Blog do Etevaldo
História e Literatura
quinta-feira, 14 de março de 2024
AS AREIAS DA RUA DE CIMA E A IGREJA DO BONFIM
Por Etevaldo
Amorim
Em Pão de Açúcar, houve
um tempo em que a popular “Rua de Cima” era chamada de “RUA DA AREIA”. E não
era sem razão.
Ainda pelo final da década de 1960, era comum ver as casas daquela via sendo praticamente invadidas pela areia, que vinha da extensa coroa que margeia o São Francisco. As partículas mais finas e mais leves, suspensas pela ação do vento sudeste, acumulavam-se no leito da rua e em todo o seu entorno, de tal modo que, em alguns pontos, quase não se via calçada.
Daí em diante, a ocorrência desse fenômeno foi aos poucos diminuindo, talvez pela alteração do regime de cheias do rio, em decorrência das barragens. Não havendo mais a renovação das areias quando das enchentes anuais, a sua composição foi se tornando mais argilosa e, portanto, mais pesada.
Os relatos desse
fenômeno remontam ao início do século XX.
Da Mensagem dirigida ao
Congresso Alagoano pelo governador Euclydes Malta, por ocasião da instalação da
2ª Sessão Ordinária da 6ª Legislatura, em 20 de abril de 1902, consta uma
rubrica no valor de 5:000$000 (cinco milhões de Réis = 5 Contos de Réis) para o
serviço de remoção das areias na cidade de Pão de Açúcar, autorizada que fora
pela Lei nº 319, de 12 de junho de 1901, entregando-se à respectiva comissão
3:000$000 (3 contos de Réis).
A dita Comissão,
encarregada de coordenar a execução dos serviços, fora constituída por Ato do
mesmo Governador, em 22 de janeiro de 1902, assim composta: Cel. José da Silva Maia –
“Cazuza” (Intendente); Major Manoel Antônio Machado e o vigário Antônio José
Soares de Mendonça.[i]
A Comissão não perdeu
tempo. Tanto que, já em abril daquele ano, o jornal A Fé Christã, em edição do
dia 19, informa:
“O
trabalho de remoção das areias que obstruíam grande extensão da Rua da Praia,
está quase terminado. A Intendência despendeu 4:000$000 (Quatro Mil Contos de
Réis) e o Governo do Estado 3:000$000 (Três Mil Contos de Réis).
“A
procissão da Ressurreição desfilou pela rua desobstruída, cuja passagem, há seis
anos, estava interceptada.”
De orientação católica,
e vislumbrando a ocorrência de um fato extraordinário, o jornal faz uma revelação,
de certa forma surpreendente, envolvendo a igreja do Bonfim. Diz a mesma
matéria:
“Fato
importante e que vai sendo comentado por todos:
As
areias que formaram extensos montes e obstruíram a rua, quase soterrando muitas
casas e quintais, não atingiam, entretanto, o terreno onde existiu a antiga
capela do Senhor do Bonfim, cuja área foi somente ladeada por altos montes. Este
fato, que é admirável, faz crer numa graça especial de Nosso Senhor. Não há
outra explicação.
Em
vista do exposto, o Sr. Coronel José da Silva Maia, que tão bons serviços tem
prestado a este município, vai construir a Capela do Senhor do Bonfim no mesmo local,
ficando a que foi, há pouco edificada na Praça do Marcos, dedicada à invocação
de Nossa Senhora do Parto.”
Dessa notícia,
depreende-se o seguinte:
Primeiro, que existiu
outra “capela do Senhor do Bonfim”,
na então chamada Rua da Praia; segundo, que a igreja do Senhor do Bonfim, que
existe até hoje (remodelada) na praça de mesmo nome, foi construída entre o
final do século XIX e o início do século XX, (tanto que a mesma notícia dá
conta de que “Uma faísca elétrica
danificou a frente da capela nova do Senhor do Bonfim, fulminando 19
carneiros que se achavam abrigados no oitão do edifício)”; terceiro, que
ela continuou sob a mesma invocação, não se alterando para “Nossa Senhora do
Parto”, de acordo com a promessa feita; e, por último, que a Praça do Bonfim se
chamava “Praça do Marcos”. Mas, quem seria esse Marcos?...
A igreja do Bomfim em 1919, vendo-se a praça tomada pelas águas durante a grande cheia do rio São Francisco. |
Bem, o trabalho foi concluído. O problema, aparentemente, desapareceu. Entretanto, o serviço não foi bem feito, como aponta a reportagem intitulada “AMEAÇA TERRÍVEL”, do jornal Gutenberg, de Maceió, em 10 de maio de 1911. Segundo ela, não passou de um paliativo, e não teve o poder de coibir as suas causas. Os encarregados do serviço, não sendo profissionais, se limitaram apenas a retirar as areias acumuladas na rua e espalhá-las da própria coroa, ignorando a iminência de uma nova invasão, dado que lá estaria a mesma areia e continuaria o mesmo vento sudeste a agir inexoravelmente.
A reportagem aponta
ainda para a necessidade de uma ação preventiva, qual fosse a de implantar um “tapete de plantas” sobre parte da areia,
coisa que existia, e cujas plantas foram “estupidamente
arrancadas”.
Encontramos um relato
dessa difícil situação, que transcrevemos do jornal O CRUZEIRO, de Penedo,
publicado no dia 27 de agosto de 1909. Esse jornal era de propriedade de Manoel
Caetano de Aguiar Brandão, filho do Dr. Félix Moreno Brandão e, portanto, irmão
do historiador Francisco Henrique Moreno Brandão.
O texto não está
assinado, mas sugere que seja do próprio Moreno Brandão, haja vista que, nesse
mesmo jornal, no dia 29 de julho, há notícia de que ele estaria em Pão de
Açúcar em busca de “melhoras para a saúde”.
No dia 12 de agosto de 1909, o mesmo jornal diz que ele estaria melhor e que
continuava em Pão de Açúcar. Por fim, na edição do dia 15 de outubro, o jornal
diz:
“Vindo do Sertão, onde permaneceu durante alguns meses, tivemos o prazer
de abraçar o nosso prezado confrade Moreno Brandão, digno irmão do diretor
desta folha.”
A matéria foi publicada
no dia 27 de agosto e só em 15 de outubro ele estava de volta a Penedo. Por
certo enviou o texto, sob encomenda, pela “Chata” Moxotó, que fazia a linha
semanal regular Penedo-Piranhas, descendo às quintas-feiras.
Ei-lo:
“PÃO DE AÇÚCAR, A CIDADE SOTERRADA
Como se tivesse passado
sobre ela um sopro de desgraça, ei-la, a bela cidade sanfranciscana sepultada
sob as areias; amortalhada em alvacentas nuvens de pó, envolta a alma dos seus
infelizes habitantes no desespero que gera a certeza da impotência para lutar.
Dez anos havia que não
pisávamos o solo pão-de-açucarense. Conservávamos na lembrança as belezas todas
da cidade sertaneja, com sua casaria simétrica e alvadia, com suas
incomparáveis renques de frondosas tamarineiras, com suas várzeas belíssimas.
Um dia, sol a pino, com o coração torturado por intensa saudade, penetramos na
terra que foi teatro de nossos brincos infantis.
Saudades levamos no
coração, de crepe se cobriu nossa alma ante a desolação daquele torrão amado.
Casas em ruínas, montes
enormes de areias a soterrar vivendas, donde espavoridos, loucos fugiam os
moradores que, sem teto, sem abrigo, privados do lar que construíram, seus
moradores iam à procura de um lar que os abrigasse!
Ruas desertas, uma
tristeza de necrópole a pairar em toda parte. E diante de tanta dor, diante de
tanta miséria, a indiferença dos poderosos, a indiferença daqueles que têm o
dever iniludível de velar pelo bem-estar do povo.
As impressões que aí
ficam toscamente registradas vê a propósito da resolução que acaba de tomar o
Conselho Municipal de Pão de Açúcar de contrair com o Estado um empréstimo de
25:000$000 para a aquisição da empresa de águas daquela cidade.
Parece-nos que melhor
andaria o governo municipal pão-de-açucarense aplicando tal empréstimo aos
trabalhos de remoção das areias, que em época não remota soterraram
completamente a cidade.
É preciso refletir que
muitas dezenas de contos de réis serão assim salvas, além de que trata-se de
benefício útil a todas as classes.
Esperamos que, melhor
orientados, os representantes municipais de Pão de Açúcar tomarão em
consideração o apelo que, em nome do povo, ora fazemos aos seus sentimentos
patrióticos.”
Há muito tempo sem a
ameaça das areias, segue em paz e promissora a “Rua de Cima”, que já foi “São
Francisco” e atualmente se chama “Vereador Germínio Araújo Costa”.
Pão de Açúcar. A praça do Bonfim com a igreja ao fundo. |
NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E
LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes.
Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta
documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão,
solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer
trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo
também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é
correto e justo.
[i] CIDADE DO RIO, Rio de Janeiro, 7 de fevereiro de 1902.
sexta-feira, 8 de março de 2024
A PARÓQUIA DE PÃO DE AÇÚCAR – DO DÉCIMO AO DÉCIMO SEGUNDO VIGÁRIO
Por Etevaldo
Amorim
PE.
JOSÉ NASCIMENTO DE OLIVEIRA
O Padre José Nascimento |
O décimo vigário foi
nomeado em 5 de janeiro de 1967, tendo tomado posse a 17 do mesmo mês e ano.
Discreto e capaz, o padre Nascimento soube muito bem conduzir o rebanho
católico da nossa terra, dedicando-se especialmente às atividades pastorais.
Deixou-nos um legado: a
colaboração com o vereador Pedro Lúcio Rocha para a letra do Hino do Município,
instituído pela Lei nº 399, de 15 de setembro de 1969, com música do Maestro
Manoel Passinha (Manoel Capitulino de Castro).
Filho de Pedro Raimundo
da Silva e Maria José do Nascimento, José Nascimento de Oliveira nasceu em
Palmeira dos Índios no dia 7 de setembro de 1936.
Ele iniciou os estudos
primários na terra natal, indo depois para o Seminário de Maceió fazer o curso
Ginasial.
Para cursar Filosofia,
foi para o Seminário de João Pessoa-PB. Ocorreu, no entanto, que o Seminário
fechou e ele seguiu então para o de Olinda. Em seguida, foi para o Seminário de
Viamão-RS, onde fez Teologia.
Ordenou-se em Palmeira
dos Índios no dia 17 de julho de 1966 e sua primeira paróquia foi a de Pão de
Açúcar.
Atualmente, ostenta o
título de MONSENHOR JOSÉ NASCIMENTO DE OLIVEIRA e atua na Paróquia de São
Sebastiao, da Diocese de Palmeira dos Índios.
O Monsenhor José Nascimento |
PE. PETRÚCIO BEZERRA DE
OLIVEIRA
O Monsenhor Petrúcio Bezerra de Oliveira |
Filho de Euclides
Bezerra de Assunção e Vitória Bezerra de Oliveira (Vitória Ferreira), nasceu o
Monsenhor Petrúcio em Paulo Jacinto, no dia 8 de outubro de 1941, tendo como
irmãos Maria Cícera Bezerra, Maria Selma Bezerra, Geraldo Bezerra (in memorian)
e Sávio Bezerra.
Iniciou seus estudos na
sua terra natal, entrando depois para o Seminário de Maceió, donde seguiu para
o Seminário de Olinda, principiando o estudo de Filosofia para continuá-lo no
Seminário de Viamão, Estado do Rio Grande do Sul, juntamente com o Curso de
Teologia.
Sua ordenação se deu em
Paulo Jacinto, em 25 de julho de 1969, e suas atividades sacerdotais se
iniciaram em Palmeira dos Índios como Vigário Cooperador do Pe. Odilon Amador,
pão-de-açucarense.
Em 21 de janeiro de
1971, tomou posse na Paróquia de Pão de Açúcar, acompanhado do Bispo Dom Otávio
Aguiar, da Diocese de Palmeira dos Índios e do Pe. Luiz Ferreira Neto.
Lembrando
o missionário Frei Cassiano de Comacchio, conhecido construtor nos idos do
Século XIX, o Pe. Petrúcio é também um exímio empreendedor. A começar pela
reforma da Casa Paroquial, suas obras, espalhadas por todos os recantos da sua
circunscrição, que envolvia também os municípios de Palestina e São José da
Tapera, dão a marca do incansável realizador.
O Padre Petrúcio trabalhando com a comunidade em obra de cunho social em Pão de Açúcar. |
Para relacionar todas elas, em tantos anos de paroquiato, procurando evitar possíveis omissões, recorremos ao próprio, do que resultou o seguinte:
Em Pão de Açúcar. Construção da Igreja do Povoado Santiago; construção da Igreja do bairro COHAB; construção da Igreja de São Pedro; construção da Igreja do Povoado Ipueiras; reforma na Igreja de Meirus; reforma na Igreja do Limoeiro; reforma, por três vezes, na Igreja Matriz, sendo a última em 2003; construção de 126 casas para famílias carentes (inclusive as do Conjunto dos Idosos (Lar São Vicente, com 18 casas) e Conjunto Dom Bosco, com 50 casas); reforma e ampliação do Colégio São Vicente; construção dos Centros Sociais do Colégio São Vicente, do Alto Fonseca e de Meirus; construção de creches nas localidades: Limoeiro, Jacarezinho, Machado, Meirus; duas em Ipueiras e três na cidade.
2. Em São José da Tapera. Construção de um
Centro Social; construção da igreja do povoado Torrões; reforma da Igreja
Matriz de São José; construção do Colégio João Paulo II.
3. Em Palestina. Construção de uma creche;
construção de um Centro Social.
O Pe. Petrúcio no mesmo evento no CSV, vendo-se na primeira fila as Irmãs, o prefeito Pascoal, o prof. José de Brito e, à direita, o De- putado Federal Antônio Ferreira e sua esposa Sheyla Menezes. |
O Pe. Petrúcio em evento social com as Irmãs, vendo-se à esquerda, a Srª Maria Mercedes Ribeiro Gomes e, à frente, a Srtª Sheila Brito. |
Ressalte-se ainda o
trabalho social realizado com as irmãs Franciscanas (holandesas): Curso de Arte
Culinária, Datilografia, Informática, Corte e Costura, e Escola de 1º e 2º
Graus, inclusive profissionalizante.[i]
Foi, por muitos anos, presidente
da Sociedade Educacional e Assistencial da Paróquia de Pão de Açúcar. Ampliou o
Ensino Fundamental, hoje em 9 anos, implantou os cursos de Técnico Agrícola e
Técnico em Enfermagem. em 1976, e o curso de Nível Médio, em três anos, em
1994. Em 2006 implanta o Ensino Superior, com a Faculdade São Vicente.[ii]
O padre Petrúcio, com
seus quarenta e sete anos de paroquiato, só não conseguiu superar a longevidade
do Padre Mendonça, o primeiro da Paróquia. Mas continua ainda em atividade, não
obstante os seus oitenta e três anos de idade.
A esse homem, notável
idealizador e construtor incansável, Pão de Açúcar deve muito.
PE.
THIAGO HENRIQUE SOARES PINTO TAVARES.
O Padre Thiago Henrique |
Atualmente, está à
frente da Paróquia de Pão de Açúcar o padre Thiago Henrique Soares Pinto
Tavares.
Nasceu a 17 de abril de
1979 e foi ordenado em 30 de novembro de 2005.
Teve sua formação ao
sacerdócio no Seminário São João Maria Vianney, em Palmeira dos Índios,
Alagoas, e no Seminário São Pedro, em Natal, no Rio Grande do Norte, sendo
ordenado diácono em abril de 2005, e sacerdote em novembro desse mesmo ano.
Padre Thiago é
presbítero da Diocese de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Já foi o Vigário
Paroquial da Catedral de Nossa Senhora do Amparo e, atualmente, exerce os
seguintes ofícios na respectiva Diocese: Reitor do Seminário São João Maria
Vianney; Vigário Judicial da Diocese; Diretor do Colégio Diocesano Sagrada
Família; e Diretor Espiritual do Encontro de Casais com Cristo.
O sacerdote é bastante
conhecido pela Renovação Carismática Católica do Estado de Alagoas por suas
pregações, sendo sempre convidado para participar de congressos e retiros
promovidos por esse movimento da igreja católica.
sábado, 2 de março de 2024
A IGREJA MATRIZ DE PÃO DE AÇÚCAR
Por
Etevaldo Amorim
A
igreja Matriz de Pão de Açúcar, símbolo material da devoção dos
pão-de-açucarenses ao Sagrado Coração de Jesus, é um dos mais belos templos
católicos do Estado de Alagoas.
Saber
como foi a sua concepção, e quais foram as pessoas envolvidas e os esforços
dispendidos para levar a termo a sua construção, suscita em nós uma enorme
curiosidade. Mas não há um trabalho, uma fonte, onde se possa buscar respostas
para essas perguntas. Temos que garimpar, aqui e ali, e encontrar informações
dispersas, esperando descobrir nexo entre elas.
Vista interna da Igreja Matriz de Pão de Açúcar. |
Uma
primeira pista vem do Juiz de Direito de Penedo, o Dr. José Rodrigues Vieira de
Carvalho e Silva. Por volta de 1854, aquela Comarca abrangia uma vasta região,
entre a foz do rio São Francisco e a confluência do rio Moxotó, duas léguas
acima da cachoeira de Paulo Afonso.
Em
carta ao Dr. G. Schuch de Capanema[i],
imaginando-se em viagem de canoa, dentre as muitas que teve que realizar para
cumprir os misteres da sua função, descreve as povoações e os aspectos físicos
de toda a região do Baixo São Francisco.
Em
certo ponto da carta, julgando ter percorrido dez léguas desde a Vila de
Traipu, passa a falar de Pão de Açúcar, onde costumeiramente fazia correições,
como a que se nota no Cartório de Registro de Imóveis, em 29 de outubro de
1850.
Diz
ele em certo ponto da carta:
“O arraial de Pão de Açúcar conta 230 casas.
O terreno plano lhe proporciona o belo arruamento que vai tendo, e o comércio
que aflui do centro lhe pressagia um risonho futuro. Há alguns sobrados e
sofríveis casas. A capela do Santíssimo
Coração de Jesus está em obras ainda de sua edificação e já é elevada em
Freguesia por lei de 1853, de 11 de julho, nº 227...”
Mais
adiante diz:
“Em
1821, era fazenda de gados de Antônio Luiz Dantas. Depois, a família de Antônio
Rodrigues Delgado, foi o primeiro povoador, fazendo casas, etc. Antônio Manuel das Dores continuou; fez a
capela com o Padre Baldaia[ii],
pondo a primeira pedra em 1840 – doando 2:000$000 para sua edificação. Rosa
Benta Pereira (esposa de Ignácio Rodrigues Delgado) e D. Anna Thereza de Jesus[iii]
doaram as terras[iv].”
Mais
tarde, em 1869, quando da passagem do presidente da Província, Dr. José Bento
da Cunha Figueiredo Junior, demandando a cachoeira de Paulo Afonso, foi
solicitada ajuda dos cofres provinciais para a conclusão das obras da igreja.
Ele, então, solicitou ao engenheiro da Província, Dr. Carlos de Mornay[v]
que fizesse orçamento dos serviços.
Com
efeito, nove meses depois, o Dr. Mornay respondeu nos seguintes termos:
“PROJETO DE REFORMA DA MATRIZ DE PÃO DE
AÇÚCAR – Engº Carlos de Mornay
“Imº Exº Sr.
Tenho a honra de passar às mãos de V. Exº
a descripção e orçamento do custo do serviço a fazer-se para elevação, à altura
de 37 ½ palmos, as paredes laterais da igreja Matriz da vila de Pão de Assucar;
como também a planta do mesmo serviço, em que dou o desenho de um novo
frontispício, visto que, para concluir-se o edifício sobre a nova planta, será
preciso derrubar a frente actual.
Deus guarde a V. Exº, Maceió, 23 de
outubro de 1869.
Ilmº Exmº Sr. Dr. José Bento da Cunha
Figueiredo Junior, digno Presidente da Província.
Carlos de Mornay”
“Descrição e orçamento do custo do
serviço a fazer-se para elevar-se à altura de 37 ½ palmos, as paredes laterais
da igreja Matriz da villa de Pão de Assucar.
DESCRIPÇÃO
Para elevar a coberta do corpo da igreja
à altura da parte começada junto à capela-mor, torna-se preciso derrubar a
frente existente, e com estas vistas dou o risco de uma nova frente. Este
serviço, porém, não se pode fazer com a quantia subvencionada de 2:000$000
réis, podendo-se apenas elevar as paredes laterais à altura destinada, e repor
o teto naquela altura, para o que deve se tirar as telhas e com “bimbarras”
suspender o madeirame do teto em um lado e outro alternativamente e construir
as respectivas porções de parede até ganhar essa altura; refazer-se-há as
juntas das madeiras fortificando-as com gatos, parafusos ou pregos, conforme o
caso exigir, e retelhar o edifício.
Emboçar, rebocar e caiar-se-á a igreja
limpa.”
ORÇAMENTO
Não conseguimos saber se, com base nesse orçamento, a obra teve prosseguimento. Mas, constatamos que um correspondente do Jornal do Penedo, que se assina por “Descartes”, informa, no dia 17 de fevereiro de 1877:
“A obra da Igreja Matriz desta Vila acha-se
paralisada à falta de dinheiro. O donativo dos particulares deu apenas para o
alicerce da frente. Praza a Deus que o estado financeiro da Província melhore e
que a Assembleia próxima a reunir-se vote alguma quantia suficiente para a
conclusão da dita obra.”
Fato é que, em 1877, estando missionando na região o famoso frei Cassiano FREI CASSIANO DE COMPACCHIO, esse assunto voltou à pauta da imprensa a época.
No ano
em que foi elevada à categoria de cidade, Pão de Açúcar recebeu benefícios que
transpuseram os limites da ação regular da Igreja, graças a sua capacidade
empreendedora.
Após um
breve período de três meses, em que acumulou a celebração de atos religiosos
com a administração das obras do cemitério e da Matriz, partiu anunciando que
regressaria ao Recife. Não tardou, entretanto, que chegassem à Vila notícias de
que ele, com ordens de seus superiores, voltaria do Penedo para retomar suas
atividades.
O seu
regresso foi triunfal. Esse registro histórico fica por conta de um
correspondente do JORNAL DO PENEDO, edição de 12 de maio de 1877, que assinava
sob o pseudônimo de O Católico. Conta ele, em carta de 26 de abril, que, na
tarde do dia 10, ante o anúncio de que se aproximava o vapor Jequitaya (da
Companhia Baiana), uma multidão afluía para o porto, enquanto girândolas de
foguetes espocavam no ar. Bandeiras foram hasteadas em frente à Matriz e no
próprio porto. Ainda a bordo, foi recepcionado pelo Vigário da Freguesia – Pe.
Antônio José Soares de Mendonça e por outras autoridades.
Ao
desembarcar, foi recebido com uma salva de 21 tiros e, ao som da Banda Marcial,
se encaminharam ao barracão em que havia um tablado onde fazia suas prédicas.
Ali, em tom afetuoso, pronunciou memorável discurso, manifestando seu
contentamento por estar de novo entre o povo pão-de-açucarense. Dali seguiu
para a casa do Vigário, onde costumeiramente se hospedava.
Já no
dia seguinte retomou o comando das obras. Estando a do cemitério interrompida,
uma vez que alcançara apenas à fase de emboço e ao assentamento do portão,
privilegiou a da Matriz, cujos serviços se concentravam na torre do lado
esquerdo.
Seguindo
uma planta organizada pelo próprio Capuchinho, o templo ocupa uma área
construída de 677,32 m² (16,40 m de frente e 41,30 m de frente a fundos). Sua
elegante e majestosa fachada, voltada para o Sul, se ergue sobre um pedestal de
1,60 m, em quatro esbeltas colunas, cujas bases e capitéis[vi],
alcançam a altura de 9,90 m, trazendo fielmente
executadas as regras da ordem toscana.
O correspondente, demonstrando amplo conhecimento técnico,
descreve com riqueza de detalhes a vista principal ou central da frente da
Matriz. Segundo ele,
“Um entaboamento ou cornija[vii]
que, em linha reta, atalha e percorre a frente, se vê sustentada pelas colunas
e é coroada por um rico tímpano romano, a cujo cimo ergue-se imponente o sinal
na nossa Redenção, a Santa Cruz, assentada sobre robusto pedestal; suspendendo
assim mais 3,50 a altura da Igreja. Preenchem às intercolunas, na parte
inferior, três portas, a da frente com metros 1,40 de largura, e duas laterais
menores, e na parte superior três janelas arqueadas que transmitem a luz do
coro para o interior da Igreja. No centro do tímpano, fingira-se em baixo
relevo um coração, símbolo do Sagrado Coração de Jesus a cuja invocação é
consagrada a Freguesia.”
“Além desta vista
central, há também as frentes formadas pelas torres, erguendo-se estas sobre
salientes da frente da igreja. No alto das torres, há uma albica, uma espécie
de parapeito, em cujo centro abre-se um óculo circular em que se pretende
colocar um relógio para servir à utilidade pública”.[viii]
“Da coroa d’esta óthica surge a célla
campanária ou sineira formada de quatro pilastrões unidos pelas respectivas
arcadas, e coroada de uma linde cornija; solta-se depois uma cúpula ou zimbório
em forma piramidal que, recebendo em sua summidade a altura do estandarte do
Christianismo, declara e manifesta ser aquella uma obra dedicada ao culto de
Deus Todo Poderoso. A altura das torres ascende a metros 19”.
A importância disponível para a construção da Matriz não superava
3:000$000 rs (Três Contos de Réis), de todo insuficiente para a conclusão das
obras. Frei Cassiano criou, então, nos diversos povoados da Freguesia,
comissões encarregadas de arrecadar donativos.
Não descuidando do aspecto espiritual, anunciou a programação para os
festejos do mês Mariano, segundo o que fora acordado com o Padre Mendonça.
Por fim, temos uma data precisa da conclusão dos trabalhos de construção do cemitério e da Matriz. Uma correspondência datada de 15 de junho de 1877, publicada no jornal Órgão do Povo, de Penedo, em edição do dia 24 de junho de 1877, assinada por um enigmático "Y", informa:
"Temos um cemitério!!!! Graças a Deus!!!! Graças aos incansáveis esforços de Fr. Cassiano e do nosso povo. Ontem, os oficiais pedreiros colocaram a cruz na grimpa da torre da nossa matriz que estava por concluir. Foi isto um motivo de contentamento, e eu passei por uma agradável decepção; porque, à vista do abandono em que sempre nos tem deixado os nossos deputados, não esperavam aquele êxito. Temos, pois, um templo com sofríveis acomodações, feito pelo povo."
Ao que parece, no entanto, a Matriz não exibia a beleza que ostenta hoje, a julgar pelo comentário de Theodoro Sampaio, que por ali passou, em 1879,
“… atravessamos a pé o largo lençol
d’areia que a precede e percorremos-lhe as ruas retilíneas, planas, marginadas
de edificações humildes e sem elegância. Nenhum edifício notável se descobre, nem mesmo a igreja que, aliás, oferece melhor
aspecto vista de longe.”
“Pão de Açúcar não oferece de notável
senão a sua paisagem pitoresca, que a montanha cônica que lhe dá o nome
aformoseia, e o perfil azulado da serra dos Meirus, duas léguas longe, torna
quase encantador.”
*** ***
***
Não
temos uma imagem frontal da igreja, que nos permita saber que forma tinha o
templo daqueles pão-de-açucarenses de meados daquele século XIX. Entretanto,
duas fotografias de Abílio Coutinho, de 1869, nos dão a ideia de que a matriz
não era mais que um imenso casarão localizado na esquina da Rua do Meio com a
Rua Augusta.
Rua do Meio, Pão de Açúcar-AL, 1869, vendo-se à direita, ao fundo o telhado da Igreja Matriz. Foto: Abílio Coutinho. |
A primeira,
mostrando a “Rua do Meio”. Nota-se uma construção ao fundo, à direita, com um
telhado longo, que se eleva na parte posterior. Na frente, um espaço entre o
prédio e a linha das demais casas, como a indicar que se reservava para ali a
edificação das torres.
Rua Augusta, Pão de Açúcar-AL, 1869, vendo-se à esquerda os fundos da Igreja Matriz. Foto: Abílio Coutinho. |
Rua Pe. Soares Pinto (antiga Rua Augusta). Foto: Google. |
A
segunda, tomada na Rua Augusta (hoje Pe. Soares Pinto), mostra a igreja pelos
fundos. Vê-se um espaço entre a construção propriamente dita e o alinhamento da
última casa, dando a entender que se estava projetando um futuro alargamento. Vale a pena comparar com a mesma tomada nos dias atuais.
Rua Augusta, Pão de Açúcar-AL, 1860, vendo-se o oitão da igreja em construção. Foto: Abílio Coutinho. |
De
fato, essa foto de 1919 (ano de uma das grandes cheias do S. Francisco), mostra
o oitão da igreja em obras de expansão da sua largura, deixando-o bem próxima à
calçada.
Rua do Meio, Pão de Açúcar-AL, vendo-se a Igreja Matriz. |
Já a foto acima, colhida de um Almanak de 1910, mostra a matriz do Sagrado Coração
de Jesus reproduzindo o projeto original concebido por Frei Cassiano de
Comacchio. A exceção é, talvez, a ausência das cruzes no alto das torres, como
conhecemos hoje.
Calçada
alta, projetada sobre a avenida, com dois degraus largos para acesso dos fieis.
O pedestal do cruzeiro é diferente do que temos atualmente. Também não há sinal
do relógio “Malakoff” na torre da direita, dando a entender que a foto é
anterior a 23 de dezembro de 1909, data em que foi instalado.
Ao
longo da principal via da Vila, então chamada de “Rua do Meio”, dois renques de
árvores dispostas em ambos os lados, servindo de abrido a rebanhos de ovinos e
caprinos.
À
direita, nas imediações da atual Praça Moreno Brandão, algumas novas árvores
sendo situadas, protegidas por engradados de madeira rústica.
Algumas
pessoas transitam pela vastidão da rua, ainda desprovida de qualquer pavimento.
Particularmente defronte a igreja, quatro pessoas: uma com a calçada à altura
da cintura; outras duas diante da porta da torre sul, uma de pé e outra sentada
no batente; e ainda outra bem na esquina com a Rua Augusta (atual Pe. Soares
Pinto). Acima desta, fixado no encontro da fachada com o oitão, um lampião de
gás, ali instalado estrategicamente para iluminar o máximo possível aquele que
deveria ser o ponto central da vila.
A
histórica foto ainda evidencia a habilidade do fotógrafo que, em tomada de rara
felicidade, faz a imagem da igreja refletir-se na água, que ali ficara empoçada
da última chuva ou como resquício da grande cheia do rio São Francisco, em
1906.
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***
Muitas
reformas e melhorias foram feitas ao longo de todo esse tempo, e pelos esforços
dos párocos que se sucederam, com ajuda da comunidade católica.
Houve
também alguns percalços, como o que me relata um atento leitor,como um grande
incêndio que teria ocorrido na igreja, “destruindo
na ocasião o altar-mor e várias imagens, inclusive a do senhor morto”[ix].
A
obra de João Damasceno Lisboa também está presente no conjunto de obras que
embelezam a Matriz, para orgulho da comunidade católica de Pão de Açúcar.
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NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema
“HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas
relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com
farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta
razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer
trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo
também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é
correto e justo.
[i]
Conselheiro Guilherme Schuch de Capanema (Barão de Capanema). Doutor em
matemática e ciências físicas pela Escola Militar do Rio de Janeiro. Estudou
engenharia na Escola Politécnica de Viena.
[ii]
Padre Francisco do Rego Baldaia que, por volta de 1847, foi pároco em Palmeira
dos Índios. Antes, foi ativo combatente intelectual durante as lutas que
culminaram com a abdicação de D. Pedro I, à frente do jornal Federalista
Alagoense, sucessor do Íris Alagoense. Filho do comerciante
português Francisco do Rego Baldaia, um dos fundadores da vila de Maceió. Sua
irmã, Francisca Maria do Rego Baldaia, casada com Francisco Dias Cabral, era
mãe do médico, jornalista e historiador João Francisco Dias Cabral. Faleceu em
24 de dezembro de 1863.
[iii]
Anna Thereza de Jesus. Doadora das terras da capela de Nossa Senhora da Luz, em
Meirus. Filha de Alfredo Antônio Manoel de Jesus Brandão e Josepha Maria de
Assumpção, irmã de Anacleto de Jesus Maria Brandão. Era esposa de Inácio
Rodrigues Delgado, com quem teve a filha Clarinda Maria da Conceição Mello
(1843-1894), de cujo casamento com João Pereira de Mello nasceram dois filhos:
Anna Josepha de Mello e Omindo Pereira Mello.
[iv]
Consta que o patrimônio seria: - Rua da Areia – (Pão de Açúcar) – Encontra-se a
escritura no Cartório do 1º Ofício, Livro do ano de 1843. (esse deve ser o ano
da abertura do livro, já que a Paróquia foi criada em 1853). O patrimônio
estende-se da casa de Rosa Benta Pereira, viúva de Inácio Rodrigues Delgado, 75
braças em frente ao rio, com fundos até onde chegam as águas da lagoa.
[v]
Charles de Mornay nasceu em Londres, Inglaterra, em 1818 e faleceu em Alagoas,
Brasil, em 1884. Filho de Aristides Franklin Mornay e de Maria D. Anjubault.
Foi casado com a alagoana Isabel Carolina de Carvalho, filha de Maria Cleofa de
Jesus, de Coruripe.
[vi]
Capitel. Coroamento do fuste (cabo, haste roliça de madeira) de uma coluna.
Arremate superior, em geral esculturado, de pilastra, balaústre, etc.
[vii]
Na arquitetura clássica, Cornija é a parte superior do entablamento ('conjunto
composto de arquitrave, friso e cornija'), que assenta sobre o friso. É uma
moldura saliente que serve de arremate superior à fachada de um edifício,
ocultando o telhado e impedindo que as águas escorram pela parede.
[viii]
O relógio, já previsto no projeto original, foi finalmente instalado no dia 23
de dezembro de 1909.
[ix] Relato de Massilon Ferreira da Silva.
A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR
PÃO DE AÇÚCAR
Marcus Vinícius*
Meu mundo bom
De mandacarus
E Xique-xiques;
Minha distante carícia
Onde o São Francisco
Provoca sempre
Uma mensagem de saudade.
Jaciobá,
De Manoel Rego, a exponência;
De Bráulio Cavalcante, o mártir;
De Nezinho (o Cego), a música.
Jaciobá,
Da poesia romântica
De Vinícius Ligianus;
Da parnasiana de Bem Gum.
Jaciobá,
Das regências dos maestros
Abílio e Nozinho.
Pão de Açúcar,
Vejo o exagero do violão
De Adail Simas;
Vejo acordes tão belos
De Paulo Alves e Zequinha.
O cavaquinho harmonioso
De João de Santa,
Que beleza!
O pandeiro inquieto
De Zé Negão
Naquele rítmo de extasiar;
Saudade infinita
De Agobar Feitosa
(não é bom lembrar...)
Pão de Açúcar
Dos emigrantes
Roberto Alvim,
Eraldo Lacet,
Zé Amaral...
Verdadeiros jaciobenses.
E mais:
As peixadas de Evenus Luz,
Aquele que tem a “estrela”
Sem conhecê-la.
Pão de Açúcar
Dos que saíram:
Zaluar Santana,
Américo Castro,
Darras Nóia,
Manoel Passinha.
Pão de Açúcar
Dos que ficaram:
Luizinho Machado
(a educação personificada)
E João Lisboa
(do Cristo Redentor)
A grandiosa jóia.
Pão de Açúcar,
Meu mundo distante
De Cáctus
E águas santas.
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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)
(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937
(+) Maceió (AL), 07.05.1976
Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.
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PÃO DE AÇÚCAR
Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.
Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.
Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,
O pó que o vendaval deixou no chão cair.
Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste
O teu profundo sono num divino sorrir.
Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,
Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.
Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.
Teus jardins se parecem com vastos cemitérios
Por onde as brisas passam em brando sussurrar.
Aqui e ali tu tens um alto campanário,
Que dá maior relevo ao pálido cenário
Do teu calmo dormir em noite de luar.
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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes
Guimarães - Zequinha Guimarães.