segunda-feira, 29 de junho de 2015

SANTA CRUZ DO DESERTO (2)


Por Etevaldo Amorim

Em 19 de setembro de 2014, publicamos um texto do Jornal do Penedo, edição de 25 de janeiro de 1879, em que se tem a origem do povoado Santa Cruz do Deserto, município de Mata Grande.
Agora, vasculhando as páginas do Diário de Pernambuco, encontrei nova referência àquela importante localidade, desta feita envolvendo um conterrâneo pão-de-açucarense, o Monselhor José de Freitas Machado, que durante muitos anos foi Secretário do Arcebispado de Olinda, e o Frei Venâncio Maria di Ferrara, missionário capuchinho (1822-1906).
Vejamos o que está na edição de 26 de outubro de 1887, p. 2, daquele importante periódico pernambucano:

SANTA MISSÃO. Escreveram-nos de Paulo Afonso, no 1º do corrente.

“O Revmº Frei Venâncio Maria de Ferrara, missionário capuchinho, tem prestado relevantes serviços e diversos lugares e ultimamente nesta freguesia.
Tendo vindo dos Olhos d’Água, do Termo de Piranhas, em agosto último, para o povoado - Espírito Santo – da freguesia de Tacaratu, com o fim de fazer ali um cemitério, como fez em poucos dias, teve que passar pela Venerável Santa Cruz do Deserto, nesta freguesia, distante desta Vila três léguas, onde existe de muitos anos um considerável número de relíquias, que atestam o grande número de doentes que milagrosamente de hão curado de graves enfermidades; razão porque foi erigida, há muito tempo, naquele lugar, uma capelinha, a qual foi de novo começada pelo Juiz de Direito desta Comarca Dr. Antônio Cardoso de Oliveira Guimarães.
De volta do Espírito Santo, o Revmº Frei Venâncio, em companhia do digno vigário desta freguesia, Padre José de Freitas Machado, e mais pessoas, demorou-se naquele lugar (Santa Cruz do Deserto) e ali permaneceu em Missão desde 25 de agosto até 15 de setembro, havendo sempre grande concorrência de povo que ia aumentando extraordinariamente de dia a dia, calculando-se nos últimos dias número superior a seis mil pessoas.
Durante a Santa Missão, houve para mais de cinquenta casamentos, mais de mil comunhões e deu-se considerável andamento ao serviço da igreja, deixando o virtuoso missionário, ao retirar-se, a quantia de 190$000 em mão do digno vigário Machado, e grande quantidade de material reunido.
Depois da retirada do incansável missionário, o vigário Machado, não menos diligente, tem conseguido continuar o serviço da dita igreja, com desejo de deixa-la ao menos coberta e fechada com portas, no que vai sendo auxiliado pelos bons católicos desta freguesia, além do que de seu bolso tem despendido.
São sempre benéficos os efeitos da nossa santa e verdadeira Religião Católica Apostólica Romana que, há 19 séculos, tem sido combatida, mas nunca vencida.
O Revmº Frei Venâncio deixou seu nome gravado no coração dos povos, por suas virtudes e maneiras afáveis, tanto assim que o digno missionário na hora de sua partida não pode conter as lágrimas, assaz comovido, tal foi a pena, o choro, com que o povo em massa dele se despediu.
Fazemos votos para que o virtuoso missionário volte em breve para esta freguesia. ”


Monsenhor Freitas, à época Vigário de Paulo Afonso, atual Mata Grande.

Um comentário:

  1. Parabéns pela matéria e obrigado pelas contantes citações do nome de Mata Grande em diversas publicações que nos deixam orgulhosos e também aumentam os nossos conhecimentos de fatos passados.

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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia