sábado, 19 de setembro de 2015

A POESIA DE SEBASTIÃO DE ABREU

AS CARTAS

Sebastião de Abreu


As tuas cartas, flor, os teus segredos,
Sei com desvelo e amor sempre guardá-las:
- Mentiras que disseste nos silvedos
E espalhas, à toa, pelas salas.

Falam das ilusões e dos teus medos
Naquela graça com que em sonho embalas,
Dos idílios à sombra de arvoredos...
Logo, é justo que devo conservá-las.

São as flores do sonho desfolhadas,
E, embora sejam simples e erradas,
Dizem, contudo, do que em mim tu leste,

São a esperança morta de um noivado,
E ainda têm todo o aroma do passado...
São mentiras gentis que me escreveste”

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Publicado em Novidade, Nº 19, 1931.


SEBASTIÃO DE ABREU nasceu em Maceió a 20 de janeiro de 1883. Vítima de pneumonia, segundo diagnóstico do médico que o assistiu, Dr. Eraldo Passos, faleceu aos 26 anos de idade, no dia 22 de fevereiro, às 8 ½ da manhã, em sua residência à rua Cincinato Pinto. Deixou um livro inédito intitulado Angelus. (Fonte: Gutenber, 24/02/1909).
Filho do major Felippe Sant'Iago de Abreu, voluntário da Guerra do Paraguaia (onde fez toda a campanha, recebendo distinções e honoríficas em consequência de sua bravura), e de Epifânia de Pontes Abreu.Do consórcio de seus pais nasceram, ainda, Emygdio José de Abreu, compositor e músico; J. Rosalvo de Abreu; e Rita de Abreu, professora, escritora e poetisa, conhecida pelo pseudônimo de Rosália Sandoval. Fez os estudos primários em Maceió, no entanto não chegou a concluir os preparatórios. Segundo sua irmã, Sebastião de Abreu era estudioso, mas não tinha ânimo para prestar exames. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo, escrevendo crônicas e artigos para diversos jornais da capital alagoana. (Fonte: Site Alagoanidades. Disponível em: http://www.alagoanidades.com.br/?p=1133.

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Sebastião de Abreu (O Pyrausta-Ano I-Nº 2 - 14/02/1917)


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terça-feira, 15 de setembro de 2015

NA PARTIDA


 Olympio Fernandes

Ficas e eu parto. O coração tristonho
Recorda um cemitério abandonado
Onde foi o cadáver do meu sonho
Na tumba de outro sonho sepultado.

Ficas e eu parto. E o teu viver inconho
Faz recordar um céu todo nublado
Onde rebrame um temporal medonho
O nosso Amor, querida, enclausurado.

Ficas e eu parto. E pela vida em fora
Vou caminhando louco e em desatino
Em busca de uma noite sem Aurora

Ficas e eu parto. E a minha Dor, querida,
Assemelha-se a um barco sem destino
Sulcando o negro mar da nossa Vida.
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Extraído de O Jornal, Maranhão, 9 de agosto de 1918, p. 2.
Disponível em:



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OLYMPIO FERNANDES
Olympio Fernandes da Silva, natural de Capela, Alagoas. Formou-se, em 1908, pela Faculdade de Direito do Recife. Em 1911, entrou para a Magistratura, tendo ocupado o cargo de Juiz de Direito nas comarcas de Grajaú, Loreto, São Francisco, Pinheiro, Brejo, Viana, Picos, no Estado do Maranhão. Em 25 de julho de 1912, casa-se, no Rio de Janeiro, na Matriz do Engenho Velho, com a Srtª Carmen da Rocha Santos, filha do Sr. Pedro Pinto dos Santos e Amélia da Rocha Santos. Ela faleceu aos 30 anos de idade, em 3 de novembro de 1916. Estranho, porém, que as notas de falecimento publicadas nos jornais da época não mencionam o nome do marido. Publicou: Entre Árvores, pela Imprensa Industrial, Recife.

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segunda-feira, 14 de setembro de 2015

NOVA AMANTE

Fernandes Tavares*

Essa que vive me seguindo agora
Com um olhar de amor, apaixonado,
Veio avisar o meu amor fanado,
Veio lembrar-me as ilusões de outrora.

Lírio do vale que às ilusões enflora,
Lembra Marina, o meu amor passado;
Quando me olha co’um um olhar pausado
Nele diviso o resplendor d’aurora.

Filha do céu – ela é irmã dos anjos,
Dos loiros querubins e dos arcanjos,
Tem de Vênus o rubido semblante.

Oh! Que ventura agora eu vou sentindo...
Sorri minh’alma e eu também vou rindo...
Bendita seja a minha casta amante!...

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Extraído de O Trocista, Maceió, 20 de abril de 1902, p. 3.
Disponível em:


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BRÁULIO FERNANDES TAVARES era filho do Cel. Bellarmino Fernandes da Silva Tavares e irmão de: José Belarmino Tavares, Belarmino Tavares Filho, João Fernandes Tavares, Ananias Tavares e Francisco Lopes Tavares. Casou-se em 19 de julho de 1909 com Clotilde Pereira Tavares. Faleceu em Olinda, na Rua Joaquim Cavalcante, 283, às 16:00 horas do dia 27 de dezembro de 1946. Foi sepultado às 16:00 h do dia seguinte. Deixou viúva e sete filhos, entre eles Claudio Tavares (jornalista), Nilo Tavares e Stélio Tavares. Fonte: Jornal Pequeno, 28/12/1946.

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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

CLEÓPATRA


Sabino Romariz

Cleópatra era só. Seu pensamento
Voava todo à luta doidivana;
De quando em vez tremia a soberana,
Fitando o azul do egípcio firmamento.

Das nuvens a sangrenta caravana
Seguia o sol na frouxa imensidade,
E uma dúvida, uma ânsia, uma saudade
Boiava-lhe nos olhos de sultana.

Mal a noite caiu sobe a cidade,
Soou perto o clarim... Roma vencia!
E a rainha, com toda a majestade,

Erguida a fronte, o rosto contrafeito,
Desceu pela marmórea escadaria
Ao túmulo, com um áspide no peito!

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Transcrito do jornal Correio Paulistano,
8 de setembro de 1899, p. 2.

domingo, 6 de setembro de 2015

O TEU RISO

Cyridião Durval

Expira a madrugada: o céu micante
Desata um sorriso extenso de alegria...
A natureza acorda e principia
Um concerto de amor, febricitante.

A luz — de suas asas espaneja
O pó doirado, quente e penetrante,
E nos gratos eflúvios desse instante,
Tudo sente calor, tudo viceja...

A rosa entorna o cálix perfumoso...
A planta cresce... o pássaro mimoso
Destila o doce mel dos cantos seus...

Mas, dentro da minh’alma enternecida,
Só há prazer e só palpita a vida
Ao se entreabrir a flor dos lábios teus.
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Cyridião Durval — Filho de Rogério José de Sant’Anna e de dona Theotonia Maria de Sant’Anna Durval e nascido em Tatuamunha, termo de Porto de Pedras e comarca de Porto Calvo, no Estado de Alagoas, a 3 de março de 1860. Bacharel em ciências sociais e jurídicas pela faculdade do Recife, e juiz substituto na capital da Bahia. No ano seguinte ao de sua formatura iniciou, em fevereiro de 1886, a carreira da magistratura, como promotor público da comarca de Ilhéus, Bahia, tendo, logo na estreia, de sustentar renhida luta na tribuna judiciaria, no célebre processo instaurado contra o tenente-coronel Gentil José de Castro e seus irmãos que tinham por defensores os notáveis advogados, conselheiro A. Carneiro da Rocha, e Brs. Affonso Celso Júnior e Izaias Guedes de Mello. Por motivo de moléstia, em 1887, pediu remoção para a comarca de Villa Nova da Rainha, sertão do dito Estado da Bahia, da qual passou ao lugar que exerce. Cultor das letras desde muito jovem, e poeta inspirado, colaborou no Diário de Pernambuco, no Jornal do Recife, Província, Repórter e outros órgãos de publicidade durante o curso de direito e redigiu: — Revista de Pernambuco. Recife —Teve por companheiro na redação o inditoso poeta alagoano Antônio José Figueiredo Júnior. — A Republica: órgão do Club Republicano Acadêmico. Recife...— Teve outros companheiros de redação — Depois de bacharelado colaborou no Jornal de Notícias da Bahia, onde tem publicado várias poesias, e onde em 1886 publicou em vários artigos uma crítica ao primoroso livro Cavatínas, do festejado poeta bahiano, o infortunado acadêmico de direito Francisco de Salles Barbosa. Escreveu mais: — Alagoas: (fragmento) versos. Pernambuco, 1881, 16 pags. in-8°. — Ruínas: poesias. Pernambuco, 1884, in-8». — Versos (de Cyridião Durval e Francisco Peixoto de Lacerda Wernek). Pernambuco, 1885, in-8°. — Acordes: poesias. Bahia, 1890, 313 pags. in-88 — Neste volume acha-se o poemeto « Alagoas » de que o autor publicara em 1881 um fragmento e, encerrando o livro, o poemeto « Catastrophe do Taboão » que é o triste idílio das cenas lúgubres e lutuosas, que em 1889 encheram de consternação todos os habitantes da Bahia. Não é para uma pena qualquer o esboço de tão negros horrores, e o Dr. Durval o fez como melhor não seria possível. Sei que ele tem inéditos: — Sem título: coleção de poesias. — Currente calamo : escritos diversos. Faleceu em Salvador, em 17 de agosto de 1895.

Fonte: Dicionário Bibliográfico Brasileiro, Sacramento Blake.
Disponível em: www.brasiliana.usp.br
E, também site Antônio Miranda. Disponível em:
www.antoniomiranda.com.br.


Cyridião Durval


sábado, 5 de setembro de 2015

JOSÉ AMARAL, UM EMPREENDEDOR

Por Etevaldo Amorim

José Moura Amaral nasceu em Maruim, Estado de Sergipe, no dia 30 de janeiro de 1926. Filho mais velho de Nilo Amaral, também natural de Maruim, e de Odete Moura Amaral, nascida em Nossa Senhora das Dores, foi levado por estes para residir em Aracaju quando ainda tinha três anos de idade.
Na capital sergipana, iniciou como funcionário público estadual, no cargo de Operador, na Rádio Educativa, PRJ-6.
Chegou a Pão de Açúcar em 1949. No ano seguinte, instalou o famoso Bar e Sorveteria Rex, a famosa Galeria Rex, no ponto central da cidade, onde hoje se localiza a Casa da Construção. Para não depender da energia elétrica do precário sistema existente, instalou um gerador próprio, que lhe permitia iluminar também as esquinas adjacentes. Foi ele quem instalou a primeira lâmpada fluorescente em Pão de Açúcar.
Em 25 de setembro de 1938, foi inaugurado o Cine Teatro Pax, ex-Cine Teatro Moderno, que durante muito tempo foi propriedade da CEIL, Companhia de Energia Elétrica, de Joaquim Rezende e seu sócio Lauro Veiga. Quando José Amaral chegou, em 1949, o velho projetor estava quebrado e ele, que também entendia muito dessas coisas, foi logo contratado para consertá-lo, o que acabou por fixa-lo na cidade, tornando-se sócio naquele empreendimento. Tempos depois, esse cinema foi adquirido por Jurandir Gomes e passou a se chamar Cine Teatro Palace, passando depois à propriedade do Sr. Elísio Maia.
Mais tarde, em 16 de junho de 1963, em prédio adaptado, na rua Cel. Manoel Antônio Machado, 195, ele inaugura o CINE GLOBO. Algum tempo depois, o Sr. Nozinho Andrade lhe ofereceu o prédio onde se acha agora a Loja Mobilhar. Amaral construiu a marquise, adaptou o piso, enfim, criou as condições para um cinema de verdade.
O Cine Globo, de Amaral, mudou de nome quando passou a ser propriedade de Augusto César Andrade Cruz, hoje renomado radialista, empresário e agropecuarista.
Em novembro de 1953, organiza o Serviço de Autofalante denominado Departamento Publicitário Jaciobá, que fez o maior sucesso. Localizado na Av. Bráulio Cavalcante, retransmitia o noticiário da rádio Tupy, com as mais importantes notícias do Brasil e do mundo. Foi por ele, por exemplo, que os pão-de-açucarenses ficaram sabendo do suicídio do Presidente Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, poucas horas depois do trágico acontecimento. Sua potência era tal, que chegava a ser ouvido, sobretudo à noite, até no povoado Ilha do Ferro. E com tal nitidez que as pessoas se davam ao luxo de mandar recados para os moradores de lá, na voz possante do locutor Raimundo dos Anjos, filho de D. Otília, do Caboclo.
Do seu casamento com Dona Iolanda, teve os filhos Célia, Murilo, Antônio, Mozart, Volney, Ilma, José e Diná.
De outro relacionamento, teve mais seis filhos: Reinaldo, Jâmisson, Aldo, Jakson, Leila e Lílian.
José Amaral atuou também na política, tendo sido eleito Vereador em 1961. Por duas vezes foi candidato a Vice-Prefeito pela UDN (União Democrática Nacional), em 1959, na Chapa do Sr. Ródio Machado Gonçalves, e em 1965, na do Sr. Jurandir Gomes. Naquela época, o Vice era votado nominalmente e Amaral quase vence o candidato de “seu” Elísio.
Foi ainda professor de Mecanografia, na Escola Técnica de Comércio de Pão de Açúcar.
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Extraído do livro Terra do Sol – Espelho da Lua, de Etevaldo Amorim, Ecos Gráfica e Editora, Maceió, 2004.

José Amaral, ainda nos tempos da Rádio Educativa, em Aracaju. (foto cedida pelo próprio, em 2004)

José Moura Amaral, professor em Pão de Açúcar. (foto Quadro de Formatura do Curso de Comércio)

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


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PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia