Por Etevaldo Amorim
PE. JOSÉ DIONÍSIO
DE MEDEIROS.
Após a saída do Padre Omena, seguiu-se uma interinidade
no comando da Paróquia, assumindo inicialmente o Padre José Soares Pinto.
Entretanto, na edição do dia 5 de abril de 1909, o jornal
O Monitor, de Penedo, anuncia a saída do Pe. Soares Pinto, que fora convidado a
assumir a Paróquia de Jaraguá, o que efetivamente aconteceu em 20 de maio de
1909, quando tomou posse como vigário da Freguesia de Nossa Senhora Mãe do
Povo.
Assim, a 24 de março de 1909, por Ato do Bispo Diocesano,
Dom Antônio Brandão, o Padre José Medeiros foi indicado para a Paróquia do
Santíssimo Coração de Jesus. Em 27 de março daquele ano, partia de Maceió para tomar
posse da sua Paróquia, junto com o Padre Júlio Albuquerque, que assumiria
Traipu.[i]
Monsenhor Medeiros foi teólogo, moralista, filólogo,
escritor e polemista. Perito em Direito
Canônico e Língua Portuguesa[ii].
Natural de Traipu, onde rezou sua primeira missa a 8 de
dezembro de 1902[iii], o
Padre José Dionísio de Medeiros foi vigário da paróquia de Alagoas (atual
Marechal Deodoro), de onde foi transferido para a de São Brás, tomando posse em
27 de agosto de 1905.[iv]
Foi também Vigário na paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Anadia (1917-26), e
de Penedo.
PE. JÚLIO FERREIRA DE ALBUQUERQUE
O Pe. Júlio Albuquerque |
Tendo chegado juntos a suas respectivas paróquias (Pe.
Júlio, em Traipu e Pe. Medeiros, em Pão de Açúcar), ao que tudo indica
solicitaram permuta, já que este último era natural de Traipu. O fato é que, em
pouco tempo, já estava o Padre Júlio Albuquerque à frente da Paróquia de Pão de
Açúcar.
Este que pode ser considerado o quarto vigário, nasceu em
Maceió a 26 de setembro de 1878. Filho de Honório Teixeira de Albuquerque e Idelfonsa
Ferreira de Albuquerque, foi batizado em 3 de fevereiro do ano seguinte pelo
Padre Pedro de São Bernardo Peixoto.
Seu pai, um
pequeno comerciante, tinha uma mercearia na antiga Rua do Açougue (atual
Moreira Lima), esquina com a Rua Boa Vista, onde por muitos anos funcionou a
“Casa das Linhas”.[v]
Tendo ficado viúvo, pelo falecimento de dona Idelfonsa, em 6 de março de 1905,
ele teve um segundo casamento com Mariana Ferreira de Albuquerque, que faleceu
em 1921.
*** ***
Iniciou seus estudos no Colégio Souza Lobo,
estabelecimento que funcionava inicialmente em São Luiz do Quitunde, e que
mudou para Maceió em 6 de abril de 1886, mantido pelo Acadêmico Alfredo Alves
de Souza Lobo. Depois, foi para o Liceu Alagoano.
No Seminário de Belém (PA), terminou o curso secundário.
Tendo ali entrado para se ordenar padre, por motivos econômicos se afasta do
seminário, fazendo concurso para os Correios, para onde é nomeado. Em 1899,
está efetivamente trabalhando nos Correios em Belém-PA.[vi] Em seguida, foi
para o Seminário de Olinda para depois concluir no de Alagoas (atual Marechal
Deodoro).
*** ***
Em 1900, o jovem
Júlio já dava mostras da sua inclinação para as letras, ele que se tornou um
dos maiores intelectuais do clero alagoano. Integrou, por exemplo, a diretoria
da Sociedade Literária Tavares Bastos, como 1º Secretário.[vii]
Essa agremiação publicava O Madrigal, jornal que tinha como Redator Principal
Virgílio Guedes e Benedito Fróes como Diretor Responsável.
1.
A INICIAÇÃO
SACERDOTAL.
No dia 1º de
novembro de 1907, durante as celebrações do Mês do Rosário, o menorista[viii]
Júlio recebeu, do Bispo Diocesano, a ordem do Subdiaconato, juntamente com
Afonso Tojal e José Soares Pinto.[ix]
Ordenou-se em 17
de novembro de 1907, rezando a sua primeira missa na Igreja dos Martírios, em
Maceió. O jornal Gutenberg, de 19 de novembro de 1907, registra:
“Celebrou-se efetivamente domingo, no seu
elegante templo, a solenidade do Senhor Bom Jesus dos Martírios, cujo septenário
tivera começo no dia 10 do corrente.
Às 10 horas da manhã teve lugar a missa solene,
celebrada pelo novel sacerdote Júlio
Ferreira de Albuquerque, que cantou a sua primeira missa.
A missa revestiu-se de toda solenidade, servindo
nela de diácono o reverendo padre José Tojal, de subdiácono o Reverendo José
Pinto; de presbítero assistente, monsenhor Silva Lessa, e por mestre de
cerimônia o padre José dos Anjos, coadjutor da Paróquia de Nossa Senhora dos
Prazeres.
Ao evangelho, ocupou a tribuna sagrada o talentoso
orador sacro Cônego João Machado, produzindo um sermão, análogo ao ato, tão
eloquente e brilhante que julgamos o mais substancioso de tantos quantos sua
reverendíssima tem pronunciado nesta paróquia, depois que assumiu as funções de
cura da Sé.
... ...
A orquestra, sob a regência do Sr. Professor João
Ulysses[x],
executou com maestria a missa Santa Maria, cantando ao pregador a Ave Maria o
nosso confrade Rodrigues de Melo, e ao ofertório a Salve Regina o nosso colega
coronel Liberato Mitchell, saindo-se ambos perfeitamente”.
No ano seguinte,
iniciava como Vigário Coadjutor na Paróquia de Anadia, para depois tomar posse
em Pão de Açúcar, no dia 2 de maio de 1909.
A igreja do Bom Jesus dos Martírios, onde o Pe. Júlio rezou a primeira missa. |
2.
MELHORAMENTOS NA
MATRIZ.
Durante o seu
paroquiato, foi instalado o relógio da Matriz, empreendimento no qual se havia
empenhado o Pe. Omena, recolhendo donativos. Ao Pe. Júlio Albuquerque coube dar
prosseguimento a esse melhoramento, instalado no dia 23 de dezembro de 1909.
O jornal
pão-de-açucarense A IDEIA, que tinha como Gerente Álvaro Machado e como
Redator-Chefe Hypólito de Souza, noticia o fato com grande destaque:
“Damos parabéns aos filhos da nossa futurosa cidade
de Pão de Açúcar por mais um melhoramento, com que foi dotada a igreja Matriz
desta paróquia.
Desde quinta-feira que já está funcionando, na torre
do lado sul, o Malakoff há tanto tempo esperado.
Construído pelo hábil mecânico Sr. Paulino
Wanderley, da cidade de Bom Conselho, é isto motivo de nos ufanarmos, porque já
não se faz mister o orgulho do estrangeiro para trabalhos como este, pois o
nosso solo, na sua uberdade espantosa, também produz inteligências superiores,
não só na política e na literatura, mas também na indústria e na arte.
Ideia levantada pelo nosso ex-vigário Pe. José
Omena, de parceria com alguns amigos que muito trabalharam para angariar alguns
donativos, somente hoje teve a sua realização, apesar da descrença de alguns,
malgrado a malevolência de outros.
Teve, entretanto, o nosso pároco atual que recorrer
à benevolência da população para completar a importância de 800$000, que foi o
total das despesas com o maquinismo, sino, reparos feitos na torre e transporte
dos materiais do Bom Conselho até aqui, pois o arrecadado pela antiga comissão
atingiu somente a cifra de 500$000.
Resta-nos agora cuidar de sua conservação, para que
tenhamos sempre o utilíssimo auxílio de que tanto necessitávamos para
regularizar os nossos negócios, e mostrarmos aos vindouros que trabalhamos
também para o progresso material de nosso pequeno torrão; e agradecer ao
Reverendíssimo Pe. Júlio de Albuquerque, nosso zeloso pároco, o desvelo e a
solicitude com que levou a efeito tão momentoso melhoramento”.
Quando o jornal
se refere ao “Malakoff há muito tempo
esperado”, dá a impressão de estar falando da marca do relógio. Ocorre que
não há marca de relógio com esse nome. O
dito “Malakoff” talvez seja uma referência ao relógio da Torre Malakoff,
existente no Recife.
Essa Torre teve
sua construção iniciada em 1853, como parte do então chamado Portão Monumental
do arsenal da Marinha, na proximidade do Porto do Recife.
Na época da sua
construção, a imprensa pernambucana veiculava muitas notícias a respeito da
Guerra da Criméia, enfatizando a resistência em defesa da colina e da torre
fortificada de Malakoff. Isso despertou grande interesse no Recife e em todo o
Estado de Pernambuco, ao ponto de a própria população batizar a torre com o
nome “Malakoff”.
A Matriz de Pão de Açúcar e o relógio em destaque. |
A torre e o relógio "Malakoff" no Recife. |
3. EXÉQUIAS DE DOM ANTÔNIO BRANDÃO.
Na missa
dominical do dia 21 de março de 1910, pronunciou uma eloquente “oração fúnebre” (assim intitulada quando
da sua publicação pelo jornal A IDÉIA), em que enaltece as suas qualidades:
“D. Antônio Brandão possuía, no seu caráter
adamantino, uma força de vontade superior. Tinha, nos atos de justiça,
sentenças de Salomão. Não via obstáculo quando se tratava de procurar o bem da
religião, a cujo serviço dedicou-se, ininterruptamente, dando-lhe o melhor de
sua robustez moral e as primícias de sua mocidade.”
“E hoje que, cheios de luto, assistimos a esta
última homenagem que a religião nos inspira; hoje que juntamos a tristeza de
nossas lágrimas à funérea luz desses círios, que também lacrimejando ornamentam
este monumento de morte enviemos, do fundo do nosso coração, à porta do
tabernáculo da Divindade, uma prece carinhosa e cheia de fervor, para que breve
chegue ao trono de Jesus Cristo a alma imaculada do primeiro bispo de Alagoas
e, das mãos de Deus, receba ele a palma da imortalidade e da eterna glória.”
4.
A DESPEDIDA.
Deixando Pão de Açúcar, seguiu o Pe. Júlio para ser Coadjutor na Paróquia de Maceió. Nas páginas do jornal A IDEIA (edição de 26 de agosto de 1910), despede-se do povo pão-de-açucarense:
“Aos meus paroquianos.
Tendo aceitado a
nomeação de coadjutor da Paróquia de Maceió, e renunciado ao cargo de pároco de
Pão de Açúcar, e não sendo possível despedir-me de todos os meus paroquianos,
venho dar o testemunho da minha eterna gratidão a todos que souberam
distinguir-me dispensando-me o óbolo carinhoso de sua consideração e de sua
estima.
Guardarei eternamente no mais fundo do peito a doce recordação dos dias que passei na convivência amável dos filhos de Pão de Açúcar, terra hospitaleira ad initio fadada para os mais elevados ideais que só sabem conceber os que beberam a luz da vida debaixo destes céus eternamente azuis.
Envio, portanto, daqui o meu último adeus, o derradeiro eco da minha despedida a todos os meus paroquianos, especialmente aos que me dedicaram a menor partícula de sincera amizade, pedindo a Deus para recompensá-los com uma fagulha ardente da graça imaculada que é a maior proteção da Divindade ao homem que moireja na terra.
Nesta cidade, pois, guardarei as ordens de todos, dentro dos limites do meu diminuto prestígio, curtindo as minhas roxas saudades, já que faz-se mister cumprir os menores desejos dos superiores, desde quando são os legítimos representantes de Deus.
Padre Júlio Ferreira de Albuquerque, Coadjutor de Maceió.”
Foi
ainda vigário em Traipu, Murici e São Miguel dos Campos, a partir de 1922, onde
permanece por 35 anos.
Segundo
o jornal pernambucano Diário da Manhã, de 31 de agosto de 1938, o padre Júlio
celebrou, na matriz de Nossa Senhora do Ó, uma missa pela alma de Virgulino
Ferreira da Silva, o Lampião, que fora morto fazia um mês.
O
jornal, como que admirado de ter o famigerado cangaceiro merecido as orações do
sacerdote e dos sessenta fiéis que o assistiam, informa que, “em carta a pessoa de sua amizade, o vigário
de São Miguel afirmou que celebrou aqueles atos de piedade cristã por espírito
de religião”. “Foi um ato de caridade
que Deus me inspirou”, disse.
Cônego Honorário
do Cabido Metropolitano; Sócio da Academia Recifense de Letras e do Centro
Cultural Mineiro; Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de
Alagoas e Sócio Fundador da Academia Alagoana de Letras.
Em sua homenagem, há uma praça com
seu nome em São Miguel dos Campos.
O
Padre Júlio faleceu a 3 de setembro de 1963.
O Padre Júlio Ferreira de Albuquerque |
*** ***
NOTA:
Caro
leitor,
Deste
Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações
históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em
geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica.
Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em
qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas
fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências.
Isso é correto e justo.
[i]
GUTENBERG, 28 de março de 1909.
[ii] Fonte: ABC das Alagoas.
[iii] A Fé Christã, de 6 de dezembro de 1902.
[iv] A Fé Christã, Penedo, 2 de setembro de 1905.
[v]
LIMA JUNIOR, Félix. Tipos populares de Maceió. Revista Mocidade, nº 18 – Maio e
Junho de 1949.
[vi]
República, Belém-PA, 3 de junho de 1899.
[vii]
ORGE, Maceió, 25 de janeiro de 1900.
[viii]
Clérigo pertencente a uma das quatro ordens menores da Igreja católica. Ordens
Menores, as que não consagram de modo definitivo que as recebe: ostiário,
leitor, exorcista e acólito. Ordens Maiores, as que consagram de modo
definitivo ao serviço de Deus: subdiaconato, diaconato, presbiterado e
episcopado.
[ix]
Gutenberg, Maceió-AL, 31 de outubro de 1907.
[x] João Ulysses Moreira. (São Miguel dos Campos - AL 16/06/1882 – Maceió - AL 15/07/1955). Músico, professor, maestro, trompetista. Foi aluno do professor Benedito Silva na Banda de Aprendizes Marinheiros em Maceió. Aos 12 anos apresentou-se em praça pública, sua primeira composição, o dobrado Pugnadores da Época. Aos 18 anos, já era professor de Harmonia no Liceu de Artes e Ofícios. Dirigiu as orquestras do Cine Odeon e do Cine Floriano. Fundador da Tuna Alagoana e do Clube Atheneida. Diretor de concertos do Círculo Musical. Compositor de inspiração regional deixou vários dobrados para as Bandas de Marechal Deodoro, que muitas vezes regeu. Escreveu missas, porém suas obras não estão difundidas. Como professor de Teoria Musical e Harmonia, orientou diversos jovens músicos, entre eles Joel Belo Soares. Fonte: ABC das Alagoas. Casou-se, em 1907, com Maria Carolina Ferreira Pinto (filha de Carolina Lopes Ferreira Pinto).
Mais um maravilhoso passeio por nossa riquíssima história. Desta feita, citando no início o "tio padre Pinto", como dizia minha saudosa avó materna, passando por aquela que muitos historiadores consideram como a verdadeira primeira grande guerra mundial dos últimos séculos, a da "Criméia, e nos brindando com uma referência à missa que padre Júlio Ferreira celebrou em sufrágio da alma de Virgulino Ferreira e suas repercussões políticos-religiosas. Parabéns, confrade! Muitas verdades estão escondidas e foram abafadas por fortes badaladas...
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