domingo, 25 de novembro de 2012

A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA DE FERRO PAULO AFONSO: FOTOGRAFIA E HISTÓRIA


    O Governo do Estado de Alagoas e o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas realizarão o lançamento do livro “A Construção da Estrada de Ferro Paulo Afonso: Fotografia e História”.
Dentre os pontos da análise de investigação do livro, destacam-se a verificação das alianças políticas para a construção da Estrada de Ferro Paulo Afonso, o processo de construção do sistema ferroviário e a significativa participação de trabalhadores sertanejos.
    O livro também apresenta um panorama histórico da experiência da construção no sertão alagoano, ocorrida na segunda metade do século XIX, trazendo à tona os diferentes momentos e as dificuldades enfrentadas por engenheiros e trabalhadores. A obra discorre sobre a importância desse meio de transporte enquanto viabilizador social e econômico, sobretudo através do escoamento da produção pelo rio S. Francisco. Ao final, o estudo também destaca o inédito registro fotográfico de Ignácio Mendo – além de informações sobre o contexto em que elas foram realizadas. Ao todo, são quatro capítulos e aproximadamente 90 fotografias, distribuídos em 112 páginas.
    A pesquisa e a elaboração do texto são de autoria do administrador Davi R. Bandeira, pesquisador do Núcleo de Estudos de Administração Brasileira (PPGAd/UFF). Lançamento: 28 de novembro de 2012

Local: Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas - Maceió
Hora: 15:00 h
Mais informações: ihgal@hotmail.com

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O AVIÃO QUE CAIU EM CAMPINAS


Por Etevaldo Amorim

Muitas lembranças eu ainda guardo da infância em Campinas. Entre elas um acontecimento trágico, de cujas proporções só agora tomo conhecimento.
Era noite alta, já madrugada. Meu tio nos acordou na casinha dos fundos onde morávamos e nos dirigimos à porta de sua casa, na Rua Amparo, no bairro Novo Campos Elíseos. Lá estava um carro com alguns homens, que arregimentavam voluntários para controlar um incêndio provocado pela queda de um avião. Favorecidos pelos espaços vazios que ainda havia naquela parte nova do bairro, pudemos avistar o fogaréu nos eucaliptos, a cerca de seis quilômetros de onde estávamos. Meu pai e meu tio foram com eles. Na volta, o relato estarrecedor: em meio ao fogo intenso, lutando com os poucos recursos de que dispunham, ainda se deparavam com corpos carbonizados e mutilados em meio aos destroços fumegantes do aparelho.
Agora, vasculhando os jornais da época, no precioso portal da Biblioteca Nacional, encontro detalhes daquele episódio que marcou a minha memória de criança. Na madrugada do dia 23 de novembro de 1961, o avião Arco-Iris, um COMET 4¹ prefixo LV-AHR, da Aerolineas Argentinas, procedente de Buenos Aires, decolara do Aeroporto Viracopos às 2:32 h com destino a Nova York, com escala em Trinidad. Depois de uma inexplicável demora de 20 minutos na cabeceira da pista nº 32, o avião decolou depois de o comandante dar o sinal convencional de que estava tudo em ordem a bordo. Um minuto e meio depois caiu na região denominada Sítio Lagoa, bairro Friburgo, três quilômetros do Aeroporto, devastando uma plantação de eucalipto de propriedade do Sr. Werner Schaefer, abrindo uma clareira de mais de trezentos metros e explodindo ao encontrar um aclive do terreno. O radiotelegrafista de bordo não teve tempo de fazer qualquer comunicação. A última foi momentos antes da decolagem.
Segundo informou depois o comando da IV Zona Aérea, as condições atmosféricas naquela noite eram boas, com teto de 400 metros e visibilidade de 6.000 metros. O plano de voo apresentado pelo comandante previa uma viagem de 5 horas e 16 minutos até a próxima parada: Trinidad.
O avião partira do aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, às 23 horas do dia 22, sob o comando de Roberto Môsca e tendo a seu lado o Co-piloto Raul Quesada. Ao chegar a Viracopos, a 1:15 h, cinco passageiros desembarcaram: Alan Skellenger, Maria Mila Sole, Manuel Bonino, Maria J. Z. de Bonino e Victor Ventura. O Sr. J. W. Glenz deixou de embarcar, escapando do sinistro.
Estavam a bordo 52 pessoas², sendo 40 passageiros e 12 tripulantes. Ambulâncias, viaturas policiais de três guarnições de bombeiros de Campinas, inclusive um helicóptero da FAB, acorreram ao local e, auxiliados por voluntários, conseguiram a muito custo debelar o incêndio, passando à fase de identificação dos corpos. Reconheceram imediatamente o comandante Roberto Môsca e o Co-piloto H. Loubert e apenas um passageiro, dadas as condições em que ficaram os demais.
         Bertoldo Antônio, morador há 200 metros do local da queda, declarou à reportagem do jornal carioca Última Hora: “Acordei ouvindo violentas explosões e julguei que fosse um tremor de terra. Corri ao local, mas nada pude fazer” Já o sitiante Werner Schaefer, de origem alemã, disse que, ao ouvir as seguidas explosões, supôs tratar-se de alguma revolução. Ainda segundo o Última Hora, sua esposa Olga Jurz declarou: “Julguei que fosse um terremoto. Saí com meu marido e vimos o avião envolto em chamas. Foi horrível”.
          O fotógrafo Neldo Cantanti, que registro o acidente, conta que “Era um amontoado de ferro retorcido e a gente pisava na terra queimada. Ainda chovia muito. Só sobraram a cauda e as turbinas.” Ele ainda lembra que um dos passageiros perdeu o voo devido à demora do taxista que o levava ao aeroporto. Perderia uma reunião muito importante e, por esta razão, ficou muito irritado com o motorista. Minutos depois, sabendo do acidente, agradeceu por salvar-lhe a vida.
                Além dos 52 mortos na queda, a tragédia fez mais uma vítima, a Srª Amália Fêit de Serrano, 69 anos, que faleceu em Córdoba ao saber da morte do filho, o arquiteto Ernesto Guilermo de Serrano.
                Acabou assim o fatídico voo 322.
               Vislumbro agora outra ligação com aquele fato. Meu pai era operário da DUNLOP DO BRASIL, uma fábrica de pneus de origem britânica, que foi depois vendida à PIRELLI. Essa Unidade de Campinas fornecia componentes à BOAC, fabricante do Comet 4. Lembro-me que ganhei um aviãozinho de brinquedo numa das festas de confraternização, uma miniatura do aparelho da BOAC.
                Essas lembranças da infância não se apagam nunca... e já faz 51 anos.
_____________
¹ Fabricado pela Britsh Overseas Airways, também conhecida por sua sigla, BOAC. Essa empresa aérea do Reino Unido surgiu como fusão entre a Britshi Airways Ltd. e a Imperial Airways no ano de 1939. Em 1974, a BOAC fundiu-se com a Britsh European Airways com ato do parlamento britânico de 1971. Em 1975, foi a primeira companhia aérea a utilizar um avião a jato para transporte de passageiros, com o De Havilland Comet.

² Procedentes de Buenos Aires: Horácio A. Esteverena, capitão da Marinha Argentina e sua esposa Marta Hortensia Martoreli; Eduardo Leonidas Vago, Gerente-Geral das Companhias Marítimas Argentinas; Carlos Francisco Bertoa de Liano, oficial do Exército argentino; Colette Lousberg de Arlia, belga de 31 anos; Bernardo Fridman, negociante argentino de 57 anos; Ramon Garcia, argentino 56 anos; Marta L. Smart, estudante argentina de 17 anos, filha do gerente-geral da Aerolineas Argentinas nos Estados Unidos, Albert Smart; Mário Antônio Couto, negociante argentino 40 anos; José Antônio Reyes, eletrotécnico argentino 42 anos; Gilbert Jean Luy, norte americano 47 anos e sua esposa Luciana Rosa Larreia de Luy, peruana 31 anos; Oscar Manuel Manna, despachante aduaneiro argentino 26 anos; Salomon Burstzein, argentino naturalizado 56 anos; David Smith, orador luterano argentino de 39 anos; Nicolas Susta, arquiteto argentino de 32 anos; José Antônio Talawe, 22 anos oficial do Exército argentino; Renee Sweig, industrial austríaco 43 anos; Edgar Bercebal, negociante argentino 30 anos; Ernesto Guilhermo Serrano, arquiteto argentino 43 anos; Emílio Giancola, sacerdote argentino naturalizado 31 anos; Maria Gracia Guerrieri de Barreiro, argentina 58 anos; Maria Rosa Guerrieri, argentina 31 anos; Ricardo Jesus Ezcurra, negociante argentino 46 anos; Oscar Reinaldo Buhrer, estudante argentino 10 anos; Amanda Maria Correia de Buhrer, argentina 45 anos; Abraham Wolf Kiszemberg, argentino naturalizado 37 anos; Francisco Colucci, piloto civil argentino 31 anos; Alejandro Martin, piloto civil argentino, 33 anos;Jorge Cesar Rodrigues, piloto civil argentino 36 anos; Francisco Carlos Gabrieli, piloto civil argentino 29 anos, diretor de aeronáutica da Província de Mendonza; Nicolas Rado, industrial argentino 35 anos; Clemente Gomez, argentino 31 anos; William Boryk; Carlos Leonardo Sersosino, argentino 35 anos funcionário da Aerolineas Argentinas, o único que se dirigia a Trinidad; C. Z. Omfz; Stig Forum Smitd, ex-chefe de pilotos em Nova Yorque, que viajava como passageiro. Embarcaram em Campinas: Isidor Hegyr; Erzsebt Biro Hagyi; Magid Raduan. Tripulantes: Roberto Môsca, piloto; Raul Mário Quesada, co-piloto; Maurício Loubet, co-piloto reserva; Boris Juan Marijanac, navegante; Carlos Leiva, mecânico; Juam Leira, engenheiro de vôo; Antônio Sigilli, operador de rádio; Washington Garcia, comissário; Ricardo Henrique Garcia, comissário; Cândida Perez, aeromoça; Lylian Casanovich, aeromoça;Manuel Vallecillos, navegante reserva.





Equipes de resgate em meio aos destroços do avião Foto: Neldo Cantanti.


Destroços do Comet 4. Foto: Neldo Cantanti.


Capa da edição extra do Correio Popular de Campinas, que fez a cobertura do acidente.


Indicação do possível local do acidente, arredores do Cemitério dos Alemães.
Fonte: Google. Edição: Edilberto Princi Portugal.

Comet 4, em 1961, no aeroporto de Orly, França. Foto: Georges Cozzika.


Nas pesquisas para compor este artigo encontrei esta foto no site http://aviation-safety.net/database/operator/airline.php?vai=6813. Como a sua reprodução estava condicionada à autorização do autor, solicitei de imediato. Getilmente, o Sr. Georges Cozzika, um francês de origem grega, físico nuclear aposentado, hoje com 71 anos, permitiu-me utilizá-la para ilustrar este pequeno relato.
Em 1961, câmera na mão, o jovem estudante interessado em aviões frequentava, na companhia de um amigo, o aeroporto de Orly, sul de Paris, quando fez esta foto do avião da Aerolineas Argentinas. Orly foi o principal aeroporto da França até a inauguração do Charles de Gaulle, em Roissy, em 1974. Noutras vezes, iam ao mais antigo, de Le Bourget, norte de Paris, onde Lindberg desembarcou em 1927, na célebre façanha de voar 33 horas e meia desde Nova Yorque. Revelou-me que, até bem pouco tempo, não tinha conhecimento de que aquele belo aparelho havia sido abatido por essa tragédia.

FONTES:

Diário de Notícias, 25/11/1961. Disponível em:
A Noite, 24/11/1961. Disponível em:

Diário da Noite, 24/11/1961. Disponível em:

Diário Carioca, 25/11/1961. Disponível em:

Última Hora, 25/11/1961. Disponível em:

Pró-memória – Campinas.


Portal do Aeroporto Internacional de Viracopos.







quinta-feira, 15 de novembro de 2012

HOJE NA HISTÓRIA

Há 59 anos, falecia no Rio de Janeiro o médico, político e poeta alagoano JORGE DE LIMA.
A homenagem deste Blog vai na forma do seu poema mais conhecido:

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente"

Um, dois, três lampiões acende e continua
Outros mais a acender, imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
- Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!




Veja a notícia da morte de Jorge de Lima na edição do dia 17 de novembro de 1953 do jornal DIÁRIO CARIOCA. Disponível em: www.memoria.bn.br. Acesse o link: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=093092_04&PagFis=21276






domingo, 4 de novembro de 2012

HOJE NA HISTÓRIA

PRÊMIO DEUTSCH PARA SANTOS DUMONT


Por Etevaldo Amorim

Há 111 anos, o brasileiro Santos Dumont foi oficialmente declarado vencedor do Prêmio Deutsch, oferecido pelo Aero Club de París, após seu voo com o dirigível N-6 em torno da Torre Eiffel.
O concurso foi promovido pelo milionário Deutsch de la Meurthe, empresário ligado à exploração e refino de petróleo e fazia parte das comemorações da virada do século. O desafio consistia em pilotar um dirigível ou aeroplano que contornasse a torre Eiffel, saindo do campo de Saint-Cloud, sobrevoando o rio Sena, o campo de Bagatelle e retornando ao pondo de partida em, no máximo, 30 minutos. No dia 19 de outubro, Santos Dumont concluiu o percurso em 30 minutos e 29 segundos.
Houve grande discussão em torno do resultado da prova. Foi então que, sob a presidência do Príncipe Rolando Bonaparte, a Comissão Julgadora, por 13 votos contra 9, conferia o prêmio a Santos Dumont. Para essa decisão muito contribuíram as opiniões dos membros do Instituto de France que, na comissão Cailletet, Bouquet de Lagrye, E. Moscart e Julio Violle.
Santos Dumont recebeu, no dia 5, 100 mil francos e, conforme havia anunciado, os distribuiu assim: 50 mil francos para os pobres de Paris, 20 mil francos para o seu secretário e infatigável companheiro  de trabalho Emmanuel Aimé e os 30 mil restantes aos operários que o ajudaram naquela empreitada.

domingo, 14 de outubro de 2012

44 ANOS SEM MANOEL BANDEIRA

No dia 13 de outubro de 1968, depois de vários dias no Hospital Samaritano no Rio de Janeiro, morria, aos 82 anos, o poeta pernambucano Manuel Bandeira. Foi sepultado no dia seguinte, no Mausoleu dos Acadêmicos, no Cemitério São João Batista.
Manuel Bandeira nasceu no Recife em 19 de abril de 1886. Desde 1940, pertencia à Academia Brasileira de Letras, quando foi eleito para a vaga de Luz Guimarães Filho, na Cadeira nº 24, que tem como patrono Júlio Ribeiro.

Um de seus últimos poemas:

PREPARAÇÃO PAR A MORTE

A vida é um milagre
Cada flor
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.

Cada pássaro com
sua plumagem, seu vôo, seu canto.
Cada pássaro é um milagre.

O espaço infinito,
O espaço é um milagre,
O tempo infinito,
O tempo é um milagre,
Tudo, menos a morte.
___________
Disponível em: memoria.br.br

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

SONETO (a Fernando Ferreira de Loanda)


                                                  Lêdo Ivo¹

À doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude eu me abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros.

Versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião

Irei, levando uma mulher comigo.
E serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo
____________________

 Poema publicado no suplemento dominical do
   jornal carioca A MANHÃ, em 10 de março de 1946.
   Disponível em: memória.br.br



¹ Ledo Ivo, poeta alagoano nascido em Maceió
   Em 18 de fevereiro de 1924.


  .

sábado, 15 de setembro de 2012

SEMINÁRIO - CENTENÁRIO RENATO DE MENDONÇA


Participe do Seminário em comemoração do centenário do diplomada alagoano RENATO DE MENDONÇA, nos dias 3 e 4 de outubro próximos.

Local: Casa do Patrimônio do IPHAN
Rua Sá e Albuquerque, 157 - Jaraguá
MACEIÓ - AL
INSCRIÇÃO GRATUITA




quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O SEQUESTRO DO EMBAIXADOR AMERICANO

No dia 9 de setembro os jornais estampam a notícia de novo Ato Institucional. Era uma resposta do Regime à bem sucedida ação das organizações de esquerda. Entrava em vigor o AI-13, instituindo a pena de BANIMENTO, que era inaugurada exatamente pelos presos políticos enviados para o México, libertados que foram em troca do Embaixador.



Há exatos 43 anos, a Ditadura Militar libertava 15 presos políticos em troca do embaixador dos Estados Unidos da América Charles Elbrick.
A imprensa do então Estado da Guanabara exibe farto noticiário.
No dia 6 de setembro de 1969, o Correio da Manhã, Diário da Noite e Diário de Notícias trazem a relação dos presos que deveriam ser libertados:

Gregório Bezerra, Vladimir Gracindo Soares Palmeira, José Ibraim, João Leonardo Silva Rocha, Ivens Marchetti do Monte Lima, Flávio Aristides Freitas Tavares, Ricardo Villas Boas de Sá Rego, Mário Roberto Galhardo Zaconato, Rolande Fratti, Ricardo Zaratini, Onofre Pinto, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Agnaldo Pacheco da Silva, Luiz Gonzaga Travassos da Rosa e José Dirceu de Oliveira e Silva.

Os jornais do dia 7 e 8 de setembro noticiam a partida dos libertados para o México.








Disponível em: memoria.bn.br.


sábado, 11 de agosto de 2012

AS MÃOS DO MEU PAI


Mário Quintana


As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
 — como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento? Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...
________________


sábado, 4 de agosto de 2012

CORTAR O TEMPO

                                                          Carlos Drumond de Andrade

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui prá diante vai ser diferente.

sábado, 2 de junho de 2012

MANOELITO BEZERRA LIMA, O POETA DO VIOLÃO


Por Etevaldo Amorim


            Numa terra de músicos, em que muitas gerações foram formadas e fizeram a fama dessa cidade do sertão alagoano, ribeirinha do São Francisco, surgiu um que era dotado de extraordinário talento e portador de uma limitação que não o impediu, no entanto, de se tornar o mais conhecido de todos.
Manoel Bezerra Lima nasceu em Pão de Açúcar, Estado de Alagoas, no dia 8 de julho de 1883, na casa de número 173 da Rua Antônio Machado Guimarães (antiga Duque de Caxias). O filho de D. Rosenda e de "seu’ Joaquim Alves Bezerra Lima perdeu a visão logo nos primeiros meses de vida e cresceu sendo tratado por “Ceguinho de Joaquim Bezerra” ou “Nezinho Cego”. Segundo descrição de Adherbal de Arecipo, Manoelito, como também era chamado, “tinha baixa estatura, era magro e gozava de boa saúde. Seus olhos — pode-se dizer, não apareciam: eram vazados, formando uma espécie de vácuo”. Talvez para compensar a visão que lhe faltava, a sua percepção auditiva se desenvolveu enormemente. No estudo da música, isso o favoreceu sobremaneira.
Conta-se que, certa noite, estando ele em companhia de um grupo de amigos, na tranquila cidadezinha sertaneja, ouviram o som característico de carros de boi, que desciam a ladeira em demanda ao Campo Grande, costumeiro lugar de pouso dessas caravanas que transportavam as mercadorias para embarque nas canoas. Os amigos o desafiaram:
— Você não tem o ouvido bom, Ceguinho??!!! Pois diga quantos carros estão vindo...
Nezinho apurou o ouvido por alguns poucos minutos, o suficiente para distinguir o som que cada carro emitia pelo roçar dos eixos nos cocões, e respondeu taxativo:
— Seis.
Foram todos para o local e, contanto os carros, constataram que eram cinco. E, então, gritaram todos:
— Errou, Ceguinho!!!! Você disse que eram seis.....
            Foi então que um dos carreiros apressou-se em explicar. Na verdade, eram mesmo seis carros, mas um deles quebrou na descida, sendo forçado a parar. O “ouvido” do Nezinho era mesmo afinadíssimo.
Segundo o Dicionário MPB (site www.dicionariompb.com.br), Manoelito foi para o Rio de Janeiro em 1908, ocasião em que se apresentou no Teatro Mourisco, durante a Exposição Nacional, na Praia Vermelha. 
Estudou música desde criança. Ingressou em 1912 no Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, onde aprendeu a ler e a escrever em braile.
Consta, entretanto que, em 1910, em viagem ao Rio de Janeiro, apresentou-se em Salvador, tendo merecido este comentário do jornal Diário de Notícias:
“O Hino Nacional de Gottschalk, executado pelo ceguinho, merecia, só ele, uma crônica. Tudo o que dissermos será pouco para manifestar nossa admiração pela bela e sublime execução da peça”.
Esse “hino” é a música Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, composta por Louis Moreau Gottschelk (renomado músico americano), que serviu por muito tempo de tema dos programas do PDT, à qual se seguia a fala de Leonel Brizola: “Pooooovo brasileiro....”.
            Chegando à Capital Federal, logrou apresentar-se numa das Salas da Associação de Imprensa, no dia 2 de julho de 1910. O jornal O PAIZ, em edição do dia seguinte, em nota intitulada “Cego e virtuose”, na seção Artes e Artistas, enaltece o seu talento, ressaltando fato de que, possuidor de “uma agilidade rara, conhecendo o braço do violão à maravilha, consegue torná-lo um instrumento de concerto”. Por aquele tempo, o violão era um instrumento utilizado apenas por artistas populares, sem reconhecimento da crítica. E ainda acrescenta, “Não o toca, porém, como toda a gente, mas sim em forma de cítara, descansando-o sobre os joelhos”.
            Durante essa apresentação, executou, numa primeira parte, o Schottisch (Xóti) “Venturosa”; o dobrado “Nilo Peçanha”; o tango “Ver ao longe”; a mazurka “Coração”; a valsa “Naninha”; e o “Hino de Gottschelk”. Em seguida: a cavatina “Melodiosa”; o dobrado “Associação de Imprensa”; a valsa “Saudades de Aracajú”; a polka “Cuxillo”; o dobrado “Um pensamento” e o tango “Bahia”. Manoelito Lima, com foi chamado na ocasião, apresentava ainda uma inovação: tocou várias melodias numa “gaitinha de vento”, acompanhando-se ao violão. A gaita era presa a um cavalete de madeira, que a suspendia até a altura dos lábios.
            De retorno a Pão de Açúcar, ainda segundo Arecipo, desembarcou vestindo fraque. No porto, o esperava a banda “União e Perseverança” e um grande número de parentes e amigos que o acompanharam até sua casa, onde tocou vários instrumentos, no que foi seguido por seus conterrâneos. Como disse, Pão de Açúcar é uma terra de músicos.
Transferiu-se depois para o Recife. Não se sabe exatamente quando, mas há um registro de seu embarque em Maceió, a bordo do vapor “Pará”, publicado no jornal Correio do Povo, em edição do dia 4 de março de 1917.
Em 1923, fez apresentações no Salão Nobre do Diário de Pernambuco. Uma delas, talvez a primeira, noticiada pelo jornal A PROVÍNCIA, aconteceu no dia 20 de março daquele ano. Na primeira parte, executou ao violão, de sua autoria, as polkas “Serena estrela” e “Serena lua”; “Dutra”, de Pás de Quatre; “O Guarany – 3º ato, de Carlos Gomes; e “A viúva alegre”, de Franz Lehár. Para a segunda parte ficaram: a cavatina “Fantasia”, executada ao violão, cavaquinho e realejo. No último segmento, ao violão e realejo, a valsa “Carmélia”. Naquela Sala de concertos esteve ele no dia 5 de maio, recebendo caloroso acolhimento. No dia 11, estava ele no Salão Pio X, em Olinda, gentilmente cedido pelo seu diretor Frei Philoteo Siepmann.
            Já devidamente integrado à vida da cidade, Manoelito era convidado para as mais diversas atividades artísticas. Assim é que, no dia 22 de maio de 1923, o nosso Nezinho acompanha o Bloco Apois Fum numa caravana até Caruarú para comemorar o aniversário do seu presidente de honra, Cel. Francisco Sá Leitão. Dois vagões especiais são atrelados ao trem do horário. Além da orquestra, dirigida pelo maestro Zuzinha, vai também o time do Nacional Foot Ball Club, para um jogo amistoso com o Caruaruense Foot Ball Club. À noite, um animado baile pontificou a homenagem, posto que também estava com eles a Banda do 2º Corpo de Polícia.
            No dia 17 de junho daquele mesmo ano, participa das festividades do Colégio Arquidiocesano de Olinda, pelo encerramento do primeiro semestre letivo. Lá estava ele tocando violão e bandolim, pontificando a parte recreativa do evento. No dia 7 de agosto, faz conferência durante a exibição do saxofonista cego, mineiro de Uberlância, Ladário Teixeira, no Salão de Concertos do Diário de Pernambuco.
            Em 12 de fevereiro de 1925, Manoelito apresenta-se para a imprensa no Diário de Pernambuco. A crítica informa que “a assistência foi regular e em sua maioria composta de elementos autorizados no nosso meio artístico.” E acrescenta: “Desse musicista não se pode exigir mais do que ele nos ofereceu, pois que lhe falta o mais importante dos sentidos que é a vista”. O promotor desse evento foi o Dr. Clóvis S. da Nóbrega² e o convite, dirigido ao jornal A PROVÍNCIA, era extensivo à colaboradora deste: Sylvia Moncorvo, escritora crítica de arte pernambucana. Clovis da Nóbrega era engenheiro e um dos Diretores da Companhia Agro Fabril Mercantil, fabricante das linhas da Pedra.
            A 14 de maio de 1926 com uma apresentação de Manoelito para a imprensa no Salão de Conferências e Arte do Diário de Pernambuco. Nesse mesmo ano, ingressa no grupo vocal e instrumental denominado pelo historiador Mário Melo de TURUNAS DA MAURICÉA, numa referência ao domínio holandês sob o comando de Maurício de Nassau. Naquele tempo a cidade era chamada de “Mauricéia”; e turuna é uma palavra de origem tupi, que significa negro poderoso, valente.
O conjunto era formado pelo cantor alagoano Augusto Calheiros; João Frazão, violonista e diretor; Romualdo de Miranda, violonista; João de Miranda, ao bandolim; Luperce Miranda, extraordinário bandolinista; e por Manoel de Lima, também conhecido por Manoelito ou Ceguinho de Pão de Açúcar. Na tarde do dia 14 de maio daquele ano fizeram uma exibição para a imprensa pernambucana, no Salão de Conferências e Arte do Diário de Pernambuco, sendo muito elogiados. No dia 20 de agosto de 1926, organizaram um Festival, no Teatro do Parque, com que se despediram do público pernambucano, dias antes de seguiram para o Rio de Janeiro.
Chegaram ao Rio sem qualquer auxílio, “confiado apenas no valor de cada um”, como afirmava o jornal Correio da Manhã em sua edição de 16 de janeiro de 1927, ao tempo em que assegurava o seu patrocínio, em associação com o empresário Nicolino Niggiani, anunciando uma apresentação para o sábado seguinte, dia 22, no Teatro Lírico.
            Ao espetáculo, que foi transmitido pela Rádio Sociedade, compareceu a mais distinta elite da Capital, inclusive o Prefeito Antônio da Silva Prado Junior, que representou o Presidente da República Washington Luiz. Em sua homenagem, o Manoelito executou o Hino Nacional, de Francisco Manoel da Silva.
            Em consequência do retumbante sucesso que alcançaram, os Turunas foram contratados pela empresa N. Vigginani para mais uma apresentação no seu Teatro Lírico, na quinta-feira seguinte. Manoelito, que definitivamente angariou a simpatia e a admiração de todos, recebeu de presente um violão, oferecido pelo grupo carnavalesco “Cordão da Bola Preta”, por considerá-lo “um de seus melhores intérpretes”.
...
O CONCURSO “O QUE É NOSSO”
           
            No dia 16 de janeiro de 1927, o jornal Correio da Manhã lança um Concurso de sambas, maxixes, canções sertanejas, emboladas, desafios e violão, a ser realizado em 19 e 20 de fevereiro, com vistas a promover o carnaval daquele ano.
No concurso de violão, havia três concorrentes: Américo Jacomino, o Canhoto, renomado violonista paulista; uma menina de 10 anos chamada Yvonne Rabello (seria parente do saudoso Raphael Rabello?); e Manoel de Lima, o nosso Ceguinho. Os estilos eram completamente diversos. A menina Yvonne foi a única a cumprir as exigências co Concurso, solando em violão de cordas de tripa, em posição clássica, a peça “Capricho árabe”, de Tarrega. A comissão julgadora, composta por João Itiberê da Cunha, Corbiniano Villaça e Homero Alvares, levando em contra tratar-se de uma disputa genuinamente brasileira, resolveu conferir a premiação considerando o estilo de cada um. Assim, foi conferido o Prêmio “João Pernambuco” a Américo Jacomino – o “Canhoto”; o Prêmio “Joaquim dos Santos” a Yvonne Rabello e o Prêmio “Levino Conceição” a Manoel de Lima, considerando, segundo o jornal Correio da Manhã: ser um “artista de excepcional inspiração, cego como o patrono do prêmio, cujo mérito está consagrado e não permite confronto”.
Enquanto esperavam o concurso, faziam a festa nas principais casas do Rio. Os jornais anunciavam para o dia 6 de fevereiro “Uma tarde do que é nosso”, com Turunas da Mauricéia no Teatro João Caetano (ex-São Pedro), com a empresa Paschoal Segreto. Manoel de Lima era anunciado como “o poeta do violão”, dividindo o palco com os conjuntos Africanos de Vila Isabel e Trio Carioca. A temporada se prolongou até 26 de março.
No dia 9 de fevereiro, estreiam no Teatro São José (empresa Paschoal Segreto). Na tela, o filme “Beber, amar e sofrer” com Jean Hersholt, Louise Fazenda, June Marlowe e George Lewis. A temporada ali também se estende, tendo inclusive matinée infantil.
Em 6 de abril, Quarta-feira, 20:30 h. Os Turunas da Mauricéia se apresentam no C. R. Botafogo, perante os sócios e suas famílias, por intermediação dos sócios Boabdil de Miranda e Dr. Alberto Ruiz. Este Clube de Regatas Botafogo foi fundado em 1º de julho de 1894. Em 8 de dezembro de 1942, fundiu-se como Botafogo Football Club, este fundado em 1904 com o nome de Eletro Club, transformando-se no atual BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS.
Diversas exibições fizeram eles em Niterói, sendo as duas últimas nos dias 11 e 12 de junho, no Teatro Colyseu.
No dia 3 de julho de 1927, os Turunas se apresentaram no palco do palco do Cine Teatro Central, na Avenida Rio Branco, 168. Com eles estavam LOS CORBATI (acrobacia volante sobre 3 barras). Na tela, o filme “Ouro, mulher e lei”, com John Gilbert. Exibia-se também o filme “Jahú rumo ao céu da Pátria”. A Empresa Pinfildi o anunciava como “o único filme em que se vê nitidamente o glorioso JOÃO RIBEIRO DE BARROS e sua excelentíssima progenitora D. Margarida Ribeiro de Barros e toda a sua ilustre família – e outros detalhes interessantes”. Tratava-se de João Ribeiro de Barros, aviador brasileiro (Jaú, SP: 04/04/1900 – Jaú, SP: 20/07/1947) que, juntamente com Arthur Cunha, Newton Braga, Vasco Ciquini, tornaram-se pioneiros na travessia aérea do Atlântico Sul. Partiram de Gênova (Itália) para Santo Amaro (SP, Brasil), com escalas na Espanha, Gibraltar, Cabo Verde e Fernando de Noronha.
 Outra apresentação se fez ainda no dia 19 daquele mês, desta feita com a presença dos intrépidos aviadores. Os Turunas executaram o “Hino ao Jahú”, o avião em que levaram a efeito a grande façanha.
No dia 8 de julho, os Turunas da Mauricéia estiveram no Studio da rádio A Capital, sob a direção de Américo Jacomino, “Canhoto”. Manoelito, tocando “Grande fantasia trinfal sobre o Hino Nacional Basileiro” e Canhoto interpretando Abismo de Rosas, Viola Minha Viola e Marcha dos Apaixonados. Em 6 de setembro, apresentam-se no Beira-Mar Casino, em comemoração ao aniversário da Independência do Brasil.
Em 1929, de volta ao Recife, apresentou-se no Teatro Santa Isabel e no Cinema Moderno e, novamente, na Salão de Concertos do Diário de Pernambuco, no dia 11 de maio, sob o patrocínio do Governador do Estado de Pernambuco (Júlio Celso de Albuquerque Belo) e do Dr. Carlos Lyra, diretor daquele jornal. Exibiu-se ainda no Natal Club, da capital potiguar.
Em 22 de setembro de 1933, o Ceguinho de Pão de Açúcar toma parte no Festival realizado no Cassino Rio Branco, em Aracaju, quando é homenageado. Voltou a Sergipe em 1938, quando mostrou sua arte no Salão Nobre da Biblioteca Pública de Aracaju e, em Propriá, na Sociedade Recreativa,
Em 1934, fez exibições no Salão Nobre da Escola Normal Pedro II e no Jornal Diário da Manhã, na cidade de Vitória, Espírito Santo.
Em 1939, de volta ao Recife, exibia-se no Cine-Teatro Guarani. No ano seguinte, estava ele no Cine Eldorado e, 1941, no Cassino Baltazar, na cidade de Carpina. Em 1942, o “Mozart alagoano”, como alguns jornais o chamavam, se fazia ver no Cine-Teatro Caruaru, na progressista cidade do interior pernambucano.
Dentre as muitas composições suas, podemos citar: as valsas “Abandono”, “Alice” e “Amor Oculto”; o samba “Escorrego do urubu”; o choro “Fuxico” e o tango “Murmúrio”; além da valsa em seis partes “Veneza americana”, com que fez homenagem à cidade do Recife.
Depois de alguns anos, retornou para Alagoas, com apresentações no Teatro Deodoro e no Cine-Teatro Floriano. Manoel Bezerra Lima faleceu em Recife (PE) no dia 14 de janeiro de 1944, na residência de sua irmã Marieta Canuto Lima, na rua Zeferino Agra, 72, no bairro da Arruda. Foi sepultado às 16:00 horas no Cemitério de Santo Amaro. Félix Lima Junior, seu primo, posto que era filho do seu tio Félix Alves Bezerra Lima, destacou sua arte em "DOIS MAESTROS ALAGOANOS - Misael Domingues e Manoel Bezerra Lima - Nozinho" e, para homenageá-lo, seus conterrâneos deram o seu nome a um dos principais logradouros da cidade. A "Avenida Manoelito Bezerra Lima", em prolongamento da "Bráulio Cavalcante", no sentido Leste, compõe-se de modernas residências e sedia importantes estabelecimentos públicos, tais como: o hospital, a 8ª Coordenadoria Regional de Ensino e a Escola Estadual "Padre José Soares Pinto".
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¹ Publicado no jornal Gazeta de Alagoas, caderno Saber, em 03/06/2012.
² Clóvis Santiago da Nóbrega era genro de Delmiro Gouveia. Casou-se, em 20 de setembro de   1924, com Maria da Cruz Gouveia. Um dos padrinhos foi o Deputado potiguar Juvenal Lamartine, relator do Projeto de Lei que passou a permitir o voto feminino em todo o Brasil e que, eleito Presidente do Rio Grande do Norte, fez com que aquele Estado fosse o primeiro a permitir o voto das mulheres.



Nezinho Cego com o grupo Batutas Sergipanos por ocasião do Festival realizado na noite do dia 22 de setembro de 1933, no Cassino Rio Branco, Aracaju-Sergipe.
Fonte: Almanack de Sergipe, nº 05 – 1934.

Em pé: da esquerda para a direita: João Prado, José de Albuquerque Feijó (banjista); Sales de Campos, orador do grupo; Tenente Amynthas Barretto (barítono); J. Campos Morais; Prof. Vicente Ferreira e Deucaleão Guimarães.
Sentados, na mesma ordem: João dos Santos, conhecido por Zão Cula, afamado violinista; maestro Ceciliano Cruz, Manoel Lima (homenageado). Maestro Domício Fraga e João Motta.


 Nezinho Cego, Yvonne Rabello e Américo Jacomino-Canhoto 


Turunas da Mauricéia (Manoel de Lima, João Miranda, Romualdo Miranda, João Frazão, Agusto Calheiros).


       OsTurunas da Mauricéia no studio da Rádio Sociedade (Correio da Manhã de 20.02.1927)

Anúncio da apresentação dos Turunas no Teatro Lírico.


A ampla Sala doTeatro Lírico na tarde de 19.02.1927, lotado para o concurso “O QUE É NOSSO”. Foto: jornal Correio da Manhã_20.02.1927.

Teatro Lírico - Rio de Janeiro.

Teatro-Cassino O BEIRA MAR. Empresa N. Viggiani e Laport.



                                           
Empresário Nicolino Viggiani.


Praça Tiradentes, Rio de Janeiro - Teatro São José ao fundo.

                                                            Cinema-Central, Rio de Janeiro.




sexta-feira, 1 de junho de 2012

O NOVO APPARELHO DE SIGNAES PARA VEHICULOS


Com esse título, a Revista da Semana, do Rio de Janeiro, em sua edição de 15 de janeiro de 1918 – ANO XIX – Nº 19, noticia o aparecimento do “Sinal de Trânsito” ou “Farol”, também chamado “Semáforo”. Uma perfeita novidade!

A Inspectoria de Vehiculos tem em experiência na Avenida Rio Branco um apparelho de signaes, de invenção do fiscal Sr. Caniné. O apparelho consiste numa haste de ferro supportando uma flexa, que funcciona mecanicamente e que permitte aos vehiculos avistarem o signal de interrupção ou liberdade de trânsito a uma razoável distância, o que não acontecia pelo processo antigo, em que o guarda fazia os signaes com o casse-tête e o apito. As photographias mostram, em confronto, os dois processos de assignalar a diretriz do trânsito.”
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Disponível em: http://memoria.bn.br.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

EPICYCLO


Jorge de Lima

         (Ao grande espírito de Afrânio Peixoto)

Alma, sê forte; corpo, sê robusto!
Nesse conflito atávico e instintivo
Sê como o gênio que possante e altivo
Constrói antes de morte o próprio busto!

Refreia o teu instinto e o doma a custo
Da dor — da grande dor de seres vivo...
Eu quero! — esse presente indicativo
Octávio a conjugá-lo fez-se Augusto...

Mas nunca concretizes teu ideal!
Um ideal realizado é um transparente
Fruto que ao ser provado sabe mal!

O artista é comoo Errático do mito:
Onde pensa que é o fim, surge-lhe à frente
A estrada interminável do infinito!

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Publicado no Jornal das Moças, nº 94 - 1916

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O PASSADO DE PRESENTE


O VELHO “GENERAL”¹
(Sertão de Alagoas)

Ascendino Christo


Tarde quente de verão. Sobre a terra escaldante desdobra-se o imenso pálio de céu rubro.
No poente, há como chamas gigantescas de uma fogueira monstruosa, onde mergulha incandescente o disco solar. Há espalhados pela campina, na copa das árvores altaneiras, no escuro da mataria densa, nos picos alvadios ou negros das montanhas, faixas, rastilhos, toques de luz vermelha. É a magnificência do crepúsculo na selva tropical.
Calmo e pesado, tênue sopro agita a plumagem rala de árvores despidas. Nem força tem para suspender o pó ressequido e ocre da tortuosa estrada. Há nervosos estertores de gravitos e vagens secas a crepitar em estalidos irritantes ao calor intenso.
A longa estrada riscada em sulcos paralelos, pontilhada de brilhantes seixos, vai pouco a pouco imergindo na sombra plúmbea, guarda avançada da noite estrelada.
Três horas a fio, cavalgando suarento tordilho, coberto de pó e enfado, já sem prazer na visão da natureza esquelética, vi passar desde minha partida de Meirús. E a montanha da estrada em fogo fazia-me esgotar a esperança de um descanso perto de breve entrada na linda cidade de Pão de Açúcar.
Agora percorria a baixada que antecede o Alto da Bela Vista, o ponto de onde se descortina vasto horizonte de variedade empolgante, desde a cidade ao sopé, à praia arenosa, ao rio azul e veloz até as montanhas em caprichosos recortes na margem oposta.
Caminheiro prostrado de jornada de muitos sóis e de muitas luas, combalido e sedento de água refrigerante, que ali chega, se tiver ainda forças para dilatar as pálpebras cerradas pela morte das energias e olhar o deslumbrante panorama: os montes, os vales, cultivados campos, a casaria avermelhando, de telhados novos, paredes alvas de cal, e o rio em filete de cristal ao fundo – caminheiro que ali chega, corre, voa, galga a légua que o separa da cidade, do rio, sem cansaço, sem alquebramento.
- Di-lo o povo na sua adoração justa da natureza rica e emocionante.
Também eu sentia ânsia de transpor o vale que me afastava da mágica culminância. Também sentia pruridos de rever o já muito conhecido quadro tão grato aos meus olhos de adolescente! E esporeava o manso tordilho, e atirava ao ar interjeições de alegria, onomatopeias de animação.
- Êh! ... Êh! ...Tordilho, vamos. É ali a Bela Vista.

***   ***
            Transporto o alto, para trás a íngreme e enfadonha ladeira, eu era mais forte: vira a cidade amada e o rio querido. Uma grande alegria repassada de alívio ungia min’alma, o coração pulava de contentamento. Em breve alcançara um carro de boi, morosamente estadejando para a cidade. Chiava pesaroso, num concerto rústico, gemendo ao peso da carga arrumada em pilhas.

E lá ia o tosco veículo, ora chorando em lamentos lancinantes a sorte da craibeira do eixo, meio carbonizado, reluzente, pelo atrito constante dos cocões — ora soluçando trôpego, cansado já, empoeirado do caminho das estradas. Guinchava, às vezes, acelerando a pesada andadura pelo bárbaro ferroar aos mansos bois.

Sempre monótono, cantando alegrias ou entoando nênias, jamais calado, vai pelos caminhos ingratos até o repouso, onde descansa do sol em pino à sombra escassa de alguma árvore, pendido o cabeçalho ao chão. Só ai para de cantar, só ai cessa a música esquisita que atirou aos ares durante horas sem fim.

  ***   ***

         Contou-me o carreiro —um rapagão sadio e forte, sempre pregado à palmatória do seu carro, alegre, jovial, cantarolando loas ou imitando, às vezes, passarinhos em assovio fino, estrídulo: - contou-me o carreiro com lágrimas nos olhos:

— “O meu melhor boi chamava-se “General”. Era um animal de estimação: coiceiro afamado, nenhum outro o vencia no seu posto. Fazia gosto ver como ele escorava a dianteira numa descida ‘a pique’. ...

“Viajara muito e não esquecia atoleiro onde passasse uma vez, nem ignorava precipício a evitar. Do rio – de Pão de Açúcar – até vinte, e trinta e mais léguas, na ‘redondeza’ ele fora, por longos anos, o melhor, o mais valente boi de carro. Atravessara valados, galgara serras e palmilhara alagadiços; à chuva, ao sol causticante; de dia, à noite; à luz nitente, na treva horrífica; sempre aquilo: manso, pronto ao constante viajar, liso e belo, de ‘pelo lustroso’, como se a alegria de viver lhe mudasse em gozo a agrura do labor. Daí a sua alcunha de ‘General’. Como um bravo que foi teve sua ferida de honra e de reforma.

‘Foi ao descer da enorme e maldita ladeira do Parujé. Uma dianteira era um velhaco e manhoso garrote, ainda enfezado e selvagemente forte. O ‘alma do diabo’ tirou em disparada ladeira abaixo. Em frente, abria-se o chão num escancarado grotão, atraindo o carro, a carga os bois e eu. O outro dianteira era manso, porém, fraquinho, perdeu a ação: deixou-se arrastar na corrida infernal. O momento era terrível: mais um arranco do garrote, e estaríamos perdidos. Foi quando “General”, aquele bravo “General”, num esforço inaudito, ouvindo os meus scio! ... Scio! ...desesperados, sustou a carreira danada em que íamos e, desviando o carro do precipício com extraordinário sacrifício, arrastou-nos devagar até ao sopé do despenhadeiro.

‘No lombo roxo do Parujé, porém – concluiu abatido, o carreiro – ficara-se com um mugido de ‘cortar coração’, uma das suas unhas presa ao vale por uma fita rubra de sangue.”
__________________
Publicada no jornal CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, 25 de abril de 1909.

Desenho de Percy Lau.


A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia