terça-feira, 21 de abril de 2020

INAUGURAÇÃO DO PRÉDIO PRÓPRIO DO GINÁSIO DOM ANTÔNIO BRANDÃO


Por Etevaldo Amorim

Há exatos sessenta e quatro anos, ainda experimentando seus primeiros passos, inaugurava-se o prédio próprio daquela que se constituiria uma das mais importantes e sólidas instituições de ensino: o Ginásio Dom Antônio Bandão.
Objeto da formação de tantas e tantas gerações de pão-de-açucarense, e até de outras cidades da Região, o Ginásio foi uma luz que se acendia naquela plaga alagoana. Quem por ali passou, jamais se esquecerá. Os mestres, os funcionários, os colegas; e até as salas com seus nomes, as carteiras, são lembranças que cultivamos com carinho e com saudade.
Considerando ser esta a melhor forma de relembrar esse fato relevante para a história de Pão de Açúcar, transcrevemos a reportagem contida na Revista Mocidade, que me foi presenteada pelo meu prezado amigo Álvaro Antônio Melo Machado.
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Prédio-Sede do Ginásio D. Antônio Brandão, situado à R. Cônego Jasson Souto
e defronte à R. Rosália Sampaio Bezerra, inaugurado no dia 21/04/1956.
“O GINÁSIO DOM ANTÔNIO BRANDÃO, DE PÃO DE AÇÚCAR, INAUGURA SEU PRÉDIO PRÓPRIO.
O Ginásio Dom Antônio Brandão, de Pão de Açúcar, existe desde 1951. Entretanto, sempre viveu em casa alheia. Começou no prédio do Grupo Escolar. Depois, o saudoso Cônego Jasson Souto[i] conseguiu que a Diocese de Penedo emprestasse a Casa de São Vicente, para onde se transferiu Ginásio. O velho professor Antônio Machado[ii], um velho moço, dinâmico, idealista, começou a trabalhar. Deu prá aperrear os deputados, os senadores, o povo, todo mundo. O então deputado Freitas Cavalcanti[iii], neto de Pão de Açúcar, como ele se intitula, por ter sido esta cidade o berço do seu progenitor, ficou impressionado com os rogos do Antônio Machado, e resolveu aplicar uma sangria nos cofres da Nação, em favor do pupilo. E correu alguma coisa. A isto se juntou muita coragem, muito esforço. Quando começaram a subir as paredes, muita gente derrotista dizia: “Isso não vai para diante”.  Não iria se não houvesse gente boa na frente. E aí está o prédio, que foi inaugurado em sua primeira etapa a 21 de abril último.
MOCIDADE fez-se representar. E lá vai a reportagem de nosso enviado especial:

COMO FOI A FESTA

- Como é, seu motorista, chega ou não chega a Pão de Açúcar?
- Calma, seu repórter, chega já.
- E os índios?
- Não faz mal. Levamos aqui dois filhos de caciques: o Zé Barbosa e o Zé Hamilton. Nada farão conosco.
E o carro devorava as estradas. De repente, após uma curva da estrada, divisa-se ao longo o São Francisco. Esse querido rio da unidade nacional e sua bela Jaciobá, o espelho da lua, com todos os seus encantos, estendendo-se aos pés do Cristo do monte, pináculo glorioso, a derramar suas preciosas bênçãos sobre o povo daquela terra.
Chega a Matriz. Estava sendo celebrada a Missa Solene. Ginásio, Escola Normal Rural, Grupo Escolar, gente muita, o padre[iv] no altar, uma schola cantorum do próprio Ginásio, e lá, nos primeiros bancos, felicíssimo, moço, cheio de vida, o herói do dia, o professor Antônio Machado.
- Cheguei muito tarde, Átila?
- Qual nada, padre! Os senadores Freitas e Rui ainda não chegaram. O Sr. dá notícias deles?
- Nada, meu velho! Mas sem dúvida eles vêm por aí. O velho seu pai tem prestígio para eles. Não vão faltar.
Acabada a missa, desfile escolar. Bandas marciais abrem a parada. Muito garbo, muita ordem, muita disciplina. Esse Ginásio Dom Antônio Bandão está mesmo uma maravilha.
- Professor Antônio Machado: eu estou encantado com tudo isto. Que maravilha!
- É isto mesmo, padre. A rapaziada tem gosto. Os professores ajudam. E esse João José de Melo é pau prá toda obra. Ensaia a missa cantada, dirige a parada e faz verdadeiros prodígios.
- Mas que tal se fôssemos ao encontro dos senadores?
- Ótimo padre!
Já perto de Pão de Açúcar, lá vem o carro que os conduz para as festas de inauguração do prédio próprio do Ginásio.
Troca de cumprimentos. E rumam todos à cidade.
Na frente do Ginásio, alunos uniformizados, famílias, autoridades, o povo em geral esperava a comitiva. O Serviço de alto-falantes local anuncia a chegada. Prorropem aplausos. Fala a normalista Maria José de Melo, que convida o senador Freitas Cavalcanti a cortar a fita simbólica, inaugurando o prédio construído com o dinheiro das sangrias.
Depois, fala o senador. Como sempre com eloquência e vibração cívica. É, de fato, o homem público consagrado.
E bento depois o Ginásio. Oficia o padre Teófanes[v]. E em seguida abramos um parêntese. Uma página de saudade.
O Ginásio inaugura uma sala em homenagem ao nosso inesquecível  Élio de Lemos França. Para inaugurar a sala Élio de Lemos, fala o professor João José de Melo. É um trabalho repassado de muita emotividade. É lembrada a estima e apreço que Élio devotava ao Ginásio Dom Antônio Brandão. E logo em seguia a aluna Maria Sara declama o poema “Cachoeira cruel”, de Vinícius Ligianus, pseudônimo sob o qual modestamente se oculta um educador que também e poeta, o protagonista do dia, nosso grande professor Antônio Machado.
E o padre Teófanes recorda-se que, anos atrás, na Casa de São Vicente, quando lhe era prestada uma homenagem com a dedicação de uma sala com seu nome, Élio Lemos agradeceu em seu lugar agradecendo. Agora chegara a hora em que deveria falar por Élio homenageado falecido. A comoção embarga-lhe a voz. Mas consegue sempre falar, mostrando não somente o valor do grande jovem como seu elevado apreço ao Ginásio Dom Antônio Brandão e a seu Diretor.
Fala inda o professor Átila Machado[vi]. Ressalta o quanto deve aquela obra aos ilustres visitantes. Demonstra a gratidão da cidade pão-de-açucarense. E a professora Maria do Carmo Nepomuceno, diretora do Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, em nome do Grupo saúda o Ginásio em eloquentes palavras, manifestando o regozijo que sente o professorado da terra com o progresso daquela Instituição.
Vem ao microfone o Senador Rui Palmeira[vii]. Sempre vibrante e cheio de entusiasmo, Rui felicita o povo da terra e enaltece os méritos que levaram avante aquele empreendimento. E por fim o deputado local Segismundo Andrade[viii], também usa da palavra, como filho da terra, para dizer alguma coisa da alegria que experimentava em ver o progresso de uma obra que tanto prezava, como o Ginásio Dom Antônio Brandão.
Falou  ainda o professor Antônio Machado, muito emocionado para agradecer as referências elogiosas a sua pessoa.

O NOVO PRÉDIO

Acha-se muito bem instalado o Ginásio Dom Antônio Bandão. Quatro amplas salas de aula, dentro dos requisitos da didática moderna, diversas salas especiais, instalações sanitárias, área coberta, tudo já pronto. E já estão iniciados os demais pavilhões. Já sobem as paredes das novas salas de classe, do auditório vasto e de outras salas especiais. Será um prédio escolar dos melhores do nosso interior. Podem os pão-de-açucarenses se orgulharem disso.
E depois...
Um lauto almoço na residência do professor Antônio Machado. Brilharam pela eloquência o Senador Freitas e do Deputado Segismundo. O Senador Rui, sempre irônico e ferino. O reverendo sereno, calmo, sorridente. E a turma da segunda mesa, sem o convencionalismo de praxe, livre, ardorosa, pronta para tudo.
- Vamos embora, seu motorista.
- Às ordens, seu repórter.
- E os índios?
- Vão ficar. Os caciques requisitaram. Vai haver festa na taba.
E o carro deixa Jaciobá, que vai ficando atrás, conduzindo a caravana MOCIDADE pelos sertões de Alagoas, onde a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos já começa a acender seus luzeiros para iluminar o povo de nosso querido e desolado Sertão”.
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Transcrito da revista MOCIDADE, Ano X – Abril e Maio de 1956, nºs 31 e 32.


       Primeira Turma do Ginásio D. Antônio Brandão - 1951: 1. Dr. João Cardoso (Promotor de Justiça da Comarca); 2. Prof. Átila Pinto Machado; 3. Dr. Olavo de Freitas Machado; 4. Prof. Antônio de Freitas Machado; 5. Luiz Rezende; 6. ______; 7. Aparecida; 8. Magnólia; 9. Lourdes Soares Pinto; 10. Miriam Pastor; 11. Achilina Soares Pinto; 12. Celeste (Irmã de Aparecida de Serapião); 13. Terezinha Silva (dos Anjos); 14. Benigna Rosa das Graças; 15. Carmelita Melo (Machado); 16. Celeste Pires Guimarães; 17. Shirley Fialho (de Andrade - “Pempa”); 18. Aparecida Alves Vieira (de Higino); 19. Melícia Marques; 20. Altamira; 21. Zilda (Irmã de Noé); 22. Miriam Pires Guimarães; 23. Solange Marques Albuquerque; 24. Odecila Gomes; 25. ______; 26. Elisabeth Carvalho; 27. Lacir Oliveira dos Anjos; 28. Socorro Lisboa (de Julinho); 29. Zuleide; 30. irmã de Nozo; 31. Hilda ou Ilza? (Souza); 32. Terezinha Pinto; 33. Nazaré Ramos; 34. Eulina Paiva Mazzoni; 35. Candinha Machado; 36. Reginaldo Brito; 37. Fernando Maciel Mendonca; 38. Eraldo Oliveira dos Anjos; 39. Antônio Melo Barbosa (Tonho de mestre Nozinho); 40. Paulo Pires Guimarães; 41. Everaldo Bomfim; 42. Nozo; 43. José da Cruz (Zé Miúdo). 44. Miguel Oliveira dos Anjos; 45. _______; 46. _______;
Concluintes 1954 – 1ª Turma. 1. Dr. Átila Pinto Machado; 2. Dr. Waldemar Custódio da Guia; 3. Prof. João José de Melo; 4. Pe. Luiz Ferreira Neto; 5. Pe. Medeiros Neto; 6. Cônego Jasson Alves. Souto. 7. Senador Freitas Cavalcanti; 8. Cônego Teófanes Augusto de Barros; 9. Eraldo Lacet Cruz; 10. Joaquim Cruz Rezende; 11. Élio Lemos França; 12. Prof. Antônio de Freitas Machado; 13. Reginaldo Brito; 14. Everaldo Pereira Bomfim; 15. Maria Celeste Pires Guimarães; 16. Solange  Marques Albuquerque; 17. Eulina Paiva Mazoni; 18. Mirian Pastor Cruz; 19. _______; 20. Odecila Gomes da Silva; 21. Magnólia; 22. Terezinha Silva; 23. Altamira G. Silva?; 24. Elita Brito.




[i]
Cônego Jasson Alves Souto. Filho de Antônio Alves Souto e Olímpia Souto. (20/04/2047-06/01/1953). Nasceu em Jacaré dos Homens (então município de Pão de Açúcar-AL) a 22 de outubro de 1909. Faleceu em Pão de Açúcar a 12 de dezembro de 1955.








Professor Antônio de Freitas Machado. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 3 de maio de 1895. Filho de Miguel de Freitas Machado e de Cândida Delfina de Andrade Freitas. Faleceu em Pão de Açúcar a 1º de agosto de 1970.









Senador Antônio de Freitas Cavalcanti, filho de Augusto Vieira Cavalcanti e de Aurora de Freitas Cavalcanti. Nasceu em Penedo-AL, a 12 de dezembro de 1908. Faleceu em Maceió no dia 29 de agosto de 2002.









Padre Luiz Ferreira Neto. (pároco de 06/01/1953-03/02/1963). Filho de João Ferreira da Silva e de Maria da Glória Jupi. Nasceu em Palmeira dos Índios, 17 de maio de 1918.









[v]
Cônego Teófanes Augusto de Araújo Barros, Padre Teófanes como era conhecido, nasceu no dia 13 de julho de 1912, no município de São José da Laje/AL. Faleceu em Maceió-AL, no dia 21 de junho de 2001. Filho de Teófilo Augusto de Araújo e de Otília Barbosa de Araújo Barros.








Dr. Átila Pinto Machado. Filho de Antônio de Freitas Machado e Ana Soares Pinto. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 2 de maio de 1930. Faleceu em Maceió a 1º de abril de 2001.









Senador Rui Soares Palmeira nasceu em São Miguel dos Campos (AL) no dia 2 de março de 1910, filho de Miguel Soares Palmeira e de Teresa Ferro Soares Palmeira. Faleceu no dia 16 de dezembro de 1968.









Deputado Federal Segismundo Gonçalves de Andrade. Nasceu em Pão de Açúcar a 19 de julho de 1922. Filho de José Gonçalves de Andrade (Zequinha Andrade) e Maria Etelvina Andrade. Faleceu a 24 de setembro de 2008.








Dr. José Hamilton Maciel Silva. Médico. Nasceu em Pão de Açúcar (AL), aos 22 dias do mês de outubro de 1940. É filho de Milton Gonzaga da Silva e Albertina Maciel da Silva.








Zé Barbosa. José Barbosa dos Anjos. Filho de Serafim Barbosa de Medeiros  e de Amália Barbosa dos Anjos (Dona Mocinha).

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia