sexta-feira, maio 9

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ESBOÇO HISTÓRICO DA COMARCA DE PÃO DE AÇÚCAR-PARTE 1

 

Por Etevaldo Amorim

 

Mata Grande, foto Terra das Alagoas, Adalberto Marroquim

Em 1854, ano em que foi emancipado de Mata Grande, Pão de Açúcar pertencia, judicialmente, aos Termos Reunidos de Mata Grande e Traipu, que tinham como Juiz Municipal o Bel. Francisco José de Meira, nomeado por Decreto de 5 de abril daquele ano,[i] até julho de 1857, quando foi removido, a pedido, para a comarca de Atalaia[ii].

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Natural da Província da Paraíba, o Dr. Francisco José de Meira faleceu no Recife, no dia 2 de abril de 1884, sendo sepultado no dia seguinte, no Cemitério de Santo Amaro, quando era Juiz de Direito da Comarca de Guimarães, no Maranhão.[iii]

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Segundo Aldemar de Mendonça, em 1855 foi instalado o Cartório do 1º Ofício, tendo como primeiro Escrivão o Sr. Manoel Joaquim Sátyro; Oficial de Justiça, André Lopes Ribeiro e Juiz Substituto Thomás D’Aguino Jurema. Entretanto, segundo notícia do d’O Liberal Pernambucano, de 20 de março de 1858, somente neste ano, o Sr. Manoel Joaquim Sátyro obteve mercê de serventia vitalícia, do 2º Tabelião e Escrivão do Crime, Cível e Execuções da Vila de Pão de Açúcar.

 

O Dr. Meira foi substituído pelo Dr. Antônio Joaquim de Figueiredo Seabra, antes titular do Termo de Paracatu, na província de Minas Gerais,[iv]  de onde foi removido por Decreto de 4 de setembro de 1857.[v] A essa altura a divisão judiciária já se denominava Termos Reunidos de Mata Grande e Pão de Açúcar.


O Juiz de Direito era o Dr. João de Carvalho Fernandes Vieira (Segundo Barão de Studart), nomeado por Decreto de 12 de abril[vi], que permaneceu até 7 de dezembro daquele ano, quando foi removido para a comarca de Campo Maior, Província do Piaui.[vii] Esse magistrado, formado pela Faculdade de Direito de Olinda, em 1845, nasceu em 1823, em Maganguape-Ceará, e ali faleceu em 23 de setembro de 1885.[viii]


Quando da visita de D. Pedro II, em 1859, o Juiz Municipal e de Órfãos era o Bel. Francisco Antônio Pessoa de Barros, enquanto o Juiz de Direito era o Dr. João Paulo Monteiro de Andrade,[ix] que permaneceu até 1863, quando foi removido para a Comarca de Vitória, Espírito Santo.[x] O Promotor de Justiça era o Dr. José Antônio Mendonça Junior,[xi] todos citados no diário do Imperador.

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Pessoa de Barros nasceu na Bahia, em 26 de janeiro de 1832, sendo filho de Antônio de Barros Itaparica. Formou-se em Ciências Sociais e Jurídicas, em 1856, pela Faculdade do Recife. Era um republicano histórico, tendo sido o primeiro presidente do Conselho de Intendência Municipal da Capital Federal após a Proclamação da República, exercendo a função de 17 de novembro de 1889 a 30 de novembro de 1890. Faleceu no Rio de Janeiro em 13 de março de 1896.

 

O Dr. João Paulo Monteiro de Andrade nasceu no Recife no dia 25 de julho de 1828. Era filho de Miguel Arcanjo Monteiro de Andrade e Maria Madalena Duarte Sedrim. Foi casado com Ana Ricarda da Costa Reis.

Vítima de bériberi, já como Desembargador da Relação do Ceará, o Dr. João Paulo Monteiro de Andrade faleceu no dia 27 de agosto de 1884, a bordo, enquanto viajava do Maranhão para Fortaleza, onde foi sepultado.

O Promotor Dr. José Antônio de Mendonça Junior (depois Barão de Mundaú), filho de José Antônio de Mendonça, nasceu em 1821 e faleceu em 1904. Foi casado com Jacinta Flora Mendonça.[xii]

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Substituindo o Dr. João Paulo, foi nomeado, em 6 de fevereiro de 1863,[xiii] o Juíz de Direito, Dr. João Francisco Paes Barreto, que viria a ser genro do Major João Machado de Novaes Mello, o Barão de Piaçabuçu, ao se casar com Josephina de Novaes Mello. Nascido a 6 de julho de 1827, veio a falecer em Propriá, Sergipe, em 25 de maio de 1873.

O Dr. João Francisco Paes Barreto


Dando a notícia da sua morte, o Jornal de Aracaju (edição de 28 de junho de 1873) assim falou:


“Magistrado íntegro, deixa naquela comarca importante um vácuo que dificilmente se preencherá. Seu caráter afável, e ao mesmo tempo enérgico e independente, nunca se dobrou ao “quero” dos grandes da terra. Diante dele, a Lei era respeitada e temida, porque era para todos igual, e tanto o rico como o desvalido lhe mereciam a proteção e justiça a que tinham direito. Inteligente, probo e justiceiro, era inexorável em punir o crime, assim como defensor denodado da inocência.

Com a sua morte, perdeu a Magistratura um dos seus mais ilustre membros; a Comarca, um magistrado imparcial e justo à toda prova; a sociedade, um exímio propugnador de seus sagrados direitos; e sua família... esta chora inconsolável uma perda irreparável. Só no seio da religião achará a necessária resignação.”

Em 1863, segundo o Diário de Pernambuco, de 31 de outubro de 1863, “permitiu-se que Manoel Joaquim Sátyro e Mariano Joaquim Cavalcante (avô paterno de Bráulio Cavalcante), aquele 1º Tabelião do Público Judicial e Notas e Escrivão de Órfãos,Capelas e Resíduos do termo de Pão de Açúcar , e este Serventuário Vitalício de iguais Ofícios do Termo de Mata Grande, Província das Alagoas, permutem entre si os referidos ofícios.”

 

O cargo de Juiz Municipal passou a ser ocupado pelo Dr. José Torquato de Araújo Barros, nomeado em agosto de 1862[xiv], permanecendo até junho de 1864, quando foi removido para Propriá e Porto da Folha, em Sergipe.[xv]

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Nasceu em Palmeira dos Índios, em 26 de fereveiro de 1832 e faleceu em Maceió, em 21 de agosto de 1895. Era filho de Mathias da Costa Barros e Francisca Maria de Araújo Barros. Foi casado com Ursulina Flávia Duarte Guedes. Formou-se pela Faculdade de Direito do Recife em 1860.

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Naquele mesmo ano, sucedeu-lhe o Bel. Aurélio Ferreira Espinheira, Formado pela Faculdde de Direito do Recife em 1857, que deixou o cargo em dezembro de 1865.[xvi]

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Filho de Domingos Pereira Espinheira e Margarida Ferreira, nasceu em Salvador, em 20 de janeiro de 1836 e lá faleceu 1º de outubro de 1921.[xvii]  Foi aposentado, em 1892, como Desembargador na Relação da Bahia.[xviii]

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Em 1866, o Juiz Municipal e de Órfãos era o Dr. João Gomes Ribeiro Junior,[xix] bacharel pela Faculdade de Direito do Recife, em 1862.

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João Gomes Ribeiro Júnior nasceu no Engenho Jesus Maria e José, em Laranjeiras (SE), no dia 29 de fevereiro de 1840, filho de João Gomes Ribeiro e de Maria Miquelina Ribeiro. No ano seguinte, pediu exoneração, fixando-se em Maceió. Participou ativamente do movimento abolicionista em Alagoas, sendo nomeado procurador fiscal da Tesouraria Provincial Abolicionista em 1871. Fez parte também da Sociedade Libertadora Alagoana. Tornou-se republicano por volta de 1872, participando do Clube Republicano Radical e do Centro Republicano Federal de Alagoas. Nesse mesmo ano fundou em Maceió o primeiro jornal de apoio à causa republicana, denominado A República, do qual foi redator principal. Em 11 de outubro de 1890 foi nomeado governador do Rio Grande do Norte pelo governo provisório chefiado por Deodoro da Fonseca. Faleceu em Maceió no dia 27 de outubro de 1897. Casou-se com Carolina Augusta Ramalho Gomes Ribeiro, com quem teve pelo menos um filho, João Gomes (João Gomes Ribeiro Filho, nas anotações pessoais João Gomes Ribeiro Neto), que foi comandante da 1ª Região Militar em 1934-1935 e ministro da Guerra em 1935-1936, durante o governo de Getúlio Vargas. FONTES: BARROS, F. ABC das Alagoas (v. 1, 2); BUENO, A. Visões; CASCUDO, L. Governo; CASCUDO, L. História; Revista do Instituto Histórico de Alagoas (v.25-26).

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Por Decreto de 7 de março de 1868, foi nomeado Juiz Municipal e de Órfãos dos Termos Reunidos de Paulo Affonso e Pão de Açúcar o Dr. Alfredo Montezuma de Oliveira,[xx] formado em Direito pela Faculdade do Recife em 1866, chegando a Pão de Açúcar no dia 21 de abril de 1868.[xxi].

Natural de Bragança,  Estado do Pará, era filho de Afonso José de Oliveira e Alexandrina Theomila  de Oliveira. Foi casado com Prisciliana de Oliveira Ribeiro, filha do Cap. José Antônio Ribeiro, de Mata Grande.

 

Já com a denominação de Termos Reunidos de Paulo Afonso e Pão de Açúcar, e por Decreto de 27 de maro de 1872, foi reconduzido ao cargo de Juiz Municipal e de Órfãos o Dr. Alfredo Montezuma de Oliveira.[xxii]


Em 20 de agosto de 1872, tendo sido, o Dr. Montezuma, nomeado Juiz de Direito da comarca de Borborema, Província da Paraíba,[xxiii] foi substituído no cargo de Juiz Municipal e de Órfãos pelo Dr. Silvio Pellico Pereira Ferraz,[xxiv] por Decreto de 4 de dezembro de 1872.


O Dr. Silvio Pellico e sua esposa Amélia. Foto Alberto Henschel.

A promotoria de Justiça estava a cargo do Bel. Jonas Polycarpo de Figueiredo, Formado pela Faculdade de Direito do Recife em 1871, que fora removido para a Comarca em 27 de janeiro de 1872.

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Jonas Polycarpo de Figueiredo. Filho de Miguel Archanjo de Figueiredo e Izabel Egidia Poggi. Em 1873, era Promotor Público na Comarca de Paulo Afonso-AL.  Em 1874, já estava em Camaragibe. Em 13 de março de 1874, foi nomeado Juiz Municipal e de Órfãos do Termo de Passo Fundo, Província de São Pedro do  Rio Grande do Sul,  de onde foi transferido para a Comarca de Pirassununga, São Paulo.


A Vila de Pão de Açúcar em 1875. Foto Marc Ferrez.


CRIAÇÃO DA COMARCA DE PÃO DE AÇÚCAR.


Pão de Açúcar, então vinculada à Comarca de Mata Grande, pela importância que angariava no cenário econômico, lograria alcançar mais um degrau na sua escala: tornava-se Comarca pela Resolução que a seguir se transcreve, à qual também pertencia a Vila de Santana do Ipanema.


“RESOLUÇÃO Nº 681, de 24 de abril de 1875.


O Dr. João Vieira de Araújo, Oficial da Imperial Ordem da Rosa, Juiz de Direito e Presidente da Província das Alagoas,

Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa  Provincial decretou e eu sancionei a Resolução seguinte:

Art. 1º Ficam criadas três comarcas, uma denominada Comarca de Assembleia, outra de Pão de Açúcar e outra Izabel.

Art. 2º A nova Comarca de Assembleia se comporá do Termo deste nome e do de Quebrangulo, desmembrados este da Comarca de Palmeira dos Índios e aquele da de Atalaia.

Art. 3º A nova Comarca de Izabel se constituirá com a vila deste mesmo nome e com o Termo de Porto de Pedras, desmembrado da Comarca de Camaragibe.

Art. 4º Fica transferida a sede da Freguesia de São Bento para a povoação Gamela.

Art. 5º A nova Comarca de Pão de Açúcar compreenderá o Termo deste nome, desmembrado da Comarca de Paulo Afonso, e a vila de Santana do Ipanema.

Art. 6º As povoações de Gamela, de Santana do Ipanema e de Água Branca ficam elevadas a vilas: estas com as mesmas denominações e limites, e aquela com a denominação de Izabel.

Art. 7º A nova Vila de Água Banca fica pertencendo à Comarca de Paulo Afonso.

Art. 8º Fica transferida a sede da vila e freguesia de Imperatriz para a povoação de Lage do Canhoto, que é elevada a vila com a denominação de São José da Lage.

Art. 9º Ficam revogadas as Leis e disposições em contrário.

Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Resolução pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém.

O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr.

Palácio do Governo das Alagoas, em Maceió, 24 de abril de 1875, quinquagésimo quarto da Independência e do Império.

Dr. João Vieira de Araújo

Foi publicada a presente Resolução nesta Secretaria em 24 de abril de 1875.

O Secretário José da Cunha Teixeira

 

Registrada às fls. 73v, do livro de Leis da Província. Secretaria do Governo, em Maceió, 24 de abril de 1875.

Bernardo Pereira do Carmo Junior[xxv]

 

***   ***

A essa época, segundo o Diário do Rio de Janeiro, de 1º de junho de 1875, era agraciado com a serventia vitalícia do Ofício do 2º Tabelião e Escrivão do Cível, Crime e Execuções do Termo de Pão de Açúcar o Major Epiphânio Baptista de Souza Barreto.

 

***   ***

 

Entretanto, o Ato de criação da comarca foi revogado pela Resolução nº 733, de 3 de julho de 1876, do então Presidente Dr. Caetano Estellita Cavalcanti Pessoa.


Ele próprio a fez ressurgir quatro dias depois, assinando a Resolução nº 737. Eis o texto:

 

“RESOLUÇÃO Nº 737, DE 7 DE JULHO DE 1876.

O Desembargador Caetano Estellita Cavalcanti Pessoa, Cavaleiro das Ordens de Cristo e da Rosa, Procurador da Coroa, Soberania e Fazenda Nacional da Relação do Ceará, e Presidente da Província das Alagoas:

 

Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial decretou e eu sancionei a Resolução seguinte:

Art. 1º Fica criada uma Comarca com a denominação de Pão de Açúcar, que compreenderá o Termo de Pão de Açúcar, desmembrado da Comarca de Paulo Afonso, e o Termo de Traipu, desmembrado da Comarca de Penedo.

Art. 2º Fica desmembrada da Comarca de Penedo e unida à Comarca de Paulo Afonso a Vila de Santana do Ipanema.

Art 3º Ficam elevadas à categoria de vila as povoações de Porto Real e Lage do Canhoto, tendo esta a denominação de São José da Lage, onde se estabelecerá a sede do município de Imperatriz.

Art. 4º Ficam revogadas todas as Leis e disposições em contrário.

 

Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Resolução pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém.

O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr.

Palácio do Governo das Alagoas, em Maceió, 7 de julho de 1876, quinquagésimo quinto da Independência e do Império.

 

Dr. João Vieira de Araújo

Foi publicada a presente Resolução nesta Secretaria em 7 de julho de 1876.

O Secretário José da Cunha Teixeira

 

Registrada às fls. 124v, do livro de Leis da Província. Secretaria do Governo, em Maceió, 10 de julho de 1876.

Antônio de Mello e Vasconcellos Castro.”

 



[i] O Liberal Pernambucano, Recife, 22 de abril de 1854.

[ii] Correio Mercantil, RJ, 18 de julho de 1857.

[iii] Jornal do Recife, 3 de abril de 1884.

[iv] Gazeta Forense, RJ, 1º de outubro de 1857.

[v] Diário do Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1857.

[vi] O Constitucional, BA, 24 de abril de 1854.

[vii] Diário do Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1854.

[viii] MOTA, Aroldo. AS SETE IRMÃS E A HISTÓRIA POLÍTICA O CEARÁ.

[ix] Dr. João Paulo Monteiro de Andrade. Nasceu no Recife-PE no dia 25 de julho de 1828, filho de Miguel Archanjo Monteiro de Andrade e Maria Madaglena Duarte Sedrim. Casado com Anna Ricarda da Costa Reis. Faleceu em Fortaleza-CE no dia 27 de agosto de 1884.

[x] A Actualidade, RJ, 8 de fevereiro de 1864.

[xi] [xi] Dr. José Antônio de Mendonça Junior. Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1858.

[xii] José Antônio de Mendonça Filho, o Barão de Mundaú, artigo no site HISTÓRIA DE ALAGOAS.

[xiii] Diário do Rio de Janeiro, 16 de fevereiro de 1863.

[xiv] Correio Mercantil, 19 de agosto de 1862.

[xv] Diário do Rio de Janeiro, 20 de junho de 1864.

[xvi] Correio Mercantil, RJ, 13 de dezembro de 1865.

[xvii] Revista do Instituto Histórico e Geográfico Basileiro.

[xviii] Pátria, Maceió, 10 de setembro de 1892.

[xix] Correio Mercantil, RJ, 2 de fevereiro de 1866.

[xx] Diário do Rio de Janeiro, 13 de março de 1868.

[xxi] Jornal do Penedo, 4 de maio de 1877, p. 3.

[xxii] A Reforma, RJ, 29 de março de 1872.

[xxiii] A Reforma,RJ, 4 de setembro de 1872.

[xxiv] A Nação, RJ, 6 de dezembro de 1872 e O Vinte e Dois de Maio, de 14 de dezembro de 1872.

[xxv] Bernardo Pereira do Carmo Junior. Nomeado por Carta Imperial de 31 de janeiro de 1872. Bacharel em matemátic, professor, diretor e proprietário do Internato de São Bernardo, no Recife. Filho de Bernardo Pereira do Carmo e Maria Zeferina do Carmo. Casado com Josephina Emilia Jorge (filha de Henrique Jorge e Senhorinha Emilia Jorge.

quinta-feira, maio 1

O POETA QUE MORREU NO COMÍCIO

 

Por Valdemar Cavalcanti[i]

 

Valdemar Cavalcanti_foto O Malho_29.10.1932.

Deixem-me contar a história, que tem seu toque de lenda.


Era uma vez um jovem poeta, que cedo se deixou empolgar pelas ideias libertárias, afazendo-se às lutas contra qualquer tipo de violência, mandonismo ou tirania.


Esse poeta, que nasceu no interior de Alagoas – na cidade de Pão de Açúcar – chamava-se Bráulio Cavalcante, amava Hugo e Castro Alves, fez-se líder estudantil e sabia conquistar, com a palavra, o coração do povo.


Mal deixou os bancos acadêmicos, foi convocado para continuar o combate em campo liso ao sistema cruel de governar que prevalecia naquele Estado. Embora querendo ligar-se mais às coisas de literatura – aos sonetos que lhe vinham fáceis à pena, às odes que os homens e os fatos lhe inspiravam, ao romance que pensava em escrever – o rapaz teve mesmo que pegar a bandeira da reação aos desmandos e à prepotência, colocando-se decidido na primeira linha do campo de batalha.


Pois foi num dia 10 de março – a 10 de março de 1912 – que o foram buscar em casa, ia caindo a tarde, em Maceió, para um comício em praça pública, mesmo em frente ao palácio do Governo.


Assim que o poeta se dispôs a falar à multidão, ao pé da estátua de Floriano Peixoto, veio a ordem da autoridade: ali ninguém poderia falar ou correria muito sangue. Mas o líder não era de ter medo à toa: ante o espanto geral, deu início à reunião; sabendo, contudo, que aquela não fora ameaça vã.


E, às primeiras palavras que lhe saíram da garganta, como sarças de fogo, fecharam-lhe a boca a bala os soldados do governo.


Bráulio Cavalcante


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Transcrito do O Jornal, Rio de Janeiro, 10 de março de 1961.

 

NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] VALDEMAR CAVALCANTI. Nasceu em Maceió a 6 de abril de 1912 e faleceu no Rio de Janeiro a 19 de junho de 1982. Filho de Pedro Alvino Cavalcante e de Francisca de Souza Almeida, era sobrinho de Bráulio Cavalcante. Foi casado com Jeruza Xavier Cavalcanti (filha de Luiz Leão Xavier da Costa e Augusta Camelo Xavier da Costa), com quem teve os filhos Sérgio Xavier Cavalcanti (Advogado) e Roberto Xavier Cavalcanti (Economista).

sábado, abril 26

DR. FÉLIX MORENO BRANDÃO

 

Por Etevaldo Amorim

 

Pão de Açúcar, 1869. Foto: Abílio Coutinho.

Para falar dessa importante personalidade, permitam-me que o faça na primeira pessoa, apenas para demonstrar como dela tomei conhecimento.


Entre os anos de 1976/78, estava eu trabalhando na cidade de Mata Grande, exercendo os misteres da minha profissão de técnico agrícola na área de extensão rural. Convidado pelo Dr. Paulo Félix de Souza, médico e diretor da escola cenecista local, passei a dar aulas naquele conceituado estabelecimento de ensino, denominado Colégio Normal Félix Moreno.


Interessei-me em saber quem era o patrono da escola. Procurei a Secretária Valdeci Mendonça, que me entregou uma folha de papel, datilografada em frente e verso, sem indicação de autoria, contendo uma pequena biografia do “DOUTOR FÉLIX MORENO BRANDÃO”.


“MORENO BRANDÃO” me lembrou o famoso historiador pão-de-açucarense, tão exaltado nos discursos proferidos nas cerimônias cívicas, em Pão de Açúcar. E qual não foi a minha suspresa ao constatar que se tratava do pai de Francisco Henrique Moreno Brandão...


Transcrevo aqui o inteiro teor:

 

Era o Doutor Félix Moreno Brandão filho legítimo do Capitão Anacleto de Jesus Maria Brandão e de Dona Maria Francisca da Conceição Brandão, tendo nascido na cidade de Mata Grande neste Estado a 26 de novembro de 1825 (?).


Iniciou seus estudos preparatórios em 1850, matriculando-se na Faculdade de Medicina da Bahia em fevereiro de 1853. A 29 de novembro de 1858, sustentou tese versando a mesma sobre ciências cirúrgicas, acessórias e médica, tendo recebido o grau a 18 de dezembro do mesmo ano[i].


Casou-se a 2 de março de 1863 com sua sobrinha Dona Maria de Aguiar Moreno Brandão.


As atividades que mais ilustraram a personalidade do Doutor Félix Moreno Brandão foram, entre outras, as seguintes:


Nomeado 2º Cirurgião do Corpo de Saúde do Exército (posto que já exercia em Pernambuco desde 21 de junho de 1860), a 2 de dezembro do mesmo ano foi promovido a 1º Cirurgião, cargo que já exercia em comissão, por decreto de 1º de junho de 1867. Seguiu para Pão de Açúcar a fim de se despedir da família e tomar parte na guerra do Paraguai, no dia 15 de outubro de 1865. Foi promovido Major-Cirurgião de Brigada do Exército, por merecimento, em campanha, por decreto de 20 de maio de 1869 e despacho do Delegado do Cirurgião-Mor do Estado de Pernambuco de 2 de julho de 1870.


Por ocasião da guerra do Paraguai montou, no Chaco, por ordem do Duque de Caxias, um hospital de sangue. Pela sua dedicação e valor, fora condecorado com as medalhas da Ordem de Cristo e de São Bento de Aviz.


Foi transferido, no mesmo cargo, para o Pará e daquela província para o Ceará. Foi transferido para o Amazonas e dali para Sergipe e finalmente, por despacho de 23 de julho de 1875. Em 1878, exercia o cargo de Delegado do Cirurgião-Mor da Brigada do Exército na cidade de Maceió[ii], quando adoeceu de béri-béri, tendo falecido no dia 24 de agosto do mesmo ano, às 8 horas e meia da manhã, na cidade de Pão de Açúcar.


Como médico, o seu raio de ação não se circunscreveu à sua terra natal, estendeu-se por longínquas partes do país, chegando até as terras paraguaias de onde trouxe o fatídico mal que o vitimou.


Há outros fatos não menos importantes na sua vida, que constam de notas particulares, como sejam:


- Durante a epidemia de cólera-morbus, o governo prometeu a gratificação de 10.000$000 para quem fosse tratar os doentes em Cruangi, Estado de Pernambuco. O Doutor Félix foi, cumpriu abnegadamente o seu dever e recusou a gratificação.


- Consta igualmente ter sido ele o comandante da praça de Assunção quando ali chegaram as tropas brasileiras, por ser o oficial de mais alta patente naquele momento presente à cidade paraguaia.


Sendo de notar uma das particularidades mais tocantes de sua vida foi quando, numa operação, em campanha, na amputação de um membro de um seu patrício, foi acometido de uma forte dor, da qual procurando posição, foi salvo de um projétil que lhe causaria a morte, se tivesse se mantido na posição em que  se achava operando. Ele próprio atribuiu esse feliz incidente a uma medalha milagrosa que sua esposa lhe tinha posto no pescoço na hora de sua partida para a guerra.


Do seu consórcio, deixou os seguintes filhos:


Manoel Caetano de Aguiar Brandão, nascido na cidade de Recife a 8 de novembro de 1872, orador de grandes recursos e polemista de valor, casado com dona Marieta Pinho Brandão, ambos falecidos em Penedo deixando 8 filhos maiores.


Carolina Brandão Lisboa, nascida em Pão de Açúcar a 28 de março de 1874, casada com o Senhor Pedro Vieira Lisboa a 19 de dezembro de 1891 e falecida a 28 de junho de 1947 na cidade de Maceió, deixando três filhos maiores.


Francisco Hemrique Moreno Brandão, nascido em Pão de Açúcar a 14 de setembro de 1875, casado em primeiras núpcias com dona Ascendina de Menezes Brandão, ambos falecidos, deixando dois filhos maiores.


E finalmente Maria da Nunciação Brandão Cavalcante, nascida em Maceió a 3 de outubro de 1877, casada em 17 de janeiro de 1893 na cidade de Pão de Açúcar com o Senhor José Venustiniano Cavalcante Filho, tendo ela falecido a 30 de dezembro de 1894 sem deixar descendentes.


Foram seus irmãos: Manoel Manoel Caetano de Aguiar Brandão, grande proprietário e chefe político em Pão de Açúcar; Francisco Henrique Brandão, proprietário em Entre Montes; Padre Matias José de Santana Brandão; Capitão Antônio Manoel de Castilho Brandão; Agostinho José de Nevile Brandão; Joaquim da Natividade Brandão; e Doutor Anacleto de Jesus Maria Brandão Filho, tendo todos com exceção do padre Matias José de Santana Brandão, deixado honrosa prole; destacando-se valiosos rebentos como D. Antônio Manoel de Castilho Brandão, 1º Bispo de Alagoas, professor e grande escritor Francisco Henrique Moreno Brandão e tantos outros nas letras e na política de Pão de Açúcar figuraram como astros de primeira grandeza.”


***   ***


Aldemar de Mendonça, em seu Monografia de Pão de Açúcar, menciona que, ao regressar do Paraguai, foi recebido em Pão de Açúcar com muita festa e banda de música.

 

Em 20 de maio de 1869, por Decreto desta data, e sob proposta do Marechal de Exército Conde d’Eu, Comandante em Chefe do Exército em operações no Paraguai, o Dr. Félix Moreno Brandão foi promovido a 1º Cirurgião do Corpo Médico do Exército, por merecimento em serviço de campanha. Na mesma ocasião, foi promovido a 2º Cirurgião o Médico João Severiano da Fonseca, irmão do Mal. Deodoro da Fonseca.

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O QUE SE DISSE SOBRE ELE...

 

POESIA Recitada na Igreja Matriz da Cidade de Pão de Açúcar ao dar-se à sepultura o cadável do Doutor FÉLIX MORENO BRANDÃO[iii]:

 

Cessou a voz do antiste e o dobre lutulento.

Ouvi agora um canto qu’entoa ao ilustre morto:

Prestai breve atenção, amigos dedicados

Dos que, neste momento, soluçam sem conforto.

 

Não foi um Rei da terra, que, de cetro, trono e c’orôa

Cedeu, reverente, a vermes - que tudo põem em pó;

Não foi fidalgo, nobre, nem príncipe de sangue

Que em luxos e vaidades a vida gasta só.

 

Nao foi - vulto gigante - que anseia entrar na História

Com o peito vulnerado de honrosas cicatrizes;

Não foi Pompeu nem Gracelso – romanos destemidos –

Que c’roas enfeixaram, de múltiplos matizes.

 

Foi mais que um Rei na terra – o morto qu’ali vedes.

Há Reis que são de argila – sem fé no coração;

Que com Leis férreas, duras, esmagam seus vassalos:

Aquele que ali vedes não foi Rei ... foi cristão.

 

A Igreja abriu-lhe os braços – A cruz deu-lhe a beijar

À hora derradeira seu sopro – foi... Jesus –

A esposa teve ao lado – Uniu ao peito os filhos.

E assim viram seus olhos brilharem à eterna luz!

 

Foi nobre – mas não esses que insuflam sangu azul,

Linhagens, pergaminhos, comendas e brasões,

Soldado da cruzada que Cristo ergueu na terra.

Pacifica, sem ferro, sem sangue e sem canhões!

 

Amou a Igreja e o Estado: serviu a dois Senhores:

Com lealdade ao trono – com fé viva ao altar.

Oremos, meus Senhores, por alma de um cristão

Que vai, contrito e humilde, no Paraiso entrar.

 

Oremos. É dever: que irmãos somos em Cristo.

A prece é como o pranto; são bálsamo p’ra as dores:

- Incensos mais que puros – de aroma inebriante

São suas ânforas cheias do mel de eleitas flores!

 

Oremos. É dever  - Joelhos em terra! Oremos.

Que o coração foi sempre bendita do Senhor.

Quem curva a fronte e reza, te Deus dentro de si,

A encher-lhe a alma do fogo de seu Divino Amor!

 

Pão de Açúcar, 25 de agosto de 1878. 

( A. I. G. F. M.)

 

Transcrito do Jornal do Penedo, 13 de setembro de 1878.

 

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PEQUENO TRIBUTO DE DOR E SAUDADE À MEMÓRIA DO DR. FÉLIX MORENO BRANDÃO.

 

Vítima de terrível Beribéri, que zombou de todos os recursos da medicina, finou-se no dia 24 do mês passado, nesta cidade, pelas 8 horas da manhã, a preciosa vida do distinto médico Dr. Félix Moreno Brandão, um dos membros proeminentes da família do último nome, neste município.


O Dr. Moreno, residente na Capital desta Província, onde com esmero e dedicação exercia o importante cargo de Delegado do Cirurgião-Mor do Exército, com sua dedicada esposa aqui havia chegado no dia dez do dito mês, porém já em estado de intumescência tal do corpo e dos membros, talvez produzida pela acumulação de serosidades no tecido celular subcutâneo, que, em vez de encontrar alívio em nosso clima,   como certamente esperava, o traiçoeiro mal tomou proporções assustadoras, aparecendo-lhe de quando em vez algumas síncopes e, afinal, a morte, essa terrível parca!


Foi assim que o distinto discípulo de Hipócrates, o homem probo, o bom parente e amigo dedicado, no dia 24 de agosto, dia em que esta cidade sentiu os efeitos do mais acerbo pesar, sucumbiu, entregando-se resignado, como verdadeiro cristão que era, nos braços do Crucificado.


O vácuo deixado pelo Dr. Moreno é difícil de ser preenchido!


Deixou ele a extremosa esposa inconsolável, alguns filhinhos menores na orfandade, que ainda bem não podem avaliar a imensa perda, alguns irmãos e grande número de parentes e amigos que se acham mergulhados na dor e sentimento.


A todos esses, nossas sinceras condolências!


Pão de Açúcar, 11 de setembro de 1878.

a)      Um amigo.”

 

Transcrito do Jornal do Penedo, 11 de outubro de 1878.

 

***   ***


“O DR FÉLIX MORENO BRANDÃO

 

Qual enregelado Zéfiro, veio um silêncio sepulcral embargar-lhe os gozos da vida.


Pereceu, é verdade, o Dr. Moreno! O vácuo que deixou entre a sociedade, amigos e parentes, será dificilmente preenchido.


Altos juízos de Deus!


Oh! Morte!... quando porás termo à tua peregrinação? ...


Sua ira, porem, será um dia suplantada nos umbrais das dissoluções e o gume aguçado do teu alfange, suspensas nas regiões aéreas do espaço imundo, permanecerá eternamente imutável.


À tua peregrinação supera a consumação dos Séculos!


O nome do Dr. Moreno ficará indelével e eternamente gravado na memória dos amigos; sua honra será pranteada  e retratar-se-á, por sem duvida, nos seus corações.


Ao passo que sua enfermidade se agravava, caminhava ele para a terra, que devia com seu pesado manto cobrir-lhe o corpo inerte.


Ali rodeado de parentes e amigos, com os braços abertos, como terno pai e carinhoso esposo, recebeu seus inconsoláveis filhos e consorte que tanto pranteiam a sua ausência.

...

Como militar, sempre soube o Dr. Moreno, com atividade e carinho de todos, desempenhar as diferentes comissões para as quais fora nomeado.


Seus atos foram sempre pautados sob uma norma de conduta, aplaudida dos honestos e sensatos.


As honrosas promoções à sua ilibada conduta foram devidas.


Entre os vivos, pertencia ele ao número dos bons; entre os mortos, é de se supor, fará parte dos justos. Talis vita, finis ita.[iv]


Dorme o Dr. Moreno, em mortuário leito, o tranquilo sono da morte! Aos gozos da vida, substituiu um silêncio sepulcral.


Uma fria lousa lhe serve de manto! Mas divisa-se, evidentemente, por entre os transparentes véus de vosso ideal, que, morrendo, encetou uma nova vida de delícias. “A morte não é um sono eterno, mas o começo da imortalidade.”


O Senhor, que sempre soube premiar os justos, fazemos votos para que o acolha em sua Divina Morada e aos da sua ilustre família damos nossos sinceros pêsames.


Porto Real do Colégio, 20 de setembro de 1878.

(a)   Manoel Martins Bizerra Brandão.”

 

Transcrito do Jornal do Penedo, 2 de novembro de 1878.

 

Hospital de sangue em Paso de Patria, Paraguai.


PEQUENA BIOGRAFIA

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NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.



[i] Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, defendeu a tese . APRECIAÇÃO DOS MEIOS OPERATORIOS EMPREGADOS NA CURA DOS POLYPOS DOS ORGÃOS SEXUAES DA MULHER. Fonte: Teses Doutorais de Titulados pela Faculdade de Medicina da Bahia, de 1840 a 1928.

[ii] Por esse tempo, mantinha consultório na Rua Augusta, 27 – Maceió-AL. Fonte: Almanak da Província de Alagoas – 1877.

[iii] Jornal do Penedo, 13 de setembro de 1878.

[iv] "Talis vita, finis ita" é uma locução latina que significa "Tal a vida, tal o fim" ou "Tal vida, tal morte". É usada para expressar a ideia de que a forma como alguém vive impacta diretamente a sua morte ou o seu final.


A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia