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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

PERSONALIDADES PÃO-DE-AÇUCARENSES - JOSÉ GONÇALVES FILHO (ZEQUINHA DE MESTRE SALO) – MÚSICO

 Por Etevaldo Amorim



Zequinha de Mestre Salo. Foto: acervo de
Aldemar de Mendonça

Segundo Aldemar de Mendonça, Zequinha de Mestre Salo, como era mais conhecido, nasceu em Pão de Açúcar no dia 13 de janeiro de 1917. Tocava diversos instrumentos com perfeição, destacando-se como violonista, no qual executava, principalmente, músicas clássicas. 

José Gonçalves Filho era filho de José Gonçalves e Maria Francisca Gonçalves. Casou-se com a Srª Tereza Gonçalves, com quem teve os filhos: Bellini e Paganini, ambos músicos.

Do excelente livro "TOCANDO AMOR E TRADIÇÃO - A BANDA DE MÚSICA EM ALAGOAS", do saudoso amigo Wilson José Lisboa Lucena, por muitos anos funcionário do Banco do Brasil em Pão de Açúcar, transcrevemos as seguintes informações a seu respeito:

 Formação educacional básica no Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, em sua terra natal. Teve iniciação musical com o famoso Mestre Nozinho, como clarinetista da Banda Musical Guarani, em Pão de Açúcar. Tocava vários instrumentos, com destaque para o violino. Prestou serviços à Prefeitura de Mata Grande, atuando como maestro e regente da banda de música. No período de 1967 a 1969, assumiu o comando da Filarmônica Santa Cecília, em Palmeira dos Índios."

Em 1963, residindo em Palmeira dos Índios, ele tem uma participação no filme Vidas Secas, do cineassta Nelson Pereira dos Santos, baseado na obra de Graciliano Ramos. Ele é o professor de violino da filha do fazendeiro (interpretado pelo ator alagoano Jofre Soares), patrão do personagem Fabiano, protagonizado por Átila Iório.  Veja:




Em conversa com Billy Magno, outro extraordinário músico pão-de-açucarense, em busca saber mais sobre Zequinha, obtive dele a informação de que, em 1967, foi feita uma gravação de uma performance dele, pelo Dr. Raimundo Campos, provavelmente na casa deste, que era um aficionado em memorizar a obra de artistas alagoanos e dos que aqui se apresentavam. Fez mais: forneceu-me esse arquivo, em que se ouve o nosso músico executando, ao violão, a conhecidíssima "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso. Ouça:


O acervo do médico e pesquisador Raimundo Alves Campos foi doado ao Museu da Imagem e do Som de Alagoas em 2021, doze anos após o seu falecimento. Formado por mais de 3 mil itens de conteúdos raros e inéditos, a sua coleção contém material nas vozes de Cauby Peixoto, Cartola, Dóris Monteiro, Ivon Cury, Lúcio Alves, Sivuca, Djavan, Roberto Becker, Edécio Lopes, Jararaca e Ratinho, Abel Ferreira e outros, entre eles, provavelmente, esse registro do nosso "Zequinha de Mestre Salo". 

Carente, ainda, de informações mais consistentes a respeito desse respeitável músico pão-de-açucarense, lembrei-me do meu prezado amigo Antônio Manoel Goes, jornalista, radialista e bancário  penedense, que trabalhara, no início da sua carreira funcional, justamente em Palmeira dos Índios. 

Atendendo-me prontamente, Antônio Manoel forneceu o seguinte depoimento:

Claro que conheci o maestro José Gonçalves.  Inclusive ele participava, ao violino, de um programa de seresta que apresentei na Rádio Sampaio, ao vivo, nas noites de  sábado, na Praça São Pedro. Algumas vezes gravamos o programa na casa do Dirceu Souza, dono de um escritório de contabilidade em Palmeira, que participava ao piano..

 O programa de seresta da Rádio Sampaio tinha, além do violino do maestro, o violão de Ivan Bulhões (seu aluno) e o acordeon de Luís Neves (ambos do BB), o cavaquinho de Zé Moreno (taxista de Palmeira) e a voz de outro colega do BB, Paulo 'Gato'.  Foi um sucesso, mas com apenas um ano de duração.

Ele vivia em Palmeira em meio a dificuldades financeiras, subsidiado vez por outra por um grupo de admiradores, a maioria do Banco do Brasil, eu entre eles. Uma pessoa simples, com relevante trabalho, mas pouco valorizada. Ele era introspectivo; talvez em função da penúria em que vivia. 

Depois que saí de Palmeira, em março de 1971,  não tive mais notícia do maestro José Gonçalves, até saber de sua morte”.

Faleceu em Palmeira dos Índios, em 16 de outubro de 1972.

Rádio Sampaio de Palmeira dos Índios, 1965. Ivan Barros ao microfone, Libório ao violão, José Moreno ao cavaquinho, e o Maestro José Gonçalves Filho. Foto: Site História de Alagoas.



É de sua autoria a música do Hino de Palmeira dos Índios, com letra de Luis B. Torres e José Rebelo.

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Agradecimentos a Billy Magno, Antônio Manoel Goes e Lygia Maciel Mendonça.

NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

Tratamento de imagens: Vívia Rodrigues Amorim.



Banda de Música que acompanhava os desfiles do Tiro 656. Foto 10/02/1927. 1ª fila, sentados, da esquerda para a direita: Francisco Ferreira – “Mestre Chico” (requinta); Alípio Carvalho Gomes; Brayner de Carvalho; Josias de Mestre Pedro; José Gonçalves Filho; Zequinha de Mestre Salo (clarinetes) Perdiliano Souza – “Perdiliano de Seu Né”; José Alexandre Filho (Nenê); e Oliveira (trompetes). Ao centro, Manoel Vitorino Filho – “Mestre Nozinho” (bombo). 2ª fila: José Souza – Zeca de “seu” Né (trombone); Anízio Borges (trompa); Luiz Ignácio e João Marcolino da Silva (trombones); Darcy Gomes (barítono); Virgulino Vieira e Yoyô Vieira (trompas). 3ª fila: Lourival Simas (hélicon); José Costa – Zé de Maria Bela; José Góes (pratos); José Profeta Sobrinho – “Carvão” (tambor); Júlio Alves de Carvalho (caixa); Francisco Antônio dos Santos – “Mestre Chiquinho” (bombardino); Afonso Lisboa (oficleide); e João Damasceno Lisboa – “Joãozinho Retratista” (hélicon). Acervo: Tonho do Mestre. Identificação: Williams Magno – Billy.

3 comentários:

  1. Belíssimo relato histórico, testemunhado por pessoas que conviveram e relataram a história do maestro. Extraordinário!

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  2. A cultura musical em nossa terra produziu ilustres figuras, como a do maestro em foco, José Gonçalves. É uma pena que essa divina forma de linguagem não tenha se fortalecido mais. Ela, inclusive, foi base de oportunidade profissional para muitos conterrâneos

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  3. Confesso que fiquei muito emocionado ao ler este seu artigo. "Zequinha de Mestre Salo" foi mais um artista, filho de Pão de Açúcar, exímio multiinstrumentista, que, apesar do extraordinário talento, passou por grandes dificuldades financeiras. Como sofrem os notáveis músicos alagoanos!
    Parabéns, pelo brilhante texto! Excelente pesquisa! Importantíssimo resgate!👏👏👏👏👏

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