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sábado, 14 de dezembro de 2024

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - PASTOR JOSÉ TAVARES DE SOUZA

 Por Etevaldo Amorim

 

O Pe. José Tavares. Foto: Vida Doméstica,1931

A personalidade que agora destacamos foi pastor evangélico, professor e funcionário público, tendo exercido, em 1946, o cargo de Auxiliar da Secretaria; e, em 1970, o de Diretor-Geral de Administração da Prefeitura Municipal de Maceió. Foi ainda vereador na Capital do Estado.


Segundo o ABC DAS ALAGOAS, organizado pelo saudoso professor Francisco Reynaldo Amorim de Barros, ele foi pastor da Primeira Igreja Batista de Maceió durante mais de cinquenta anos, realizando ainda um expressivo trabalho social no Lar do Bom Samaritano.  Amante das letras, foi também Patrono da cadeira nº 20 da AMLA.


Curioso é que, antes de ser líder evangélico, ele foi padre. Sim, padre!


Ele não foi o primeiro, nem seria o último a se converter ao protestantismo mesmo já estando engajado na atividade sacerdotal e subordinado aos dogmas da Igreja Católica. Mas, vamos à nossa personalidade:


JOSÉ TAVARES DE SOUZA nasceu no povoado Jacarezinho, município de Pão de Açúcar, Estado de Alagoas, no dia 10 de março de 1904. Filho de Gustavo Tavares de Souza e de Etelvina Maria de Lisboa. Eram seus avós paternos: Antônio Tavares de Souza e Philomena Maria de Jesus; e, maternos: Manoel Antônio Lisboa e Maria Rosa da Rocha Lyra, de tradicionais famílias do povoado Lagoa de Pedra.


Em 1918, ingressou no seminário católico de Santa Teresa, na Bahia. Em 1920, foi transferido para o de São José, em Aracaju, onde permaneceu até 1927. A convite do então bispo de Penedo, ocupou a vice-diretoria do Colégio Anchieta daquela cidade, em 1928.(1)


Aos 4 de agosto de 1929, foi ordenado sacerdote em Penedo, e no dia 6 do mesmo mês celebrou sua primeira missa.


Em 1930, já estando como vigário de Limoeiro de Anadia, e tendo irrompido a chamada “Revolução de 30”, foi empossado no cargo de Prefeito, permanecendo até maio de 1932. Naquela ocasião, juntamente com o Tenente Manoel Rijo Silva, é designado pelo Interventor Tasso Tinoco para proceder sindicância em torno de irregularidades atribuídas ao ex-prefeito de Limoeiro de Anadia, que fora afastado do cargo. (Diário Carioca, RJ, 27 de novembro de 1931). (2)


Prefeitura de Limoeiro de Anadia. Foto: Site História de Alagoas.


O ano de 1932, no entanto, marcaria uma drástica mudança em sua vida. O jovem  sacerdote enamorara-se de Benita, a linda filha do Capitão Joaquim Cavalcante de Lacerda e de dona Júlia Julieta Barbosa. Tanto que, em 1922, Benita Lacerda concorria, por Limoeiro de Anadia, ao Concurso de Beleza promovido pelos periódicos fluminenses A Noite e Revista da Semana, com o apoio do pelo Jornal de Alagoas. (Diário de Pernambuco, 22 de abril de 1922)


O jornal “A Notícia”, de Alagoas, registra: “Padre José Tavares, vigário desse município, ontem às 21 horas, raptou a menor Benita Lacerda, fugindo automóvel lugar incerto”. (3)


Já o Jornal do Recife, de 5 de junho de 1932, diz que o casal tomou um trem para o Recife e, de lá, embarcou no vapor Araraquara, com destino ao Sul.


No porto de Maceió, o delegado auxiliar Dr. Manoel Cândido deu voz de prisão ao padre e comunicou o fato ao arcebispo de Maceió, Dom Santino Coutinho, que providenciou o casamento dos dois, no dia 4 de maio de 1932. Desse casamento nasceram duas filhas.


O jornal ainda comenta: “O Padre Tavares é moço, sendo o caso muito escandaloso, uma vez que poderia ter deixado a batina para se casar, em lugar de raptar a senhorinha Lacerda, com quem viajava no mesmo camarote.”


Dada a incompatibilidade entre a atividade sacerdotal e a sua condição de casado,  e após acurado exame das Escrituras Sagradas, aceitou as doutrinas evangélicas, sendo batizado na Primeira Igreja Batista de Maceió, pelo missionário L. L. Johnson. Isso ocorreu na noite do dia 4 de setembro de 1932.

Diz o correspondente do Diário de Pernambuco em Maceió, em 13 de setembro de 1932:(4)


O vasto templo da Rua 16 de setembro não comportou a multidão que ali acorreu para assistir a um espetáculo inédito para a vida religiosa de Alagoas”.


Aos 13 de setembro de 1936, foi consagrado ao ministério da mesma Igreja em que se converteu e em cujo pastorado tem permanecido durante vinte e nove anos e meses.


*** ***

Em Maceió, no bairro Tabuieiro do Martins uma via perpendicular à Av. Durval de Goes Monteiro leva o seu nome. Há também uma Escola Estadual com seu nome na Av. Garça Torta, 1286 - Benedito Bentes.



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(1) Fonte: Informações sobre a conversão de 20 padres. MINISÉRIO APOLOGÉTIO.

(2) O 2º Tenente Reformado Manoel Rijo da Silva sucedeu o Padre José Tavres na prefeitura de Limoeiro de Anadia. Fonte: Revista de Polícia, 1932.

(3) Fonte: AMAURI MORAIS DE ALBUQUERQUE JÚNIOR A LETRA E O ESPÍRITO: REPRESENTAÇÕES DA IDENTIDADE E ALTERIDADE RELIGIOSA NO PERIÓDICO “O JORNAL BAPTISTA” (1929-1934).

(4) O Imparcial, São Luis - MA, 16 de outubro de 1932.

7 comentários:

  1. O Pastor José Tavares de Souza foi Diretor da Escola Lar do Bom Samaritano, que funcionou no Bairro da Ponta Grossa, na Rua Tira-dentes. Fui aluno da Escola

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  2. Que história inusitada! Muito interessante. O celibato forçado, adotado há poucos séculos pela Igreja de Roma, sequer tem unânime apoio dos seus sacerdotes. Vai contra a natureza humana, divina. Ouvi esse comentário de um religioso cristão e católico

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  3. Que história linda!
    A coragem prevalece no amor e na fé

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  4. "Parabéns"...por contar história/Personalidades Pão de Açúcares, muito legal !!!
    Um abraço !

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  5. O amor pela fé e pela vida , uma linda história desse grande pão de Açucarense tão pouco destacado pela história de pão de açúcar, mas que, foi um grande exemplo como ser humano , um grande abnegado pela causa social dos mais necessitados

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  6. Parabens linda História

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