quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O TEMPO

 Massilon Silva[i]

 

Antigamente, em afazeres poucos

Passava dias, noites, meses, anos...

Qual personagem fabular de Esopo,

A calcular, elaborando planos.

 

Tornei-me ator de um teatro tosco,

Acumulei em mim perdas e danos,

Representei os anti-heróis e loucos

- Ao fim do último ato cai o pano.

 

E vão-se os dias, muito a gente sonha,

Mas tudo passa; em rapidez medonha

O tempo flui, e ante meu espanto

 

Passaram tantos anos, dias, meses,

Entre fortuna, êxitos, reveses,

Findos os quais nem sei se vivi tanto.

_____

 

Publicada originalmente no CADERNO LITERÁRIO PRAGMATHA, 2020. Sandra Veroneze, organizadora.

 



[i]


Advogado, nascido em Pão de Açúcar, a 6 de março de 1954. Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Maceió - FADIMA, estudou também Observação Meteorológica de Superfície - SUDENE/OMM, Curso Básico de Jornalismo - Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas e Teologia (não concluído) - Faculdade ALFA, Aracaju. Atuou como corresponde do Jornal de Alagoas, Jornal de Hoje e Desafio, todos de Maceió/AL. Participou das antologias Tempo Definido e outras, da Editora Scortecci, São Paulo e da coletânea Aperitivo Poético, Aracaju/SE. É membro da Academia de Letras de Pão de Açúcar/AL e da Academia Alagoana de Literatura de Cordel e da Academia Sergipana de Cordel.

 

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia