sábado, 27 de abril de 2024

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AS CRUELDADES DE LAMPEÃO EM TERRAS DE PÃO DE AÇÚCAR

 

Por Etevaldo Amorim

 

Lampeão. Foto:Benjamim Abrahão.
Acervo IMS.


Segunda metade da década de 1920. Hordas de cangaceiros de espalham pelos sertões a cometer toda sorte de perversidade, muitas vezes sem a devida ação inibidora dos poderes públicos. Atemorizados, os sertanejos viviam em sobressalto, temendo a fúria dos bandoleiros, que tomavam de assalto as cidades do interior, saqueando o comércio e extorquindo fazendeiros.

A imprensa de todo o país noticiava fartamente as ações desses grupos de malfeitores, especialmente os chefiados por Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampeão”.

Cansados de tanta insegurança, e extremamente prejudicados em seus negócios, alguns produtores rurais de Pão de Açúcar, distribuem aos jornais do Sul do país um

 

APELO DE PÃO-DE-AÇUCARENSES AOS PODERES PÚBLICOS – CANGAÇO

 

“Pão de Açúcar, 26 de junho de 1926. – Exmº Presidente da República, governadores dos Estados, presidentes das Associações Comerciais.

Os abaixo firmados, autoridades federais e estaduais, comerciantes e proprietários em Pão de Açúcar, Estado de Alagoas, inspirados pelo nobre sentimento de humanidade, irmanados no sofrimento atroz dos seus irmãos, vitimas indefesas das depredações, incêndios, assassínios, violências, espancamentos, estupros, praticados pelo sinistro grupo de bandoleiros chefiados pela fera vil e desforme por alcunha Lampeão, ainda espectadores das ruinas, cicatrizes, lamentações dos órfãos desonrados e dos que ficaram em completa miséria, recorrem aos governos dos Estados, às associações comerciais e aos bandos precatórios para um justo e valioso auxílio, socorrer as misérias implantadas e para a restauração dos escombros do comércio dos povoados de Olhos D’Água, Caboclo, Serrote, Furna e Tapera, pontos cardeais, fadado no campeio da horda de canibais.

Apelamos para a imprensa brasileira, nossos patrícios e patrícias, e lançamos o nosso brado de angústia e desejo para a obtenção da importância de cento e cinquenta e oito contos, quantia esta comprovada e julgada por peritos idôneos, para a restauração do comércio sinistrado para a explosão da fome dos flagelados e para enxugar as lágrimas copiosas derramadas por nossos irmãos conflagrados.

Para autenticar os horrores e o requinte de perversidade demonstrada, é suficiente indicar as fotografias dos escombros estampadas nas revistas do país e expor o caso de assassinato do proprietário Manoel Soares, que procurando evitar o estupro de sua filha que pedia socorro, foi sangrado miseravelmente, sendo apresentado o cadáver, em regozijo de tão bestial ação, inúmeros desatinos praticados, seria prolixo comunicar.

A comissão agradecida pelo caridoso apoio que nos proporciona para esta meritória caridade, roga encarecidamente que as espórtulas sejam enviadas diretamente ao sr. Presidente da Associação Comercial de Alagoas.

Foram tomadas as providências pelo homem de rija têmpera, governador Costa Rego, que não poupou esforços em extinguir o tétrico grupo, o que infelizmente não logrou, em face da tamanha vitalidade com que foram feitos os assaltos.

Os nossos sentimentos ajoelham-se agradecidos, com uma prece ao Criador, pelo ânimo que oferecem aos desonrados de ventura.

Com estima e consideração, subscrevem-se – Manoel Pastor da Veiga[i], Manoel Campos[ii], Manoel Rego[iii] e Álvaro Simas.[iv]

Transcrito do jornal O BRASIL, RJ, 15 de julho de 1926, p. 4.



Manoel Campos

Lampeão. Foto:Benjamim Abrahão.
Acervo IMS.

Manoel Pastor Filho.




Cap. Manoel Rego










***   ***

Pouco tempo depois, já do ano de 1927, encontramos no jornal PRAÇA DE SANTOS, Santos-SP, edição de 29 de março de 1927, um longo e minucioso relato de um pão-de-açucarene que não se identifica. Transcrevemos na íntegra:

 

“AS HEDIONDAS FAÇANHAS DE LAMPIÃO

 

Para não perder o sabor e para que os nossos leitores tenham uma ideia do que é o banditismo na região nordestina do país, publicamos, na íntegra, em toda a sua simplicidade, uma correspondência recebida da cidade de Pão de Açúcar, no Estado de Alagoas.

Ei-la:

Entrando os bandidos pela estrada que separa Água Branca de Mata Grande, vinte e nove quilômetros distante de uma cidade a outra, principiaram os bandidos incendiando diversas fazendas e habitações naquelas paragens sertanejas, e tomaram a direção da estrada que segue para o município de Pão de Açúcar. Em caminho, destacaram um grupo de suas feras humanas, indo este parar em Entremontes, povoado pertencente ao vizinho município de Piranhas e praticaram ali incêndios, roubos e destruíram tudo quanto era útil e agradável.

Depois da prática de toda sorte de depredações, seguiram em fortes cavalos para o florescente povoado deste município

 

CABOCLO[v]

localidade por eles invadida pela segunda vez, e não saciados de terem incendiado, roubado diversas casas, assassinaram o lavrador José Vieira de Souza, depois de o amarrarem, porque não lhes dera a importância em dinheiro exigida. O mesmo triste destino tiveram os lavradores de nomes José Francisco dos Anjos e Balbino de Tal, filho do inditoso Balbino Elias, e fizeram-se a caminho da fazenda

 

EMENDADAS

 

Não encontrando o seu proprietário Manoel Rodrigues da Silva, conhecido por Bié, prenderam os facínoras um filho deste, ordenando-lhe que mandasse comunicar ao pai achar-se preso e que custaria a sua liberdade o “tributo” a pagar da importância de 4:000$000. Apavorado, o velho Bié, ao ter conhecimento do que se estava passando em sua vivenda, e querendo salvar a vida de seu filho querido, mandou um portador a esta cidade pedir ao seu amigo padre Soares Pinto emprestada aquela quantia, no que foi satisfeito, passando esta de suas mãos para as do bandido Lampião, que partiu com seus comparsas para o lugarejo

 

MALHADINHA[vi]

 

aonde, barbaramente, mataram o velho lavrador Pedro Breba e seguiram para o lugar

 

HORIZONTE

 

e se encontrando com Manoel Pedro, velho sexagenário, o assassinaram fria e barbaramente, tomando logo a estrada da fazenda

 

MALHADA DA PEDRA

 

indo se terem os bandidos a propriedade do mesmo nome com o seu proprietário Francisco da Silva Campos, que depois de muito maltratado, foi obrigado a acompanhá-los até Pedrão, onde fora solto, logo que pagou a quantia “tributada” pelo “governador” do sul do Estado. A quantia exigida foi de 2:000$000, em dinheiro, que a pedido do prisioneiro, remetera ao mesmo o negociante de nossa praça José de Freitas Machado. Chegada às mãos de Francisco da Silva Campos, este a passou ao famigerado Lampião, seguindo com seus asseclas para a pitoresca fazenda

 

BOM CONSELHO[vii]

 

que dista da cidade de Pão de Açúcar nove quilômetros. Chegados ao pátio da mesma, ordenaram ao vaqueiro dessa que fosse à presença de seu amo, em Pão de Açúcar, e intimaram-no por carta, a pagar o tributo da quantia de 6:000$000. Tendo Luiz Gonzaga Machado, o proprietário e criador se negado a pagar a quantia exigida, os famigerados bandidos, sedentos de sangue, despejaram suas armas no gado existente no pátio e reserva da fazenda, praticando a mortandade de 111 cabeças. Horas depois de descanso, seguiram para a fazenda.

 

MUNDO NOVO

 

de propriedade do laborioso agricultor e criador Manoel Henrique, o qual se achava em Pão de Açúcar, e, intimado a pagar o seu tributo de 5:000$000, também se negou a dar a quantia, sendo por isso sacrificado todo o gado da fazenda.

Além do gado, foi morta toda a criação miúda, e fizeram-se em demanda ao agradável povoado

 

MEIRUS

 

hoje em cinzas, despertando as saudades dos dias felizes de festas que passamos ali e tristezas a quem observa as ruinas, destruídas pelo fogo ateado pelos bandidos perversos, nas propriedades do criador e negociante João Pereira de Mello[viii]. Não saciados seus instintos de feras, ainda mataram o gado que se achava em frente às casas e partiram para o arraial

 

IMPOEIRAS

 

perto de Meirus três quilômetros, e não encontrando ninguém, deitaram fogo em diversas casas, sendo duas delas de moradia do agricultor Manoel Quinino, ficando destruído tudo quanto nelas existia, e seguiram para a fazenda

 

FARIA DO MEIO[ix]

que foi surpreendida pelos bandidos, indo se terem a casa do velho lavrador, o preto Honorato Cabeludo, levando-o a coice de armas e a chicote, depois que conseguiram tomar um cavalo e pequena importância que possuía este, levaram-no até Pedrão onde fora solto devido a rogos e compaixão de outros prisioneiros que garantiram não possuir dinheiro o desventurado negro e partiram para o lugar

 

AGRESTE[x]

 

e não encontrando, os bandidos, o proprietário e lavrador Manoel Antônio dos Santos, indignados por não terem feito mais uma presa, lançaram fogo às suas propriedades, reproduzindo-as a pó com tudo quanto nelas encontraram. Na mesma localidade, tomaram de surpresa a casa do lavrador e criador Negro Geraldo e imediatamente o prenderam até Pedrão, donde fora solto depois de pagar a importância de 2:000$000, dinheiro este que mandou buscar em casa do negociante nesta cidade, Manoel Pastor, pra salvar sua vida e liberdade, e, em batida, os bandidos seguiram para o povoado

 

PEDRÃO[xi]

 

do município de Santana do Ipanema, abandonado pelos seus habitantes, teve a mesma sorte porque passou Agreste. Avisado o negociante desse povoado Calixto Anastácio da Silva de que Lampião já se achava em caminho para Pedrão, tentou salvar um automóvel e grande quantidade de algodão, ensacado, escondendo-se no mato. Mas, infelizmente fora baldada sua tentativa. Os bandidos descobriram aonde se achava o automóvel e o algodão e deitaram fogo, reduzindo tudo a cinzas, sendo nessa ocasião pilhado o mesmo negociante e conduzido para o povoado

 

CAPIM[xii]

 

que é também do município de Santana do Ipanema. Indefeso, foi teatro de tristes cenas praticadas pelos celerados bandidos. Aí chegando com seu prisioneiro, o negociante Calixto Anastácio da Silva, mão à obra: - Saquearam, incendiaram e, quando ardiam as habitações em chamas, Calixto foge embrenhando-se pelo mato, escapando assim da sanha dos malfeitores. Os bandidos procuraram por todas as partes da povoação famílias e pessoas apontadas por seus espiões. Quando em fuga se achava a família do negociante Belarmino Vieira de Oliveira, foi apanhada pelos bandidos que satisfeitos, ordenaram à senhora do Sr. Belarmino que procurasse saber onde ele se achava e mandasse dizer que sua liberdade e de uma sua sobrinha custaria 9:000$000. Encontrado Belarmino, por pessoa da família, lhe expuseram a situação, resolvendo este pagar o tributo de... 9:000$000. Os prejuízos em dinheiro e no incêndio de sus moradas são avaliados em mais de 30:000$000. Procuramos o negociante Belarmino e este nos contou o que acabamos de narrar e acrescentou:

O que há de notar é que, momentos depois do ocorrido, era chegado um oficial da força policial de Alagoas acompanhado com bastante soldados, e sabendo que o bandido, com sua gente, se achava a certa distância, não o perseguiu, apesar de oferecer-me para acompanhá-los com o pequeno número de amigos que dispunha naquele momento. Não aceitando o meu oferecimento, ordenou ensarilhar armas, descansando com sua força dois dias, a contemplar o incêndio do Néro”.

Na mesma localidade também sofreu enorme prejuízo o negociante Antônio Serapião. Em seguida, partiram os bandidos para a fazenda

 

BRAZ

 

de propriedade do bondoso negociante Antônio Amaral, ao qual enviaram duas cartas, sendo uma assinada pelo bandido Virgulino Ferreira e outra pelo célebre facínora Sabino Gomes, cada qual pedindo certa quantia. Receoso, o negociante Amaral, pelos fatos anteriormente praticados em outras fazendas vizinhas, cogitou em ir até a sua chamada “Bráz”, lugar onde estavam alojados os bandidos, uma vez que eles exigiam sua presença ali, segundo carta em seu poder, e prometiam garantias de vida. Foi uma situação angustiosa... Por um lado, sentiu em seus braços a esposa estremecida com seus filhos que lhe rogavam pedindo para não se entender com os bandidos e, pelo outro, via o perigo iminente, não só de ver destruídas todas as suas fazendas, como também suas propriedades em Sertãozinho, onde se achavam todos os seus haveres.

Resignado, despede-se da família que, em pranto, o abraça, indo entender-se com os bandidos. Andaram com ele por cantos e recantos de sua fazenda e depois de exigirem o pagamento de seu tributo de 10:000$000, lembraram ao Amaral que ele já estivera em armas para recebê-los. Desculpando-se Amaral, mesmo assim pagou a importância de 5:000$000m dizendo nessa ocasião o célebre bandido Sabino, “que era muito pouco”. Satisfeitos os seus desejos, os bandidos deram licença para retirar-se Amaral para Sertãozinho, aonde com ansiedade o esperava aflita a sua família.

Sabemos que foram os bandidos vistos em derredor de Palmeira dos Índios e lá praticaram toda sorte de vandalismo que se pode imaginar.

Nada mais podemos adiantar por faltar-nos informações que nos mereçam fé. E, assim passamos 11 dias de torturas da entrada até a saída dos bandidos em nosso sertão, vendo desaparecer vidas queridas, manchados os lares das famílias e destruindo fortunas pela audácia e pela chama incandescente do incêndio, não nos chagando ao menos, em nosso auxílio, um soldado da nossa força militar do Estado.

Quando no auge do perigo a cidade “Branca”, na frase do saudoso conterrâneo Bráulio Cavalcante, ameaçada estava pela invasão dos bandidos, vieram-nos confortar abnegados soldados filhos da terra de Fausto Cardoso[xiii] e de outros intemeratos vultos da terra dos Tupis, disciplinados mantenedores da ordem pública, tendo como seus superiores cavalheiros de fino trato como o Cap. Jorge Távora[xiv], tenente Benilde Cunha[xv] e tenente Bernardino Souza[xvi], da 7ª expedição sergipana que veio guarnecer suas fronteiras, nos prestaram relevantes serviços, bem assim a segunda, que tinha à sua frente o capitão Deoclides Bastos[xvii], tenente Mário Magalhães[xviii] e tenente Alcides Souza, briosos militares que também muito nos auxiliaram deixando a todos a viva impressão e saudades pela maneira digna como se conduziram em nossa cidade. Por ocasião de seus embarques, estiveram presentes o Tiro de Guerra nº 656 de nossa cidade, comandado pelo brioso sargento José Ferreira Brabo[xix], os patriotas e defensores da cidade e o povo que, em vivas calorosos, saudavam os nossos hóspedes no momento da despedida.

Eis, em ligeiras notas, a narrativa dos lutuosos fatos praticados pelos bandidos nos sertões de minha terra, para vergonha dos filhos da pátria dos marechais.

Voltaremos.”

 

***   ***

De fato, segundo notícia procedente de Aracaju-SE (21/01/1927), publicada no jornal Correio da Manhã-RJ, de 22 de janeiro de 1927, ante a ameaça de invasão a Pão de Açúcar pelo bando de Lampião,

“preventivamente desembarcou na cidade uma Companhia da polícia sergipana, comandada pelo Capitão Távora.”

Tal ação da polícia de Sergipe foi determinada pelo Comandante da PM daquele Estado, o Comandante João Pereira[xx].

 

Fábrica de descaroçar algodão_Meirus, Pão de Açúcar-AL
em 15.01.1927. Foto: Ranulfo Prata. Acervo Marcos Mendonça.
,

Tenente Brabo

O Cap. Deoclides e sua irmãzinha Elizabeth.
Foto do acervo do escritor Roberto Batista Cruz, seu sobrinho.



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Por fim, na coluna “Comunicado Epistolar por Moreno Brandão”, em matéria sob o título A SITUAÇÃO ATUAL DA SINISTRA QUADRILHA DE LAMPEÃO, de janeiro de 1928, publicada no jornal A ESQUERDA, de 1º de fevereiro de 1928, o renomado historiador patrício relata as consequências da passagem do terrível cangaceiro pelo povoado Caboclo, então pertencente a Pão de Açúcar (atualmente a São José da Tapera).

Os bandidos encontraram outro fazendeiro chamado José dos Anjos, a quem intimaram para dar ao chefe um cavalo bom. Respondeu-lhe José dos Anjos que fossem pegar no cercado, para onde apontou, o que eles fizeram.

Depois ordenaram ao velho e acatado criador que os guiasse até perto da cidade de Pão de Açúcar.

A recusa a esta ordem se resumiu nas seguintes palavras enérgicas, que não chegaram a ser concluídas, pois um tiro varou o coração do sertanejo heroico:

- Eu sou muito velho para servir de guia a bandidos.”

 

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Agradecimentos a José Roberto Santos Feitosa pelas informações acerca da localização geográfica dos lugares aqui citados.

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NOTA:

 

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] Manoel Pastor da Veiga Filho (DN: 23/12/1909 - DF: 23/01/1989).

[ii] Manoel Soares de Campos.

[iii] Manoel de Souza Rego, Cap. Manoel Rego (DN: 1867 - DF: 04/12/1937).

[iv] Álvaro Pereira Simas (DN: 22/07/1881 – DF: 21/03/1961).

[v] Pertence atualmente ao município de São José da Tapera.

[vi] Hoje integra o município de São José da Tapera.

[vii] Atualmente um Assentamento.

[viii] João Pereira de Mello, casado com a Srª Maria da Glória Alves de Mello, avós da Profª Maria Carmelita Mello Machado.

[ix] Pertence hoje ao município de Monteirópolis.

[x] Integrante do município de Monteirópolis.

[xi] Atualmente pertencente a Olho D’Água das Flores

[xii] Atual cidade de Olivença.

[xiii] “Terra de Fausto Cardoso”, uma referência ao Estado de Sergipe. Fausto de Aguiar Cardoso, advogado, poeta, filósofo e político, filho de Félix Zeferino Cardoso e de Maria do Patrocínio de Aguiar Botto, nasceu no Engenho São Félix, município de Divina Pastora, no dia 22 de dezembro de 1862 e faleceu em Aracaju, em 28 de agosto de 1906.

[xiv] Jorge Freire de Távora.

[xv] Benildes Alves da Cunha. Tenente da Força Pública do Estado de Sergipe. Em 1929, durante o governo de Manuel Correia Dantas, quando exonerado do cargo de Administrador da Penitenciária Estadual, criou, por meio de violências, impedir a posse do seu sucessor, o Cônego Carlos Costa. Por esse motivo foi preso, tendo a prisão relaxada logo depois. Correio da Manhã, 12 de abril de 1929.

[xvi] Promovido a 2º Tenente por Decreto Estadual de 22 de janeiro de 1926.

[xvii] Capitão Deoclides Vieira Bastos. Promovido a Capitão por Decreto Estadual de 22 de janeiro de 1926. Em 5 de maio de 1931, solicitou reforma. Nasceu em 1893, no sítio Valentim, Município de Vila Nova (atual Neópolis-SE, hoje território do município de Santana do São Francisco, antigo Carrapicho-SE), na propriedade de seus avós maternos (João Batista e Dona Maria Rosa Batista). Filho da senhora Joana Batista da Trindade (Joana Nambú) e do capitão Jerônimo Vieira Bastos. Fonte: CRUZ, Roberto Batista. SANTANA DO SÃO FRANCISCO SEU POVO E SEU TERRITÓRIO. EDISE, 2020.

[xviii] Mário de Magalhães Carneiro. Promovido a 2º Tenente por Decreto Estadual de 22 de janeiro de 1926.

[xix] O Sargento Brabo era natural de Pedreiras, Estado do Maranhão. Nasceu no dia 24 de maio de 1903, filho do casal José Pinheiro Ferreira e Constância Ferreira Brabo. Casou-se com a pão-de-açucarense Ancila Maciel. Faleceu em Maceió, aos 72 anos, no dia 2 de junho de 1975.

[xx] João Pereira de Oliveira (1883 1968).



sexta-feira, 19 de abril de 2024

O MORRO DO MORIM E AS TERRAS DO CAJUEIRO

Por Etevaldo Amorim

 

A capela do Morro do Morim, Limoeiro, Pão de Açúcar-AL

Quem demanda o extremo Leste do município de Pão de Açúcar, cujo limite com Belo Monte é definido pela barra do riacho Jacaré, ali conhecido por “Salgado”, passa obrigatoriamente pela Vila Limoeiro. A jusante desta antiga povoação, na exata extensão da Lagoa da Igreja, situa-se um acidente geográfico dos mais importantes e significativos: o MORRO DO MORIM.

Esse morro, encimado por singela capelinha dedicada a Nossa Senhora do Rosário, encerra características muito particulares. Nos idos tempos das grandes enchentes, quando o São Francisco corria largo e pujante, as suas águas ali produziam intensa correnteza. Por essa razão, era temida pelos canoeiros, que a evitavam, abrindo para a margem sergipana, a menos que tivesse que aportar no Limoeiro.

Mais acima da margem pedregosa, já próximo da capelinha, uma imensa massa arenosa se criou. Fina e limpa, a imensa jazida foi-se formando pelo acúmulo de areia trazida pelo vento da extensa coroa que ficava logo abaixo da ponta do morro. Sua forma se assemelhava ao “Morro do Careca”, famoso ponto turístico da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte.

Vista para Oeste a partir do morro do Morim, vendo-se, à direita,
parte da areia de que falamos.



Do alto, avista-se magnífico panorama. Desde o sopé do morro até a confluência do riacho, tendo ao fundo Belo Monte, uma imensa planície separada pela rodovia AL-225, que liga Pão de Açúcar àquela cidade: à esquerda, a várzea do Salgado, o povoado Restinga; à direita, da estrada até a margem do rio, as terras do Cajueiro.

Dividida em pequenos sítios, o Cajueiro tinha como proprietários diversos moradores de Limoeiro: Seu Alfredo Damasceno, Dona Maria Rocha (conhecida por Maria do Ouro), seu Antônio Maximino Brito, Dona Maria Clara (Mariazinha)/João Mendes Sobrinho.. e seus sucessores...

O que poucos sabem é que essas terras nem sempre estiveram na posse de gente da margem. Encontramos no jornal O Trabalho, de Pão de Açúcar-AL, na edição de 30 de agosto de 1884, uma interessante manifestação de uma pessoa que se assina como “UM INTERESSADO”. Nessa matéria, intitulada “NÃO HÁ DEMANDA BOA”, que preferimos transcrever para preservar o registro histórico, o autor contesta a pretensão do Sr. José Pedro de Mello, residente em Pão de Açúcar, de ter direito de posse por aquisição a proprietários do distante município de São Miguel dos Campos.

Vejamos:

 

NÃO HÁ DEMANDA BOA

 

Agita-se, no foro do Traipu, uma questão cujo autor, José Pedro de Mello, residente em Pão de Açúcar, disputa o direito de propriedade de um terreno a que chama – ILHA DO SALGADO.

Ligeiras considerações passo a fazer ao Sr. José Pedro, a fim de voltar ao silêncio e reconhecer o seu engano.

Dois são os pontos em que fundamento o meu juízo de não ter ele direito algum na suposta Ilha:

Primeiro Ponto: nulidade da compra, porque primeiramente aceitou escritura de venda passada e firmada pelo Tenente-Coronel Rocha[i], que vendeu em nome de sua mãe D. Antônia de Jequiá[ii], sem ter procuração nem legalmente achar-se autorizado.

Tendo falecido o Tenente-Coronel Rocha e sua mãe, viu-se o Sr. José Pedro sem poder se chamar dono da pretendida Ilha.

Corre, e de novo obtém do Coronel Arestides Arnaldo Bezerra Cansanção[iii] outra escritura de venda sobre o mesmo terreno, despreza a outra e agora se arroga de bom direito.

E por quê?

O Coronel Arestides é filho único de D. Antônia?

Não.

D. Antônia, quando morreu, deixou outros filhos e netos seus herdeiros legítimos. Portanto, procedeu-se a inventário e partilha nos bens por ela deixados.

Porém, pergunto eu ao Sr. José Pedro: a sua questionada Ilha foi dada a pagamento da legítima do Coronel Arestides? Se não sabe, eu lhe digo que não; porque não foi inventariada e nem partilhada; e neste caso está em comum e, por tal fato, nula a venda.

Segundo Ponto: Os terrenos da pretendida Ilha não podem, por conta do nosso direito pátrio, se chamar Ilha; porque a nossa legislação e direito declara positivamente que os aluviões de terra formados no meio dos rios, e ainda mesmo formando Ilhas uma só vez na vida, dando lugar a passar a vau[iv] do terreno firme para eles, ficarão pertencendo aos terrenos a que se ligarem. Portanto, perde o direito de Ilha. E creio que tal terreno se pode ou se deve chamar acessão do terreno ribeirinho.

Ora, os terrenos em questão, que nascem no terreno firme denominado – MORIM – ou Cajueiro, e formando uma península, deixa todos os anos que bichos e gente passem, em quase toda sua extensão, a pé enxuto, dos terrenos firmes que estão em frente para a almejada Ilha, como poderão se chamar Ilha?

E nem deve ser porque a Lei manda que tais terrenos sejam dos proprietários dos terrenos ribeirinhos.

Desculpe-me, senhor José Pedro.

Pão de Açúcar, 27 de agosto de 1884.

(a)    Um interessado.”

 

Tomada de Belo Monte, vendo-se à direita a barra do rio Jacaré
e as terras do Cajueiro, margeando o canal até o Morim, ao fundo.

***  ***

 NOTA:

 

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] Francisco da Rocha Cavalcante Filho. Nasceu em São Miguel dos Campos-AL no dia 19 de março de 1812. Filho do Cap. Francisco Rocha Cavalcanti e Dona Antônia Arnalda da Silveira Bezerra (Antônia de Jequiá). Faleceu em 9 de fevereiro de 1891.(?) Acho que não. Teria ele sido Vice-Governador no governo de João Baptista Accioly Junior – 12/06/1915 a 12/06/1918?

[ii] Antônia de Jequiá. Também conhecida por Antônia Arnalda Bezerra Massaranduba ou Antônia Arnalda Silveira Bezerra. Nasceu em São Miguel dos Campos-AL em 1793. Filha do Capitão Amaro Álvares Bezerra de Castro e de Anna Maria José Lins.

[iii] Arestides Arnaldo Bezerra Cansanção. Nasceu em 27 de fevereiro 1827, em São Miguel dos Campos-AL. Filho do Cap. Francisco Rocha Cavalcanti e Dona Antônia Arnalda da Silveira Bezerra (Antônia de Jequiá). Faleceu em 30 de abril de 1887.

[iv] Local raso de um rio, mar, lagoa, por onde se pode passar a pé ou a cavalo. 

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

PUBLICAÇÕES
Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia