sábado, 23 de outubro de 2021

CAIO PRADO, PRESIDENTE DAS ALAGOAS

 

Por Etevaldo Amorim


Caio Prado. (tela de Pedro Américo)

Entre 5 de setembro de 1887 e 16 de abril de 1888, foi a Província das Alagoas presidida pelo Dr. Antônio Caio da Silva Prado.

Nomeado por Carta Imperial de 6 de agosto de 1887[i], partiu de São Paulo para o Rio de Janeiro no dia 27 daquele mês[ii], donde seguiu no dia 30 para Maceió, a bordo do vapor Manaus, trazendo consigo sua esposa, duas filhas, uma professora e dois criados.[iii] Prestou juramento e assumiu o cargo a 5 de setembro[iv] em substituição ao Bel. José Moreira Alves da Silva, passando a residir no Palácio Episcopal, situado na Rua de Palácio, atual Barão de Anadia.

Quando ainda nem sonhara conhecer Alagoas, Caio Prado já tinha uma referência da longínqua província: o Dr. Antônio Ferreira de Novaes Mello, alagoano de Pão de Açúcar, foi colega de Turma, em 1879, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (São Paulo). No ano seguinte, a 17 de julho, Ferreira de Novaes faleceria no pavoroso desastre da Estrada de Ferro Paulo Afonso, em Piranhas-AL.

Por essa época, recrudescia a campanha pelo fim da escravidão, tendo à frente órgãos da imprensa como Lincoln e Gutemberg. A Sociedade Libertadora Alagoana, uma das mais creditadas entidades abolicionistas de Alagoas, para festejar o 6º ano de sua fundação e o 16º da Lei Rio Branco[v], promoveu, no dia 28 de setembro de 1887, concorrida festa em que distribuiu 11 cartas de liberdade e uma exposição de artefatos fabricados pelos alunos da Escola Central. O Presidente Caio Prado compareceu e prestigiou a sessão solene.

Palácio Episcopal, residência do Presidente da Província. Foto: Luiz Lavenère.


Já em outubro daquele ano corria boato de que o Presidente pedira demissão. Isso se dava, segundo o jornal Gutemberg, de 4 de outubro de 1887, em razão das manifestações do Conselheiro Antônio da Silva Prado, seu irmão, defendendo a causa abolicionista, confrontando o “Gabinete de 20 de Agosto”, tendo à frente o Barão de Cotegipe. Mas ele continua.

No dia 27 de fevereiro de 1888, aconteceram em Maceió[vi] pomposas manifestações em honra do Senador Antônio da Silva Prado, destacado líder da campanha emancipadora em São Paulo, bem como do Presidente da Província, que saudou o grande número de manifestantes aglomerados defronte o Palácio em emocionado discurso, dando vivas ao Imperador e a Princesa Imperial Regente.

As convicções abolicionistas de Caio Prado o fizeram desincompatibilizar-se com o Dr. Clemente Mendes[vii], Chefe de Polícia. Jornais da Capital comentavam o comprometimento do Chefe de Polícia com os fazendeiros, fazendo a polícia sempre muito ocupada em capturar escravos fugidos.[viii]

Um episódio verificado em princípios de 1888, foi, talvez a gota d’água. Diz o Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro (12/03/1888) informa:

“Sendo apresentado ao Dr. Caio Prado, por numerosa multidão indignada, um escravo seviciado, mandou o Presidente tirar-lhe os ferros; concorreu pecuniariamente para a alforria do mesmo escravo; e deu ordens prontas e enérgicas para a investigação do crime e punição do delinquente, por não haver a polícia tomado, a tempo, a iniciativa deste procedimento legal.”

Em sua rápida passagem pela província, não logrou deixar grandes realizações. Governar Alagoas sob as condições reinantes à época não era tarefa fácil. Contentou-se, portanto, em estabelecer boas relações com a intelectualidade local, ficando também marcado a sua predileção por cavalgadas matinais pelas ruas da Capital.

Permaneceu em Alagoas até 16 de abril de 1888, quando foi designado para presidir a Província do Ceará, passando o cargo ao Vice-Presidente Manoel Gomes Ribeiro, futuro Barão de Traipu.[ix]

Caio Prado, no centro, abaixado, no sítio do livreiro Gualter Rodrigues da Silva, da Libro Papelaria, no Benfica, Fortaleza-CE. Foto: arquivo Raimundo Girão. Fonte: Fortaleza em Fotos.



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Em que pese a sua breve governança, Caio Prado empreendeu uma grande viagem pelo interior da província, para melhor conhecer o seu território e, principalmente, para estabelecer contatos políticos. Para nossa felicidade, o jornal O Orbe registrou essa excursão.

Hoje, há exatos 134 anos, transcrevemos esse relato minucioso, preservando, pela riqueza de detalhe, a redação original, acrescendo-lhe notas informativas acerca das localidades e personalidades ali mencionadas.

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A VIAGEM DO EXMº SR. DR. CAIO PRADO AO SÃO FRANCISCO

No muito louvável intuito de conhecer de visu as diferentes localidades da Província, empreendeu Sua Excelência, o Presidente desta Província. Dr. Caio Prado, uma viagem, seguindo por terra desta cidade à Vila de Piaçabuçu, onde devia tomar um dos vapores fluviais até a cidade de Penedo. Daí seguiria para Piranhas, devendo voltar pelo centro a tomar o trem da Alagoas Railway na estação da Branquinha.

Efetivamente, Sua Excelência levou a efeito o seu plano, daqui partindo às 10 horas do dia 23 de outubro próximo cadente para o Trapiche da Barra em companhia do nosso distinto amigo o Sr. Deputado Antônio Cardoso Sobral[x], dos doutores Oscar de Macedo[xi], secretário da Presidência, e Sinimbu Júnior[xii]. Acompanhou também S. Ex. ª o seu oficial ajudante de pessoa.

Dr. Oscar de Macedo Soares
A uma hora e meia da tarde chegou S. Ex. ª à velha cidade das Alagoas, onde foi recebido com vivas demonstrações de contentamento por um crescido número de pessoas, acompanhadas de uma banda de música. Hospedou-se S. Ex. ª e a ilustre comitiva em casa do íntegro dr. Juiz de Direito daquela Comarca[xiii], que lhes ofereceu um lauto almoço às 3 horas; findo o qual S. Ex.ª saiu a visitar a cadeia, a igreja matriz, conventos e as aulas de instrução primária. Às 6 horas partiu S. Ex. ª em demanda do Riacho Branco, fazenda do Sr. Major Pedro Rocha[xiv], onde pernoitou.

No dia seguinte, às 8 horas do dia, seguiu S. Ex. ª para o Engenho Sinimbu, propriedade do Exmº Sr. Barão de São Miguel[xv], que veio com alguns cavaleiros ao encontro do exmº visitante; e no referido engenho, onde se achavam outros tantos cavaleiros e uma banda de música, foi servido às 11 horas um profuso almoço, em que se trocaram muitos e diversos brindes importantes.

Aqui nos é agradável enumerar dois atos de elevada filantropia dos exmos. Srs. Barão e Baronesa de São Miguel, que em homenagem ao Exmº Sr. Dr. Caio Prado, declararam livres e sem condição alguma seus escravizados Claudiano e Lúcia.

No mesmo dia seguiu S. Ex. ª do Engenho Sinimbu para a cidade de São Miguel, acompanhado de grande número de pessoas e uma banda de música. Ao chegar à cidade, na ponte, esperava sua excelência um seleto número de cidadãos prestimosos com outra banda de música. Em São Miguel, ao visitar a cadeia, pôs em liberdade uma escravizada ilegalmente presa.[xvi]

Foi esplêndida a recepção de S. Ex. ª na futurosa São Miguel, onde o Exmº Sr. Barão ofereceu um bem fortificante jantar de iguarias variadas.

No dia seguinte, partiu S. Exª para Coruripe, onde já aguardava sua chegada o nosso muito respeitável amigo, o Sr. Deputado Major José Ramalho[xvii], que com aquele trato afável e lhano de que dão testemunhos todos que já tiveram a felicidade de ser hospedado de tão distinto cavalheiro, proporcionou a S. Exª e a sua ilustre comitiva todos os cômodos confortáveis durante o tempo em que todos se demoraram na Vila de Coruripe.

A vila regurgitava de povo, todos os cidadãos prestimosos que habitam mesmo fora, ali se acharam para cumprimentar o Exmº Sr. Presidente da Província.

Dado o necessário repouso ao corpo, no dia seguinte seguiu Sua Excelência para a vila de Piaçabuçu, sendo acompanhado também pelo Sr. Major José Ramalho, que se uniu à ilustre comitiva com o fim de visitar a importante cachoeira de Paulo Afonso.

Na vila de Piaçabuçu aguardava a chegada de S. Exª um dos vapores fluviais – o “Guahy”, que devia conduzir todos para a cidade do Penedo.

A bordo desse vapor achava-se a excelentíssima família do Exmº Sr. Presidente, a qual havia seguido por mar, acompanhada do Exmº Senhor Deputado Geral Dr. Luiz Moreira[xviii]; uma banda de música, um grande número de cidadãos e senhoras e o Exmº S. Vice-Presidente da Província, Capitão Manoel Gomes Ribeiro.

Antes de seguirem rio acima, foram S. Exª e todos os visitantes obsequiados pelo Rev. Vigário daquela vila (Piaçabuçu), o Padre José Joaquim a Rocha[xix], demonstrando todos a satisfação do obséquio espontâneo.

Depois da demora precisa, embarcaram e fizeram-se de viagem em busca da cidade do Penedo, onde chegaram na tarde deste mesmo dia (27), ao troar de grandes girândolas de fotos de ar, sendo S. Exª acompanhado até a residência do Exmº Sr. Gomes Ribeiro, onde se devia hospedar, por um grande número de amigos do mesmo exmº sr. Vice-Presidente, que nada poupou a fim de agasalhar principescamente ao Exm º Sr. Dr. Caio Prado.

Sua Excelência ali visitou todos os estabelecimentos públicos, escolas e, passando-se para Vila Nova, examinou detidamente a bem montada fábrica de óleos.

No dia 28, às 10 horas do dia, o vapor Sinimbu, galhardamente embandeirado, conduzia o Exmº Sr. Dr. Caio Prado, sua excelentíssima família, sua ilustre comitiva, major José Ramalho, o Exmº Sr. Gomes Ribeiro e sua excelentíssima família, além de outros cidadãos prestimosos, em demanda da vila de Piranhas.

Sua excelência saltou na cidade de Propriá, vila do Colégio, povoação de São Brás, e às 7 horas da tarde lançou âncora o Sinimbu no porto da Vila do Traipu.

Aí foram todos francamente acolhidos, tendo S. Exª bonita recepção pelo Coronel José Vicente Pereira Neto[xx], e às 9 horas da manhã do dia seguinte, eram todos de viagem rio acima.

Depois de demorar-se Sua Excelência em Curral de Pedras e Belo Monte o tempo preciso para visitar essas vilas, ancora o Sinimbu na cidade de Pão de Açúcar às 5 horas da tarde.

Já aguardava a chegada de Sua Excelência e dos demais itinerantes o ilustre Sr. Capitão Antônio Tavares[xxi], que os recebeu com todos os cômodos e de modo a nada faltar-lhes, sendo Sua Excelência cumprimentado por crescido número de cidadãos da melhor sociedade daquela florescente cidade.

Sua excelência, como em todos os lugares onde saltara, visitou as escolas e repartições públicas, informando-se do que melhor lhe parecia em benefício das localidades; e no outro dia ao meio dia dava suas despedidas, chegando à nova Vila de Piranhas às 3 horas da tarde.

Tinha deste modo sua excelência visitado os melhores lugares ribeirinhos, quer desta, quer da Província de Sergipe.

No dia 30, pois, achava-se Sua Excelência em Piranhas, onde foi cavalheirosamente  hospedado pelo Dr. Antônio Pedro de Mendonça[xxii], muito distinto engenheiro  chefe da ferrovia de Paulo Afonso, e filho do nosso respeitável chefe, o Excelentíssimo Sr. Senador Paes de Mendonça.

S. Exª visitou todas as obras de excelente e bela construção desta ferrovia com aquele cuidado preciso que sempre mostra em ocasiões tais. O ilustre Dr. Antônio Pedro de Mendonça ofereceu a Sua Excelência em Piranhas duas partidas, que foram concorridas pela elite dos habitantes daquela Vila, dançando-se animadamente até a madrugada.

No dia 3 de novembro, no trem das 5 horas e meia da manhã, partiu S. Exº para Jatobá, ponto terminal da Estrada de Ferro, onde chegou às 12 horas; seguindo em visita às cachoeiras de Itaparica no dia 4.

Depois de haver bem apreciado a beleza caprichosa da natureza, que ali se ostenta gentilmente, partiu para a estação do Sinimbu, onde chegou às 4 horas da tarde. Ali S. Exª tomou condução e, às 7 horas do mesmo dia, apeava-se na majestosa Paulo Afonso.

Para precisamente admirar o quanto há de sublime nesta rival da Niágara, demorou-se S. Exª todo o dia 5 e parte do dia 6. Satisfeita a sua curiosidade de home científico, retomou a condução em regresso para a estação do Sinimbu, onde chegou às 5 horas, e aí pernoitou.

Em todo esse trajeto, quer na futurosa Jatobá, quer nas cachoeiras, quer na estação do Sinimbu, foi Sua Excelência perfeitamente hospedado pelo Dr. Antônio Pedro de Mendonça, que se tornou incansável para que nada lhe faltasse, e a todos que o acompanhavam.

No dia imediato, às 6 horas da manhã, seguiu para a Vila de Água Branca, onde chegou às 8 horas e meia.

Nesta importante Vila, foi Sua. Excelência muito bem hospedado pelo distinto professor Manoel José Gomes Calaça Junior[xxiii], um dos ornamentos do professorado desta Província. Ali se demorou por um dia e, no dia seguinte, às 6 horas da manhã, partiu para Paulo Afonso (atual Mata Grande), onde chegou às 8 horas e meia do mesmo dia.

...

Uma correspondência da cidade de Paulo Afonso (atual Mata Grande), publicada no mesmo jornal, dá conta de como foi a recepção?

“Paulo Afonso, 12 de novembro de 1887. No dia 8 do corrente às 8 horas da manhã, aqui chegou o Exmº Sr. Dr. Antônio Caio da Silva Prado, digno Presidente desta Província, acompanhado de seu secretário, do Comendador Sobral, do Alferes Peixoto, e de crescido número de cavalheiros, que o tinham ido encontrar na Piedade, fazenda que dista desta vila três léguas.

Sua Excº teve um esplêndida recepção e foi hospedado em casa do capitão João Vieira Damasceno Ribeiro, a qual se achava convenientemente preparada, visto que este distinto cavalheiros não poupou esforços a fim de que a hospitalidade fosse a mais confortável possível a S. Exª ; atentos os minguados recursos da localidade.

Se, porém, algumas faltas encontrou S. Exª, entre elas não figura a falta de boa vontade.

Depois do almoço, visitou S. Exª as aulas, a cadeia e a coletoria, encontrado na aula do sexo feminino muito atraso, grande ignorância das alunas de 1ª classe, sobre matérias as mais comezinhas, que deviam saber perfeitamente.

Na cadeia, disseram os presos a Sua Excelência que nada tinham a reclamar sobre o regime; mas é inegável que S. Exª reconheceu que ali reina a maior relaxação.

 

 

...

Às 5 horas e meia da tarde, seguiu em demanda da vila de Santana do Ipanema, pernoitando em caminho, na Fazenda Morcego, e chegou à mesma vila às 5 horas da tarde do dia 10.

Aqui damos lugar a uma local do Trabalho, jornal de Pão de Açúcar, que descreve o modo pelo qual foi Sua Excelência recebido:

“No dia 10 do vigente, às seis horas da tarde, aqui chegou S. Exª o Sr. Dr. Antônio Caio da Silva Prado, digno administrador da Província, vindo em regresso de sua viagem à Cachoeira de Paulo Afonso.

Sua Excelência vinha acompanhado de seu Secretário, o Sr. Major Sobral Pinto e o alferes ajudante de ordens e mais amigos de Paulo Afonso.

As pessoas mais gradas desta Vila e da situação, foram ao seu encontro, que verificou-se daqui a três léguas.

Sua excelência apresentou-se o Palacete que serve da Casa da Câmara, que para isto estava preparada, toda cercada de arcadas e iluminação.

À entrada de Sua Excelência na Vila, aquela hora suave, uma importante banda musical executou escolhidas peças e subia ao ar repetidas girândolas de fogo. Teve lugar o jantar naquele dia em casa do nosso amigo Capitão Mathias Monteiro da Rocha[xxiv], que apresentou uma lauta mesa, subindo de quando em vez repetidas girândolas de fogo.

Nesta ocasião, achando-se postada a troupe marcial, ouvia-se com prazer os sons melodiosos de escolhidas músicas.

Às 9 horas S. Exª voltou com seus amigos ao Palacete, onde pernoitou.

No dia seguinte, teve lugar o almoço em casa do nosso amigo delegado de policial Alferes Luiz José Alves da Costa[xxv], em cujo ato orou o major Sobral Pinto, que foi correspondido por um discurso pronunciado pelo nosso inteligente amigo  Sr. Dr. Euclides Malta, que ao concluir foi também correspondido por um outro discurso pronunciado pelo mesmo Alferes Costa.

Às quatro horas da tarde do mesmo dia, teve lugar o jantar também em casa do mesmo Alferes Costa, em cujo ato o jovem Avelino da Costa Goes[xxvi] pronunciou uma bela alocução referente à viagem, à Administração e à presença de Sua Excelência nesta Vila, que foi correspondido por um outro discurso de S. Exª findando-se em agradecer e dirigindo um bride a Sua Alteza Imperial Regente.

Todos esses trajetos foram acompanhados pela música, sob a regência do jovem Júlio César Paes de Souza[xxvii], e subindo repetidas girândolas de fogo.

Durante o dia, S. Exª visitou a Matriz, as repartições Geral e Provincial, o Arquivo da Câmara Municipal e a Cadeia.

Às cinco horas e meia da tarde, seguiu Sua Excelência sua viagem, acompanhado de seus amigos da Capital e de Paulo Afonso e mais grande número de cavalheiros desta Vila, deixando-nos penhorados por suas dóceis maneiras.

Havendo partido Sua Excelência da vila de Santana do Ipanema, chegou ao povoado Sertãozinho no dia 12 às 9 horas da manhã, donde às 2 horas da tarde seguiu para o povoado Riacho do Sertão.

Foi Sua Excelência neste povoado obsequiado pelos nossos amigos ali residentes e pelos reverendíssimos Frei Caetano e Frei Clementino[xxviii], que ali se acham em Missão, construindo um importante açude. Sua Excelência visitou esta obra, achando-a muito boa; e às 6 horas da tarde, seguiu jornada, indo em direção à Vila da Palmeira.

Caindo a noite, e já em hora de repouso, S. Exª pernoitou em caminho e, no dia seguinte (13), às 9 horas da manhã, descansava na Palmeira. Nesta importante Vila foi S. Exª hospedado pelo major Sabino José de Oliveira[xxix], que esmerou-se em bem acomodar a S. Exª e a todos que o acompanhavam.

Pela noite desse dia, aceitando S. Exª um profuso chá que lhe ofereceu o ilustríssimo Sr. Dr. Juiz de Direito daquela Comarca[xxx], houve depois dele um soiré, e dançou-se até meia-noite.

Às 6 horas da manhã do dia 14 partiu S. Exª da Palmeira, chegando à Vila de Quebrangulo no mesmo dia às 9 horas. Nesta Vila, os ilustríssimos senhores... ... hospedaram e obsequiaram muito cavalheirosamente o Exmº Sr. Dr. Caio Prado, que às 6 horas da tarde tomava o caminho da Vila da Assembleia (atual Viçosa), havendo pernoitado no Engenho Baixa Funda do ilustríssimo Sr. Capitão Caetano Donato Brandão[xxxi], sogro do major Epaminondas Hipólito Gracindo; e daí seguiu chegando em Assembleia às 10 horas da manhã do dia 15.

Os nossos amigos desta Vila já aguardavam a chegada de S. Eª, e lhe haviam preparado muito boa hospedagem em um sobrado para esse fim decorado.

Às 5 horas da tarde partiu S. Exª em direção a Branquinha, e em caminho encontrou-se com o Engenheiro Fiscal da Província, Dr. Francisco José Gomes Calaça[xxxii], e diversas pessoas gradas que iam mesmo ao encontro de Sua Excelência para consigo voltarem à estação da Branquinha, onde chegaram às 8 horas da noite.

Tomaram o trem às 8 horas e meia e, às 11, eram chegados nesta cidade, trazendo S. Exª e sua ilustre comitiva muito boa viagem, e deixando pelas diversas localidades que percorreram, sinceras afeições e saudades.

 

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ANTONIO CAIO DA SILVA PRADO, nasceu a 13/06/1853 em São Paulo, filho de Martinho da Silva Prado[xxxiii] e de Veridiana Valéria da Silva[xxxiv]. Tinha como irmãos: Ana Vicência Prado (Condessa Pereira Pinto), Anésia Prado (que se casaria com o Dr. Elias Antônio Pacheco Chaves), Antônio da Silva Prado, Martinho da Silva Prado e Eduardo Prado.

A 19 de maio de 1877, na Igreja da Sé, em São Paulo, casa-se com MARIA SOPHIA RUDGE (1860-1950). Tiveram duas filhas: Maria Sophia (que se casou com Raul Pacheco Chaves, faleceu a 3 de setembro de 1917) e Anna Abiah. Esta última, nasceu em São Paulo a 4 de março de 1878. Ela se tornaria “Madre Gertrudes Cecília da Silva Prado”, fundadora e Primeira Abadessa do Mosteiro de Santa Maria, em São Paulo. No dia 14 de outubro de 1907, ingressou na congregação das beneditinas de Starbuck (Wornster), Inglaterra, adotando o nome de “Irmã Gertrudes”. Faleceu a 10 de março de 1944.

Foi Redator principal do Correio Paulistano quando esse importante órgão da imprensa paulista era propriedade do seu irmão Antônio da Silva Prado.

Faleceu a 25/05/1889 em Fortaleza, Ceará, vítima da febre amarela. A bordo do mesmo vapor Manaus, a viúva desembarca no Rio de Janeiro, com suas duas filhas menores; e em companhia do Dr. João Lopes.[xxxv]

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Transcrito do jornal O ORBE, 20 de novembro de 1887. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/3790; 27 de novembro de 1887. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/3794; 30 de novembro de 1887. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/3798; 4 de dezembro de 1887. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/3806

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Caro leitor,

Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] Correio Paulistano, 11 de agosto de 1887.

[ii] Correio Paulistano, 27 de agosto de 1887.

[iii] Jornal do Comércio, RJ, 31 de agosto de 1887.

[iv] Gazeta de Notícias, RJ, 22 de setembro de 1887.

[v] Lei Rio Branco, também conhecida como Lei do Ventre Livre, foi promulgada em 28 de setembro de 1871 e determinava que os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir desta data ficariam livres. José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco, pai do Barão do Rio Branco.

[vi] Jornal do Comércio, RJ, 29 de fevereiro de 1888.

[vii] Dr. Clemente de Oliveira Mendes, nomeado por Decreto de 9 de abril de 1887, pelo Ministro da Justiça, assumindo em 26 de julho daquele ano. Diário de Pernambuco, 19 de abril de 1887. Natural da Bahia, era filho do Barão de Iraripe. Formado pela Faculdade de Direito do Recife, em 1867.

[viii] Gutemberg, 17 de setembro de 1887.

[ix] Haviam três Vice-Presidentes:1º Manuel Gomes Ribeiro (Barão de Traipu), do Engenho Sobrado, Termo do Penedo, 2º Bel. João Francisco Nogueira Castelo Brando, do Engenho Campos Elíseos, Termo de Maragogi; e 3º Bel. Hermelino Accioly de Barros Pimentel, do Engenho Várzea do Souza, termo de Camaragibe.

[x] Comendador Antônio Cardoso Sobral. Filho do Comendador Manoel Sobral Pinto e de D. Delfina Cardoso Sobral. Foi presidente da Sociedade Filarmônica dos Artistas.

[xi] Oscar de Macêdo Soares. Jurisconsulto, Auditor de Guerra (na Marinha). Formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1886. Foi Redator do Correio Paulistano. Secretário da Presidência da Província, cargo que assumiu em 5 de setembro de 1887. Nasceu na fazenda Bom-Sucesso, município de Saquarema, Estado do Rio de Janeiro, em 15/09/1863. Filho do Conselheiro Dr. Antônio Joaquim de Macedo Soares. Faleceu no Rio de Janeiro, a 3 de agosto de 1911.

[xii] João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu Junior. Nasceu em Porto Alegre a 20 maio 1853, quando seu pai era Presidente daquela Província, e faleceu no Rio de Janeiro a 25 Fevereiro 1937. Era filho de João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu (Visconde de Sinimbu) e Valéria Touner Vogeler.

[xiii] Dr. Francisco Luiz Correia de Andrade. Pernambucano. Publicou, em 1885, o Código Criminal do Império do Brasil. Em 1890, foi nomeado Desembargador na Relação do Pará.

[xiv] Pedro da Rocha Cavalcante. Natural de São Miguel dos Campos. Em 1882, era Presidente da Câmara Municipal de Alagoas (atual Marechal Deodoro). Faleceu a 23 de julho de 1892. Casado com Maria da Rocha Cavalcanti.

[xv] Epaminondas da Rocha Vieira, o Barão de São Miguel. Barão sem grandeza, pelo Reino de Portugal, título concedido em 18 de dezembro de 1878 pelo Rei D. Luís, em atenção a valioso donativo que fez a um estabelecimento de caridade de Setúbal. Era filho de Francisco Frederico da Rocha Vieira, de quem herdou o Engenho Sinimbu, e de Maria Accioly. Nasceu em São Miguel dos Campos-AL, a 17 de outubro de 1836, e ali mesmo faleceu a 20 de julho de 1897. Casou-se com Leopoldina da Rocha Vieira – baronesa de São Miguel, que faleceu em Maceió a 26 de maio de 1914, aos 75 anos.

[xvi] Gutemberg, 30 de outubro de 1887.

[xvii] Major José Ramalho dos Reis. Foi Deputado Estadual e Senador Estadual, além de vereador em Coruripe.

[xviii] Dr. Luiz Antônio Moreira de Mendonça. Foi Deputado Provincial e Deputado Geral (Federal), pelo Partido Conservador. Em 1875, foi Procurador-Fiscal da Tesouraria das Alagoas. Formado pela Faculdade de Direito do Recife, em 1868. Casado com Maria Idalina Moreira de Mendonça, era pai do Engenheiro José Oscar Moreira de Mendonça. Faleceu no dia 15 de fevereiro de 1908.

[xix] Conhecido por Padre Rocha. Vigário da Paróquia de Piaçabuçu desde 1884. Faleceu em 1907, quando era vigário de Santa Luzia do Norte.

[xx] Tenente-Coronel José Vicente Pereira Netto. Chefe do Partido Conservador em Traipu, onde também foi Juiz Substituto; e Deputado Provincial.

[xxi] Antônio Luiz da Silva Tavares, Chefe do Partido Conservador em Pão de Açúcar. Era filho do Capitão Luiz da Silva Tavares e de Delfina Maria da Conceição Tavares. Casado com Marcelina Fernandes da Silva Tavares.

[xxii] Dr. Antônio Pedro de Mendonça, filho do Cel. Jacinto Paes de Mendonça. Naquele mesmo ano, casara-se, no Rio de Janeiro, com a srta. Antonieta Salazar de Mendonça (filha de Miguel de Oliveira Salazar e Luiza Carlota de Sá Oliveira Salazar). Faleceu no Rio de Janeiro, em 5 de abril de 1897.

[xxiii] Filho de Manoel José Gomes Calaça (o Comendador Calaça) e Izabel Gomes de Sá. Faleceu em Floresta-PE, em 5 de outubro de 1916.

[xxiv] Cel. Mathias Monteiro da Rocha. Em 1891, era Intendente de Santana do Ipanema. Faleceu em Penedo, em 1916.

[xxv] Alferes Luiz José Alves da Costa. Foi também Suplente de Juiz Municipal em Santana do Ipanema.

[xxvi] Avelino da Costa Goes. Atuava como advogado na Comarca de Pão de Açúcar. Foi ainda Secretário da Intendência de Traipu.

[xxvii] Major Júlio César Paes de Souza, filho de Antônio Balduino Paes de Souza e Maria Belmira Paes de Souza. Foi também membro do Conselho Municipal de Santana do Ipanema em 1890, à época em que era Intendente o seu pai, Cel. Antônio Balduino Paes de Souza. Alguns anos depois, foi sócio do seu próprio pai na firma Balduino & Filho, e numa fábrica de sapados, com o Sr. Luiz Cardoso Zagallo, avô do ex-jogador e ex-treinador de futebol Mário Jorge Lobo Zagallo.

[xxviii] Deve se referir a Frei Caetano de Messina e Frei Clemente de Leonissa, que a essa época missionavam em Palmeira dos Índios. Frei Caetano de Messina. Missionário italiano, era Prefeito do Hospício da Penha, no Recife.

[xxix] Major Sabino José de Oliveira. Comerciante de fazendas e miudezas, e proprietário do engenho Salgado. Casado com Antônia de Oliveira. Em 1873, era Suplente de Juiz Municipal nos Termos Reunidos de Palmeira e Quebrangulo. Seria Intendente de Palmeira dos Índios, em 1894. Faleceu em 1897, em Palmeira dos Índios, aos 79 anos.

[xxx] Era Juiz de Direito o Bel. Frederico Ferreira França (de 1884 a 1890). Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo (Largo do São Francisco), tendo colado Grau em 31/10/1878, fora colega de turma de João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu – Sinimbu Júnior, e contemporâneo do próprio Caio Prado, que se formou no ano seguinte. Natural da Bahia, filho de Francisco Ferreira França e Frabrícia Carneiro de Campos. Foi casado com Maria Gracinda Valle Ferreira França, com quem teve a filha Auta Ferreria França. Estudante modesto, porém, considerado entre os condiscípulos e pelos professores. De estatura inferior a mediana, moreno, barba preta e cerrada, suíças incipientes, feição inexpressiva, Frederico França era reconcentrado e cercava-se apenas dos seus patrícios da Bahia, do grupo que tinha vindo do Recife já com dois anos de curso naquela Faculdade. Fonte: A Academia de S. Paulo, Tradições e Reminiscências.

[xxxi] Caetano Donato Brandão. Filho de Pedro José da Cruz Brandão e de Cosma Francisca de Melo, nasceu na Viçosa-AL a 7 de julho de 1838 e faleceu a 18 de novembro de 1890. Casado com Laurinda Maria de Jesus,

Em 1875, era Delegado de Polícia na Viçosa.

[xxxii] Francisco José Gomes Calaça, filho de Manoel José Gomes Calaça (o Comendador Calaça) e Izabel Gomes de Sá Formado pela Escola de Pontes e Calçadas, de Paris, com bolsa do Imperador D. Pedro II. Faleceu em Maceió no dia 13 de julho de 1920.

[xxxiii] Martinho da Silva Prado. Formado em Direito e plantador de café, nascido em São Paulo a 2 de fevereiro de 1912, filho de Eleutério da Silva Prado e Ana Vicência Rodrigues de Almeida.

[xxxiv] Veridiana Valéria da Silva Prado. Prado. Nascida a 3 de fevereiro de 1826, filha de Antônio da Silva Prado-barão de Iguape- e Maria Cândida de Moura Leite.

[xxxv] João Lopes Ferreira Filho, Redator-Chefe do jornal Libertador.

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia