Dom Antônio Manoel de Castilho Brandão |
A estrada por onde devia transitar S. Ex.ª estava
elegantemente adornada de festões e arcos triunfais, encimados de infinidade de
bandeiras multicores.
Às 5 horas aportava a canoa, também embandeirada no todo,
sendo saudado o Sr. Bispo ao toque do Hino Alagoano. Desembarcando S. Exª,
seguiu pelo areal, palmilhando o soalho de tábuas que se havia aparelhado até a
cidade. Paramentou-se em casa do Cap.
Vieira Damasceno, fazendo sua entrada triunfal na cidade em trajes puramente
episcopais, de mitra e báculo à mão.
Chegando à Matriz, foi cantado o Ecce Sacerdos Magnus[iii].
O egrégio Pastor endereçou ao povo a sua palavra cheia de unção, e, depois de
declarar aberta a visita, deu a bênção a todos.
Da Matriz até a casa do seu caro progenitor Cap. Antônio
Manoel, onde se hospedou, não podendo S. Exª resistir a instâncias, seguiu no
carro triunfal que lhe haviam preparado.
Ao chegar à casa de sua hospedagem, saudou-o em nome do povo
pão-de-açucarense, o Dr. Jovino da Luz. O talentoso orador, referindo-se em sua
entusiástica alocução ao fato de ter o Sertão de Alagoas dado um filho qual D.
Antônio Brandão, ex-Bispo do Pará e fundador do Bispado de Alagoas, pelo qual
deixou as vantagens daquele grande e rico Bispado, salientou os méritos de S.
Exª, fazendo ver os justos motivos de entusiasmo e de orgulho que sentiam os
pão-de-açucarenses na chegada do venerando Pastor.
Terminou dando vivas à Igreja Católica, ao Bispado de Alagoas,
ao Prelado Diocesano, ao Cap. Antônio Manoel Brandão, ao povo e ao Vigário da
Freguesia.
Incontinenti, foi oferecido a S. Exª um lindo ramalhete pela
esbelta e gentil criança Isaura Canuto. Também usou da palavra uma graciosa
mocinha que, possuída de patéticos sentimentos de religião, saudou a S. Exª,
implorando sua autorizada palavra contra o protestantismo.
Sua Excelência respondeu agradecendo a manifestação em
palavras cheias de emoção. Disse que a manifestação de seus conterrâneos era recebida
com a maior satisfação, porque era dirigida mais ao enviado do Senhor do que à
sua personalidade; e que lia só nos arcos triunfais, nas bandeiras, nas salvas,
mas nos corações, que conhece perfeitamente.
Com relação ao apelo que lhe fez a jovem oradora, S. Exª afirmou
que o protestantismo em Pão de Açúcar, em vez de crescer, tem decrescido e não
pode medrar, devido ao desprezo que lhe dão os católicos.
Ao terminar, S. Esª foi estrepitosamente saudado com vivas e
com o Hino Alagoano, continuando a banda de música a tocar, no palanque
preparado à frente ao provisório Palácio Episcopal, as mais lindas peças do seu
repertório.
O povo esteve reunido até as 10 horas, quando subiu ao ar o
mais bonito balão que já se viu nesta cidade. Trabalho executado pelos
inteligentes moços, os irmãos Domingues – ambos pirotécnicos – com belas cores,
inscrições alusivas e despedindo na ascensão os mais lindos fogos, foi
oferecido ao Sr. D. Antônio pelo seu afilhado Manuel Domingues.
À tarde do dia 18 foi S. Exª visitar a obra da Capela do
Senhor do Bomfim. A praça achava-se ornamentada de festões verdejantes, coroado
de galhardetes. O Príncipe da Igreja foi recebido com salvas de bombas e
foguetaria. À noite, a Sociedade Musical, depois de ir, do palanque, cumprimentar
a S. Exª, encaminhou-se à Praça do Bomfim, onde permaneceu até as 10 horas,
depois de haver se elevado aos ares um outro aeróstato. Os festejos da Praça do
Bomfim foram promovidos pelo Sr. Diocleciano Barbosa e seus sobrinhos
Domingues, em homenagem a S. Exª.
A manifestação tributada ao preclaro Prelado foi esplêndida,
e tanto mais honrosa por ser oriunda de contribuição espontânea, sem pedidos do
Revº Pároco nem de outra comissão. S. Exª tem sido, todos os dias, muito
visitado por seus parentes, amigos e povo em geral.
Quanto ao Sacramento do Crisma, tem-no administrado
diariamente, fazendo-o até duas vezes por dia. Tem concedido dispensas para
casamentos, promovendo e facilitando os dos que vivem em união ilícita, mesmo
sob o amparo exclusivo da formalidade civil.
Na sua faina pastoral, visitará S. Exª a igrejinha dos
Meirus, irá benzer o cruzeiro do Morro do Cavalete e rezar uma Missa Campal no
cemitério.
Pão de Açúcar, 21 de setembro de 1904.
_______
Transcrito do jornal A Fé Cristã, Penedo, edição de 1º de
outubro de 1904
http://memoria.bn.br/DocReader/213217/526
Igreja do Senhor do Bomfim, 1919. |
Igreja do Povoado Meirus |
Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus-Pão de Açúcar-AL, 1910. |
Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém
postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com
farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta
razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para
utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito
possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das
referências. Isso é correto e justo.
[i]
Morro situado à margem esquerda do rio São Francisco, pouco abaixo de Pão de
Açúcar-AL, fronteiro ao morro do Surubim (outrora chamado Morro do Calvário,
segundo Vieira de Carvalho), abaixo do povoado Mocambo (município de Porto da
Folha-Se).
[ii]
Padre Antônio José Soares de Mendonça, primeiro Vigário da Paróquia de Pão de
Açúcar (1853-1906)
[iii]
O “Ecce Sacerdos Magnus” (Eis o Grande Sacerdote) é uma antífona que a liturgia
da Igreja Católica Romana utiliza para a entrada solene de um bispo. Composta
pelo músico alemão Josef Anton Bruckner (1824-1896).
Muito interessante essa reportagem sobre a visita do Bispo D.Antonio Brandão. O lingujar da época prende a atenção.
ResponderExcluirMuito interessante esse relato sôbre D. Antônio Brandão, e de sua visita no povoado de sua origem, gosto de saber muito sobre eles.
ResponderExcluirParabéns pela matéria aqui apresentada.