Coelho
Cavalcanti[i]
A
sua história, ou antes, a história do seu heroísmo é tradicional.
Nasceu
na velha cidade de Alagoas, baluarte dos holandeses dos tempos coloniais, então
capital da heroica província do mesmo nome.Busto de Dona Rosa da Fonseca
O
marido, homem incógnito, que nunca saiu dali, e viveu da sua profissão de
pescar na lagoa Manguaba, morreu lhe deixando os filhos na primeira idade.
Pedindo
a uns e pedindo a outros, conseguiu ela viessem eles para o Rio, partindo os
mais taludos para as fronteiras do Paraguai, àquele tempo da guerra.
Os
que não se acabavam no campo da luta, saíram de lá consagrados. Dentre eles,
Deodoro, que fundou a República, e lhe foi primeiro Presidente.
O
Barão de Alagoas, ídolo de sua classe, não foi menor do que esse irmão
generalíssimo.
Hermes
da Fonseca, o pai, um talento prodigioso, morreu marechal, honrando a Pátria e
o Exército.
Pedro
Paulino, Senador e Governador de Alagoas, de quem me honro de haver sido amigo
na minha jovem idade, foi o exemplo edificante do patriota, do homem público,
do homem de bem.
Os
outros, tombados às carabinas e às lanças do exército selvagem de Solano Lopez,
diz o testemunho histórico que passaram para a eternidade pela ponte de
Itororó.
Volveram
trinta anos de República.
O
povo alagoano, em sinal de sua indelével gratidão, lembra-se de erigir, numa
das praças públicas de sua capital, a antiga Praça do Livramento, uma estátua a
D. Rosa.
Fizeram-no
debaixo do mais frenético entusiasmo cívico, o maior que ainda se espoucou nas
plagas quietas do sururu de capote.
Dizem
todos, e ainda resta muita gente que a viu, que a ilustre matrona, mãe de
tantos filhos heróis, não primava, em absoluto, pela beleza plástica. Tinha,
pelo contrário, uma cabeça enorme, uns fios de barba no mento, uma boca enorme,
um nariz enorme.
O
escultor copiou a sua fisionomia tal qual a vira num retrato fidelíssimo que
lhe puseram às mãos.
Conta-se
o seguinte: que depois dos festejos, na respectiva inauguração em homenagem à
insigne velha, posta em bronze, um matuto alagoano, o clássico almocreve, de
chapéu de baeta desabado, camisa fora das calças, contemplou longo tempo a
estátua de D. Rosa, olhou-a muito de fito, muito mesmo, de braços e cabeça de
banda.
Seguidamente,
como se dissesse, porventura, o melhor discurso daquele dia ferial, filosofou:
- É feia, mas pariu bonito!!!!
E
deu volta.
______________
João Francisco Coelho Cavalcanti, conhecido por João Barafunda, advogado e poeta. (São Luiz do Quitunde-AL, 1874 – Rio de Janeiro, 1938). Filho do poeta satírico Joaquim da Cunha Cavalcanti e de Belmira de Alcântara Menezes Cavalcanti. Bacharelou-se em direito pela Faculdade do Recife. Poeta satírico, seus versos e modinhas eram cantados pelo interior do Estado, sendo entre as modinhas a mais popular aquela denominada Genura. Teve uma vida errante e cheia de aventuras, vagando por alagoas, até ser ameaçado de morte por causa de sátiras violentas. Exerceu advocacia e foi Juiz de direito em Passo Fundo (RS), de onde saiu por razões políticas, e refugiando-se em Rivera, Uruguai. Jornalista no Amazonas. Internado no Hospício da Praia da Saudade, em 1923, no Rio de Janeiro. Espírito altamente independente de zombeteiro panfletário. Pseudônimos: Amália Peitiguary e Coelho Cavalcanti. Obras: Ouro de Lei, 1918; Carola Maluca, Rio de Janeiro, 1919 (prosa); Pontas de fogo, Rio de Janeiro, 1922 (crônicas); Gigantes e Pigmeus. Colaborou no Correio do Povo, em Porto Alegre e em O Momento. Fonte: ABC DAS ALAGOAS. Francisco Reynaldo Amorim de Barros.
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