sábado, 27 de fevereiro de 2021

GEORGE GARDNER NA ILHA DE SÃO PEDRO

 

Por Etevaldo Amorim


No alvorecer daquela terça-feira, 27 de fevereiro de 1838, os índios da Ilha de São Pedro[i] tiveram uma surpresa. No porto, deparam-se com uma canoa estranha, de dimensões bem superiores às suas, com cerca de 12 metros de comprimento por 1,50 m de largura. Na proa, uma tolda coberta com palhas de coqueiro. Junto a ela, um par de velas latinhas, feitas de tecido de algodão, presas a um longo mastro e baseadas por vergas de ambos os lados.

Igreja de S. Pedro Dias e as ruínas do Convento. Foto: Pietro Vittorino Regni

Embora as características da embarcação fossem por si só uma novidade, havia algo de mais inusitado na sua presença. Um de seus passageiros era o jovem naturalista escocês George Gardner[ii]. Em maio completaria 26 anos, mas já havia concluído o curso de medicina, que não chegaria a exercer plenamente. Incentivado por William T Hooker[iii] para o estuda da botânica, e impressionado com o relato que faziam Humboldt e outros viajantes sobre as regiões tropicais, viera para o Brasil em 1836, com subvenção de museus e botânicos particulares, coletar material para pesquisas, percorrendo diversas regiões do país, mas privilegiando aquelas pelas quais os seus precursores Von Martius[iv] e Spix[v] não haviam passado em expedições anteriores.

Já sem a presença de Dom Pedro I, que abdicara do trono em 7 de abril de 1831, regressando a Portugal seis dias depois, o Brasil vivia sob o regime das Regências Unas. O primeiro período, sob o comando do Padre Diogo Antônio Feijó e depois, com a renúncia deste em 19 de setembro de 1837, com a direção do pernambucano Pedro de Araújo Lima, Senador e Ministro do Império, que perdurou até a proclamação da maioridade do Príncipe D. Pedro de Alcântara, com apenas 14 anos de idade, a 23 de julho de 1840.

Com as coleções que conseguiu reunir, Gardner contribuiu consideravelmente para determinar a distribuição geográfica de muitas espécies, bem como para classificação de tantas outras até então desconhecidas. Durante as suas viagens ao Brasil, conseguiu coletar mais de 60 mil espécimes, representando aproximadamente 3.000 espécies botânicas.

Estava ali por acaso. Um pouco mais de vento o teria feito chegar a Pão de Açúcar para pernoitar, como faziam tantos outros viajantes iguais a ele. Tanto que, pouco antes de aportar à terra dos índios Xocó, pode registrar a vista da nossa Serra do Meirús, enquanto passava por Belo Monte:

Durante esta viagem, avistamos uma cadeia de montanhas chamada Pão de Açúcar, a N. N. W[vi]. Termina abruptamente ao W. S. W[vii] e inclina-se daí para Les-nordeste[viii] e é, decididamente, a mais alta do distrito.”

Acometido de súbita moléstia enquanto esperava por condições favoráveis para prosseguir viagem, foi obrigado a permanecer ali durante quinze dias. Via-se, então, literalmente ilhado e tolhido em suas pretensões. Tivesse ele podido chegar à “Terra de Jaciobá”, observador atento que era, certamente nos teria deixado impressões muito interessantes.

Contentemo-nos com o belo e minucioso relato que fez da Ilha de São Pedro, aonde chegou às seis e meia da noite daquele 26 de fevereiro de 1838, tal qual faria se tivesse conseguido experimentar uma de nossas tardes quentes e quase insuportáveis. A descrição é perfeita e absolutamente fiel, particularmente quando fala do clima sob o qual vivemos e do modo como reagimos a ele:

Durante o dia o calor é insuportável, chegando o termômetro a marcar 99,5º[ix] à sobra ao meio-dia. Como não soprava a mais leve brisa, a sensação opressiva tocava quase o podo de sufocação, como se o ar viesse de dentro de um forno. Não havia viva alma de portas a fora. Porcos e cabras, poucos que eram na Ilha, bem como os cães, procuravam a sombra das árvores de Zizyphus [x]que se erguem à margem do rio, perto da aldeia.”

Tudo estava imóvel e quieto como à meia-noite. O canto dos passarinhos que eu me deliciava em ouvir no passeio da manhã, o grito estridente da gavata (sic), grande ave aquática, até o grito monótono do bem-te-vi, tudo cessara. Até as árvores estavam imóveis; as grandes águas amareladas do rio rolavam vagarosas, sem uma ruga na superfície. Tudo era tão quieto que a gente era quase levada a crer que a vida cessara de existir. Tendo armado minha rede debaixo de uma árvore de Zizyphus, nela fique até que se entibiassem os raios de sol. Eram seis horas da tarde quando a brisa do mar chegou à Ilha; e, como era já tarde para continuar a viagem, ficamos onde estávamos para passar a noite”.

A volta da brisa foi acompanhada de um curioso fenômeno atmosférico. O sol descambava no poente com um avermelhado de fogo, cingido por bulcões de nuvens rubras, ao mesmo tempo em que, do oriente, se via mover-se enorme massa de vapor que, vista à distância, mais parecia fumo de um grande incêndio. Essa massa veio vindo vagarosamente, tangida pelo vento, até que chegou onde estávamos, a ponto de que podíamos ver, enquanto passava, as pequeninas vesículas de que se compunha. Por cerca de cinco minutos o vento era tão quente que todos se apressaram em esconder-se dele. Dentro em pouco, porém, voltou a sua frescura habitual.”

Perguntando eu ao velho cacique se era frequente aquele fenômeno, respondeu-me que o era no começo da estação chuvosa, acrescentando que longa experiência lhe havia ensinado que era também precursor de um grande temporal.”

E o temporal vem, inexoravelmente! O horizonte cinzento ao cair da tarde, o calor abrasador e a calmaria sufocante prenunciam as indefectíveis trovoadas, tão temidas quanto aguardadas, para refrigério daqueles que dependem do bafejo da natureza para sobreviver.

Fiel ao ditado “trovoada de janeiro tarda, mas não falha”, embora já fosse 1º de março, a violenta tempestade, vinda do nordeste, desabou sobre o rio. A desproporcionada canoa de Gardner, que há pouco partira da ilha, em que pese os esforços dos seus três tripulantes, foi jogada para a margem Sul e, “durante esse terrível intervalo de tempo, o vento, a chuva, os relâmpagos e trovões eram tais como eu nunca antes arrostara. Estava inteiramente escuro, mas os coriscos, ora bifurcados, ora em lençóis de fogo, produziam, de quando em quando, uma luz quase tão intensa como a do meio-dia”.

Passada a tempestade, voltaram então ao ponto de partida para passar mais uma noite. Ao amanhecer, Gardner sentia-se mal.

***   ***

Acamado, e tendo como único recurso os remédios caseiros de uma velha índia, pode notar o modo de vida daquela gente, cujas mulheres se ocupavam em fiar redes e grosseiros panos de algodão, exceto aos domingos, quando, depois da missa, se divertiam jogando cartas. Já os homens – relata Gardner, eram “muito menos industriosos que as mulheres: ou ficavam em pé nos arredores, em completa ociosidade, ou se balançam em redes dentro de casa ou debaixo de alguma árvore”.

Sem quase ter o que comer, embora lá existisse uma pequena venda e não lhe faltasse dinheiro, apenas de podia encontrar alguma beberagem de óleo de rícino, de fabricação local...”mas, fora estes – surpreende-se Gardner – é estranho dizê-lo, só existia aguardente”.

Os pobres moradores da ilha estavam também literalmente na mais completa penúria, apenas se alimentando do fruto da Geoffroya suberba[xi], produto de uma pequena árvore bastante comum no sul da ilha. Chega à altura de quase vinte pés e dá um fruto polpudo, mais ou menos do tamanho de uma noz, chamado pelos índios de Umari.”

Em quase todas as casas, quer de índios, quer de brasileiros, vi uma grande panela desta fruta em preparação, ou dentro de casa sobre um fogo aceso no chão, ou debaixo de uma árvore nas vizinhanças da casa. Assim que estão meio prontas para comer, grupos de crianças em completa nudez; e homens e mulheres seminus sentam-se em roda da panela, cada qual munido de duas pedras, uma grande e outra pequena, para quebrar o caroço da fruta, depois de comida a parte carnosa. O miolo tem gosto um tanto semelhante ao do feijão cozido. Peixe é em geral o prato de resistência desta gente, mas é difícil apanhá-lo com o rio cheio.”

Tendo desistido de prosseguir viagem até as cachoeiras, Gardner deixou São Pedro no dia 12 de março, levando consigo diversas amostrar de plantas, que por certo em muito lhe ajudaram na consecução do seu intento.

Ali continuaram os índios e sua famosa ilha, motivo de futuras demandas, de cujas proporções e consequências jamais poderiam suspeitar.

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Transcrito do livro TERRA DO SOL, ESPELHO DA LUA. AMORIM, Etevaldo A. Ecos Gráfica e Editora. Maceio, 2004.

NOTA:

Caro leitor,

Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Segue abaixo, como exemplo, a forma correta de referência:

Sugestão de registro de referência:

AMORIM, Etevaldo Alves. GEORGE GARDNER NA ILHA DE SÃO PEDRO. Maceió, fevereiro de 2021. Disponível em: http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2021/02/george-gardner-na-ilha-de-sao-pedro.html. Acesso em: dia, mês e ano.

 

 



[i] A denominação da ilha não teve inspiração em São Pedro Apóstolo, a quem Jesus Cristo teria dito “Pedro tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, mas em um missionário jesuíta. Dom Pedro II, em visita à ilha em 1859, registra claramente: SÃO PEDRO DIAS.

 

[ii] George Gardner nasceu em Glasgow, na Escócia, em maio de 1812 e faleceu, com apenas 37 anos de idade, a 10 de março de 1849, no sanatório de Neura Ellia, Sri Lanka. Foi diretor do Jardim Botânico do Ceilão (atual Sri Lanka). Desembarcou no Rio de Janeiro, após quatro meses de viagem, na manhã de 23 de julho de 1836, e permaneceu no Brasil até meados de 1841. A Cattleya walkeriana, uma das orquídeas mais famosas, foi descoberta por ele em 1839, às margens de um afluente do rio São Francisco, no estado de Minas Gerais. O nome “walkeriana” foi dado para homenagear o seu assistente Edward Walker, que o acompanhou durante dois anos. Em 1820, Nathaniel Wallich (1786-1854) nomeou o gênero Gardneria da família das Loganiaceaes em sua homenagem. (Fonte: https://orquideasblog.com).

 

[iii] Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt. Nasceu em Berlim, Alemanha a 4 de setembro de 1769, e ali faleceu a: 6 de maio de 1859.

 

[iv] Karl Friedrich Phillip Von Martius

 

[v] Johan Baptist Von Spix.

 

[vi] Abreviatura internacional de Nor-Noroeste, um dos oito pontos sub-colatarais, situado entre o Norte e o Noroeste.

 

[vii] Abreviatura internacional de Oes-Sudoeste, um dos oito pontos sub-colatarais, situado entre o Oeste e o Sudoeste.

 

[viii] Ponto sub-colatarais, situado entre o Leste e o Nordeste.

 

[ix] Temperatura em Fahrenheit, equivalente a 38,3ºC.

 

[x] Zizyphus joaseiro, nome científico do Juazeiro, árvore típica do sertão.

 

[xi] Marizeira ou Marizeiro.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

UMA EXCURSÃO DO RECIFE ÀS CACHOEIRAS DE PAULO AFONSO

 

Por E. C.[i]

Graças à visita efetuada, de alguns anos para cá, por diversos cavalheiros residentes nesta província, já se vão tornando mais conhecidas essas belíssimas cachoeiras, verdadeira maravilha da natureza e realmente digna desta grandiosa e admirável terra do Brasil.

Cachoeira de Paulo Afonso. Foto: Marc Ferrez, 1875.

Entusiasmados pela narração d’uma viagem, realizada em fevereiro último pelo conhecido explorador francês Mr. Marcel Monnier[ii], o nosso mais vivo desejo era empreender uma excursão, na primeira ocasião, o que não se fez esperar.

Visitado ultimamente por dois distintos viajantes, M. M. Prosper Loques[iii] e Eduardo Morel[iv], representantes de casas de comércio de França e encarregados pelo governo de sua nação de estudos comerciais, conseguimos fazer entender aos nossos amigos e patrícios que uma visita às margens do São Francisco não seria destituída de todo interesse para o comércio europeu, e que, além disto, as cachoeiras de Paulo Afonso valiam bem a pena de se desviarem eles do itinerário pré-fixado.

Resolvida a excursão, embarcamos no dia 28 de julho e voltamos a 15 de agosto, maravilhados de tudo quanto presenciamos e ao mesmo tempo penhorados pelo amável tratamento que encontramos durante todo o percurso, tanto da parte dos funcionários do Estado, como dos particulares, o que mais uma vez confirmou a proverbial hospitalidade dos brasileiros.

Marcel Monnier, 1892.

É muita audácia de nossa parte procurar descrever o que são as cachoeiras de Paulo Afonso, quando tantos talentos já se recusaram a este trabalho, sob o pretexto de que tais maravilhas são indescritíveis. Com efeito, o são, e dignas da pena de um Agassiz[v] ou Humboldt[vi]; mas, possuído de sincero reconhecimento para com todas as pessoas com que entretivemos relações, sempre procuraremos manifestar as nossas impressões, com o único intuito de serem úteis e proveitosas àquela região do Brasil.

Segundo opiniões muito sérias, não há comparação que se possa fazer entre a muito reputada queda do Niágara, nos Estados Unidos da América do Norte, e as cachoeiras de Paulo Afonso.

Ali existe uma enorme e única queda d’água, de quarenta e tantos metros de altura; aqui são oito cachoeiras escadadas em quatro planos, avaliados em cento e tantos metros, do leito do rio ao fundo da última queda.

A chamada “primeira vista” é o lugar onde o Rio São Francisco, ainda de uma grande altura, acha-se dividido em quatro quedas de uns dez metros de altura e mais um rápido, que se reúnem todos numa bacia, para de novo se precipitarem em uma só cachoeira de 6 a 8 metros de altura.

Marcel Monnier. Foto: Gállica

Essa enorme massa d’águas quebradas, espumantes, formam um curso de 30 metros de comprimento sobre 20 de largo que parece mais um enorme monte de algodão desfiado posto em movimento por uma força invisível. Este mesmo curso atira-se de novo num abismo de alguns metros de profundidade e lá então vem juntar-se a outro braço do São Francisco da província da Bahia, chamado vulgarmente de Trapera, que é uma linda catadupa de uns vinte e cinco metros de altura e que parece ter dez a doze metros de altura.

Todas as águas do São Francisco reunidas, torcendo-se, parecendo ferver e com uma violência extraordinária caem num sorvedouro imenso, cuja profundidade não pode ser avaliada exatamente atenta à pulverização das águas que formam, ao levantar do sol, um esplêndido arco-íris. É a isto que se chama a “queda grande”.

Aqui terminam as cachoeiras, e o majestoso rio segue outra vez o seu curso no mesmo sentido da última queda, num percurso de cerca de duzentos metros entre montes muito elevados e, bruscamente, quase a ângulo direito, volta pela direita deixando do outro lado um leito com pouca água, de cerca de sessenta metros, que só enche na ocasião das cheias, e cujo fundo é a entrada da Furna ou Gruta dos Morcegos.

Gruta dos Morcegos. Foto: Adalberto Marroquim
Imaginem os leitores uma imensa cavidade praticada pelas águas numa montanha de trinta a quarenta metros de alto, a entrada principal de forma bizarra e toda oblíqua da direita para a esquerda, com vinte metros de altura, uma furna com mais de cinquenta metros de fundo sobre quinze a vinte de largo, verdadeira galeria de ruinas, habitada unicamente pelos morcegos. Em suma esta gruta é curiosa, mas não compensa o trabalho que dá ao visitante para descer e subir outra vez.

Voltemos agora à Cachoeira de Paulo Afonso para falar da vista chamada “o Angiquinho”. É o ponto mais elevado donde se tem a vista geral de todas as cachoeiras da direita e pela esquerda e aos pés, numa profundidade de mais de cinquenta metros a Grande Queda.


Angiquinho. Foto: Ignácio F. Mendo, 1880.


Queda de Angiquinho. Foto: Marcel Monnier, 1887.Fonte: Gallica – Biblioteca Digital Francesa



A sensação que se experimenta vendo-se aquilo não pode se explicar! Fica-se maravilhado e no mesmo tempo aterrorizado pelo grandioso e encantador espetáculo que se contempla.

Toda sorte de reflexões passa pelo cérebro e fica-se em admiração diante do esplendor da Grande Natureza!

Panorama igual nunca se olvida! Pensa-se somente nas grandezas da criação neste lugar quase deserto e de um encanto inimaginável.

Uma única casinha de barro e palha, a do vaqueiro que nos hospeda, fica distante meio quilômetro.

Só se ouve o estampido das águas, que parece a voz de um gigante ainda não imaginado!

Para o enlevo dos visitantes desejamos que as cachoeiras fiquem ainda muitos anos como estão, tias quais foram criadas; e somente por este motivo continuarão a ser mil vezes superior ao afamado Niágara onde a civilização já colocou fábricas de cerveja, restaurantes, etc, etc...

A vista chamada “Limpo do Imperador”, situada do outro lado da Furna, é realmente bonita. Mas a queda principal e a Trapera acham-se um pouco mais escondidas por uma enorme pedra que sobressai do lado esquerdo. Por esta razão, os nossos companheiros, M. M. Loques e Morel, tendo que tirar umas fotografias, procuraram entre o lugar Angiquinho e a volta do rio, um ponto livre de impedimentos. Depois de muito trabalho, acharam a ponta extrema de um rochedo, de onde se pode ver a Queda Grande e a Trapera. Este lugar foi, com a devida licença, batizado de “Vista dos Franceses”, nome que os habitantes do lugar prometeram conservar. Foi colocada uma bandeirinha com o dístico seguinte escrito a lápis:

“VIVA O BRASIL! VIVA A FRANÇA!

VISTA DOS FRANCESES

5 DE AGOSTO DE 1887

Distante das grandes cachoeiras um quilômetro, existe a cachoeira, ou antes, os rápidos do “Vai-e-Vem”, chamados assim pelo movimento das águas.

Imagine-se uma garganta entre pedras, de 6 a 8 metros de largura, sobre 30 de comprimento e cujo terreno é areia finíssima: é esse o lugar dos banhos.

Os amadores entrando para água, que sobre e desce constantemente com bastante rapidez – verdadeiro fluxo e refluxo do mar – num momento tem água até aos joelhos e até o peito. Os banhos aí são agradáveis, visto a constante renovação do elemento. Este movimento de vai e vem é causado pelo encontro de duas correntezas de braços diferentes do Rio São Francisco.

A vida que se passa nas cachoeiras é a mais primitiva que se pode desejar. Encontra-se, entretanto excelente leite de vaca, ovos, galinha, deliciosa carne do sol, muitas cabras, cabritos e porco. Há bastante caça, sobretudo rolas, rolinhas, periquitos e papagaios.

O homem que nos dá hospitalidade ali se chama Luiz de França do Nascimento; é vaqueiro do Exmº Sr. Barão de Água Branca[vii], riquíssimo capitalista e proprietário de uma imensa porção de terrenos para criação de gado, junto às cachoeiras.

A casa do vaqueiro é pequena e tem duas saletas: a da frente, geralmente oferecida aos hóspedes, não tem porta; de sorte que não é raro serem estes visitados durante a noite por cabras, cabritos e porquinhas, sem falar de outros animaizinhos.

Praticará, portanto, um ato de caridade e ao mesmo tempo de patriotismo bem entendido S. Excª o Sr. Barão de Água Branca se se resolver a mandar fazer ali uma casa mais cômoda.

É bem certo que logo que o mais simples conforto faltar, as cachoeiras de Paulo Afonso serão visitadas por um número mui limitado de pessoas, porém mais certo é que no dia em que os visitantes tiverem a certeza de que não serão obrigados a dormir à la belle étoile, expostos ao sereno, ao frio e à chuva, do sul e norte do Império e, quem sabe?, talvez da Europa, os touristes hão de afluir e contribuirão para enriquecer a região, que entre parênteses, nos pareceu assaz pobre e de vegetação raquítica, pois, afora a criação de gado e pequenas plantações, não notamos outras espécies de rendimento para a população.

Esperamos que S. Exª o Barão de Água Branca se dignará de ouvir o humilde apelo que fazemos aos seus sentimentos e que mandará levantar uma casa onde todos os visitantes possam estar ao abrigo das inclemências do tempo.

A viagem para as cachoeiras de Paulo Afonso, que deve ser efetuada de Junho até Outubro por causa da baixa das águas, é muito fácil como poderão julgar os que me levem pelo itinerário que damos abaixo; e se não fosse a falta absoluta de conforto no seu término, estamos certos de que a estrada de ferro teria uma receita mais vantajosa do que tem atualmente.

De Jatobá, ponto extremo da linha às cachoeiras, ou antes, dos rápidos de Itaparica a distância é de 3 a 4 quilômetros.

Uma excursão a esses rápidos é penosíssima e de pouco interesse comparada com a que se faz à cachoeira de Paulo Afonso, apesar de que o braço principal do São Francisco forma um admirável rápido: talvez o mais importante do mundo.

O mais curioso nessas paragens são as pedras de formas excêntricas, de cor de ferro ou bronze envernizado, denominadas “os caldeirões”; com efeito, parecem caldeiras monstruosas usadas pelas grandes indústrias.

Encontra-se uma grande variedade de pedrinhas curiosíssimas e bastante cristal e, procurando-se com cuidado, encontrar-se-ão diamantes.

O Rio São Francisco divide-se aí em diversos braços, sendo um tão estreito que os guias atrevem-se, apesar do perigo, a pular de um lado para outro sobre apedra lisa.

Itaparica não dá ideia do que são as cachoeiras de Paulo Afonso e pode a gente dispensar-se de ir até lá; são 46 quilômetros de menos pela estrada de ferro.

ITINERÁRIO E INFORMAÇÕES.

Do Recife embarca-se nos vapores das Companhias Baiana ou Pernambucana, que saem para Penedo, pelo menos semanalmente.

O serviço de bordo é bem feito e a comida muito regular.

A viagem do Recife a Maceió é de 10 a 12 horas e de Maceió 6 à Barra do São Francisco.

Maceió. Deixa ao passageiro uma impressão muito agradável: pressente-se que a capital da província das Alagoas vai brevemente tomar grande desenvolvimento.

Macei, Rua do Comércio. Foto Julien Boquel 1872/Instituto Moreira Salles


A barra do grande rio é de um acesso bastante difícil, devendo-se aproveitar o levantamento das ondas para passá-la e, apesar da perícia e grande prática não só dos comandantes dos vapores como também dos práticos especiais, o navio dá quase sempre algumas pancadas na areia.

Os vapores sobem geralmente o rio até Penedo, mas às vezes, quando as águas estão baixas, fundeiam a três ou quatro milhas da barra (a maré não se faz aí sentir sensivelmente). Então, o prático do rio, os passageiros e malas são baldeados para uma embarcação que faz lembrar a barcaça pernambucana, que no Rio São Francisco chama-se: canoa.

A canoa difere da barcaça tanto pela disposição da mastreação como pela colocação do camarote, que é de palha e acha-se na proa e não na popa. Quanto à sua mastreação, é composta simplesmente de um mastro grande, armado de duas velas de cada lado, o que deu ocasião a S. M. o Imperador, o Sr. D. Pedro II, na sua viagem às cachoeiras, lhe desse o nome tão bem aplicado de “Borboleta do São Francisco”.

A canoa contribuiu muito para a alegria da viagem.

Nada mais interessante do que quando se encontram porções dessas borboletas subindo o rio, às vezes com mais rapidez do que os vapores.

Chega-se em Penedo no fim de duas horas, depois de ter passado o povoado de Ilha dos Bois, vendo-se algumas plantações de cana, e Vila Nova, na província de Sergipe, vila que nos pareceu em vias de prosperidade, graças à importante fábrica de azeite de algodão e de outras qualidades de propriedade dos Srs. A. Vaz de Carvalho & Cia.

O aspecto de Penedo é muito bonito, mas, infelizmente a ilusão se perde ao desembarcar: tal é o estado de desleixo em que se acha o lugar de desembarque.

Entretanto, Penedo é um centro e talvez chamado a tornar-se uma cidade de grande importância daí a pouco tempo. Muitas transações dali são efetuadas com a capital da Bahia e poucas com a de Pernambuco.

Penedo acha-se relacionado com todas as localidades do Rio São Francisco até Piranhas por uma linha de vapores subvencionada pelo governo geral, linha de uma importância capital e cujo serviço é pontualmente feito. Cada segunda-feira de manhã segue o vapor para Piranhas, ponto extremo da navegação, situado mais ou menos cem milhas acima, as quais são percorridas em 16 horas de marcha, não contando a noite, durante a qual o vapor não anda, atentas as dificuldades da navegação.

Esta viagem é muito interessante e curiosa por causa das inúmeras voltas que faz continuadamente o vaporzinho e que tornam o caminho duas vezes mais comprido.

É preciso que a gente do bordo esteja muito acostumada para não encalhar, pois, a cada instante, encontram-se bancos de areia chamados “coroa” e duas ou três milhas antes do termo da travessia navega-se no meio de pedras: dois homens no leme são suficientes para o navio obedecer às ordens do prático.

A paisagem das margens do rio é admirável e nunca aborrece.

O vapor levando as malas faz escala em quase todos os pontos habitados, e toma passageiros em todo o percurso.

A tarifa da passagem varia até 120 rs, de uma localidade a outra.

As escalas são as seguintes:

1.      Saúde;

2.      Propriá (província de Sergipe, cidade de bela aparência);

3.      Porto Real do Colégio;

4.      São Brás;

5.      Amparo;

6.      Lagoa Comprida;

7.      Traipu;

8.      Curral de Pedras;

9.      Ilha do Ouro;

10.  Vila do Belo Monte;

11.  Araticum;

12.  Limoeiro;

13.  São Tiago;

14.  São Pedro;

15.  Pão de Açúcar (cidade da província das Alagoas admiravelmente situada numa imensa bacia; de frente, na outra margem do rio, o lugar é chamado Niterói, o que completa a ilusão de um Rio de Janeiro em miniatura).

16.  Ilha do Ferro;

17.  Curralinho;

18.  Entremontes;

19.  Nova Olinda;

20.  Piranhas: pequena povoação de Alagoas de um pitoresco estranho, construídas sobre os lados e no vale de duas montanhas.

Ao pé da vila de Piranhas está situada a estação principal da Estrada de Ferro de Paulo Afonso, de um admirável efeito.

Acha-se ali em construção uma igrejinha para cuja edificação trabalha o povo inteiro, graças à energia e dedicação do Rev. Capuchinho Fr. Venâncio[viii], que conseguiu levar o povo em procissão e ao anoitecer à beira do rio para buscar milheiros de tijolos e outros materiais; e assim homens e meninos, mas sobretudo mulheres, vão cantando e carregando a sua meia dúzia de tijolos a um quilômetro de distância.

Infelizmente o dinheiro falta e, apesar da boa vontade de todos e do Rev. Fr. Venâncio, a pequena igreja não se terminará se o Governo provincial ou geral, ou uma pessoa caridosa não vier contribuir com o seu óbolo para auxiliar a construção dela.

Piranhas, AL, vendo-se a igreja em construção.

Os trens de passageiros chegam até Jatobá e estações intermediárias, partem duas vezes por semana, às segundas e quintas-feiras, regressando nas terças e sextas.

A Estrada de Ferro de Paulo Afonso tem a reputação de haver custado ao Estado uma quantia avultadíssima; pareceu-nos bem construída apesar da imensidade de curvas, subidas e descidas, a maior parte das quais poderia ser evitada.

O material rodante é muito reduzido; é de origem americana. O combustível utilizado para as locomotivas é lenha e não carvão de pedra, custando em Piranhas a tonelada deste último produto trinta a quarenta mil réis. Sendo o rendimento da estrada quase nulo, as despesas devem ser e são muito reduzidas. Os seis primeiros quilômetros, à saída de Piranhas, são os que exigiram mais obras em consequência das subidas fabricadas na pedra viva.

Piranhas. Estação da Estrada de Ferro Paulo Afonso. Foto: Adolpho Lindemann, 1888


O panorama é esplêndido, mas o trajeto torna-se monótono uma vez chegado o trem à planície.

A vegetação é pequena, os arvoredos de pequena altura, o terreno muito pedregoso. A pouca distância de Piranhas encontra-se pedra mole e de excelente qualidade para as edificações.

O trajeto da estrada até Jatobá é de 6 horas, e de 4 somente até Sinimbu, lugar mais perto das cachoeiras de Paulo Afonso, onde se encontram cavalos, geralmente bons, para alugar. O caminho para as cachoeiras é excelente e em menos de duas horas pode-se chegar ao fim da viagem.

Jatobá é de fundação recente, já contando mais de duzentas casas: há quatro ou cinco anos não existiam dez! Todas as autoridades, que outrora estavam em Tacaratu, passaram para Jatobá. Esta vila é, talvez, de um grande futuro. Para ali, provavelmente, é que serão trazidos, depois da desobstrução do Alto São Francisco, em que se está trabalhando ativamente, muitos produtos das províncias de Minas Gerais e da Bahia, pelo menos durante o tempo em que não ficarem prontas as linhas de prolongamento da estrada de ferro de S. Francisco, tanto do lado de Pernambuco como da Bahia.

O que já de notável a ver em Jatobá mesmo é, especialmente, o cais da estrada de ferro, na beira do rio, de uns 16 a 20 metros de altura sobre 25 ou 30 de comprimento, talhado em parte na rocha. Obra bonita é esta, mas de um custo elevado para as necessidades atuais. A estação e oficinas da estrada também são monumentos que não passam despercebidos.

RESUMO

A viagem às cachoeiras de Paulo Afonso é não somente muito fácil como pouco dispendiosa. A passagem do Recife a Penedo é de 30$000 por pessoa, e de 4$ ou 5$ a estada em Penedo (dois dias); 6$500 a passagem de Penedo a Piranhas; 6$000 em quatro refeições diárias a bordo do vaporzinho fluvial; 4$000 na da estrada de ferro de Piranhas a Sinimbu; 5$000 de aluguel por um cavalo por 3 dias.

Gasta-se nas cachoeiras o que convier, pequena gratificação ao guia, leite muito barato, ovos a quatro vinténs a dúzia; mas deve-se levar todas as outras provisões de boca como: vinho, pão, aguardente, etc, que são artigos desconhecidos por lá.

Não podemos acabar este pequeno trabalho sem vir agradecer publicamente, do fundo da alma, a todas as pessoas que nos dispensaram suas amabilidades, avisos, conselhos e recomendações.

Entre elas ao:

Exmº Sr. Dr. Moreira Alves[ix], Ex-Presidente da Província das Alagoas.

Ao Ilmº Sr. Comendador Manoel Leão[x], de Maceió e Exmª família.

Ao Exmº Sr. Dr. Novaes de Carvalho[xi], muito digno Juiz de Direito de Jatobá e sua Exmª família.

Ao Ilmº Sr. Coronel Antônio Ulisses de Carvalho, simpático e amável empreiteiro da navegação do S. Francisco.

Ao Ilmº Sr. Dr. Henrique Théberge[xii], diretor interino da Estrada de Paulo Afonso.

Ao Ilmº Sr Valdevino[xiii], Chefe da Estação em Jatobá e sua digna consorte.

Ao Ilmº Sr. Dr. Vicente Landim[xiv], Promotor Público de Pão de Açúcar.

Aos Ilmºs Srs. Alberto e Samuel Vaz de Carvalho, distintos industriais em Vila Nova.

O Ilmº Sr. Major Theodósio[xv], de Piranhas, do qual conservamos a melhor lembrança por sua dedicação em fazer-nos visitar a oitava maravilha do mundo:

AS CACHOEIRAS DE PAULO AFONSO.

Terminando, repetiremos aqui o que escrevemos no livro dos visitantes:

AMADORES! APRONTEM AS PERNAS. OS INCOVENIENTES DA EXCURSÃO SERÃO LOGO ESQUECIDOS E LARGAMENTE COMPENSADOS PELAS BELEZAS QUE VÃO ADMIRAR.”

(Por oito visitantes saídos de Pernambuco em viagem de recreio[xvi]), E. C.

Recife, 26 de agosto de 1887.

José Moreira Alves de Carvalho. Foto Alberto Henschel


Dr. Henrique Theberge. Foto. Academia Cearense de Letras

Dr. José Novaes de Souza Carvalho. Foto: STM





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NOTA.

Caro leitor,

Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, exibe postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Segue abaixo, como exemplo, a forma correta de referência:

Sugestão de registro de referência:

CHALINE, Eugène. UMA EXCURSÃO DO RECIFE ÁS CACHOEIRAS DE PAULO AFONSO – NOTAS DE ETEVALDO AMORIM. Maceió, fevereiro de 2021. Disponível em: http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2021/02/uma-excursao-do-recife-as-cachoeiras-de.html. Acesso em: dia, mês e ano.



[i] O autor assina apenas com as iniciais “E. C.”. Quem poderia ser? Seria uma pena publicar sem ter a identificação de quem escreveu tão preciosas considerações sobre a nossa Cachoeira de Paulo Afonso. Pusemo-nos então a pesquisar e, por fim, revelou-se o autor. Trata-se de Eugene Joseph Chaline, conhecido empresário residente no Recife lá pelo final do Século XIX.

Chegamos a essa conclusão a partir da data de seu embarque para a sua excursão. Seu nome está entre os passageiros do vapor S. Francisco, partindo do Recife para os portos do Sul, em companhia de sua esposa e dos franceses M. M. Prosper Loques e Eduardo Morel (JORNAL DO RECIFE, 29 DE JULHO DE 1887).

A partir de 1880, E. Chaline passou a atuar como agente da Agência telegráfica Havas, de Paris, no Recife; correspondente do Jornal do Comércio-RJ; Diretor-Secretário da Companhia Hotel Internacional de Pernambuco. Nascido na França, filho de Miguel Chaline e de Elizabeth Chaline.

[ii] Escritor francês. Nasceu em Paris 8 de fevereiro de 1853 e faleceu  a 18 de setembro de 1918, em Jeurre, França.

[iii] Nota do jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, edição de 26 de setembro de 1887, informa a chegada de Prosper Loques e Edouard Morel à Capital do Império, depois de uma excursão de cerca de cinco meses ao Amazonas, Pará, Maranhão, Alagoas e Bahia. A missão de Loques, representando grandes fábricas francesas na América Latina e Antilhas, seria estudar os meios de desenvolver as relações comerciais da França com países desses continentes. Edouard Morel o ajudava, sendo encarregado da livraria literária, industrial, artística e médica. O jornal ainda registra que Prosper Loques teria colaborado com o Brasil, auxiliando o jornalista francês Emilio Delean, no jornal Le Brézil a la Exposition d’Anvers durante a realização da  Exposição Universal de Antuérpia, também conhecida como Exposition d'Anvers, que aconteceu de 2 de maio a 2 de novembro de 1885, na Bélgica. Essa Exposição recebeu cerca de 3 milhões e meio de habitantes e contou com a participação de 25 nações. O delegado especial do governo imperial brasileiro na exposição foi o Conde de Villeneuve, que destacou sua importância para atrair a atenção do comércio europeu para as matérias-primas brasileiras. Delean, aliás, redigiu por muitos no Rio de Janeiro o jornal Messager du Brezil.

[iv] Edouard Morel. 8 de fevereiro de 1853, Paris. Faleceu em Jeurre, França, a 18 de setembro de 1918.

[v] Jean Louis Rodolphe Agassiz foi um zoólogo, geólogo suíço. Nasceu em Mont-Vully

 A 28 de maio de 1807 e faleceu no dia 14 de dezembro de 1873, em Cambridge, Massachusetts, EUA.

[vi] Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt. Geógrafo, naturalista e explorador nascido na Prússia, atual Alemanha. Nasceu em Berlim a 14 de setembro de 1769 e faleceu  e ali faleceu a 6 de maio de 1859.

[vii] Joaquim Antônio de Siqueira Torres. Nasceu a 8 de dezembro de 1808 e faleceu a 29 de janeiro de 1888. Filho de Teotônio Vitoriano Torres e Gertrude Maria da Trindade. “Recebeu do imperador Pedro II o título de “Barão de Água Branca”, em 15/11/1879.

[viii] Frei Venâncio Maria de Ferrara (1822-1906) que foi Prefeito da Congregação dos Capuchinhos no hospício da Penha – Pernambuco. Fundador do povoado Santa Cruz do Deserto, município de Mata Grande-AL (http://blogdoetevaldo.blogspot.com/2015/06/santa-cruz-do-deserto-2.html)  

[ix] José Moreira Alves da Silva. Presidente das Alagoas de 8 de novembro de 1886 a 5 de setembro de 1887. Nasceu em Escada-PE, 28 de novembro de 1850. Faleceu no Acre, 8 de maio de 1909) foi um político brasileiro. O Dr. Moreira Alves chegara, no dia 18 de julho de 1887, de excursão às Cachoeiras de Paulo Afonso.

[x] Manoel Joaquim da Silva Leão.

[xi] José Novaes de Souza Carvalho. Filho de Manuel José de Carvalho e Veridiana de Sousa Lima e Carvalho, nasceu em Anapurus, Estado do Maranhão, a 02/04/1852. Estudou no Porto-Portugal, tendo se formado pela Faculdade de Direito do Recife em 1874, ano em que se casou com Júlia Augusta Guimarães de Carvalho. Foi nomeado Juiz de Direito de Jatobá em 24 de dezembro de 1886. Foi Ministro do Supremo Tribunal Militar. Faleceu a no Rio de Janeiro a 26 de março de 1925. Fonte: https://dspace.stm.jus.br/. Gazeta de Notícias, RJ, 27 de março de 1925.

[xii] Engenheiro e militar. Filho de Pedro Francisco Théberge (médico francês e historiador) e Maria Elisa Soulé Théberge, nasceu no Recife a 27 de junho de 1838 e faleceu em Fortaleza-CE a 11 de junho de 1905. Era casado com Emília do Amaral Théberge.

[xiii] Valdevino Vieira Sandes.

[xiv] Vicente de Leirins Ferreria Landim.  Nasceu em São Lourenço da Mata-PE a 24 de maio de 1859. Formou-se em 5 de novembro de 1885 pela Faculdade do Recife. Assumiu a promotoria em 1885.

Em 1886, casa-se com Maria Bernardina Alves Cavalcante, que após o casamento passou a se chamar Maria Cavalcante Ferreira Landim. Era pai do Monsenhor Landim (Manoel Alves Ferreira Landim), nascido em Pão de Açúcar a 3 de maio de 1887. Falecem em 1943.

[xv] Manoel Theodosio Bispo.  Foi por muitos anos condutor de malas dos Correios em Piranhas. Segundo nota do Diário de Pernambuco de 15 de janeiro de 1926, faleceu em Jatobá de Tacaratu-PE com a avançadíssima idade de 130 anos. Diz ainda a nota que ele foi “por muito tempo a pessoa de maior representação em Piranhas-AL, onde nasceu”.

[xvi] Ernesto Demétrio da Costa Amorim, a mulher dele, cunhada dele, Eugene Chaline, Antonieta, Prósper Loques, Eduardo Morel, Manoel Custódio da Silva.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia