Por
Etevaldo Amorim
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Pão-de-açucarenses convocados para a FEB. Da esquerda para a direita. De pé: "Paulista" (Não era de Pão de Açúcar); Jessé de Goes Cavalcante; Heitor Ávila Almeida; Eraldo *de Maceió); Amadeu Rodrigues; Soldado de Maceió; Tunga (Belarmino); Salvador Mendes Guimarães (único a combater nos campos da Itália). Sentados/agachados: João Antônio dos Santos (João da Farmácia); Virgílio Fonseca Filho (Bibi); Eraldo dos Anjos (Eraldo de Vigário); Manoel Santana (Pelado) e Francisco Barbosa (Chiquinho da Padaria ou Chiquinho de Medeiros). Informações de Antônio de Melo Barbosa (Tonho do Mestre). |
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A primeira vez que eu vi essa foto, lá pelo início da
década de 1970, foi na casa do meu colega Meuze, situada no lado sul da Praça
São Pedro. Na parede da sala onde estudávamos, lá estava ela encerrada numa
pequena moldura. Aquele grupo de soldados me chamou a atenção e não tardei em
perguntar do que se tratava.
Meuze me explicou que aqueles pão-de-açucarenseses
foram convocado para a guerra. Seu pai era um deles: o Sr. Manoel Santana,
conhecido por “Pelado”, formidável figura humana, vascaíno fanático, funcionário da Comissão do Vale do São Francisco.
Tempos depois, interessei-me em saber mais sobre aqueles nossos conterrâneos que, de uma hora para outra, naquela quadra turbulenta porque passava a humanidade, foram transformados em soldados. É verdade que nem todos chegaram a combater, efetivamente. Mas foram mobilizados; tendo que seguir para o Recife receber treinamento.
Procurei, então, o Sr. Antônio de Melo Barbosa - "Tonho do Mestre", ou "Tonho do Mestre Nozinho", um colecionador das memórias de Pão de Açúcar, que os identificou para mim.
Faço aqui um pequeno esboço biográfico de cada um, deixando de fazê-lo no caso de "Tunga (Belarmino) e "Chiquinho de Medeiros ou Chiquinho da Padaria), por não ter conseguido saber os seus verdadeiros nomes.
JESSÉ DE GOES CAVALCANTE. Filho de João de
Goes Cavalcante e Berenice Santos Melo, nasceu em Pão de Açúcar, Estado de
Alagoas, no dia 10 de março de 1923. Eram seus avós paternos: João de Barros
Cavalcante e Maria Magdalena de Goes. Os avós maternos eram: João Antônio dos
Santos e Maria Exalta de Melo. Em 3 de novembro de 1955, casa-se com Luzia dos Santos
Cavalcante, com quem teve os filhos Abraão, Manoel Messias e Sandra. Morava num sítio, localizado à
esquerda da estrada de acesso ao Morro do Cavalete, na margem do rio São
Francisco. Faleceu em Aracaju - SE, no dia 19 de abril de 1996.
JOSÉ DE GOES CAVALCANTE. Irmão de Jessé.
Conhecido por “Miguelão”. Sua casa era na Av. Bráulio Cavalcante, no trecho
entre a Igreja Matriz e a Cadeia Pública, do lado Norte. Nas paredes de sua casa, pintada com cores vivas, tinha o hábito de escrever mensagens e desenhos com inspiração bíblica: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao pai senão por mim." João, 14:16. Faleceu em Pão de
Açúcar-Al, no dia 20 de outubro de 2007.
HEITOR ÁVILA ALMEIDA. Filho de José de
Faria Almeida e Jesuína Álvila dos Santos, nasceu em Pão de Açúcar, Estado de
Alagoas, no dia 12 de setembro de 1922. Eram seus avós paternos: Cincinato de
Almeida Souza e Clara Bela de Faria. Os avós maternos eram: Jesuino Antônio dos
Santos e Maria da Glória Ávila. Seus irmãos permaneceram em Pão de Açúcar: Erikson (seu Lito) e Heráclito (seu Laque). Em 1º de setembro de 1948, casa-se com Helena Tavares
de Oliveira. Faleceu em Aracaju - SE, no dia 24 de dezembro de
1984.
AMADEU
RODRIGUES DOS SANTOS.
Filho de João Rodrigues dos Santos (conhecido por Joãozinho Vaqueiro) e Teresa Vieira dos Santos, nasceu em Pão de
Açúcar, Estado de Alagoas, em 1923. Depois do Serviço Militar, tornou-se comerciante. Era
proprietário da canoa de tolda “Aviadora”. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 31 de outubro de
1992.
JOÃO ANTÔNIO DOS SANTOS. Filho de Antônio
Ferreira dos Santos e Alcides Izercina
dos Santos, nasceu em Brejo Grande, Estado de Sergipe no dia 20 de outubro de
1923. Conhecido por "João da Farmácia", era proprietário da Farmácia Santo Antônio. Casou-se com a professora Eliete Correia dos Santos, com quem teve os filhos Antônio e Maria das Graças. Faleceu em desastre automobiístico no vizinho Estado
de Sergipe, no dia 29 de junho de 1981.
VIRGÍLIO NERY DAFONSECA FILHO. Conhecido por
“Bibi”. Filho de Virgílio Nery da Fonseca e Sudomélia Rego, nasceu em Pão de
Açúcar, Estado de Alagoas, em 1926. Eram seus avós paternos: Elpídio Nery da
Fonseca e Ernestina Ferreira de Meneses. Os avós maternos eram: Manoel de Souza
Rego e Etelvina Adelaide de Almeida. Casou-se com a Srtª Diva Lira Fonseca.
ERALDO OLIVEIRA DOS ANJOS (ERALDO DE
VIGÁRIO).
Filho de Antônio Oliveira dos Anjos (conhecido por Vigário) e de dona Maria da
Glória dos Anjos. Seus avós paternos eram Agostinho Vieira dos Anjos e
Francisca Rosa dos Anjos. E os maternos eram Antônio Ferreira Machado e Ritta
Duarte de Albuquerque. Casou-se com a Srtª Daniva Lira dos Anjos. A partir de
1953, foi Coletor Federal, tendo trabalhado em
Piranhas-AL, Palmeira dos Índios, Viçosa, Batalha e Maceió, no Estado de
Alagoas; e em Soure, na Ilha do Marajó, Estado do Pará.
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Manoel Santana (Pelado) |
MANOEL JOSÉ DE SANTANA (Pelado). Filho de Antônio José de Santana e Helena
de Souza Pinto, nasceu em Pão de Açúcar no dia 22 de maio de 1922. Seus avós
paternos eram: Manoel José de Santana e Rosa Santana. Os maternos eram: Manuel
de Souza Pinto e Maria Cezária de Souza Pinto. Casou-se com Marinete Cordeiro
de Santana, com que teve os filhos Maxwell, Meuse, Maria Helena e Manoel (Ninho). Faleceu em Maceió no dia 21 de junho de 2016.
ARMANDO DE FREITAS MACHADO. Nasceu em Pão de Açúcar no dia 29 de abril de 1922. Filho de Álvaro Machado e Cristina de Freitas Machado. Casou-se, em 25 de fevereiro de 1950 com a Srª Ozélia Tavares Vieira (filha de Octávio Soares Vieira e Maria Rosa Tavares Vieira, conhecida por “Sinharinha Tavares”). Já era sargento. Convocado junto com seu irmão Temístocles, e tendo o Exército como regra não convocar dois homens de uma mesma família, ele seguiu para treinamento, permanecendo na atividade costeira. Faleceu em Maceió no dia 13 de novembro de 2008.
LUIZ FERNANDES DE MELO. Nascido a 13/05/1922, filho de José Carlos de Melo e Júlia
Fernandes de Melo. É nome de rua em Pão de Açúcar (Rua Expedicionário Luiz
Fernandes de Melo,que inicia na Av. Manoelito Bezerra Lima, sentido Norte). Casado com a Srª Maria Rosa Tavares, com quem teve os filhos: Maria da Conceição, Maria de Fátima, Maria José, José Francisco (Nanico) ...
RUI DE FREITAS MACHADO. Natural de Pão de Açúcar, nascido em 11 de novembro de 1922, filho de Júlio de Freitas Machado e Tercilia de Freitas Machado. Casado com Andrelina Santos Machado natural de Nossa Senhora de Lourdes SE. Faleceu em Traipu-AL no dia 26 de setembro de 1996. Ele não embarcou ficando em atividades costeira em Pernambuco. (informação prestada após a edição do artigo por sua filha Jacira Machado Lima.
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A GUERRA CHEGA PARA O BRASIL
No dia 11 de dezembro de 1941, quatro dias depois de ter sofrido o ataque japonês à sua base em Pearl Harbor, no Havaí, ocorrida em 7 de dezembro de 1941, o Governo dos Estados Unidos declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Em seguida, num esforço de angariar apoio no Continente Americano, propôs a realização da III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas.
Esse Encontro, que se realizou no Rio de Janeiro, de 15 a 28 de janeiro de 1942, buscou o compromisso dos países latino-americanos em fornecer matérias-primas estratégicas para a indústria bélica norte-americana, entre estas: borracha, quartzo, tantalita, minério de cromo, mica e minério de ferro, além de manganês e tungstênio.
A partir daí, e com a coordenação do chanceler brasileiro Oswaldo Aranha, foram firmados diversos Acordos entre o Brasil e os Estados Unidos da América; na Área da Saúde, com a criação do SESP - Serviço Especial de Saúde Pública; mas também a construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, além de outros.
Com essa posição, o Brasil começou a ser alvo de ataques de submarinos alemães e italianos, que bombardearam diversos navios da marinha mercante. Apenas no afundamento do navio Baipendi, nas costas de Sergipe, no dia 15 de agosto de 1942, morreram 270 pessoas. Como consequência, em 22 de agosto de 1942, o Governo de Getúlio Vargas, pressionado por setores influentes da sociedade, entre eles os estudantes, declara guerra aos países do Eixo.
Dos 20.574 soldados brasileiros enviados para o front, 467 morreram.
Dentre os pão-de-açucarenses
que foram convocados para servir ao Exército Brasileiro nos esforços de guerra,
apenas um efetivamente combateu nos campos da Itália: Salvador Mendes
Guimarães.
SALVADOR MENDES GUIMARÃES. Nasceu em 1922. Filho de João Mendes Guimarães e Maria dos Prazeres de
Jesus. Seus avós paternos eram José Mendes Guimarães e Joana Maria de Jesus; e,
maternos, Pedro Corrêa dos Santos e Maria Thereza de Jesus.
Pertencente ao 1º R.I. (Regimento de
Infantaria) da Companhia de Obuses, o Cabo SALVADOR MENDES GUIMARÃES (nome de
guerra: GUIMARÃES, Identificação: 1G-298000), compunha o 2º Escalão de tropas
brasileiras enviadas enviadas para a Europa, com um efetivo de 5.075 homens,
incluindo 368 Oficiais, sob o comando do General Oswaldo Cordeiro de Faria.
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O navio americano "General Mann" que transportou as tropas brasileiras para a Itália. |
Embarcou para a Itália no dia 22 de setembro
de 1944, a bordo do navio U.S.S General W. A. Mann[iv],
chegando a Nápoles no dia 6 de outubro daquele ano. Acompanhava o efetivo, como
correspondente de guerra, o jornalista Ruben Braga, do Diário Carioca).
Combatendo nos campos da Itália, onde tomou parte nas
batalhas de Montese e Monte Castelo, Salvador foi condecorado com a Medalha de Bronze[i] concedida pelo Exército dos Estados Unidos, sob o comando do Gal. Mark Clark[ii]. Este general, que comandou o 5º Exército americano, justamente ao qual se incorporou a FEB, esteve várias vezes no Brasil, sendo a primeira em 1945, acompanhando o retorno do 1º Escalão da FEB, em junho de 1945, tendo sido homenageado, nessas ocasiões, por autoridades brasileiras.[iii]
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O Gal. Mark W. Clark |
Durante esse tempo, manteve correspondência
com a família, relatando ao seu irmão José Mendes Guimarães (poeta Zequinha
Guimarães ou Ben Gum) o seu cotidiano naqueles tempos difíceis, conforme
podemos ler nessas duas cartas a que tivemos acesso:
“Rio de Janeiro, 19 de julho de 1944.
Caro mano Zequinha, abraço-te.
Faço votos que esta vá encontrar-lhe gozando
saúde junto a todos de casa. Quanto a mim, vou passando regularmente, como Deus
quer, sofrendo um pouco para poder vencer, porque não há de ser nada, temos que
enfrentar a sorte, enganando o sofrimento, para ver se um dia nos deixa
desfrutar a calma.
Zequinha, antes de tudo vou contar-lhe o
motivo de minha vinda para aqui. Foi o seginte:
Em minha Companhia, perguntaram quem queria
vir de vez - ilegível-. Eu, no entanto, pensando que vinha de qualquer jeito,
dei logo o meu nome. Porém, depois, disseram que eu não ia mais. Aí, então,
achei melhor. Foi quando, já próximo do dia do embarque, faltava um Cabo. Aí me
chamaram. Consultaram-me se eu
achava de acordo que botasse o meu nome porque eu fui o único que me apresentei
da primeira vez de boa vontade ai então não quis reclamar para eles não
pensarem que dei a primeira vez para fazer farol, aliás foi o que muita gente
pensou, porém aguentei firme e, graças a Deus, fiz boa viagem e vou muito
satisfeito com minha vida. A não poder estar junto aos meus, qualquer lugar me
serve. Se tiver que embarcar, embarcarei do mesmo jeito. Porém, meu Deus há de
me ajudar que um dia hei de voltar e em paz.
Zequinha, mudando o assunto: todo
expedicionário tem que fazer uma declaração de herdeiros, cuja declaração já
fiz dizendo que tenho pai, mãe e irmãos e que não exerço empregos públicos.
Como esta declaração, eu embarcando, o meu
ordenado é 2:500,00. Este ordenado é dividido em 3 partes: (uma parte) numa
razão de 340,00, 360,00 e 1:800,00. 340,00 mais ou menos é o que tenho a
receber na guerra.
360,00 vai para minha família,
mensalmente; e 1:800,00 fica como fundo de previdência para quando o soldado
voltar, receber. Isto é, se voltar. Porém, se o soldado tem pai, mãe e irmãs
solteiras, pode fazer a declaração dizendo que este fundo de previdência pode
ser movimentado, retirando assim todos os meses pela referida família. E foi -
ilegível - como eu fiz, e para isto dei todo endereço dos meus pais porque
posso ficar morando lá mesmo e assim deixei para minha família movimentar.
Zequinha, mudando agora o assunto. Chegando aqui fui incorporado no 1ª R. I. Em
uma Companhia motorizada que parece ser boa.
Quando no Rio - ilegível - finalmente
tenho passeado muito primeiramente nos locais que mais desejava de maneiras que
estou satisfeito com minha sorte. Quero saber onde o destino vai me levar até
aqui não sei.
Sem mais, vou terminar. Junto acompanha
umas fotografias como lembrança do morro do Pão de Açúcar, do Corcovado e assim
peço que me escreva dando notícias do
nosso sertão do nosso povo de tudo afinal.
Recomendações a D. Rosinha e aos meninos
do mano amigo admirador
SALVADOR MENDES GUIMARÃES
Endereço: Cabo 4454 do 1º R. I. da Cia. de
obuses. Vila Militar – Rio de Janeiro.”
***
***
Uma segunda carta, já em 1945, próximo do seu
retorno:
“Itália,
25 de março de 1945.
Caro
mano Zequinha,
Abraço-te.
Mais
uma vez volto a te escrever dando minhas pobres notícias, e com grande prazer
te digo que o bom Deus sempre tem me amparado com seus poderes.
Sinto-me
feliz, nada me atormenta. A vida para mim tem sido uma série de acontecimentos.
Porém, graças ao bom Deus, sempre são agradáveis.
Sou
bastante conformado, pois me dispus a uma vida de dissabores, porém me contento
porque sem sacrifício ninguém pode alcançar vitórias.
Um
dia virá a bonança para fazer desaparecer esta tormenta, este remorso que pesa
sobre mim. Nesta vida de um futuro indeciso, tudo isso são coisas que maltratam
o homem que, longe dos seus, está (legível).
Porém,
na hora de maiores aflições, temos o bom Deus, e é para este que devemos ter o
pensamento voltado, e pedir para reine uma paz e que desapareça este mau de
ressentimento que abrange o mundo inteiro.
Caro
mano, sempre tenho recebido suas notícias que vêm satisfazer o meu desejo e
cientificar-me dos acontecimentos.
E
sempre estou a esperar por notícias. Cada uma que recebo, é uma vida de alegria
para mim. E assim os dias vão passando, e a vida continua sorridente e bela.
As
saudades são demais, porém vivo enganando o sofrimento porque somente assim
deixa-me desfrutar a calma.
Caro
mano, na próxima vez que te escrever, manter-te-ei minha fotografia (ilegível)
As
novidades daqui são as mesmas: nada de bom.
Estou
aguardando (ilegível)...
Meu
caro mano, vou terminar porque já é o bastante para cientificar-lhe de tudo quanto se passa sobre mim.
Recomendações
a Rosinha e um abraço para os meninos.
Seu
mano, amigo e admirador que está às suas ordens.
Salvador
Mendes Guimarães.”
*** ***
Com a rendição da Alemanha, o conflito
terminava em 8 de maio de 1945. As tropas brasileiras se preparavam para
retornar so solo pátrio.
Foi no dia 12 de agosto de 1945 que os 6.187
expedicionários partiram de Nápoles, a bordo do navio americano “Mariposa”[v],
chegando ao Rio de Janeiro no dia 22. (Fonte: DRUMOND, Pedro Silva. REGRESSO DA
FEB AO BRASIL. História Militar em Debate, 2 de outubro de 2022.
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O navio americano S. S Mariposa, que trouxe de volta os expedicionários brasileiros. |
Ante a resistência do Japão, a guerra se
estendeu até 2 de setembro de 1945, após as bombas atômicas despejadas pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagasaki.
Retornando, Salvador pediu baixa do Exército e foi para São Paulo, onde se demorou por algum tempo até voltar para o seu Sertão. Seu nome consta de uma lista de passageiros do vapor Comandante
Capela, do Lloyd Brasileiro, de 25 de novembro de 1946, com destino ao Rio de
Janeiro: Salvador Mendes Guimarães, solteiro, 24 anos, profissão: Convocado.
Com apoio do irmão Zequinha, montou uma Loja de venda de tecidos no Povoado de Candunda (pertencente ao município de Santanana do Ipanema, atualmente a Senador Rui Palmeira, Estado de Alagoas), onde fixou domicílio residencial e comercial. Ali conheceu uma jovem de nome Valdice Ricardo, com quem veio a contrair matrimônio.
Veio-lhe, no entanto, outro infortúnio: contraiu tuberculose, relata o seu sobrinho Manoel Vieira Guimarães (filho de Augusto Mendes Guimarães, irmão de Salvador). E prossegue, descrevendo as circunstâncias da sua morte:
"Em uma das feiras realizadas no Povoado de Candunda, aconteceu uma briga em frente ao seu estabelecimento comercial, envolvendo três cidadãos em círculo, cada um portando uma faca em punho para matar o seu cunhado Léo Ricardo, irmão de sua esposa Valdice Ricardo Guimarães."
"Aconteceu que ela se vestiu de um capote e entrou no meio dos três. Abraçou o irmão, acomodou debaixo do capote e o retirou das garras dos inimigos. Nisso, o tio Salvador ficou muito nervoso e foi acometido por uma parada cardíaca fulminante levando ao estado de óbito."
Assim findou-se esse valoroso pão-de-açucarense, de temperamento "calmo, tranquilo...", no dizer de seu sobrinho Paulo Pires Guimarães, mas que, segundo Aldemar de Mendonça, ao regressar, apresentou uma acentuada neurose de guerra, tão comum àqueles que se expõem a essas situações.
Consideramos ser digna de registro a participação desses filhos de Pão de Açúcar nesse conflito tão marcante para a humanidade, especialmente a Salvador Mendes Guimarães.
A atuação da Força Expedicionária Brasileira, em que pesem as opiniões desmerecedoras, foi e tem sido bastante elogiada.
De um depoimento do jornalista sergipano Joel Silveira, correspondente durante a guerra:
"o coronel Rudolf Bohmier, da Wehrmacht, veterano de várias batalhas, inclusive a de Stalingrado, em seu livro Monte Cassino, publicado após o fim do conflito:
'Sabe-se que não é fácil, para uma tropa não acostumada ao combate, ter de lutar contra veteranos experientes, com os das Divisões e Regimentos alemães na Itália. O soldado brasileiro, no entanto, mostrou boa vontade e satisfação, demonstrando, juntamente com os seus oficiais, um grande desejo de lutar. Este fato é confirmado pelo general americano Mark Clark. (...)'
'Durante o inverno rigoroso dos Apeninos etruscos, os soldados brasileiros, oriundos de um clima tropical, não tiveram condições fáceis a enfrentar. Neve e gelo, chuva e tempestades forçavam-nos a duras missões. Assim mesmo, resistiram. Notável, nesse espaço de tempo, foi o ataque da 1ª Divisão da Infantaria Expedicionária, em fevereiro de 1945. Na região de Vergato, a Divisão brasileira avançou lado a lado com a famosa 10ª Divisão de Montanha americana contra posições da 32ª Divisão Alemã de Granadeiros, arrebatando-lhes o tenazmente defendido Monte Castelo". (Monte Cassino, pgs. 308/309 da edição brasileira - Editora Flamboyant).'
O próprio General Clark, falando aos jornalistas brasileiros e estrangeiros, no dia 16 de julho de 1945, no Rio de Janeiro, disse:
"Preliminarmente, devo dizer que o nosso principal objetivo era manter as Divisões alemãs na Itália, a fim de não poderem intervir nem na frente oriental nem na ocidental.
Não há dúvida de que, na estratégia geral, a Itália não constituía propriamente o principal teatro das operações; pelo contrário, era até uma frente secundária. Por isso, o Alto Comando aliado conservou naquela zona de guerra uma quantidade relativamente pequena de tropas."
Depois da batalha de Roma, quando libertamos aquela cidade, retirei do meu exército sete Divisões: quatro francesas e três americanas para fazer a invasão do sul da França.
Os senhores devem recordar-se de que foi no dia 4 de junho que libertamos Roma. Foi neste momento, precisamente, que a FEB começou a combater na Itália. Não podia ter chegado em momento mais propício. A FEB nos deu uma Divisão adicional e com ela continuamos nossos avanços para o Norte.
Posso informa que, daí em diante, só recebi mais uma Divisão, e foi a 10ª Divisão de Montanha dos Estados Unidos. De maneira que a FEB chegou mesmo na hora "H" e constituiu um reforço excelente, que fez imediatamente sentir o seu peso."
... ...
Do brasilianista Frank D. MacCann, do Departamento de História da Universidade de New Hampshire, o autor do talvez mais completo trabalho sobre a FEB escrito no exterior:
"A FEB completou as missões que lhe foram confiadas e pode ser comparada favoravelmente com as Divisões americanas do IV Corpo."
"É lamentável que o forte simbolismo do Monte Castelo tenha distorcido a análise da vitória em Montese, a 16 de abril de 45, na qual a FEB tomou a cidade, sofrendo 426 baixas após uma batalha extenuante de quatro dias de duração. Nos dias seguintes, combateu a 149ª Divisão (alemã) e as Divisões Monte Rosa, San Marco e Itália (da Itália fascista), as quais acabaram por se render ao general Mascarenhas nos idos de 29 e 30 de abril."
"Em uma questão de dias, os brasileiros, graças a uma armadilha bem-sucedida, conseguiram a rendição de dois generais, 800 oficiais e 14.700 soldados (...)"
"O sucesso da FEB foi de tal ordem, que os líderes americanos pretenderam que ela permanecesse na Europa como parte das forças de ocupação, papel que os militares brasileiros e seus líderes civis rejeitaram. Infelizmente, contrariando as objeções americanas, o governo brasileiro decidiu dispersar a FEB por ocasião do seu retorno ao Brasil. Os militares americanos tinha esperado que a Divisão fosse conservada junta para formar um núcleo de uma reformulação completa do Exército brasileiro."
Sobre esse depoimento do militar alemão, o Marechal Floriano Lima Brayner, que foi Chefe do Estado Maior da FEB, louvando a fidelidade do oficial teuto, salientou: "Citou (Brohmler) a nossa FEB com precisão e justiça surpreendentes, dizendo aquilo que os americanos, que nos comandaram, não tiveram coragem de proclamar".
(Só um parêntese para dizer que Floriano Lima Brayner é filho do Tenente Brayner (João das Neves Lima Brayner), que confrontou Bráulio Cavalcante na praça dos Martírios, em Maceió, em meeting contra o Governo Euclydes Malta, no dia 10 de março de 1912. Bráulio foi morto, e o tenente, igualmente atingido, veio a falecer dias depois). Fonte: Diário de Notícias, 27 de maio de 1968. Para saber mais sobre esse episódio, acesse BRÁULIO CAVALCANTE X TENENTE BRAYNER: A PENA E A ESPADA.
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Nossos agradecimentos aos familiares desses bravos pão-de-açucarenses pela oferta de informações e documentos, que nos possibilitaram elaborar este artigo.
Rogamos àqueles que, porventura, tenham informações, especialmente sobre Tunda (Belarmino) e Francisco Barbosa (Chiquinho da padaria), nos forneçam e nós, prontamente, acrescentaremos.
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NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.
[i]
A medalha de bronze, ou Bronze Star, é uma condecoração militar das Forças
Armadas dos Estados Unidos que é concedida por bravura, atos d emérito ou
serviço meritório. Quando concedida por bravura, é a quarta maior condecoração
das Forças Americanas.
[ii]
Mark Wayne Clark (Sackets Harbor, 1 de maio de 1896 – Charleston, 17 de abril
de 1984). Comandante do 5º Exército dos Estados Unidos, que invadiu a Itália e
ocupou Roma.
[iii]
Jornal do Commércio, RJ, 10 de março de 1999.
[iv]
USS Generam Mann ainda foi empregado no transporte de tropas americanas para o
Vietnã.
[v] Navio
“Mariposa”. Trata-se do navio alemão “Windhuk” (Canto do Vento), construído em 1938. Deslocava 18.662 toneladas
brutas. Chegou ao porto de Santos arvorando a bandeira japonesa. No início da
guerra fora aprisionado pelo governo brasileiro e depois negociado com os
Estados Unidos. Nos estaleiros americanos, recebeu reparos nas máquinas, que
haviam sido danificadas pelos tripulantes alemães que utilizaram cimento para
tal fim. Fonte: Jornal do Comércio, RJ, 16 de agosto de 1942.