terça-feira, 21 de janeiro de 2020

O PADRE THEMÍSTOCLES E A QUESTÃO RELIGIOSA – REPERCUSSÕES EM PÃO DE AÇÚCAR


Por Etevaldo Amorim

Na década de 70 do Século XIX, durante o reinado de Dom Pedro II, o Império do Brasil viveu uma das suas maiores crises.
A religião oficial era a Católica Apostólica Romana e o Imperador tinha poderes de nomear os membros do clero, amparado pelo regime de Padroado, que oficializava uma pacífica e conveniente convivência entre a Igreja e o Império Português. Entretanto, em 1864, o papa Pio IX emitiu uma bula determinando que todos os católicos envolvidos com a prática da maçonaria fossem imediatamente excomungados da Igreja.
O Imperador brasileiro não reconheceu a ordem dada pela Santa Sé o que, em princípio, não teve maiores repercussões, tendo em vista que a maioria dos clérigos brasileiros apoiava incondicionalmente o regime monárquico. Mas os bispos de Olinda e Belém preferiram acatar a orientação de Pio IX, promovendo a expulsão dos párocos envolvidos com a maçonaria.
A reação do Governo foi dura e imediata, impondo aos bispos uma condenação à reclusão e prestação de trabalhos forçados. Imediatamente, os membros da Igreja passaram a atacar o regime imperial dizendo que D. Pedro II cometera um ato de extremo rigor e autoritarismo.[i]
Dom Fr. Vital Maria

Embora os protagonistas fossem os dois prelados e os Governadores do Bispado, muitos outros religiosos tomaram parte nesse episódio. Um deles, o padre Themístocles Gonçalves de Andrade, esteve presente e subscreveu manifestações emitidas pelo Bispo e pelo Governador, manifestações estas subscritas por membros do clero pernambucano e publicadas nos jornais do Recife e do Rio de Janeiro.
No dia 2 de janeiro de 1874, ao receber a ordem de prisão emitida pelo Juiz Criminal das Execuções, frei Vital emitiu veemente protesto[ii]:
“Nós, Dom Fr. Vital Maria Gonçalves de Oliveira, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo da Diocese de Olinda, do Conselho de Sua Majestade o Imperador.
Protestamos, em face do nosso rebanho muito amado e de toda a Santa Igreja de Jesus Cristo, da qual somos Bispo, posto que muito indigno, que deixamos esta cara Diocese, que foi confiada a nossa solicitude e vigilância, porque dela somos arrancados violentamente pela força do Governo.
Protestamos, outrossim, com todas as forças de nossa alma, contra essa violência que em nossa humilde pessoa acaba de ser irrogada a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, violência que jamais será capaz de alienar os nossos direitos, privilégios e prerrogativas de Supremo e Legítimo Pastor desta Diocese.
Protestamos finalmente que, em todo e qualquer lugar onde nos acharmos, conservemos fielmente o mais ardente amor e a mais profunda dedicação aos nossos queridos diocesanos cuja guarda a Deus confiamos e, depois, aos Governadores por nos nomeados.
E para testemunhas deste protesto, invocamos a Deus, ao nosso Rebanho muito amado, e aos nossos empregados e oficiais que presentes se acham.
Exarado em nosso Palácio da Soledade, às 2 ¼ horas da tarde de 2 de janeiro de 1874, uma hora depois da intimação oficial.
+ Fr. Vital, Bispo de Olinda,
Padre Joaquim Graciano de Araújo, Provisor e Vigário Geral; Padre Miguel Américo Pereira de Souza, Secretário do Bispado; Padre Dr. Francisco Rego Maia, Secretário de Sua Excelência Reverendíssima; Padre Joaquim da Assumpção, Escrivão da Câmara Episcopal; Padre Valeriano de Alleluia Correia, 1º Oficial da Câmara; Padre José Affonso de Lima e Sá, 2º Oficial da Secretaria; Padre Juvêncio Veríssimo dos Anjos, Capelão do Cemitério; Padre Sebastião Constantino de Medeiros, Lente Substituto de Moral; Diácono Themístocles Gonçalves de Andrade
Dom Antônio de Macêdo Costa

Em 21 de março de 1874, o bispo chegou à Fortaleza de São João, bairro da Urca, no Rio de Janeiro, para cumprir a pena a que tinha sido condenado em 21 de fevereiro de 1874: quatro anos de prisão com trabalhos forçados. Entretanto, por intercessão da Princesa Izabel, o Imperador havia comutada a pena em prisão simples, desobrigando-o dos trabalhos forçados. A própria Princesa Isabel esteve no cárcere para visitá-lo e, com a ajuda dela, D. Vital pôde chamar à fortaleza os seminaristas de Recife que já estavam prontos para ordená-los ali mesmo. (Dom Vital e a Maçonaria, https://permanencia.org.br/drupal/node/672)
Assim foi que, no dia 19 de dezembro de 1874, o então diácono Themístocles Gonçalves de Andrade recebeu a Ordem de Presbítero conferida pelo próprio Frei Vital, na capela da prisão.[iii]
Investido da nova Ordem, o Padre Themístocles parte do Rio de Janeiro em companhia do colega João Carlos de Moura, no vapor americano South América, com destino ao Recife aonde chegou no dia 30 de dezembro de 1874.[iv] Já no dia 2 de janeiro de 1875, exatamente quando completava um ano da prisão de D. Vital, cantou a sua primeira missa, em cerimônia liderada pelo Padre Dr. Francisco Rego Maia, à qual compareceram cerca de quatrocentas pessoas.[v]
A 16 de janeiro de 1875, às 9:00 horas, o Governador do Bispado, o chantre José Joaquim Camello de Andrade, recebe voz de prisão por haver sido pronunciado pelo Dr. Juiz de Direito de Olinda no Art. 96 do Código Criminal. Tendo o Governador declarado que somente à força se entregaria à prisão, apresentou-se-lhe o major do corpo de polícia, acompanhado do Escrivão do Júri, e estes o levaram em carro para o seu destino. Antes de abandonar a sua residência, e a exemplo do que fizera frei Vital, deixou registrado o seu protesto[vi], solicitando ao Padre Themístocles que o lesse em voz alta, mandando-o publicar nos jornais:
“Chamo a Deus a aos católicos desta Diocese como testemunhas como sou violentado e constrangido pela força física a entregar-me a uma prisão iníqua e ilegal, por não poder nem dever praticar um ato condenado pela Lei divina e humana, levantando os interditos lançados pelo Exmº e Rev.º Dom Frei Vital Maria de Oliveira, único pastor legítimo da Diocese, contra algumas capelas e irmandades recalcitrantes, além de que, não estando eu munido de poder bastante e necessário para fazer o que me impõe o governo do meu país, cuja competência em matéria temporal nunca deixei de reconhecer e acatar, não podia, nem posso prestar-me ao cumprimento do Aviso de 12 de junho de 1873, expedido pelo Ministério dos Negócios do Império, e que me foi intimado por mandado do Dr. Juiz de Direito da Comarca.
É, portanto, uma violência que sofro injustamente, e contra a qual não posso deixar de protestar formal e solenemente, como de fato protesto, condeno, obrigado pela Força Pública.
Com a mão na consciência, apelo para o juízo infalível daquele Juiz incorruptível, que nos há de julgar a cada qual, segundo as suas obras e intenções.
Perdoo e peço a Deus que perdoe àqueles que me perseguem e torturam, pelo fato único de ser eu católico apostólico romano, e sacerdote que reconheço não poder impunemente transgredir a lei de Deus.
Minha residência, 16 de janeiro de 1875 – chantre José Joaquim Camello de Andrade.
(estavam presentes e subscreveram este protesto os senhores: Reitor Padre Sebastião Cavalcante de Medeiros, Padre Dr. Francisco do Rego Maia, Padre Joaquim d’Assunção, Padre Themístocles Gonçalves de Andrade e clérigo Severo Gonçalves Pires.”
Prossegue a crise entre o Império Brasileiro e a Igreja Católica. Ocorreu, no entanto que, tendo caído o Gabinete do Visconde do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos, pai do Barão do Rio Branco, de mesmo nome), e extremamente desgastado, o Governo cede e emite o Decreto Nº 5.993, de 17 de setembro de 1875, que em seu artigo único diz:
“Ficam amnistiados os Bispos, Governadores e outros Eclesiásticos das Dioceses de Olinda e do Para, que se achem envolvidos no conflito suscitado em consequência dos interditos postos a algumas Irmandades das referidas Dioceses, e em perpetuo silencio os processos que por esse motivo tenham sido instaurados”.
A Vila do Pão de Açúcar. 1875. Foto Marc Ferrez 

A notícia da libertação e anistia dos dois bispos e respectivos governadores do bispado se espalhou e foi comemorada em todos os cantos do País. Em Pão de Açúcar, por exemplo, a notícia chegou no dia 20, uma segunda-feira, à tarde. O correspondente do Jornal do Penedo, que não nos é dado saber o verdadeiro nome, posto que oculto sob o pseudônimo de “Descartes”, dá conta de como ele próprio a divulgou a partir de cartas particulares recebidas de Penedo.[vii]
Valho-me do inteiro teor da sua própria correspondência, publicada no Jornal do Penedo, edição de 16 de outubro de 1875, para expressar a farta comemoração promovida naquela Vila:
 “Pão de Açúcar, 4 de outubro de 1875.
Estimados Redatores,
Realizou-se enfim, por Decreto de 18 de setembro último, a anistia dos Mártires da Fé, os venerandos bispos de Olinda e Pará e dos respectivos Governadores.
Chegou esta alegre notícia nesta Vila no dia 20 (segunda-feira) à tarde por cartas particulares dessa cidade onde, por telegramas garantidos, havia chegado a fausta nova. E sendo a pessoa que nos escreveu merecedora de todo crédito, garantiu a veracidade da notícia e nos autorizou a transmiti-la, e isto imediatamente fizemos, e o podo não hesitou em crer, manifestando logo grande contentamento.
O nosso digno pároco, padre Antônio José Soares de Mendonça[viii], mandou imediatamente repicar o sino da matriz e soltar foguetes. A Vila ficou logo em agitação e o regozijo era geral. Dentro de poucos minutos, como que por encanto, subiam foguetes de todos os cantos e até das choupanas de palha dos confins das ruas. Ao lusco-fusco, estava a Vila toda brilhantemente iluminada e os foguetes troavam nos ares sem interrupção.
A Casa do Senhor estava iluminada toda pelo interior e na frente. O digno Vigário dirigiu-se à Igreja que já estava literalmente cheia de fiéis, e aí entoou uma Ladainha em louvor da Excelsa Senhora pela graça que acabava de conceder da liberdade dos Príncipes da igreja, injustamente encarcerados. Para este ato, prestou-se gratuitamente a música de orquestra do Sr. Nascimento Mazoni.[ix]
No fim do ato o reverendo pároco, possuído de imenso prazer, dirigiu duas palavras, análogas ao acontecimento, a seus paroquianos e convidou-os par assistirem no domingo próximo a uma Missa cantada e Te-Deum às suas expensas, em ação de graças pela liberdade do nosso Diocesano, o venerável Dom Vital e respectivos governadores deste Bispado.
Findo o ato religioso, se dirigiu a dita música para a casa do distinto vigário, onde compareceram alguns amigos deste, e ali executou lindas valsas e contradanças, oferecendo o Senhor Vigário uma lauta refeição. Nessa ocasião, trocaram-se muitos brindes e ergueram-se vivar: à Religião Católica; ao Imperador; ao Gabinete 25 de junho; aos Bispos e seus governadores mártires, etc...
A música marcial da Sociedade União-Marcial saiu pelas ruas tocando lindas peças, ao som de estrepitosos e frenéticos vivas, e muito fogo do ar, recolhendo-se depois de ter percorrido todas as ruas. Os toques de sino de espaço em espaço, os foguetes, as músicas, os vivas, a iluminação, o alvoroço do povo pelas ruas, tudo em suma, dizia prazer, regozijo, contentamento geral, senão impossível de se descrever, ao menos difícil, máxime por uma pena mal aparada como a nossa. Durou a festa popular até as 3 horas da madrugada, sempre com entusiasmo.
No domingo, 26, como fora anunciado pelo reverendo pároco, teve lugar a Missa solene pela manhã e Te-Deum à noite, deixando de haver procissão à tarde. Para as solenidades deste dia prestou-se gratuitamente a música de orquestra do Senhor Nascimento Mazoni, tendo corrido todas as mais despesas por conta do referendo pároco. Depois do Te-Deum, saiu a música União-Marcial a percorrer as ruas, dando vivas e soltando foguetes, e parando na frente da casa do Sr. Dr. Juiz de Direito[x], onde executaram uma escolhida pela musical, saiu à porta o Sr. Dr. José Luiz Coelho e Campos[xi], uma das capacidades robustas de Sergipe, que nessa ocasião se achava nesta Villa, onde patrocina uma causa, e fez de improviso um eloquente discurso análogo ao ato, concluindo com vivas à Religião, ao Gabinete 25 de junho, aos Bispos, etc.
A outra música tocava em casa do Vigário, que ofereceu uma profusa refeição aos amigos que ali se achavam, entre os quais foram trocados diversos brindes e levantados muitos vivas.
Nas testadas de muitas casas existiam lanternas, bem como na frente da Matriz. A manifestação nesse dia ainda durou até mais de ½ noite. Por conseguinte, o povo desta Vila não foi indiferente ao Ato que restituiu a liberdade dos Bispos e governadores; e nem o devia ser. Estou, pois, contentíssimo por ter visto a realidade daquilo que, de coração, desejava. (Descartes)”
Dr. Coelho e Campos

Joaquim Antônio do Nascimento Mazoni-músico

Quase ao final daquele ano atribulado, o padre Themístocles pode, enfim, se permitir um pequeno descanso. Foi para Pão de Açúcar passar as festas de Natal e Ano Novo com a família,[xii]retornando no final de janeiro de 1876. Neste mesmo ano, a 8 de fevereiro, foi nomeado Promotor Interino do Juízo Eclesiástico.[xiii]
Ocupou ainda outros importantes cargos: a 9 de janeiro de 1879, Vice-Reitor do Seminário Menor de Olinda; a 17 de maio de 1880, por título da vigararia capitular, foi nomeado Secretário do Bispado de Olinda.
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O padre Themístocles Gonçalves de Andrade nasceu (segundo Aldemar de Mendonça) em 1851. Entretanto, conforme o Diário de Pernambuco, edição de 19 de maio de 1923, teria nascido a 28 de dezembro de 1850. Era filho do Tenente-Coronel José Gonçalves de Andrade[xiv] e de Ana Maria do Sacramento, irmã do famoso médico Dr. Miguel Alves Feitosa.
Foram seus irmãos: José Gonçalves de Andrade Filho[xv], Aprígio Gonçalves de Andrade, Maria Alves do Sacramento (casada com José Vicente de Medeiros) e Clara, que morreu pequena.
Do segundo casamento de seu pai (com Dona Cândida Delfina do Coração de Jesus), nasceram os seus meios-irmãos: 1. Luiz Gonçalves de Andrade, que também era padre; 2. Leopoldo Gonçalves de Andrade, professor em Jacaré dos Homens e casado com Antônia Clotilde Alves Souto; 3. Francisca Delfina de Andrade, casada com Francisco Alves Feitosa Franco; 4. Cândida Delfina de Andrade, casada com Miguel de Freitas Machado.
Desse segundo consórcio, por meio de casamentos com membros das famílias Machado, Silva, Souto, Anjos e Dantas, adveio numerosa descendência, destacando-se o Ex-Deputado Segismundo Gonçalves de Andrade; o industrial e comerciante Nozinho Andrade; os ex-Prefeitos Jorge Silva Dantas e Jasson Silva Gonçalves; o médico e Intendente Dr. Luiz Machado de Andrade; o químico-farmacêutico Prof. José de Freitas Machado; o Professor Antônio de Freitas Machado; o médico sanitarista e Gestor Público Álvaro Antônio Melo Machado, entre outras personalidades de destaque nos mais diversos campos de atividade.
No dia 21 de fevereiro de 1968, chega ao Recife no vapor Jequiá. Com apenas 17 anos, ingressa no Seminário de Olinda, onde cursou teologia e humanidades.[xvi]
Por ocasião do trigésimo dia do seu falecimento (ocorrido a 7 de abril de 1881), foi celebrada uma Missa Cantada e Libera na Capela do Seminário de Olinda. Publicou-se também uma Oração Fúnebre, pronunciada pelo Padre João Marques de Souza, em cuja festa de primeira missa, em 1874, fora pregador.
O Jornal do Penedo, de 18 de junho de 1881, registra a divulgação de um folheto com dados biográficos do Padre Themístocles, feito pelo então Acadêmico de Direito, Miguel de Novaes Mello, que seria Juiz de Direito e primeiro Intendente (Prefeito) de Pão de Açúcar.
O Padre Themístocles era absolutamente fiel aos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana. Tanto que, ao lado de algumas dezenas de membros do clero pernambucano, subscreveu manifestação (publicada no Diário de Pernambuco, Recife, 9 de novembro de 1880, p. 3.), protestando energicamente “contra os erros, heresias e blasfêmias publicadas nas colunas do Jornal do Recife, pelo ministro evangélico nesta cidade John Rockwell Smith, contra a justiça de Deus, infalibilidade do Papa, sacramento do batismo e seu caráter indelével, necessidade das boas obras, celibato católico...”
Por ironia do destino, seis anos após o seu falecimento, o próprio Rev. Smith[xvii] iria para Pão de Açúcar, no longínquo sertão Alagoano, fincar as bases do protestantismo com a fundação da Igreja Presbiteriana Independente. (vide Protestantismo em Pão de Açúcar – as origens – http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2015/10/protestantismo-em-pao-de-acucar-as.html)
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Nota. As informações de natureza genealógica foram prestadas por José Teófilo Neto, a quem muito agradeço.

NOTA:

Caro leitor,
Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também a necessária citação de autoria e as referências citadas. Isso é correto e justo.
Segue abaixo, como exemplo, a forma correta de referência:
AMORIM, Etevaldo Alves. Maceió – O PADRE THEMÍSTOCLES E A QUESTÃO RELIGIOSA – REPERCUSSÕES EM PÃO DE AÇÚCAR. Maceió, Janeiro  de 2020. Disponível em: http://www.blogdoetevaldo.blogspot.com.br/. Acesso em: dia, mês e ano.








[i] https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/questao-religiosa.htm
[ii] A Província, Recife 4 de janeiro de 1874, p. 2.
[iii] Diário de Pernambuco, 28 de dezembro de 1874, p. 2. O Apóstolo, RJ, 24 de dezembro de 1874, p. 4.
[iv] Diário de Pernambuco, 1º de janeiro de 1875, p. 3.
[v] O Apóstolo, RJ, 14 de janeiro de 1875, p. 3.
[vi] Jornal do Penedo, 13 de fevereiro de 1875.
[vii] Jornal do Penedo, 16 de outubro de 1875. Tenho motivos para suspeitar que o “Descartes” seria o jornalista Achilles Balbino de Leles Mello, que pouco tempo depois seria proprietário do jornal O Trabalho, em Pão de Açúcar e depois Penedo.
[viii] Foi o primeiro Vigário da Paróquia de Pão de Açúcar.  Nasceu em Penedo a 6 de maio de 1827. Filho de Antônio José Soares e Antônia de Jesus. Seu paroquiato durou 52 anos, perdurando até o seu falecimento em 16 de março de 1906.
[ix] Joaquim Antônio do Nascimento Mazoni nasceu em Vila Nova (atual Neópolis-SE) a 5 de maio de 1836 e faleceu em Penedo-AL a 16 de julho de 1891. Era filho de Francisco Antônio Mazoni e Maria Margarida do Nascimento. Casou-se com Genoveva Angélica de Lima Mazoni, em Pão de Açúcar-AL, a 1º de dezembro de 1866.
[x] Dr. Antonio de Oliveira Cardoso Guimarães
[xi] José Luís Coelho e Campos nasceu no engenho de Mata Verde, município de Divina Pastora (SE), no dia 4 de fevereiro de 1843, filho do capitão José Luís Coelho e Campo e de Carlota Joaquina de Campos. Faleceu no Rio de Janeiro, em 13 de outubro de 1919. Formado pela Faculdade de Direito do Recife em 1862, tornou-se brilhante advogado e Deputado por Sergipe.
[xii] Jornal do Penedo, 13 de novembro de 1875, p. 3.
[xiii] A Província, Recife, 8 de fevereiro de 1876.
[xiv] O Tenente-Coronel José Gonçalves de Andrade (falecido em Pão de Açúcar a 11 de dezembro de 1880) foi agraciado pelo Imperador Pedro II com a comenda da Ordem da Rosa, no Grau de Cavaleiro, juntamente com o Cap. Pedro Soares de Mello Alvino Cesão, avô materno de Bráulio Cavalcante.
[xv] Era professor de Primeiras Letras do Seminário Menor de Olinda quando seu irmão, o Pe. Themístocles, era Vice-reitor. Foi Secretário do Instituto Literário Olindense. Foi membro da Ordem Terceira de São Francisco, em Olinda.
[xvi] Jornal do Recife, 22 de fevereiro de 1868, p. 2.
[xvii] John Rockwell Smith. Nasceu em Lexington, Kentucky, EUA, a 29 de dezembro de 1846 e faleceu em Campinas=SP a 12 de abril de 1918.

sábado, 11 de janeiro de 2020

CÔNEGO OCTÁVIO COSTA


Por Etevaldo Amorim
O Cônego Octávio Costa. Foto: acervo
Aldemar de Mendonça.
De vida breve, mas intensa e produtiva, ele foi uma das expressões maiores do clero alagoano em sua época. Doutor em cânones[i] pela Catedral de Olinda, lente catedrático do Lyceu Alagoano, Vice-Reitor do Seminário de Olinda, Capelão do Asilo da Tamarineira, vigário de União (1896) e Jaraguá.[ii] Culminou com o posto de pároco da Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, de 1899 a 1907 (em março de 1896 já regia a Paróquia no impedimento do titular)
Foi Capelão de diversas associações e confrarias, como, por exemplo, a Archiconfraria de Nossa Senhora das Victórias e a Venerável Confraria do Rosário.[iii] Foi também Mordomo da Irmandade do Senhor Santíssimo Sacramento e da do Livramento, Juiz da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário.
Criou a Sociedade São Vicente de Paula e, em 1904, a Sociedade Auxiliadora dos Cristãos, com o fim especial de enterrar os mortos desvalidos.  Foi ainda Presidente da Sociedade Gladientes.
Sua origem, pouco referida, foi na sertaneja Pão de Açúcar, então uma pequena Vila, situada na margem esquerda do Rio São Francisco. É que seu pai, o professor público José Casimiro da Costa[iv], homem de largo conhecimento e ilibada reputação, ali chegara a 8 de março de 1865 para lecionar em uma das Cadeiras criadas pelo Governo Provincial. No ano seguinte, a 1º de novembro, nascia o menino Octávio José de Farias Costa. Sua mãe, Antônia Rosa de Farias Costa, ao que tudo indica era de família pão-de-açucarense.
A Vila do Pão de Açúcar, 1869. Foto: Abílio Coutinho
Seus avós paternos eram: Félix José da Costa (falecido em Propriá - SE aos 96 anos de idade, no dia 19 de julho de 1905) e Delfina Maria da Conceição. Maternos, Antônio José de Farias e Maria Clara da Graça Farias.
Eram seus irmãos: Josefina Domitila de Farias Costa (casada com José Ovídio da Silva Braga), Clotildes Rosa de Farias Costa, Theodolinda Othilia de Farias Costa, José de Farias Costa, Delfina de Farias Costa, (também nascidos em Pão de Açúcar) e Maria Emilia da Costa Silveira (esposa de Manoel Macedo da Silveira), Felisbela Rosa de Farias Costa, e Antônio José de Farias Costa (casado com Maria Nunes Leite Costa), estes nascidos em Traipu.
Após os estudos secundários no Liceu Alagoano, em Maceió, seguiu para o Seminário de Olinda. Recebeu tonsura em 25 de maio de 1890, por D. Antônio Cândido de Alvarenga, bispo da Diocese do Maranhão, que se achava hospedado no Palácio da Soledade, da Arquidiocese de Olinda[v]. Em 21 de dezembro de 1892, na Matriz da Boa Vista, pelo Bispo Diocesano de Recife, recebeu a ordem de Presbítero.[vi] Tornou-se Cônego a 30 de maio de 1894.
Após longos dias de grave enfermidade, que o fez até mudar de ares transferindo rua residência para o Alto do Farol, faleceu no dia 23 de maio de 1907, sob a assistência do seu abnegado médico, o distinto Dr. Afrânio Jorge. Ocupava então o posto de vigário da Freguesia de N. S. dos Prazeres, tendo substituído o Cônego João Machado. Era também Senador Estadual e sócio do Instituto Arqueológico e Geográfico de Alagoas, do qual foi seu Tesoureiro. Escreveu: ELEMENTOS DA ARTE DA MÚSICA, Maceió, livraria Fonseca, 1904.
Na Catedral, onde foi velado, oficiaram-se as cerimônias da liturgia e rito católicos, pelo Bispo Diocesano. Ao seu sepultamento, realizado ao final da tarde do mesmo dia, acorreram cerca de cinco mil pessoas. Estiveram presentes os representantes de todas as entidades religiosas, o Governador do Estado e seus Secretários, seus Pares do Senado Estadual e da Câmara, além dos membros da imprensa.
À beira do túmulo, oraram os senhores Dr. Demócrito Gracindo, em nome do Corpo Docente do Ginásio Alagoano; o acadêmico Aurélio Jatubá, pela Sociedade Auxiliadora dos Cristãos; Senador Pedro Pacífico de Barros, pelo Senado Estadual; e o Cônego Machado de Melo, representando o Clero.[vii]
O seu falecimento, prematuro e profundamente sentido, foi noticiado por diversos órgãos da imprensa do país, a exemplo da revista O Malho (RJ, 6 de julho de 1907, p. 20) que estampou uma foto sua e a legenda:
“Estimadíssimo, a sua morte abriu um vácuo profundo no seio da sociedade que o conhecia e respeitava.”
O cônego Octávio Costa. Foto: O Malho,
Rio de Janeiro, 7 de julho de 1907.



[i] Antigo curso ou faculdade de teologia.
[ii] A União, RJ, 20 de outubro de 1921, p. 2.
[iii] O Malho, RJ, 6 de julho de 1907, p. 20.
[iv] Nascido em Propriá (SE) a 4 de março de 1842 (filho de Félix José da Costa, natural do Penedo e de Delfina Maria da Conceição, natural de Cedro-SE). O Capitão José Casimiro da Costa, que também chegou a compor o Conselho Municipal (cargo equivalente a Vereador) foi removido para Traipu no dia 20 de janeiro de 1876, “por conveniência do Serviço Público”. Na verdade, fora perseguido em virtude de suas posições políticas.  Faleceu em Maceió, a 6 de março de 1896, por volta das 3 1/2 da tarde, na sua residência na Rua Augusta.
[v] Diário de Pernambuco, 28 de maio de 1890.
[vi] Diário de Pernambuco, 20 de dezembro de 1892.
[vii] Gutenberg, Maceió, 24 de maio de 1907.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia