quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A PROFESSORA ROSÁLIA SAMPAIO BEZERRA

 Por Etevaldo Amorim

Blog do Etevaldo

Pão de Açúcar-AL. Década de 1920. A Professora Rosália e seus alunos. Georgina de Carvalho Mello, filha de Alípio Gomes de Carvalho Mello e Maria Regina de Carvalho Mello, avó de Maria Rocha, é a terceira da direita para a esquerda, da segunda fila de cima para baixo.


Por mais de quarenta anos ela estimulou o raciocínio de muitas gerações de crianças de Pão de Açúcar. Como Professora do Ensino Primário, ensinou-as a ler e contar, libertando-as da escuridão da ignorância.

Pouco se sabe a respeito de Rosália Sampaio Bezerra. Seu nome, entretanto, está imortalizado porquanto dá nome a uma de nossas ruas e a uma Escola Estadual. 

Falecida já há mais de 53 anos (30 de dezembro de 1957), não sendo de Pão de Açúcar e não tendo deixado descendência, resta-nos apenas informações vagas colhidas de familiares de alguns de seus alunos.

Recentemente, encontrei no perfil de uma pessoa amiga numa rede social da internet, uma foto identificada como sendo da “Professora Rosália e seus alunos”. 

Surpresa!!! Temos, enfim, uma imagem da famosa Mestra.

Essa amiga, a também professora Maria Rocha, conseguiu da sua avó octogenária algumas informações: não era casada; veio para Pão de Açúcar com mais dois irmãos, que também moravam com ela: Rodolpho e Osvalda. Disse também que ela criou uma pessoa chamada Ivone, e que o irmão dela ensinava, às escondidas, as tarefas aos alunos, através do corredor da sala.

Sobre Rodolpho de Fraga Bezerra, pudemos apurar que ele estava, em 1904, no 1º Ano da Faculdade de Direito do Recife. Ainda como acadêmico, foi nomeado pelo Vice-Governador Antônio Máximo da Cunha Rego (no exercício do cargo de Governador) Juiz Substituto de Anadia. Gutenberg, Maceió, 9 de março de 1906.

Foi tão longa a atividade da Professora Rosália, que ela chegou a ensinar a sucessivas gerações da família de Maria Rocha: primeiro a avó Georgina (filha de Alípio Gomes de Carvalho Mello e Maria Regina de Carvalho Mello), na década de 1920; depois a mãe Norma, na década de 1930 e a tia Solange, na década de 1940.

Desde antes da construção do Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, cujas aulas iniciaram em 2 de julho de 1935 e do qual foi sua primeira Diretora, D. Rosália lecionava na sala de sua própria residência.

É muito pouco o que temos, considerando a sua importância para a Educação em nossa terra. Rogo, então, aos que mais souberem para que deixem aqui o seu recado e, assim, contribuam para a constituição de uma biografia digna da Grande Mestra.

***   ***

O texto acima é um resgate da postagem feita em 26 de janeiro de 2011. 

Decorridos treze anos, logramos conseguir mais alguma informação.

Rosália Sampaio Bezerra nasceu em 1881, provavelmente em Murici, já que sua irmã Guiomar, que também foi professora em Pão de Açúcar, apenas um ano mais nova que ela, ali nasceu em 24 de setembro de 1882. 

Era filha do Capitão Ramiro da Fraga Bezerra e da Srª Maria Sampaio Bezerra; neta paterna de Gilberto Bezerra e Maria Bezerra. 

Seu pai, quando faleceu em 1921, era 1º Escriturário do Tesouro do Estado de Alagoas.

Em 27 de junho de 1905, ele foi nomeado para 3º Suplente do Comissário de Polícia da Capital. Foi Subdelegado no Distrito de Santo Antônio da Boa Vista, em Muricy, onde também foi Delegado Literário e, em 1891, compunha a 6ª Companhia do 17º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional naquele Município.

Além de Guiomar, Rodolpho e Osvalda, tinha um irmão: Antão da Fraga Ribeiro, nascido em Camaragibe-AL, em 13 de janeiro de 1887 e falecido no Rio de Janeiro em 7 de maio de 1946.

Rosália Sampaio Bezerra formou-se professora no Lyceu Alagoano, tendo sido aprovada no primeiro ano com distinção no curso de Pedagogia, em 1905.

Antes de Pão de Açúcar, lecionou no povoado Olhos D’Água do Accioly, município de Palmeira dos Índios, atual cidade de Igaci. Por Decreto de 19 de fevereiro de 1915, foi removida para a Cadeira de Mar Vermelho, então município de Anadia. 

Não conseguimos precisar a data em que ela iniciou sua atuação em Pão de Açúcar. Entretanto, somos levados a crer que chegou junto com sua irmã Guiomar, que veio removida de Cajueiro (município de Paraíba, atual Capela), por Ato de 22 de janeiro de 1915, para a 2ª cadeira do sexo feminino de Pão de Açúcar. 

Ademais, sua assinatura consta em um Registro de Casamento realizado em Pão de Açúcar, na residência do Sr. Perdiliano Gomes de Carvalho Mello, no dia 25 de abril de 1918, em que constam como nubentes: Orlando Monteiro de Oliveira (natural do Rio Grande do Sul) e Anália de Souza (natural de Pão de Açúcar), filha de Maria Francisca de Souza. 

Por esse tempo, passaram por Pão de Açúcar: Maria Felicíssima Possidônio dos Santos, Joana Amélia Romeiro, Alice Menezes de Mesquita (esposa do Sr. Lucilo Mesquita), Cecília Maria dos Anjos Campos, Agripina Melo (nos Torrões, que pertencia a Pão de Açúcar); Ernesto Pereira Mello, em Meirus; e João Gomes da Silva (em Jacarezinho).

O nome da Professora Rosália aparece nos Almanaques e Relatórios entre 1929 e 1931. Por essa época, atuavam no município: Ana Vieira Conde, José Bento Lima, Annete de Mesquita Cavalcante, Alba de Mesquita, estas, filhas de José Venustiniano Cavalcante Filho e Theonilla de Mesquita Cavalcante e, portanto, sobrinhas de Bráulio Cavalcante; Alzira de Almeida e Astéria Melo e Maria da Glória Lyra (em Meirús).

Já nos tempos do Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, e sob sua direção, lecionavam as professoras: Flora Calheiros Martins (esposa do Dr. José Cotrim, que atendia no Posto de Saúde), Helena Calheiros Martins (irmã de Flora), Angelita Lins de Albuquerque e Alcina Mangabeira Canuto. Esta última também lecionou no Limoeiro, além de Diomédia Prazeres dos Santos, em 1923; Joana Coelho da Silva, em 1924, Maria do Céu Damasceno (Dona Céu), em 1929; e Maria José Feitosa (Sinharinha Feitosa), irmã do Sr. Juca Feitosa, já em 1937.

Na Ilha do Ferro, entre 1929 e 1937, ensinavam: Manoel Alves da Costa Lima (que dá nome à Escola Municipal ali existente); Juracy Lima e Regina Emirantina Bello. 

A professora Rosália Sampaio Bezerra faleceu em Pão de Açúcar no dia 30 de dezembro de 1957.

Digna de todas as homenagens, pela trajetória de absoluto devotamento à causa do ensino e à formação de cidadãos, ela mereceu dos pão-de-açucarenses a denominação de uma Escola Pública estadual e uma via pública.

Assim, por força da Lei Municipal nº 270, de 12 de junho de 1958, a rua Santa Maria passou a ter o nome de “Rua Professora Rosália Bezerra”. Essa via faz a ligação entre a Rua Cônego Jasson Souto (precisamente defronte à Unidade Municipal de Ensino Profª Maria Tavares Pinto, antigo Ginásio Dom Antônio Brandão) e a Praça Darcy Gomes.

Já a Escola Estadual, o antigo Grupo Escolar Rosália Sampaio Bezerra, está situada na Av. José de Freitas Machado, nº 300, próxima à Praça do Bonfim. Cabe observar que o cidadão que dá nome a essa rua é o Sr. José de Freitas Machado, conhecido por Zuza Machado, e não o seu primo José de Freitas Machado (Zeca), farmacêutico e químico, fundador da Escola Nacional de Química.

Rua Santa Maria - Pão de Açúcar-AL
A Rua Rosália Sampaio Bezerra recebendo pavimentação
durante a gestão do prefeito Augusto de Freitas Machado.

Escola Estadual Rosália Sampaio Bezerra - Pão de Açucar-AL
O Grupo Escolar Rosália Sampaio Bezerra durante a enchente
do rio São Francisco, em 1979.

Avenida Bráulio Cavalcante - Pão de Açúar-AL
Grupo Escolar Bráulio Cavalcante, que teve a Profª Rosália
como sua primeira Diretora. Foto: Elisabete Gandra, 1974.




NOTA:


Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O BARÃO DE PIAÇABUÇU

Por Etevaldo Amorim


João Machado de Novaes Mello
O Major João Machado de Novaes Mello
"Barão de Piaçabuçu"



João Machado de Novaes Mello, eis o nome de um dos mais respeitados líderes políticos da região do Baixo São Francisco, nos tempos do Império. Era tenente-coronel da Guarda Nacional, destacado líder do Partido Liberal e chefe político da sua região.

Nasceu entre 1818 e 1820, em Vila Nova, atual Neópolis, Estado de Sergipe. Era filho do sargento-mor Antônio Francisco de Novaes e Maria Magdalena Leite Sampaio.

Casou-se com Maria José de Novaes Mello, com quem teve os filhos: Manoel Leite de Novaes Mello (1849-1898), Josefina de Novaes Mello (1847-1893), Miguel de Novaes Mello (1851-1901), João Marinho de Novaes Mello (-1883), Antônio Ferreira de Novaes Mello (1856-1880) e José Matheus de Novaes Mello.


Era seu filho o primeiro prefeito (Intendente) do município de Pão de Açúcar, Alagoas – o juiz de direito Dr. Miguel de Novaes Mello. Ele também foi Deputado Provincial em Alagoas. (vide http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2015/07/miguel-de-novaes-mello.html)


Outro filho, nascido em Pão de Açúcar, foi o advogado Antônio Ferreira de Novaes Mello, formado na Faculdade de Direito de São Paulo em 1879 e Deputado Provincial em Alagoas. Faleceu em acidente ferroviário durante a construção da Estrada de Ferro Paulo Afonso, ocorrido no dia 17 de julho de 1880. Foi durante alguns anos o jornalista responsável pelo jornal Liberal em Maceió. (Vide http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2012/04/desastre-em-piranhas-e-morte-de.html )


João Marinho de Novaes Mello, major da Guarda Nacional, também seu filho, comerciante em Pão de Açúcar, membro do Conselho Municipal, faleceu em 1º de maio de 1883. Três anos antes, em 17 de julho de 1880, ele havia sobrevivido, com graves ferimentos, ao terrível acidente de que foi vítima fatal seu irmão Ferreira de Novaes.


Ainda outro filho do Barão teria enorme projeção: o médico Manoel Leite de Novaes Mello. Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, radicou-se no Espírito Santo. Sua carreira política contempla os cargos eletivos de vereador na Câmara Municipal de Cachoeiro do Itapemirim - ES, da qual foi presidente, em 1890; Deputado Provincial para a Legislatura 1876-1877 e Deputado Federal.


***   ***   ***

A primeira atividade pública do Major João Machado, de que se tem notícia, foi durante a presidência de José Francisco de Menezes Sobral, em 1847, como coletor de rendas em Capela, Província de Sergipe[i];


Em janeiro de 1859 foi nomeado major ajudante de ordens do comando superior da Guarda Nacional dos municípios de Porto da Folha (hoje Traipu) e Mata Grande, ambos em Alagoas.[ii] Quatro anos depois, em julho, foi nomeado Capitão Cirurgião-mor do Comando Superior da Guarda Nacional para os municípios de Porto da Folha (atual Traipu), Pão de Açúcar e Mata Grande.[iii]


Em 1877 já era Major e em julho de 1879, Comandante Superior em Pão de Açúcar, como Tenente-Coronel. Era também o Delegado de Polícia daquele município até 1880 e Suplente de Juiz Municipal em 1891.

Era também comerciante, estabelecido em Pão de Açúcar com lojas de tecidos.


Esteve presente à visita do Imperador D. Pedro II à cachoeira de Paulo Afonso, no dia 20 de outubro de 1859.[iv] Aliás, quando da passagem do Imperador D. Pedro II, demandando a Cachoeira de Paulo Afonso, foi no sobrado de sua propriedade (já transformado em Casa da Câmara) que ele pernoitou em Pão de Açúcar nos dias 17 para 18 e 22 para 23 de outubro de 1859.


No dia 22 de outubro de 1878, recepcionou o Presidente da Província, Dr. Francisco Carvalho Soares Brandão, quando de sua passagem por Pão de Açúcar com destino a Piranhas, onde assistiria à inauguração dos trabalhos da Estrada de Ferro, que aconteceria no dia 23. Vide http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2020/05/soares-brandao-em-pao-de-acucar.html.


Assim também o fizera em 1869, por ocasião da visita do então presidente da Província, Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior. Naquela oportunidade, posou para as lentes do fotógrafo Abílio Coutinho, na famosa fotografia da numerosa comitiva. De fraque e cartola branca, que mandou vir de Londres para aquela ocasião[v], lá estava ele no alto de seus cinquenta anos, já conceituado líder político da região. Essa fotografia, emoldurada por iniciativa do nosso historiador Aldemar de Mendonça, sempre esteve exposta no Prédio-sede da Prefeitura Municipal, sendo a única imagem conhecida do grande líder político.



O Major João Machado (2) junto à comitiva do Presidente da Província de
Alagoas - Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Junior (1). Pão de Açúcar, 8
de janeiro de 1869. Foto: Abílio Coutinho.

Recentemente, explorando um álbum que pertenceu ao venerável pão-de-açucarense Monsenhor Freitas, que me fora gentilmente cedido pelo Dr. Álvaro Otávio Vieira Machado (e que pertencera ao seu pai Sr. Armando Machado), eis que encontro a foto que encima estas notas, feita na Bahia pelo renomado fotógrafo Guilherme Gaensly, com estúdio no Largo do Teatro, 92[vi], cuja dedicatória se fez nos seguintes termos:


“Offerece o abaixo assignado em signal de amizade, Bahia, de 13 de maio de 1881. Pe. Freitas. (a) João Machado de Novaes Mello.”


Recebeu o título nobiliárquico de barão em 5 de outubro de 1889, um mês e cinco dias antes da queda da monarquia. O jornal O CONSTITUCIONAL, órgão do Partido Conservador, que circulava em Vitória-ES, veiculou a seguinte notícia, em sua edição de 24 de outubro de 1889:



BARÃO DE PIAÇABUÇU.


Foi agraciado com esse título o Coronel Novaes, pai do ilustrado clínico e hoje fazendeiro, o Dr. Manoel Leite de Novaes Mello.

Demos-lhe sinceros parabéns pela merecida distinção com que foi agraciado o seu ilustre progenitor, cidadão dos mais qualificados e beneméritos na província de Alagoas, onde reside.”


Por fim, já tendo cumprido seus 72 anos de existência, faleceu em Pão de Açúcar, a 3 de agosto de 1892.


Eis a íntegra do seu registro de óbito no Livro 3-C –fls. 78v, do Cartório do 1º Ofício do Registro Civil de Pão de Açúcar, Estado de Alagoas, sob o Nº 97:


Aos três dias do mês de agosto do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de Mil Oitocentos e Noventa e Dois, Quarto da República, neste primeiro distrito de Paz da Paroquia do Município de Pão de Açúcar do Estado de Alagoas, compareceram no meu cartório o Doutor Juiz de Direito Miguel de Novaes Mello e em presença das testemunhas abaixo nominadas e assignadas declarou: Que hoje, por cinco horas e meia, nesta cidade, em casa de sua residência faleceu um homem de nome João Machado de Novaes Mello, de setenta e quatro anos de idade, natural de Villa Nova[vii], Estado de Sergipe, residente nesta cidade, viúvo por falecimento de Maria José de Novaes Mello, filho legítimo de Antônio Ferreira de Novaes e Maria Magdalena Leite Sampaio, falecidos; faleceu sem tratamento, deixou dois filhos de nomes Doutor Manoel Leite de Novaes Mello, de quarenta e três anos e ele, declarante, de quarenta e um anos, a morte é natural e a causa conhecida congestão cerebral e no cemitério público desta cidade vai mandar sepultar. E para constar lavrei este termo em que comigo assinam o declarante e as testemunhas Manoel Rego, e Antônio Moreira de Souza Sobrinho, que atestam, de conhecimento próprio que o falecido de nome João Machado de Novaes Mello era o mesmo mencionado neste assento. Eu Theotônio Rodrigues de Souza Christo[viii], Escrivão de Paz escrevi.

 

(a)   Theotônio Rodrigues de Souza Christo

Bacharel Miguel de Novaes Mello

Manoel Rego

Antônio Moreira de Souza Sobrinho                                           

 

Em tempo: Declaro que o falecimento foi às cinco horas e meia da tarde. Eu, Theotônio Rodrigues de Souza Christo escrivão de Paz escrevi.”


Ao noticiar o seu falecimento, o Jornal de Notícias, publicação bi-semanal que circulava em Maceió, a ele assim se referiu, em sua edição de 14 de julho de 1892:



Muito estimado por suas belas qualidades individuais, o Coronel João Machado era chefe de uma das mais distintas e ilustres famílias do Baixo São Francisco. Homem probo e sincero foi, no tempo da Monarquia, uma das mais extensas influências políticas do Partido Liberal. Agraciado com o título de “Barão”, deu provas de seus sentimentos democráticos não aceitando a distinção com que o honrou o governo do Imperador.”.


Com o mesmo destaque, o jornal A Pátria, de Maceió, na sua edição de 16 de julho de 1892:


Com o maior pesar, registramos a infausta notícia do sentido passamento do venerando ancião Coronel João Machado de Novaes Mello, abastado proprietário no município de Pão de Açúcar.

Ocupou diversos cargos de nomeação do governo e eleição popular, procedendo sempre com a maior inteireza e probidade.

Nos últimos tempos da monarquia, foi agraciado com o título de Barão de Piaçabuçu, que não aceitou.

Nossos pêsames à sua família e especialmente a seu prezado filho, Dr. Miguel de Novaes Mello, distinto e honrado juiz de direito de Pão de Açúcar, Santana e Piranhas.”


***   ***   ***


Nota-se que, em que pese o registro de óbito dizer que o falecimento se deu no dia 3 de agosto de 1892, as notícias dos jornais de Alagoas, aqui reproduzidas, são do mês de julho. (!)


Entretanto, as notícias dos veículos de outros Estados são do mês de agosto, inclusive os Anais da Câmara dos Deputados, onde seu filho, o Dr. Manoel Leite de Novaes Mello, justifica a ausência à sessão 5 de agosto de 1892 - 63ª Sessão, em virtude do falecimento de seu pai.


Fiquemos, então, com a data do registro oficial: 3 de agosto de 1892.

 

Foto Abílio Coutinho
Pão de Açúcar, 1869, vendo-se o sobrado que pertenceu ao
Barão de Piaçabuçu. Foto: Abílio Coutinho.

Foto Adolpho Lindemann
Pão de Açúcar 1888, vendo-se ao fundo o dito sobrado.
Foto: Adolpho Lindemann.

Pão de Açúcar, 1919, vendo-se o sobrado que hospedou
Dom Pedro II em 1859. 



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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1847.

[ii] Correio da Tarde, Rio de Janeiro, 6 de janeiro de 1859.

[iii] A Atualidade, Rio de Janeiro, 7 de julho de 1863.

[iv] Correio Mercantil, Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1859.

[v] Novaes Filho (Senador Antônio de Novaes Filho), em OS NOVAES NO BRASIL, Diário de Pernambuco, Recife, 19 de julho de 1969.

[vi] Wilhelm Gänsli nasceu a 1º de setembro de 1843, em Wohlhausen - Cantão de Thurgau, Suíça, filho de Jacob Heinrich e de Anna Barbara Kyn, veio para o Brasil ainda menino, acompanhando o pai comerciante que se radica em Salvador. Ali inicia sua carreira em meados da década de 1870, associando-se a Rodolpho Lindemann em 1882 e fotografando diversas localidades da província da Bahia antes de se transferir para a cidade de São Paulo em 1890 e deixar seu sócio à frente do estúdio baiano. É na capital paulista, colaborando durante mais de 25 anos para a São Paulo Tramway Light and Power Company e organismos oficiais como a Secretaria de Agricultura, que se firma como o mais importante paisagista do Estado de São Paulo na primeira metade do século XX. Consagrado ainda em vida, é agraciado com as medalhas de prata das exposições de Paris (França), em 1889, e Saint Louis (Estados Unidos), em 1904. Faleceu em São Paulo a 20 de junho de 1928.

[vii] Atual Neópolis, Estado de Sergipe.

[viii] Theotônio Rodrigues de Souza Christo. Natural de Alagoas e falecido em Sergipe em 26 de outubro de 1907. Casado com Maria Luiza de Souza Christo, nascida em Alagoas, a 29/11/1864 e falecida no Rio de Janeiro.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia