domingo, 9 de maio de 2021

VISITA PASTORAL – RECEPÇÃO DO SR. D. ANTÔNIO BRANDÃO EM PÃO DE AÇÚCAR

 

Dom Antônio Manoel de Castilho Brandão




Às 4 ½ horas da tarde do dia 17 foi dado o sinal convencional, pelos repiques dos sinos, fogos do ar e salva, de que a canoa portadora do Exmº Prelado estava acima do Farias[i]. Imediatamente, o Revmº Vigário[ii] dirigiu-se para o porto, acompanhado do Dr. Juiz de Direito, Promotor Público, das pessoas mais gradas de todas as classes, de um grande número de Senhoras e Mocinhas ricamente trajadas, da banda musical e de uma multidão popular, calculável em cerca de 2.000 pessoas de ambos os sexos.

A estrada por onde devia transitar S. Ex.ª estava elegantemente adornada de festões e arcos triunfais, encimados de infinidade de bandeiras multicores.

Às 5 horas aportava a canoa, também embandeirada no todo, sendo saudado o Sr. Bispo ao toque do Hino Alagoano. Desembarcando S. Exª, seguiu pelo areal, palmilhando o soalho de tábuas que se havia aparelhado até a cidade.  Paramentou-se em casa do Cap. Vieira Damasceno, fazendo sua entrada triunfal na cidade em trajes puramente episcopais, de mitra e báculo à mão.

Chegando à Matriz, foi cantado o Ecce Sacerdos Magnus[iii]. O egrégio Pastor endereçou ao povo a sua palavra cheia de unção, e, depois de declarar aberta a visita, deu a bênção a todos.

Da Matriz até a casa do seu caro progenitor Cap. Antônio Manoel, onde se hospedou, não podendo S. Exª resistir a instâncias, seguiu no carro triunfal que lhe haviam preparado.

Ao chegar à casa de sua hospedagem, saudou-o em nome do povo pão-de-açucarense, o Dr. Jovino da Luz. O talentoso orador, referindo-se em sua entusiástica alocução ao fato de ter o Sertão de Alagoas dado um filho qual D. Antônio Brandão, ex-Bispo do Pará e fundador do Bispado de Alagoas, pelo qual deixou as vantagens daquele grande e rico Bispado, salientou os méritos de S. Exª, fazendo ver os justos motivos de entusiasmo e de orgulho que sentiam os pão-de-açucarenses na chegada do venerando Pastor.

Terminou dando vivas à Igreja Católica, ao Bispado de Alagoas, ao Prelado Diocesano, ao Cap. Antônio Manoel Brandão, ao povo e ao Vigário da Freguesia.

Incontinenti, foi oferecido a S. Exª um lindo ramalhete pela esbelta e gentil criança Isaura Canuto. Também usou da palavra uma graciosa mocinha que, possuída de patéticos sentimentos de religião, saudou a S. Exª, implorando sua autorizada palavra contra o protestantismo.

Sua Excelência respondeu agradecendo a manifestação em palavras cheias de emoção. Disse que a manifestação de seus conterrâneos era recebida com a maior satisfação, porque era dirigida mais ao enviado do Senhor do que à sua personalidade; e que lia só nos arcos triunfais, nas bandeiras, nas salvas, mas nos corações, que conhece perfeitamente.

Com relação ao apelo que lhe fez a jovem oradora, S. Exª afirmou que o protestantismo em Pão de Açúcar, em vez de crescer, tem decrescido e não pode medrar, devido ao desprezo que lhe dão os católicos.

Ao terminar, S. Esª foi estrepitosamente saudado com vivas e com o Hino Alagoano, continuando a banda de música a tocar, no palanque preparado à frente ao provisório Palácio Episcopal, as mais lindas peças do seu repertório.

O povo esteve reunido até as 10 horas, quando subiu ao ar o mais bonito balão que já se viu nesta cidade. Trabalho executado pelos inteligentes moços, os irmãos Domingues – ambos pirotécnicos – com belas cores, inscrições alusivas e despedindo na ascensão os mais lindos fogos, foi oferecido ao Sr. D. Antônio pelo seu afilhado Manuel Domingues.

À tarde do dia 18 foi S. Exª visitar a obra da Capela do Senhor do Bomfim. A praça achava-se ornamentada de festões verdejantes, coroado de galhardetes. O Príncipe da Igreja foi recebido com salvas de bombas e foguetaria. À noite, a Sociedade Musical, depois de ir, do palanque, cumprimentar a S. Exª, encaminhou-se à Praça do Bomfim, onde permaneceu até as 10 horas, depois de haver se elevado aos ares um outro aeróstato. Os festejos da Praça do Bomfim foram promovidos pelo Sr. Diocleciano Barbosa e seus sobrinhos Domingues, em homenagem a S. Exª.

A manifestação tributada ao preclaro Prelado foi esplêndida, e tanto mais honrosa por ser oriunda de contribuição espontânea, sem pedidos do Revº Pároco nem de outra comissão. S. Exª tem sido, todos os dias, muito visitado por seus parentes, amigos e povo em geral.

Quanto ao Sacramento do Crisma, tem-no administrado diariamente, fazendo-o até duas vezes por dia. Tem concedido dispensas para casamentos, promovendo e facilitando os dos que vivem em união ilícita, mesmo sob o amparo exclusivo da formalidade civil.

Na sua faina pastoral, visitará S. Exª a igrejinha dos Meirus, irá benzer o cruzeiro do Morro do Cavalete e rezar uma Missa Campal no cemitério.

Pão de Açúcar, 21 de setembro de 1904.

_______

Transcrito do jornal A Fé Cristã, Penedo, edição de 1º de outubro de 1904

http://memoria.bn.br/DocReader/213217/526

Igreja do Senhor do Bomfim, 1919.
Igreja do Povoado Meirus

Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus-Pão de Açúcar-AL, 1910.









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[i] Morro situado à margem esquerda do rio São Francisco, pouco abaixo de Pão de Açúcar-AL, fronteiro ao morro do Surubim (outrora chamado Morro do Calvário, segundo Vieira de Carvalho), abaixo do povoado Mocambo (município de Porto da Folha-Se).

[ii] Padre Antônio José Soares de Mendonça, primeiro Vigário da Paróquia de Pão de Açúcar (1853-1906)

[iii] O “Ecce Sacerdos Magnus” (Eis o Grande Sacerdote) é uma antífona que a liturgia da Igreja Católica Romana utiliza para a entrada solene de um bispo. Composta pelo músico alemão Josef Anton Bruckner (1824-1896).

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia