs, de uma localidade a outra.
As
escalas são as seguintes:
1.
Saúde;
2.
Propriá
(província de Sergipe, cidade de bela aparência);
3.
Porto
Real do Colégio;
4.
São
Brás;
5.
Amparo;
6.
Lagoa
Comprida;
7.
Traipu;
8.
Curral
de Pedras;
9.
Ilha
do Ouro;
10.
Vila
do Belo Monte;
11.
Araticum;
12.
Limoeiro;
13.
São
Tiago;
14.
São
Pedro;
15.
Pão
de Açúcar (cidade da província das Alagoas admiravelmente situada numa imensa
bacia; de frente, na outra margem do rio, o lugar é chamado Niterói, o que
completa a ilusão de um Rio de Janeiro em miniatura).
16.
Ilha
do Ferro;
17.
Curralinho;
18.
Entremontes;
19.
Nova
Olinda;
20.
Piranhas:
pequena povoação de Alagoas de um pitoresco estranho, construídas sobre os
lados e no vale de duas montanhas.
Ao
pé da vila de Piranhas está situada a estação principal da Estrada de Ferro de
Paulo Afonso, de um admirável efeito.
Acha-se
ali em construção uma igrejinha para cuja edificação trabalha o povo inteiro,
graças à energia e dedicação do Rev. Capuchinho Fr. Venâncio[viii],
que conseguiu levar o povo em procissão e ao anoitecer à beira do rio para
buscar milheiros de tijolos e outros materiais; e assim homens e meninos, mas
sobretudo mulheres, vão cantando e carregando a sua meia dúzia de tijolos a um
quilômetro de distância.
Infelizmente o dinheiro falta e, apesar da boa vontade de todos e do Rev. Fr. Venâncio, a pequena igreja não se terminará se o Governo provincial ou geral, ou uma pessoa caridosa não vier contribuir com o seu óbolo para auxiliar a construção dela.
Piranhas, AL, vendo-se a igreja em construção. |
Os
trens de passageiros chegam até Jatobá e estações intermediárias, partem duas
vezes por semana, às segundas e quintas-feiras, regressando nas terças e
sextas.
A
Estrada de Ferro de Paulo Afonso tem a reputação de haver custado ao Estado uma
quantia avultadíssima; pareceu-nos bem construída apesar da imensidade de curvas,
subidas e descidas, a maior parte das quais poderia ser evitada.
O
material rodante é muito reduzido; é de origem americana. O combustível
utilizado para as locomotivas é lenha e não carvão de pedra, custando em
Piranhas a tonelada deste último produto trinta a quarenta mil réis. Sendo o
rendimento da estrada quase nulo, as despesas devem ser e são muito reduzidas.
Os seis primeiros quilômetros, à saída de Piranhas, são os que exigiram mais
obras em consequência das subidas fabricadas na pedra viva.
Piranhas. Estação da Estrada de Ferro Paulo Afonso. Foto: Adolpho Lindemann, 1888 |
O
panorama é esplêndido, mas o trajeto torna-se monótono uma vez chegado o trem à
planície.
A
vegetação é pequena, os arvoredos de pequena altura, o terreno muito pedregoso.
A pouca distância de Piranhas encontra-se pedra mole e de excelente qualidade
para as edificações.
O
trajeto da estrada até Jatobá é de 6 horas, e de 4 somente até Sinimbu, lugar
mais perto das cachoeiras de Paulo Afonso, onde se encontram cavalos,
geralmente bons, para alugar. O caminho para as cachoeiras é excelente e em
menos de duas horas pode-se chegar ao fim da viagem.
Jatobá
é de fundação recente, já contando mais de duzentas casas: há quatro ou cinco
anos não existiam dez! Todas as autoridades, que outrora estavam em Tacaratu,
passaram para Jatobá. Esta vila é, talvez, de um grande futuro. Para ali,
provavelmente, é que serão trazidos, depois da desobstrução do Alto São
Francisco, em que se está trabalhando ativamente, muitos produtos das
províncias de Minas Gerais e da Bahia, pelo menos durante o tempo em que não
ficarem prontas as linhas de prolongamento da estrada de ferro de S. Francisco,
tanto do lado de Pernambuco como da Bahia.
O
que já de notável a ver em Jatobá mesmo é, especialmente, o cais da estrada de
ferro, na beira do rio, de uns 16 a 20 metros de altura sobre 25 ou 30 de
comprimento, talhado em parte na rocha. Obra bonita é esta, mas de um custo
elevado para as necessidades atuais. A estação e oficinas da estrada também são
monumentos que não passam despercebidos.
RESUMO
A
viagem às cachoeiras de Paulo Afonso é não somente muito fácil como pouco
dispendiosa. A passagem do Recife a Penedo é de 30$000 por pessoa, e de 4$ ou
5$ a estada em Penedo (dois dias); 6$500 a passagem de Penedo a Piranhas; 6$000
em quatro refeições diárias a bordo do vaporzinho fluvial; 4$000 na da estrada
de ferro de Piranhas a Sinimbu; 5$000 de aluguel por um cavalo por 3 dias.
Gasta-se
nas cachoeiras o que convier, pequena gratificação ao guia, leite muito barato,
ovos a quatro vinténs a dúzia; mas deve-se levar todas as outras provisões de
boca como: vinho, pão, aguardente, etc, que são artigos desconhecidos por lá.
Não
podemos acabar este pequeno trabalho sem vir agradecer publicamente, do fundo
da alma, a todas as pessoas que nos dispensaram suas amabilidades, avisos,
conselhos e recomendações.
Entre
elas ao:
Exmº
Sr. Dr. Moreira Alves[ix],
Ex-Presidente da Província das Alagoas.
Ao
Ilmº Sr. Comendador Manoel Leão[x],
de Maceió e Exmª família.
Ao
Exmº Sr. Dr. Novaes de Carvalho[xi],
muito digno Juiz de Direito de Jatobá e sua Exmª família.
Ao
Ilmº Sr. Coronel Antônio Ulisses de Carvalho, simpático e amável empreiteiro da
navegação do S. Francisco.
Ao
Ilmº Sr. Dr. Henrique Théberge[xii],
diretor interino da Estrada de Paulo Afonso.
Ao
Ilmº Sr Valdevino[xiii],
Chefe da Estação em Jatobá e sua digna consorte.
Ao
Ilmº Sr. Dr. Vicente Landim[xiv],
Promotor Público de Pão de Açúcar.
Aos
Ilmºs Srs. Alberto e Samuel Vaz de Carvalho, distintos industriais em Vila
Nova.
O
Ilmº Sr. Major Theodósio[xv],
de Piranhas, do qual conservamos a melhor lembrança por sua dedicação em
fazer-nos visitar a oitava maravilha do
mundo:
AS CACHOEIRAS DE
PAULO AFONSO.
Terminando,
repetiremos aqui o que escrevemos no livro dos visitantes:
“AMADORES! APRONTEM AS PERNAS. OS
INCOVENIENTES DA EXCURSÃO SERÃO LOGO ESQUECIDOS E LARGAMENTE COMPENSADOS PELAS
BELEZAS QUE VÃO ADMIRAR.”
(Por
oito visitantes saídos de Pernambuco em viagem de recreio[xvi]),
E. C.
Recife,
26 de agosto de 1887.
José Moreira Alves de Carvalho. Foto Alberto Henschel |
Dr. Henrique Theberge. Foto. Academia Cearense de Letras |
Dr. José Novaes de Souza Carvalho. Foto: STM |
____________
NOTA.
Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E
LITERATURA”, exibe postagens com informações históricas resultantes de
pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência
bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu
interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior
proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a
citação das referências. Isso é correto e justo. Segue abaixo, como exemplo, a
forma correta de referência:
Sugestão de registro de referência:
CHALINE, Eugène. UMA EXCURSÃO DO RECIFE
ÁS CACHOEIRAS DE PAULO AFONSO – NOTAS DE ETEVALDO AMORIM. Maceió, fevereiro de
2021. Disponível em: http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2021/02/uma-excursao-do-recife-as-cachoeiras-de.html. Acesso em: dia, mês e ano.
[i]
O autor assina apenas com as iniciais “E. C.”. Quem poderia ser? Seria uma pena
publicar sem ter a identificação de quem escreveu tão preciosas considerações
sobre a nossa Cachoeira de Paulo Afonso. Pusemo-nos então a pesquisar e, por
fim, revelou-se o autor. Trata-se de Eugene Joseph Chaline, conhecido empresário
residente no Recife lá pelo final do Século XIX.
Chegamos
a essa conclusão a partir da data de seu embarque para a sua excursão. Seu nome
está entre os passageiros do vapor S. Francisco, partindo do Recife para os
portos do Sul, em companhia de sua esposa e dos franceses M. M. Prosper Loques
e Eduardo Morel (JORNAL DO RECIFE, 29 DE JULHO DE 1887).
A partir
de 1880, E. Chaline passou a atuar como agente da Agência telegráfica Havas, de
Paris, no Recife; correspondente do Jornal do Comércio-RJ; Diretor-Secretário
da Companhia Hotel Internacional de Pernambuco. Nascido na França, filho de
Miguel Chaline e de Elizabeth Chaline.
[ii]
Escritor francês. Nasceu em Paris 8 de fevereiro de 1853 e faleceu a 18 de setembro de 1918, em Jeurre, França.
[iii]
Nota do jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, edição de 26 de setembro
de 1887, informa a chegada de Prosper Loques e Edouard Morel à Capital do Império,
depois de uma excursão de cerca de cinco meses ao Amazonas, Pará, Maranhão,
Alagoas e Bahia. A missão de Loques, representando grandes fábricas francesas
na América Latina e Antilhas, seria estudar os meios de desenvolver as relações
comerciais da França com países desses continentes. Edouard Morel o ajudava,
sendo encarregado da livraria literária, industrial, artística e médica. O
jornal ainda registra que Prosper Loques teria colaborado com o Brasil,
auxiliando o jornalista francês Emilio Delean, no jornal Le Brézil a la
Exposition d’Anvers durante a realização da Exposição Universal de Antuérpia, também
conhecida como Exposition d'Anvers, que aconteceu de 2 de maio a 2 de novembro
de 1885, na Bélgica. Essa Exposição recebeu cerca de 3 milhões e meio de
habitantes e contou com a participação de 25 nações. O delegado especial do
governo imperial brasileiro na exposição foi o Conde de Villeneuve, que
destacou sua importância para atrair a atenção do comércio europeu para as
matérias-primas brasileiras. Delean, aliás, redigiu por muitos no Rio de
Janeiro o jornal Messager du Brezil.
[iv]
Edouard Morel. 8 de fevereiro de 1853, Paris. Faleceu em Jeurre, França, a 18
de setembro de 1918.
[v]
Jean Louis Rodolphe Agassiz foi um zoólogo, geólogo suíço. Nasceu em Mont-Vully
A 28 de maio de 1807 e faleceu no dia 14 de
dezembro de 1873, em Cambridge, Massachusetts, EUA.
[vi]
Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt. Geógrafo, naturalista e
explorador nascido na Prússia, atual Alemanha. Nasceu em Berlim a 14 de
setembro de 1769 e faleceu e ali faleceu
a 6 de maio de 1859.
[vii]
Joaquim Antônio de Siqueira Torres. Nasceu a 8 de dezembro de 1808 e faleceu a
29 de janeiro de 1888. Filho de Teotônio Vitoriano Torres e Gertrude Maria da
Trindade. “Recebeu do imperador Pedro II o título de “Barão de Água Branca”, em
15/11/1879.
[viii]
Frei Venâncio Maria de Ferrara (1822-1906) que foi Prefeito da Congregação dos
Capuchinhos no hospício da Penha – Pernambuco. Fundador do povoado Santa Cruz
do Deserto, município de Mata Grande-AL (http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2015/06/santa-cruz-do-deserto-2.html)
[ix]
José Moreira Alves da Silva. Presidente das Alagoas de 8 de novembro de 1886 a
5 de setembro de 1887. Nasceu em Escada-PE, 28 de novembro de 1850. Faleceu no Acre, 8 de
maio de 1909) foi um político brasileiro.
[x]
Manoel Joaquim da Silva Leão.
[xi]
José Novaes de Souza Carvalho. Filho de Manuel José de Carvalho e Veridiana de
Sousa Lima e Carvalho, nasceu em Anapurus, Estado do Maranhão, a 02/04/1852. Estudou
no Porto-Portugal, tendo se formado pela Faculdade de Direito do Recife em
1874, ano em que se casou com Júlia Augusta Guimarães de Carvalho. Foi nomeado
Juiz de Direito de Jatobá em 24 de dezembro de 1886. Foi Ministro do Supremo
Tribunal Militar. Faleceu a no Rio de Janeiro a 26 de março de 1925. Fonte: https://dspace.stm.jus.br/. Gazeta de
Notícias, RJ, 27 de março de 1925.
[xii]
Engenheiro e militar. Filho de Pedro Francisco Théberge (médico francês e
historiador) e Maria Elisa Soulé Théberge, nasceu no Recife a 27 de junho de
1838 e faleceu em Fortaleza-CE a 11 de junho de 1905. Era casado com Emília do
Amaral Théberge.
[xiii]
Valdevino Vieira Sandes.
[xiv]
Vicente de Leirins Ferreria Landim. Nasceu
em São Lourenço da Mata-PE a 24 de maio de 1859. Formou-se em 5 de novembro de
1885 pela Faculdade do Recife. Assumiu a promotoria em 1885.
Em 1886,
casa-se com Maria Bernardina Alves Cavalcante, que após o casamento passou a se
chamar Maria Cavalcante Ferreira Landim. Era pai do Monsenhor Landim (Manoel
Alves Ferreira Landim), nascido em Pão de Açúcar a 3 de maio de 1887. Falecem
em 1943.
[xv]
Manoel Theodosio Bispo. Foi por muitos
anos condutor de malas dos Correios em Piranhas. Segundo nota do Diário de
Pernambuco de 15 de janeiro de 1926, faleceu em Jatobá de Tacaratu-PE com a
avançadíssima idade de 130 anos. Diz ainda a nota que ele foi “por muito tempo
a pessoa de maior representação em Piranhas-AL, onde nasceu”.
[xvi]
Ernesto Demétrio da Costa Amorim, a mulher dele, cunhada dele, Eugene Chaline,
Antonieta, Prósper Loques, Eduardo Morel, Manoel Custódio da Silva.
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