sexta-feira, 29 de março de 2024

DOM PEDRO II EM PÃO DE AÇÚCAR

Por Etevaldo Amorim

D. Pedro II aos 34 anos.


A viagem do Imperador Dom Pedro II às províncias do Norte foi objeto de decisão governamental, exposta durante a “Fala do Trono”, no encerramento da 3ª Sessão Legislativa da 10ª Legislatura da Assembleia Geral, no dia 11 de setembro de 1859.

O Imperador assim anunciou a sua viagem:

Para melhor conhecer as províncias do meu Império, cujos melhoramentos morais e materiais são alvo de meus constantes desejos e dos esforços do meu governo, decidi visitar as que ficam ao norte da do Rio de Janeiro, sentindo que a estreiteza do tempo que medeia entre as sessões legislativas me obrigue a percorrer somente as províncias do Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, reservando a visita a outras para mais tarde.”

Após a visita à Bahia, onde deixou a Imperatriz Tereza Cristina em companhia de parte de sua comitiva, partiu para a foz do rio São Francisco no dia 12 de outubro daquele ano, transpondo a barra no dia seguinte.

Já no dia 17 de outubro, antes de adentrar o território pão-de-açucarense, nas imediações do Belo Monte e da Ponta da Júlia, uma fazenda situada na margem direita, o vapor Pirajá, em que viajava o Imperador, encalhou por duas vezes. Só depois, já pelas 5:12 h, registra o Imperador[i]: “... estávamos inteiramente safos da coroa, quase defronte o Cajueiro[ii], agora definitivamente em águas de Pão de Açúcar.

Limoeiro, 1869, vendo-se a capela à direita. Foto: Abílio Coutinho.


Dom Pedro não registra, nessa ocasião, sua passagem pelo Limoeiro, mas um viajante[iii] que o acompanhava aponta que, às 5 ¾ h (17:45h), passava o Pirajá pela importante povoação:

O Limoeiro é apenas notável pela possessão de uma bela fazenda pertencente ao morgado da Torre na Bahia. Pouco adiante, e do mesmo lado, descobre-se uma linda perspectiva de dois morros que, inteiramente iguais em seus ângulos, deixam uma aberta por onde se avistam vários serros, saindo uns por detrás dos outros, e alguns em direções paralelas. Denomina-se o mais notável Morro do Faria.”

De fato, ao se transpor os morros do Faria e Surubim, fronteiros e semelhantes, vislumbra-se um belo panorama. A partir do Cavalete, vê-se uma sucessão de morros, na margem esquerda, que assumem diferentes tonalidades, indo até próximo da Ilha do Ferro.

Outro relato, feito pelo correspondente do jornal Correio Mercantil, em edição do dia 5 de novembro de 1859, descreve a passagem pela primeira localidade no território de Pão de Açúcar:

Às 5 ¾ passa o vapor pelo Limoeiro, pequeno povoado em seguida ao da Lagoa Funda, e que tem na ponta um morro. Nesse povoado há plantações de arroz e milho. Defronte, do outro lado, levantam-se também nuvens de areia, que o vento conduz a seu bel prazer; aí há um belo casal de  uma fazenda de Sergipe que pertence ao Morgado da Torre da Bahia.”

O morro a que se refere o jornalista é o Morro do Murim, que tem no alto uma capela sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. As plantações avistadas estavam, por certo, situadas na Lagoa da Igreja, patrimônio de “Jesus, Maria e José”, padroeiros do lugar.

Já o “casal”, a que também se refere o autor do relato, o faz no sentido de “lugarejo, pequeno povoado". Trata-se da fazenda Araticum que, na verdade, pertencia ao Morgado do Porto da Folha[iv]. Abrangia uma imensa área de 26 a 28 léguas de margem, desde as Intãs até o riacho Xingó Grande, chegando a ter 12 léguas de fundo nos lugares mais largos, e meia légua nos mais estreitos.

Essas terras foram dadas em sesmaria e pertenceram ao Mestre-de-Campo do Terço da Cavalaria da cidade da Bahia, Pedro Gomes Ferrão Castello Branco, por mercê de D. Maria I, em 1860. Sucedendo-lhe seus filhos Antônio e Alexandre, estavam elas sob a administração de D. Maria Joaquina Gomes Castello Branco, que viria a falecer em 1861, e teve como herdeiro o Barão de Cajahyba (Alexandre Gomes Ferrão d’Argollo), um dos heróis da independência da Bahia. Extinto o morgado, foram as terras adquiridas, em 1864, pelo Capitão Luiz da Silva Tavares.

Muitos anos depois, pelo entrelaçamento com as famílias Brito, Seixas e Dória, a imensa possessão foi desmembrada, formando as fazendas Júlia, Belém, Caiçara, Jaciobá, Niterói (antiga Tapera), Saco Grande...

Tendo passado pelas administrações do Tenente-Coronel João Fernandes da Silva Tavares, Cel. Manoel Lino da Silva Tavares, Dr. José Luiz da Silva Tavares (Dr. Zeca) e Dr. Etelvino Tavares de Menezes, o Araticum pertence hoje a herdeiros do Sr. Elpídio Emídio dos Santos, ex-prefeito de Pão de Açúcar.

 

A Fazenda Araticum, fronteira a Limoeiro. Foto do acervo do
Dr. Luiz Menezes da Silva Tavares, cedida por Mirya Tavares.

Prossegue o correspondente, reiterando a referência aos morros do Faria (AL) e Surubim (SE):

Adiante, desse mesmo lado, há uma vista linda, proveniente de dois morros que, inteiramente iguais em suas pontas, deixam uma aberta pela qual se avistam vários serros saindo uns detrás dos outros e alguns paralelos; um desses, o mais notável, chama-se morro do Faria.”

Retomemos, então, o relato de D. Pedro:

Cheguei por volta das 8 à Vila do Pão de Açúcar. Receberam-me com muito entusiasmo e um anjinho entregou-me a chave da vila. Defronte desta povoação há uma grande coroa de areia que me cansou atravessar e, com a luz dos foguetes, que não têm faltado por todo o rio, parecia o rio gelado.”

Descendo num improvisado ancoradouro, “que arranjaram com algumas tábuas e coqueiros”, ao som de rebecas e outros instrumentos, o Imperador foi conduzido à Casa da Câmara, sob o canto do Hino da Independência.

O Juiz de Direito disse-me que ainda não tinha aberto segunda vez o júri este ano nos dois termos da Comarca por ter estado doente. O juiz Municipal recita uns versos que junto”.

Quando S. M. entrou em Palácio – confirma o viajante – o Dr. Juiz Municipal Francisco Antônio Pessoa de Barros[v], beijando-lhe a mão, e depois de haver pedido vênia, recitou a seguinte poesia:

“Augusto filho de tão grande Pai,

Ilustre Neto de imortais Avós,

Um voto livre de adesão ao trono,

Monarca sábio, recebei de nós.

 

Erguei-vos povos, que o Monarca é nosso.

Curvai-lhe as frontes, que seu peito nobre

Contém virtudes, sentimentos grandes,

Que são riquezas que só tem o pobre.

 

Ei-lo descido do soberbo trono,

Transpondo os mares que na barra morrem;

Ei-lo conosco pelo céu trazido

Por estas águas que vaidosas correm.

 

A Câmara Municipal, precedida por um menino vestido de anjo, veio logo ao encontro de S. M, acompanhando-o depois para a casa que brilhantemente lhe havia preparado. Durante o trajeto, não cessaram os vivas e os foguetes. Era uma explosão do maior e mais puro regozijo, porquanto partia de um povo não acostumado aos festejos das Cortes, muitas vezes, talvez, menos sinceros.” “Depois de haver S. M. dado beija-mão a toas as pessoas que se apresentaram a cumprimenta-lo, chegou várias vezes à janela para agradecer as ovações que o povo, apinhado, lhe fazia. Às dez horas, recolheu-se ao seu aposento.”

 

Foto Abílio Coutinho
Pão de Açúcar, 1869, vendo-se em primeiro plano o sobrado
em que se hospedou D. Pedro II. Foto: Abílio Coutinho.

O velho sobrado da Rua da Frente, que fora propriedade do Major João Machado de Novaes Mello, onde funcionava a Casa da Câmara, mas que também servia de residência dos juízes, transformou-se em aposento real. Dom Pedro, então, agradecido pela hospitalidade do “Barão de Piaçabuçu”, presenteou-o com uma linda bandeja de oro, toda feita de esterlinos, ligadas as moedas umas às outras, obra de delicada manufatura e de grande beleza artística, segundo refere Renato de Alencar, (Revista da Semana 02/02/1952).

Esta joia passou para o domínio de seu filho, o Dr. Miguel de Novaes Mello, que fora Juiz de Direito de Penedo e primeiro Intendente de Pão de Açúcar. “Sua esposa, Dona Rosa de Albuquerque Novaes[vi], perdeu de vista muita coisa vinda daqueles tempos românticos e felizes, no tumulto de inventários e partilhas, e de novas núpcias. E a bandeja de esterlinos encantou-se...” (idem).

Dom Pedro, entretanto, não deixaria de comentar:

Senti muito calor esta noite. É verdade que também o colchão é de paina, mas creio que também o tem sido nos outros lugares e nunca suei como esta noite”.

Pode-se bem imaginar o qual difícil foi acomodar toda essa gente e, particularmente, algumas das maiores celebridades da história brasileira. Era, de fato, um acontecimento ímpar e quu marcaria a vida da pequena Vila, de moradias tão humildes e ocupadas por gente tão simples. As autoridades locais, a exemplo do Promotor Dr. José Antônio de Mendonça[vii], tiveram que se esmerar na recepção e abrigaram em suas casas os componentes mais distintos da comitiva imperial.

O Almirante Tamandaré.


O Vice-Almirante Marques Lisboa[viii] e outras pessoas de maior destaque foram hospedadas na casa do Dr. Miguel Alves Feitosa, um competente e abnegado médico que, a despeito de todas as dificuldades, salvava vidas por aqueles sertões. Era, no dizer de Abelardo Duarte, “curiosa e originalíssima figura de cirurgião e clínico”. Realizava intervenções cirúrgicas em campo aberto, à vista de todos, nas feiras e noutras aglomerações, onde quer que fosse necessária a sua atuação.

Dentre essas pessoas, achava-se o Chefe-de-Divisão Barroso[ix], que se destacaria na célebre e decisiva “Batalha do Riachuelo”, que teve como palco o rio Paraná, durante a Guerra do Paraguai. Ali, em 11 de junho de 1865, comandando a esquadra brasileira, derrotou as forças paraguaias, capitaneadas por Inácio Meza.

Guerra do Paraguai
O Almirante Barroso.


Já o Juiz de Direito Dr. João Paulo Monteiro de Andrade[x] hospedou o Conselheiro Dantas[xi], Presidente da Província de Alagoas.

Pão de Açúcar tinha, então, na não muito precisa avaliação do Imperador, “de 1.000 a 2.000 habitantes e a municipalidade renderá 200 a 300 mil reis por ano. O juiz de direito Monteiro de Andrade, que também é o de Mata Grande, passa por Chefe do Partido Liberal extremo. O Municipal é alheio a partidos e o promotor, da família Mendonça, No Penedo não havia á venda arroz descascado, que, todavia se encontra em Pão de Açúcar.”

No dia seguinte, 18 de outubro, terça-feira, o Imperador acordou antes das cinco horas e, logo às seis, já estava a percorrer a Vila. Esse breve passeio, que não levou mais que cinquenta minutos, serviu para emitir uma rápida impressão:

A matriz e pequena, mas decente, só tem inteiramente pronta a capela-mor, o resto acha-se coberto. Há uma bela rua direita longa e muito larga; outra perpendicular, também direita, porém menos longa e larga. Só vi uma casa de sobrado, a da Câmara, onde me hospedei. O nome da Vila não é bem cabido, pois que o morro é antes um mamilo pedregoso do que um pão de açúcar.”

O viajante, atento, ainda registra:

Sua Majestade, acompanhado de sua comitiva e de muitas outras pessoas distintas, percorreu de manhã toda a vila do Pão de Açúcar, mandou entregar 600:000 reis para os pobres e embarcou às 7 horas no meio das mais significativas demonstrações de apreço, dedicação e lealdade prestadas por toda a população.”

A Vila de Pão de Açúcar, pertencente à Província das Alagoas, está assente em um alto, ao qual precede um extenso areal, talvez de 400 braças de comprimento. tem cerca de 1.800 almas e o Termo, 7.000. aí há somente uma capela, e está arruinada, sob a invocação do Coração de Jesus. Mas se está edificando uma outra em lugar marcado pelo digno e piedoso missionário frei Caetano de Messina, dedicado a Nossa Senhora das Dores. O cemitério é pequeno e cercado de pedras. Depois de Propriá, é a vila de maior importância do Rio São Francisco. Exporta algum algodão produzido nas serras e é um entreposto de comércio acima do rio”.

Perto da vila há grandes lagoas, que fertilizam o terreno, que dá com facilidade milho, feijão e arroz, em quantidade superior ao seu consumo. Tem duas escolas primárias, uma para o sexo masculino e outra para o feminino. O caráter da gente é brando e afável; as mulheres ocupam-se em fazer varandas de rendas para redes, de belíssimo gosto e perfeito trabalho. Nos meses de fevereiro a março há grande abundância de cágados, que então torna-se o principal alimento de quase toda a gente. E quando o rio está baixo, a água é excelente; mas logo que enche, fica barrenta e má. Para se beber, costumam deitar dentro da vasilha que a contém um pouco de pedra hume, que imediatamente precipita as matérias em suspensão e a purifica. Esta água o rio, bebida quando ela está aquecida pelo sol, cerra logo o peito e produz um defluxo bem desagradável, que lentamente cede ao tratamento adequado.”

Dá nome à vila um morro escalvado que se eleva em forma de pão de açúcar à sua direita subindo o rio.”

Uma mulher dessa povoação, ouvindo falar que o vapor imperial era de 40 cavalos, perguntou, com toda a ingenuidade: ‘mas aonde é a estrabaria em que eles estão?!”.

 

   ***   ***

 

Zarpava o Pirajá rumo a Piranhas (demandando a cachoeira de Paulo Afonso), a uma velocidade quatro milhas e meia por hora. No trajeto, Dom Pedro, que preferia viajar sentado sobre a caixa das rodas, notava, nas imediações das Traíras, plantações de arroz em ambas as margens, permeadas por “algumas árvores de verde-escuro”, enquanto conferia as cotas no “mapa de Hlafeld que, de Pão de Açúcar até Piranhas, é cópia feita às pressas pelo Boulanger[xii]”, posto que o mapa completo e relatório só seriam editados no ano seguinte.

Às 8:00 horas, um pequeno incidente: faíscas da chaminé, produzidas pelo carvão de má qualidade, utilizado para alimentar o vapor, causaram um pequeno incêndio no toldo das bandeiras, mas foi logo debelado, utilizando-se água depositada nas talhas. Curioso é que não se o tenha feito com água do próprio rio, farta por todos os lados, gastando-se a de beber. Talvez tenha aí prevalecido a herança portuguesa. De todo modo, o Imperador, precavido, trazia para si a água de Vichi[xiii], por certo receoso de contrair alguma das enfermidades comumente transmitidas pela água do São Francisco.

Afora isso, a viagem prosseguia normalmente. Às 9:00 horas passava pelo morro do Bonito e, às 9 e meia, Dom Pedro anota em seu diário:

Vejo pela primeira vez as pedras do rio, saindo da margem direita, do Bebedor, e havendo também do lado da margem esquerda. Não há baixios no rio desde Pão de Açúcar até estas pedras. O vento é fraco e o sol fortíssimo. Na altura da Ilha do Ferro, veem-se plantações, tanto na ilha como na margem das Alagoas, as duas continuam a não apresentar-se estáveis como entre Propriá e Traipu; o rio vai-se estreitando.”

 

 DE VOLTA A PÃO DE AÇÚCAR

22 DE OUTUBRO.


Às 5 horas largou o Pirajá de defronte do Armazém[xiv] e chegamos ao Pão de Açúcar depois das 7. Logo que avistaram o vapor soltaram, do alto do morro desse nome, foguetes ao ar, que produziram belo feito, assim como os que de diversos pontos, estando todas as casas da vila iluminadas.”

A galeota encalhou antes de chegar ao desembarque, mas por fim saltei em terra na areia e ofereceram-me um cavalo. Segui nele com as pernas encolhidas por caisa dos estribos muito curtos, até a Casa da Câmara, por entre imensa gente, e ao som do hino, tocado e cantado, da Independência, composto na Bahia.”

Vieram as meninas e meninos das duas aulas de primeiras letras com flores e poesias, e o Juiz Municipal poetizava novamente. Não é bem uma nova poesia que junto com as quadras dos meninos. Um menino, que me apareceu na sala, deu-me um sagui muito enraçado.”

Esquecia-me de dizer que na viagem tivemos bastante vento, que tornou o rio quase um mar buliçoso, mostrando o Pirajá desejos de dançar, e que o Ajudante de Ordens do Presidente, explicando-lhe as qualidades do cavalo, disse-lhe que o animal tinha esquipado, mas não tinha obras baixas. Chamam quartau, entre o fino e o de carga.”

 

23 DE OUTUBRO

Acordei às 5 e tenho estado a escrever. Vou agora dar um passeio até acima do Pão de Açúcar, ouvir missa e visitar as aulas, deixando esta povoação depois do almoço, às 10 horas”. Continuo a escrever do Pirajá, onde embarquei às 9 ½ . A vista do Alto do Pão de Açúcar é bonita. Antes da missa fui às aulas e durante aquela a música tocou muito mal a ária de La tremenda ultrice spada”.

Não me parecem mal os professores, ainda que a mestra[xv] ma afigure vaidosa nos seus modos, ainda que noto falta de uniformidade nos livros que usam, copiando-se nas aulas de meninas, traslado em inglês; e estando estas divididas entre Grécia e Tróia. Há uma menina bem esperta, que é a eu tem dado vivas, e leu como outras, e fez sofrivelmente a conta de multiplicar, que é a em que se acham as adiantadas, apesar de anos de aula. Também respondem satisfatoriamente bem, como outras, às perguntas do catecismo. Há 39 matriculadas e de frequência 25 a 26. Na de meninos um mais esperto dividiu sofrivelmente, e os que levam o fizeram do mesmo modo. O professor tem apenas 1 mês de serviço e pediu há pouco que lhe mandassem exemplares do catecismo. Os meninos e meninas que tenho examinado têm sido designados por mim.”

Pela frequência com que assim procedia, nota-se que Dom Pedro Ii dispensava uma especial atenção ao ensino. Conta-se que, numa dessas visitas, chegando sem qualquer aviso, surpreendeu a professora em plena sessão de “argumento” (ou “arguição”, como se chamava). Palmatória em punho, ela segurava a mão de um menino e inquirira raivosa:

- “Vamos, seu arrelaxado: substantivo vareia ou num vareia?!

***   ***

Dom Pedro II deixou Pão de Açúcar às 10 horas, com destino à Ilha de São Pedro Dias, a famosa ilha dos Índios Xocó, então sob a catequese de Frei Doroteo de Loreto. Antes, porém, já a bordo do Pirajá, desenhou a imponente Serra do Meirus, reproduzindo fielmente o seu perfil.

E como última anotação em seu diário sobre a passagem por Pão de Açúcar, ele diz:

Às 11 ½, defronte do Limoeiro, tendo andado de Pão de Açúcar 3 léguas em rio. Toda a digressão gasta 10 minutos; Tem 50 casas, uma capela menos má e um oratório; é juizado de paz e não há nenhuma autoridade policial, mas um fiscal; pertence à freguesia de Pão de Açúcar.”

 

Desenho de Dom Pedro II
Perfil da Serra do Meirus. Desenho de Dom Pedro II, feito do porto, ao partir.

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 NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] No Pirajá, além do Imperador, viajavam: o Visconde de Sapucaí (depois Marquês – Cândido José de Araújo Vianna, e que dá nome à Avenida onde desfilam as escolas de samba do Rio de Janeiro, e que havia sido presidente da Província das Alagoas de 14 de fevereiro de 1828 a 1º de janeiro de 1829); o Conselheiro Luiz Pedreira; o conselheiro Antônio Manoel de Mello; o médico Dr. Francisco Manoel de Abreu; Dr. Ferreira Jacobina; e o cônego Antônio José de Mello – capelão, além de João de Almeida Pereira Filho. Em uma canoa grande que trazia a reboque, viajavam também: O Chefe-de-Divisão Francisco Manoel Barroso; o comandante superior Barão de Jequiá; o Comendador Manoel Sobral Pinto; o Barão de Atalaia; o Capitão-de-fragata Antônio Carlos Figueira de Figueiredo, capitão do porto de Maceió; José Correia da Silva Titara; Dr. Manoel Rodrigues Leite Oiticica; Dr. Joaquim Serapião de Carvalho; 1º tenente Eusébio José Antunes, secretário da Estação Naval de Pernambuco; 1º tenente Domingos José da Fonseca; 1º tenente Manoel Antônio Vital de Oliveira, comandante do Iate Paraibano; 2º Augusto Neto de Mendonça; Avelino de Alcântara Taveiros; Dr. Pedro Eunápio da Silva Deiró, correspondente do Jornal do Comércio e o Dr. Francisco José da Rocha, redator em chefe do Jornal da Bahia.

 [ii] Registre-se que o Cajueiro era uma povoação situada à margem do rio. A ação erosiva provocada pelas sucessivas enchentes do São Francisco forçou os moradores a se afastarem da costa para além do riacho Jacaré (ali conhecido como Riacho Salgado), fundando o povoado Restinga, pertencente ao município de Belo Monte.

[iii] Trata-se de Bernardo Xavier Pinto de Souza, português naturalizado, proprietário da Tipografia e Livraria B. X. Pinto de Souza, que se identificava com as iniciais “P. de S.”.

 [iv] Antes da instituição do morgado, essas terras pertenceram a Tomé da Rocha Malheiros, que obtivera uma sesmaria de 10 léguas, desde a serra da Tabanga (defronte a Traipu) até o outeiro Jaciobá, quase fronteiro a Pão de Açúcar. Posteriormente, Malheiros foi substituído por Gaspar da Cruz Porto Carreiro, Pedro de Figueiredo e Domingos da Cruz Porto Carreiro, já em 30 de agosto de 1825. A existência do morgado estendeu-se pelos séculos XVIII e XIX, na posse de D. Maria Joaquima Gomes Castelo Branco, e depois seu filho, o Barão de Cajaíba (Marechal Alexandre Gomes Ferrão d’Argollo (1800-1870), um dos heróis da independência da Bahia.

 [v] Dr. Francisco Antônio Pessoa de Barros. Havia sido nomeado em janeiro daquele mesmo ano Juiz Municipal e de Órfãos dos Termos Reunidos de Mata Grande e Pão de Açúcar. Demitido, a pedido, em agosto de 1862.

 [vi] Rosa de Albuquerque. Filha do Coronel Serapião Rodrigues de Albuquerque e de Maria Joaquina Cavalcante de Albuquerque, residentes em Traipu. Dona Rosa teve um segundo casamento com o Cel. José Francisco de Mendonça, falecido em 1921. Com ele teve dois filhos: Lauro de Albuquerque Mendonça e Luiz de Albuquerque Mendonça.

 [vii] Dr. José Antônio de Mendonça Junior. Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1858.

 [viii] Joaquim Marques Lisboa, depois Almirante, em 1867. Tinha o título de Marquês de Tamanaré, recebido em 1888. Nasceu no Rio Grande, província do Rio Grande do Sul, em 13 de dezembro de 1807 e faleceu no Rio de Janeiro em 29 de março de 1897. É o patrono da Marinha do Brasil, sendo o dia do seu nascimento – 13 de dezembro – considerado DIA DO MARINHEIRO.

 [ix] Almirante Barroso. Francisco Manoel Barroso da Silva. Nasceu em Lisboa, em 23 de setembro de 1904 e faleceu em Montevideo, em 8 de agosto de 1882. Em 1866, foi homenageado com o título de BARÃO DO AMAZONAS.

 [x] Dr. João Paulo Monteiro de Andrade. Nasceu no Recife-PE no dia 25 de julho de 1828, filho de Miguel Archanjo Monteiro de Andrade e Maria Madaglena Duarte Sedrim. Casado com Anna Ricarda da Costa Reis. Faleceu em Fortaleza-CE no dia 27 de agosto de 1884.

 [xi] Manoel Pinto de Souza Dantas (1831-1894), natural da Bahia, presidiu a província das Alagoas por apenas seis meses e vinte e três dias (01/10/1859 a 24/04/1860). Foi presidente do Conselho de Ministros de 03/08/1866 a 16/07/1868.

 [xii] Louis-Alexis Boulanger, desenhista e tipógrafo francês chegado ao Rio de Janeiro em 1829. Instalou a primeira oficina tipográfica com fins comerciais no Brasil, em associação com Carlos Risso, que se chamou “Boulanger, Risso & Cia”. Com a abdicação de Dom Pedro I, e a ida de Risso para o Uruguai, Boulanger passou a dar aulas de caligrafia e desenho para os filhos do Imperador, entre eles D. Pedro II.

 [xiii] Água mineral de Vichi, uma cidade francesa.                                                                                                         

 [xiv] Armazém, antigo nome do povoado Entremontes, então integrado ao território de Pão de Açúcar, atualmente pertencente ao município de Piranhas.

 [xv] Em Relatório do presidente da província, do ano de 1858, consta a professora Maria Senhorinha de Mendonça Lima. 

sábado, 23 de março de 2024

O BRAVO SARGENTO WALDEMAR GOES

 

Por Etevaldo Amorim


O Capitão Waldemar Goes. Foto: Revista Alagoas
Maceió, Quinta-feira, 4 de agosto de 1938. O correspondente do jornal Diário da Manhã, do Recife, entrevistava o Interventor Osman Loureiro e o Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão, então Comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar de Alagoas, sediado em Santana do Ipanema. O assunto dominante era, por óbvio, a morte de Virgulino Ferreira da Silva – “Lampião” e seu bando, na Grota do Angico, município de Porto da Folha (atualmente pertence ao território de Poço Redondo), Estado de Sergipe.


Os créditos pelo exitoso ataque a Angicos eram dados aos comandantes da operação: o próprio Lucena, o tenente João Bezerra, o aspirante Ferreira e o sargento Aniceto Rodrigues. Pouco se falava, por exemplo, da morte do soldado Adrião Pedro de Souza, única baixa da Força Pública na Missão na grota do riacho Angico.


Até aquele desfecho, na fria madrugada do dia 28 de julho de 1938, muitos embates aconteceram entre cangaceiros e volantes, que têm sido objeto de estudo de grande número de pesquisadores, constituindo-se numa bibliografia das mais vastas, e assunto aparentemente inesgotável. Um desses embates envolveu o personagem desta nossa história: o sargento Waldemar da Silva Goes.


O jornalista quis saber do coronel Lucena sobre o ato de bravura que inspirou a promoção do sargento alagoano no dia anterior (3 de agosto). Fora ele promovido a Aspirante, juntamente com o Sargento João Bezerra, a Capitão; o 2º Tenente Ferreira, a 1º Tenente; o sargento Aniceto Rodrigues, a Aspirante. O Tenente Coronel Lucena, promovido a Coronel. O relato do Coronel e as notícias coligidas de diversos outros jornais da época nos possibilita reconstituir um pouco da história desse bravo militar.


***   ***   ***

O Sgt. Waldemar. Foto Roberto Plech

O sargento Waldemar encontrava-se em Batalha, para onde fora destacado “a bem de sua saúde”. Estava bem, e tudo corria conforme planejado. Ademais, estava a 37 km do rio São Francisco, perto de suas origens: a Vila Limoeiro, pertencente ao município de Pão de Açúcar, mas próxima de Belo Monte. Ali vivera na sua infância em casa de seu pai, o sergipano José Sotero de Goes[i]; e de sua mãe, dona Silvina da Silva Maia,[ii] junto a seus irmãos: Antônio, João, Marieta, Angelina e Ana (Doninha).


Embora sob a patente ameaça dos cangaceiros, o ambiente era de tranquilidade naquela segunda-feira, 18 de abril de 1938. Estava ele em sua casa quando chega um cavaleiro. Ofegante, lhe contou que o povoado Capivara havia sido atacado por um grupo de cangaceiros. A cinco léguas dali, atravessando de Sergipe para Alagoas, Lampião e mais 16 comparsas alcançam aquela localidade, no município de Traipu.


Sem saber que se tratava de Lampião, para lá se dirigiu o sargento Goes, acompanhado de dois soldados e nove civis que se dispuseram. Quando lá chegaram, os bandidos já haviam saído. Só então tomou conhecimento que se tratava do famigerado “rei” do Cangaço. Precisavam seguir no encalço dos cangaceiros. Antes, porém, o sargento Waldemar se dirigiu aos civis que o acompanhavam:


- Bem, meus senhores! Tratem de regressar. São pais de família, civis e, portanto, não têm obrigação de me acompanhar. Deixem-me, que sou soldado, cumprindo-me lutar até morrer, nunca recuar.” Parte dos combatentes civis ainda o acompanharam até o povoado Girau, a 12 léguas de Capirava, onde encontraram os bandoleiros, quando, afinal, desistiram.


Durante o saque a Girau, Lampião resolveu fazer filantropia. Fazer caridade com o chapéu alheio, diria melhor. Entrou na loja do Sr. Eloy Maurício e distribuiu todo o sortimento de tecidos aos moradores, causando-lhe enorme prejuízo.


Outro comerciante, o Sr. Odilon Lima, tentou fazer com ele uma “camaradagem de emergência”. Mas Lampião cuidou logo impor a sua “autoridade”:


- Saiba que está falando com o Cap. Virgulino Ferreira!!!


Odilon distribuiu bebida a todo o bando, preferindo Lampião tomar vinho quinado.


Nesse ínterim, diz o correspondente do Diário da Manhã:


Lampião estava a saquear quando o atacou o sargento Waldemar, com apenas dois soldados, um dos quais logo saía de combate. Sustentou fogo como um herói – 2 contra 17 – e, quando já ferido no antebraço esquerdo e no tórax, ficara imobilizado. Lampião, por sua vez, na suposição de que enfrentava uma força considerável, abandonava Girau, deixando a sua cavalaria, que o sargento afoitamente engarrafara...”


Na prática, isso significa que o sargento apreendera os cavalos do bando, impondo assim um sério revés aos bandoleiros. Isso tudo se passava na entrada do lugarejo. Rastejando em meio à vegetação, os agentes da lei conseguiram ultrapassar as montarias dos bandidos, que eram em número de dezoito, e se colocaram atrás de um casebre, a uns 40 metros da casa onde se encontravam Lampião e seu bando.


Na tentativa de reaver os seus animais, por três vezes Lampião mandou mensageiros ao sargento, dando ordem para que os soltasse. O bravo militar respondia de pronto:


- Se Lampião quiser seus cavalos, que venha buscá-los, e que qualquer um que se aproximar, cairá por cima deles cravado de balas.


E a troca de tiros continua. Waldemar, temendo ser apanhado vivo, decide ir de encontro à casa onde se entrincheiravam os bandidos. Saiu rastejando e logo divisou uma figura na janela; dormiu na pontaria e, quando disparou sua arma, sentiu que havia sido baleado, pois o bandido também atirara contra ele.


A bala varou o seu braço esquerdo, penetrando o estômago, na região epigástrica, alojando-se entre o pulmão e o fígado, onde permaneceu até o fim dos seus dias. Soube-se depois que o bandido que o atingiu também foi baleado e faleceu logo em seguida. Foi sepultado em uma fazenda próxima, sob sigilo, pois Lampião não gostava que soubessem da perda de um dos seus para os “macacos”.


A pequena tropa do sargento Waldemar Goes entrou no povoado, onde Lampião e seu bando permaneceram por cerca de três horas, e tomou conta da situação. Mesmo ferido, o militar, montado em seu cavalo e sangrando muito, retornou a Batalha, onde só veio receber os primeiros curativos 22 horas depois de todo o ocorrido.


Depois de razoavelmente refeito, conduziu até Santana do Ipanema os cavalos tomados de Virgulino, que não poderia saber, mas teria participado da sua ultima batalha em território alagoano.[iii]


Já o historiador santanense Clerisvaldo Chagas, em “Os dois últimos combates e a última viagem de Lampião[iv], descreve assim a contenda:


“O tiroteio começou feroz e desordenado. Os bandidos talvez pensassem que estavam sendo atacados por grande número de atacantes. Waldemar rastejava em direção de uma casa onde supunha está o grosso do bando. O sargento foi ferido no terço médio do braço direito. A bala transfixou o braço alojando-se na região umbilical, mas sem atingir órgão vital”. O sargento passou a atirar com o outro braço cada vez mais animando os seus soldados. Um deles caiu ferido e o sargento recuou ao ponto de partida. “Restavam dois homens atirando. Um já ferido outro prostrado ao chão, esvaindo-se em sangue. O sargento brigava como um leão. Os bandidos foram amortecendo o fogo e fugiram”.


Outra notícia, publicada no Jornal Pequeno, Recife-PE, de 21 de abril de 1938, desta feita do próprio Comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar, Tenente-Coronel Lucena, diz muito do que foi esse confronto, protagonizado pelo nosso bravo conterrâneo:


Maceió, 21. Ao Cel. Comandante Theodureto Camargo, do Regimento Policial Militar, o Tenente-Coronel Lucena dirigiu às 9,30 h de ontem, de Santana do Ipanema, o seguinte despacho:


“Lampião com 16 bandidos atravessou para este Estado no Saco do Medeiros[v] ao anoitecer do dia 17, conforme comuniquei ao Sr. Secretário[vi]. Logo que tive aviso, fiz seguir uma volante de Pão de Açúcar, pela margem e uma daqui, via Batalha, e outra comandada pelo Aspirante Porfírio, via Arapiraca, esta noite.


O referido grupo, ao amanhecer de ontem, atacou o povoado Capirava, no município de Traipu, que dista do ponto que saltaram quatro léguas. Capivara, logo após o ataque, avisou Batalha, onde está destacado o sargento Waldemar com mais duas praças. Esse sargento, reunindo onze civis, seguiu imediatamente a cavalo para ali, tendo atacado os bandidos nas imediações de Girau, onde, em campo raso, travarem tiroteio, tendo por fim o grupo fugido, ficando o sargento e um soldado gravemente feridos, desaparecendo alguns dos que o acompanhavam. O referido sargento ficou no campo de luta combatendo com civis e praças até a fuga do grupo.

Um prisioneiro de Lampião, que escapou, viu o bandido bastante ensanguentado e um cabra ferido conduzindo outros, são sabendo, entretanto, se Lampião estava ferido. O grupo de bandidos andava montado e nossas forças estão na batida do mesmo. Fiz seguir o médico com o capitão Rodrigues e força até Batalha em socorro dos feridos. Estou com muita fé em um novo encontro.


Peço mandar urgente para Palmeira os cinco cunhetes de munição, conforme combinamos aí, pois esqueci-me de trazê-los e hoje tive dificuldades em fazer seguir a força para Batalha com a falta de munição e já tenho algumas volantes pouco municiadas. Peço mostrar este ao Sr. Secretário. O sargento Waldemar deu um grande exemplo, digno de louvores, serve para os demais companheiros. Saudações respeitosas. J. Lucena, Tenente-Coronel Comandante.”


***   ***   ***

Naquele mesmo dia (4 de agosto de 1938), o Interventor assinava Ato que nomeava o Aspirante Waldemar como Delegado em Arapiraca[vii]:


Por Ato de 4 de agosto de 1938, o Interventor Federal (Osman Loureiro), exonerou o 2º Tenente do Regimento Policial Militar, Antônio Ferreira de Oliveira, do cargo de Delegado de Polícia, em comissão, do município de Arapiraca, nomeando para substituí-o o Aspirante a Oficial do mesmo Regimento, WALDEMAR DA SILVA GOES.[viii]


Já como 1º Tenente, foi o 3° Comandante do Corpo de Bombeiros de Alagoas, no período de 09/09/48 a 19/02/49.[ix]


Anos depois, já investido na patente de Capitão, foi Assistente Militar do Governador Arnon de Melo. Nessa época, sofreu outro revés: um grave acidente, conforme descrito em notícia do correspondente do Diário de Pernambuco, Arnoldo Jambo, na edição de 28 de novembro de 1954:


 Dois jeeps do Estado colidiram violentamente à altura do lugarejo denominado Chã do Pilar, resultando saírem feridos o motorista Antônio Calheiros de Barros e o Capitão da Polícia Militar do Estado Waldemar da Silva Goes. Este último assistente militar do Governador  do estado (Arnon de Mello) encontra-se internado no Pavilhão de Cirurgia do  Hospital São Vicente em estado desesperador.”


***   ***

O Capitão Waldemar foi casado com a Srª Rosália Alves Goes, com quem teve os filhos: Ademar (militar), José, Gilvanete, Cícero e Irapuan (militar).


Por tudo que aqui conseguimos reunir, ainda que não corresponda integralmente ao que fez pela Força Pública do Estado de Alagoas, podemos assegurar que a sua promoção ao posto de Capitão foi justa e merecida. Quanto a nós, esperamos estar contribuindo para a perpetuação da memória desse bravo militar.

O Interventor Osman Loureiro e o correspondente do Diário
da Manhã. Foto: Roberto Plech

O Cel. Theodureto Camargo do Nascimento
e o Cel Lucena Maranhão. Foto: Roberto Plech


***   ***

NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] José Sotero de Goes, filho de Manoel Sotero de Goes e Maria Joaquina de São José.

 

[ii] Silvina da Silva Maia. , filha de Arthur da Silva Maia e Maria dos Prazeres Silva.

 

[iii] Revista Alagoas em data ignorada.

 

[v] Saco dos Medeiros, localidade situada à margem esquerda do Rio São Francisco, acima da cidade de Traipu, quase defronte a Gararu-SE.

 

[vi] Dr. José Maria Correia das Neves, Secretário do Interior durante a interventoria do Sr. Osman Loureiro.

 

[vii] Diário da Manhã), em edição do dia 8 de agosto de 1938.

 

[viii] Diário da Manhã, Recife-PE, 7 de agosto de 1938.

 

[ix] Histórico do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia