Blog do Etevaldo
História e Literatura
sexta-feira, 19 de abril de 2024
O MORRO DO MORIM E AS TERRAS DO CAJUEIRO
Por
Etevaldo Amorim
A capela do Morro do Morim, Limoeiro, Pão de Açúcar-AL
Quem demanda o extremo
Leste do município de Pão de Açúcar, cujo limite com Belo Monte é definido pela
barra do riacho Jacaré, ali conhecido por “Salgado”, passa obrigatoriamente
pela Vila Limoeiro. A jusante desta antiga povoação, na exata extensão da Lagoa
da Igreja, situa-se um acidente geográfico dos mais importantes e
significativos: o MORRO DO MORIM.
Esse morro, encimado
por singela capelinha dedicada a Nossa Senhora do Rosário, encerra
características muito particulares. Nos idos tempos das grandes enchentes,
quando o São Francisco corria largo e pujante, as suas águas ali produziam
intensa correnteza. Por essa razão, era temida pelos canoeiros, que a evitavam,
abrindo para a margem sergipana, a menos que tivesse que aportar no Limoeiro.
Mais acima da margem
pedregosa, já próximo da capelinha, uma imensa massa arenosa se criou. Fina e
limpa, a imensa jazida foi-se formando pelo acúmulo de areia trazida pelo vento
da extensa coroa que ficava logo abaixo da ponta do morro. Sua forma se
assemelhava ao “Morro do Careca”, famoso ponto turístico da cidade de Natal, no
Rio Grande do Norte.
Vista para Oeste a partir do morro do Morim, vendo-se, à direita, parte da areia de que falamos. |
Do alto, avista-se
magnífico panorama. Desde o sopé do morro até a confluência do riacho, tendo ao
fundo Belo Monte, uma imensa planície separada pela rodovia AL-225, que liga
Pão de Açúcar àquela cidade: à esquerda, a várzea do Salgado, o povoado
Restinga; à direita, da estrada até a margem do rio, as terras do Cajueiro.
Dividida em pequenos
sítios, o Cajueiro tinha como proprietários diversos moradores de Limoeiro: Seu
Alfredo Damasceno, Dona Maria Rocha (conhecida por Maria do Ouro), seu Antônio
Maximino Brito, Dona Maria Clara (Mariazinha)/João Mendes Sobrinho.. e seus
sucessores...
O
que poucos sabem é que essas terras nem sempre estiveram na posse de gente da
margem. Encontramos no jornal O Trabalho, de Pão de Açúcar-AL, na edição de 30
de agosto de 1884, uma interessante manifestação de uma pessoa que se assina
como “UM INTERESSADO”. Nessa matéria, intitulada “NÃO HÁ DEMANDA BOA”, que
preferimos transcrever para preservar o registro histórico, o autor contesta a pretensão
do Sr. José Pedro de Mello, residente em Pão de Açúcar, de ter direito de posse
por aquisição a proprietários do distante município de São Miguel dos Campos.
Vejamos:
“NÃO
HÁ DEMANDA BOA
Agita-se, no foro do Traipu, uma questão
cujo autor, José Pedro de Mello, residente em Pão de Açúcar, disputa o direito
de propriedade de um terreno a que chama – ILHA DO SALGADO.
Ligeiras considerações passo a fazer ao
Sr. José Pedro, a fim de voltar ao silêncio e reconhecer o seu engano.
Dois são os pontos em que fundamento o
meu juízo de não ter ele direito algum na suposta Ilha:
Primeiro Ponto: nulidade da compra,
porque primeiramente aceitou escritura de venda passada e firmada pelo
Tenente-Coronel Rocha[i],
que vendeu em nome de sua mãe D. Antônia de Jequiá[ii],
sem ter procuração nem legalmente achar-se autorizado.
Tendo falecido o Tenente-Coronel Rocha e
sua mãe, viu-se o Sr. José Pedro sem poder se chamar dono da pretendida Ilha.
Corre, e de novo obtém do Coronel
Arestides Arnaldo Bezerra Cansanção[iii]
outra escritura de venda sobre o mesmo terreno, despreza a outra e agora se
arroga de bom direito.
E por quê?
O Coronel Arestides é filho único de D.
Antônia?
Não.
D. Antônia, quando morreu, deixou outros
filhos e netos seus herdeiros legítimos. Portanto, procedeu-se a inventário e
partilha nos bens por ela deixados.
Porém, pergunto eu ao Sr. José Pedro: a
sua questionada Ilha foi dada a pagamento da legítima do Coronel Arestides? Se
não sabe, eu lhe digo que não; porque não foi inventariada e nem partilhada; e
neste caso está em comum e, por tal fato, nula a venda.
Segundo Ponto: Os terrenos da pretendida
Ilha não podem, por conta do nosso direito pátrio, se chamar Ilha; porque a
nossa legislação e direito declara positivamente que os aluviões de terra
formados no meio dos rios, e ainda mesmo formando Ilhas uma só vez na vida,
dando lugar a passar a vau[iv]
do terreno firme para eles, ficarão pertencendo aos terrenos a que se ligarem. Portanto,
perde o direito de Ilha. E creio que tal terreno se pode ou se deve chamar
acessão do terreno ribeirinho.
Ora, os terrenos em questão, que nascem
no terreno firme denominado – MORIM – ou Cajueiro, e formando uma península,
deixa todos os anos que bichos e gente passem, em quase toda sua extensão, a pé
enxuto, dos terrenos firmes que estão em frente para a almejada Ilha, como
poderão se chamar Ilha?
E nem deve ser porque a Lei manda que
tais terrenos sejam dos proprietários dos terrenos ribeirinhos.
Desculpe-me, senhor José Pedro.
Pão de Açúcar, 27 de agosto de 1884.
(a)
Um interessado.”
Tomada de Belo Monte, vendo-se à direita a barra do rio Jacaré
e as terras do Cajueiro, margeando o canal até o Morim, ao fundo.
*** ***
NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E
LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes.
Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta
documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão,
solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer
trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo
também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é
correto e justo.
[i]
Francisco da Rocha Cavalcante Filho. Nasceu em São Miguel dos Campos-AL no dia
19 de março de 1812. Filho do Cap. Francisco Rocha Cavalcanti e Dona Antônia
Arnalda da Silveira Bezerra (Antônia de Jequiá). Faleceu em 9 de fevereiro de
1891.(?) Acho que não. Teria ele sido Vice-Governador no governo de João
Baptista Accioly Junior – 12/06/1915 a 12/06/1918?
[ii]
Antônia de Jequiá. Também conhecida por Antônia Arnalda Bezerra Massaranduba ou
Antônia Arnalda Silveira Bezerra. Nasceu em São Miguel dos Campos-AL em 1793.
Filha do Capitão Amaro Álvares Bezerra de Castro e de Anna Maria José Lins.
[iii]
Arestides Arnaldo Bezerra Cansanção. Nasceu em 27 de fevereiro 1827, em São
Miguel dos Campos-AL. Filho do Cap. Francisco Rocha Cavalcanti e Dona Antônia
Arnalda da Silveira Bezerra (Antônia de Jequiá). Faleceu em 30 de abril de
1887.
[iv] Local raso de um rio, mar, lagoa, por onde se pode passar a pé ou a cavalo.
sábado, 13 de abril de 2024
TESOUROS E PAIXÕES
Por
Etevaldo Amorim
Moeda do reinado de Dom Sebastião. |
Desde épocas remotas, as populações ribeirinhas do São Francisco cultivam a tradição de contar histórias. Em narrativas repletas de fantasias, que povoavam o imaginário daquela gente humilde, essas histórias eram passadas de geração a geração, acabando por se constituir em verdadeiro cabedal de cultura dessa região.
Como
exemplo, temos as lendas do “nêgo d’água”, que muitos juravam ter visto e
relatavam isso com tão acentuada convicção, que ninguém sequer pensaria em
duvidar. Tratar-se-ia de um ser de aparência humana, mas baixinho e com pés
desprovidos de dedos. Ao menor sinal de aproximação, pulava imediatamente na
água, desaparecendo como que por encanto.
Motivo
de espanto e medo, o “fogo-corredor”[i]
também era causa de assombro para quem o via. Os relatos dão conta de uma luz
tênue, azulada e constante que, flutuando no ar, movia-se ao sopro da menor brisa.
Outros
referem à existência de tesouros fabulosos, enterrados em botijas em lugar oculto,
por alguém já falecido. A pessoa escolhida, recebendo aviso do além, em
aparição ou sonho, toma conhecimento do local e parte a sua procura, não sem
antes passar por tenebrosas provações, enfrentando serpentes e outros seres
horripilantes, a tentarem dissuadi-lo da empreitada.
Muitos
casos, porém, se revestem de espantosa realidade. Não se sabe se por um desses
avisos do outro mundo ou se por mera intuição, não era raro aparecerem
aventureiros em busca de fortuna, escavacando aqui e ali, na esperança vã de
enriquecer de um dia para outro.
Em
Pão de Açúcar há alguns desses casos, que pela frequência com que eram
relatados, são dignos de registro. É o caso dessa notícia publicada no jornal
Gutenberg, de Maceió, edição e 28 de janeiro de 1896, transcrevendo O Trabalho,
de Penedo:
“Já há tempos, levamos ao conhecimento dos
nossos leitores a tentativa de descoberta de tesouros enterrados no município
de Pão de Açúcar.
Pelo que sabemos, os referidos tesouros
ainda não foram encontrados. Entretanto, os encarregados da tentativa – o Sr.
Ramiro Rabello, homem inteligente e empreendedor, e o Sr. Dr. Stuart Borba
(médico), continuam presentemente quebrando, por meio de minas, grandes rochas
fixas e revolvendo as profundezas da terra. Os dois empreendedores, ou
visionários, como muitas pessoas denominam, trabalham há mais de dois anos. Têm
feito buracos e ziguezagues enormes.
Principiaram na fralda da Serra de Pão
de Açúcar, ao lado do oriente. Depois de terem feito profundíssima abertura,
suspenderam os trabalhos.
Passaram para a fazenda Cabeça de
Cavalo, de propriedade do Cap. Joaquim Alves Feitosa, com quem os ‘empresários’
celebraram um contrato escrito, prometendo dar àquele proprietário uma grande
parte do tesouro.
O Capitão Alves, conquanto não fosse
obrigado a trabalhar, como apreciador esteve em princípio em lugar que, ao
explodir das primeiras minas, atingiu-lhe a face. Esse incidente desagradável
provocou a perda de um olho do Cap. Alves.
O trabalho da fazenda Cabeça de Cavalo é
superior ao da serra; é feito todo em rocha fixa. Somente por cordas e diversas
escadas emendadas se pode chegar ao lugar em que se trabalha atualmente.”
Diz,
ainda, a matéria que o trabalho desenvolvido até então consumiu muitos contos
de réis. E que havia fortes investidores nessa empresa, muitos do Recife, sendo
um deles o próprio pai do Dr. Borba.
Ainda
conforme a referida matéria, o Sr. Ramiro e o Dr. Borba falavam do assunto com
muita convicção e propriedade:
“Quem os vê falar sobre as camadas do solo,
das pedras, granitos, cimentos, amálgamas e outras coisas que, dizem eles,
foram feitas no centro da terra, fica de boca aberta e quase disposto a entrar
na empresa, como nos consta que alguém já o fez.”
Pouco
mais de dois anos depois, o mesmo jornal O Trabalho, de Penedo, em edição de 27
de maio de 1898[ii],
dá conta de mais tesouros:
“DINHEIRO ANTIGO. Ontem, mostraram-nos uma moeda antiquíssima,
encontrada há poucos dias, com algumas outras, em um roçado anexo á Serra do
Pão de Açúcar, distante duas léguas da cidade de mesmo nome, neste Estado.
O local, junto à dita serra,
conserva o primitivo nome de Aldeia, porque ali existiu antigamente a aldeia
dos índios Chocó, que povoavam aquela região e donde desceram muitas famílias
daquele município.
As moedas são poucas, algumas de
ouro e outras de prata. São malfeitas e em algumas vem a data do cunho, ano 1500.
O indivíduo Fulano de Tal Pinto,
encontrou-as quando revolvia a terra para plantar mandioca. É um homem
ignorante. A princípio, não reconheceu as moedas, pois as andou oferecendo a
diversas pessoas.
Há muita gente que pensa ter sido
grande a botija, e que o felizardo, depois que reconheceu o valor das moedas,
tratou de ocultar a coisa.
Seja como for, o tal indivíduo foi
mais feliz que o Sr. Ramiro Rabello, que nestes últimos anos, no município de
Pão de Açúcar, fez escavações de grandes dimensões, dispendiosíssimas, em
procura de tesouros enterrados, gastou centenas de mil réis, e perdeu o tempo.”
No
mesmo ano, agora em notícia do Jornal de Caxias, de Caxias-MA, de 9 de julho de
1898, reproduzindo matéria de O Sertanejo, de Pão de Açúcar, informa-se que o
Sr. Joaquim Pinto, enquanto trabalhava em sua roça, perto da Serra do Pão de
Açúcar (Meirus), duas léguas distante da cidade, encontrou, quase à superfície,
18 moedas antigas, de diversos valores, sendo 2 de ouro e as demais de prata,
cunhadas as de ouro no reinado de Dom Sebastião[iii]
e as de prata nos de Dom Felippe[iv] e
Dom Fernando, de Espanha e Portugal[v].
Serra do Meirus (Pão de Açúcar-AL. Foto: Marc Ferrez, 1875 |
***
***
Passados
catorze anos, eis que volta o Dr. Borba a buscar o tesouro.
O
nosso competentíssimo historiador Aldemar de Mendonça, em seu livro Monografia
de Pão de Açúcar, já relatava esse caso do tesouro da Cabeça de Cavalo
(Formigueiro), que teria sido deixado pelos holandeses, em apressada fuga.
Foi
Moreno Brandão que, em sua crônica BOTIJAS E HAVERES, publicada no jornal
Diário da Manhã, Rio de Janeiro, de 14 de dezembro de 1930, escreveu:
“Ente nós outros destas bandas, persiste
indelével a tradicional crença nas botijas e nos “haveres”. Não os pretensos
tesouros que se dizem terem sido enterrados pelos holandeses ao deixarem estas
terras.
Os
crédulos fazem despesas consideráveis para arrancar os tesouros dos batavos até
do seio das rochas, como sucedeu em Pão de Açúcar. Ali, de acordo com um
suposto roteiro vindo da Holanda, Ramiro Rabello escavou num rochedo da fazenda
Cabeça de Cavalo, de propriedade do primeiro bipo de Alagoas, Dom Antônio
Brandão, uma cisterna profundíssima à procura do ouro, que em avultada quantia
ali deveria estar acumulado.
A
soma vultosa, que se procurava com tantos esforços e dispêndios, não foi
encontrada. Mas, nem por isso os esforços se perderam de todo, pois que a
fazenda ficou dotada de excelente reservatório de água potável para os dias
longos das estiagens.”
Ao
leitor pode parecer estranho falarmos de holandeses em terras
pão-de-açucarenses naqueles tempos. Entretanto, há indícios de sua presença no
Baixo São Francisco, acima de Penedo.
Vieira
de Carvalho, em sua carta ao Sr. Gustavo Schuch de Capanema, informa ter ouvido
dizer que “sobre a Tabanga[vi]
têm aparecido balas de artilharia, sobre o que não posso ajuizar com
certeza...” mas que “não é
inverossímil que o holandês tivesse talado até aqui, quando ocupando as
províncias, ao norte da Bahia até o Ceará, foram senhores do rio São Francisco,
como é constante na História.”
Fala
também da existência de “cercas de pedra”
nas proximidades da Barra do Ipanema, município de Belo Monte, erguidas em
resistência “à invasão holandesa, e muito
se honram de que ela tivesse tocado até tão alto, para alegarem e exaltarem o
esforço de justamente terem-na repelido.”
Indicações
há de que o próprio Conde Maurício de Nassau, entre 1637 e 1640, teria
percorrido essas paragens, interessado, segundo Ernani Silva Bruno, pelo
“copiosíssimo gado que há na campanha”.
Roberto
Southey (História do Brasil, II, pg. 202), mencionando as providências adotadas
por Nassau com vistas a obter o apoio dos índios para consolidar o seu domínio
sobre Penedo, diz:
“Tomadas estas sábias medidas, subiu o
próprio Conde (Nassau) cinquenta léguas[vii]
pelo rio acima a explorar o país; as viçosas savanas que a corrente banha e
muitos rebanhos, alguns de mil e quinhentos, outros de muitas mil cabeças, que
nelas andavam pastando, o encheram de admiração pela riqueza da terra.”
Voltemos
ao Dr. Borba. De fato, esse seu retorno, pudemos constatar, ocorreu em 1910. Precisamente
no dia 5 de dezembro, embarcou ele no vapor nacional Ilhéus, no porto do Recife
com destino a Penedo, em companhia de José Aurélio de Lima e José Basílio da
Costa[viii].
Ainda
segundo Aldemar de Mendonça, possuía ele “um
mapa e a descrição do local em que deveria estar o presumido tesouro,
indicações essas extraídas, conforme dizia, do arquivo público ou de algum
cartório, não sei bem”.
A
descrição continha mais ou menos esses termos: “Quando o relógio estiver marcando duas horas da tarde, e a cabeça do
cavalo projetar sua sombra, aí está o tesouro.”
Observa
Aldemar de Mendonça que o Dr. Borba, ao que parece, não levou em conta o
movimento de translação da terra, que faz com que a sombra mude de lugar
constantemente, no decorrer do ano. E conclui: “Seria, pois, de máxima importância saber em que dia do ano, ás duas
horas, se projetava a sombra”
PAIXÕES
Ele
desembarcou na Ilha do Ferro com o firme propósito de encontrar o famigerado
tesouro da Cabeça de Cavalo[ix].
Esta Fazenda, distante meia légua daquele Povoado, pertencia ao Capitão Serafim
Soares Pinto, que contratara o especialista para explorar as riquezas que se
acreditava existir em seu subsolo. Teria aqui chegado provavelmente no mês de
janeiro de 1911, acompanhado dos referidos indivíduos.
Passados
muitos dias em exaustivas escavações, o Dr. Borba e seus ajudantes perderam os
recursos que tinham e com eles a esperança de encontrar o tal tesouro. Sem
dinheiro e já sem objetivo, passavam o tempo perambulando pelas ruas do povoado
e encontraram pousada na casa do Sr. Manoel Bezerra.
Ilha Ferro (Pão de Açúcar-AL), entre 1961/66. |
Ali
teria início um caso de intensa paixão, sobre o qual se falaria por muitos e
muitos anos.
Uma
das filhas do Sr. Bezerra, Amália, logo se envolveu com José Aurélio, um dos
auxiliares do Dr. Borba. Conversavam a sós até altas horas da noite,
abraçavam-se e se exibiam em brincadeiras em público, em verdadeiro idílio. Com
seus trinta e nove anos, moreno trigueiro, de estatura alta e cabelos ruins,
contrastava com as características dos homens do lugar. Mas, talvez por ser estranho,
vindo da cidade grande, falante e cheio de novidades para contar, agradara a
jovem sertaneja.
José
Aurélio era casado civil e eclesiasticamente com Dona Luiza Miranda (jornal
Diário de Pernambuco registra o pedido de casamento dele com Luiza Paulina de
Miranda, dado que já estavam casados no civil), e com ela tivera dois filhos, sendo
uma menina, Iracema, nascida há bem pouco tempo: 25 de abril de 1911,
possivelmente na ausência dele, que havia partido do Recife em 5 de dezembro,
como já dissemos. Dizia a Amália que a mulher o abandonara e que, sendo casado
apenas no Civil (que na época não tinha muito valor) com ela se casaria “na
Igreja”.
Amália
Bezerra de Mello, a simpática mocinha, tinha apenas 16 anos de idade. Sua pele
morena clara, cabelos negros e olhos castanhos escuros e, sobretudo seu corpo
esbelto, distribuído em 1 metro e 69 centímetros de altura, impressionara José
Aurélio, que até cessara de responder às cartas de sua mulher, deixada no
Recife.
O
Dr. Borba advertira o seu amigo de que deveria evitar tal procedimento, o que
resultou em desavença entre eles, tendo sido até agredido fisicamente.
***
***
Decerto
os pais da moça não aprovavam o namoro, mas os encontros se tornaram frequentes.
Apaixonados, decidiram levar adiante o relacionamento a qualquer custo, fossem
quais fossem as consequências.
Engendrava-se
na mente dos amantes uma ideia mirabolante. Fugiriam para longe.
Amália,
que há poucos dias obtivera do pai o fruto da venda de uma vaca, depositou o
dinheiro na mão de Aurélio. Um plano foi traçado: Amália o acompanharia em sua
viagem de retorno ao Recife.
Era
28 de junho, véspera de São Pedro e, também à guisa de despedida, promoveram
uma festa. Fizeram um balão, soltaram, sambaram e se divertiram a valer. Para
não despertar suspeitas, Amália, que à tarde pedira para assistir aos festejos
de São Pedro na casa de uma tia no Sítio Quixaba, não estava presente. Mas era
ali pertinho: pouco abaixo da Ilha do Ferro, entre o Boqueirão e a confluência
do Riacho Grande.
Pela
madrugada, encaminharam-se para o porto. O pai de Amália foi até a beira do rio,
despedir-se de seus hóspedes, não imaginando o que estava para acontecer. Entre
a bagagem, uma grande mala de 1 metro de comprimento por 45 centímetros de
altura, pertencente a José Basílio da Costa, primo de José Aurélio, que o
auxiliara em tudo. Amália estava dentro. Para permitir a respiração, fizeram
quatro furos na tampa e outros nas laterais. Uma garrafa de água e algumas
bolachas de farinha de trigo, era o que tinha Amália para se alimentar, além de
duas redes e um cobertor, para se proteger do frio.
Às
duas horas da madrugada embarcaram na canoa de Luiz Teixeira, com destino a Pão
de Açúcar, onde tomariam a Moxotó, acompanhados ainda de Argemiro Alves da
Costa Lima[x],
primo de Amália, que tudo ignorava.
A "chata" Moxotó. Foto: Abílio Coutinho. |
No
outro dia, sentindo o velho Bezerra a falta da filha, queixou-se à polícia. O
Comissário de Pão de Açúcar telegrafa para Penedo dando conta do ocorrido. Lá,
o seu colega, Sr. Major Ildeffonso Costa[xi],
ficou de prontidão no porto e, com seus auxiliares, abordaram os raptores.
Amália
fora encontrada bastante abatida, em estado de desmaio. Pálida, banhada de
suor, a sua expressão denunciava o sofrimento por que passara, embora, segundo
ela própria declarou à polícia, aceitara tal situação de modo livre.
***
O
jornal O VADIO, Penedo-AL, 3 de julho de 1911. Sob a direção de Leobino
Ferreira, trás minuciosa reportagem:
“CONSEQUÊNCIAS DE UM RAPTO.
A moda dos grandes fatos que vivem
continuadamente despertando a curiosidade pública nos grandes centros, pelos
seus lances, ora trágicos, ora alegres, veio desta vez se estender em uma das
belas e inocentes paragens sertanejas denominada “Ilha do Ferro”, pelos
detalhes que vamos narrar aqui, de uma tragédia de amor que chamou a atenção da
população desta cidade.”
“No dia 29 de junho próximo passado,
quando todos das folganças de São Pedro descansavam, chegou-nos a notícia que,
para bordo da “Moxotó”, se dirigia o zeloso Alferes Comandante do Destacamento,
Antônio da Paz, em companhia de algumas praças, em virtude de ter recebido um
telegrama da cidade de Pão de Açúcar, neste Estado, pedindo-lhe que procurasse
uma moça que tinha sido raptada.”
“Ancorando a Moxotó, chata que faz
viagens semanais deste porto para os do sertão, S. Sª o Alferes Paz foi a bordo
e perguntou ao imediato, Sr. Bellinho Tavares, qual de entre os da lista de
passageiros, era o Sr. cujo nome aquele telegrama denunciava como ter em sua
companhia uma senhorita.”
“Verificando o nome do indivíduo, o Sr.
Alferes ordenou que o corressem, sendo-lhe tomada uma pistola e um punhal,
responsabilizando-o desde já, a autoridade, pela entrega de uma moça, a que se
recusou o passageiro, vindo sem demora a descobrir.”
AONDE ESTAVA A MOÇA?
“E não foi sem menor admiração das
pessoas de bordo e das demais presentes, que viu-se o responsabilizado abrir
uma mala de couro, de tamanho regular e de lá sair uma moça, em pleno vigor da
mocidade, erguendo-se trêmula, com olhar espantado pela curiosidade que em
torno dela se animava!...”
“Uma vez verificado o rapto, foi o
responsável levado à Detenção, e conduzida a senhorita à residência do nosso
amigo Alferes Paz, onde, a chamado do Cel. Ildeffonso Costa, ativo Comissário
de Polícia, compareceu o preso, em presença também do Sub-Comissário, Sr. João
Miranda, e das pessoas presentes, sendo-lhe aí feitas as primeiras perguntas,
que foram as seguintes, às quais assistimos:
Sua Senhoria o Sr. Comissário perguntou
ao preso como chamar-se?
- José Aurélio.
De onde era filho?
- Da cidade das Alagoas, porem resido em
Pernambuco, onde exerço a profissão de pintor e onde sou casado e tenho filhos.
- É casado em quê?
- No civil.
- Então, abandonou sua mulher e seus
filhos?
- Não senhor. Tenho muita amizade a
eles.
- E qual a sua intenção para com esta
moça?
- Não abandoná-la.
- E o que o leva assim proceder?
- O grande amor que tenho a ela.
- -lhe alguma coisa?
- Não senhor
E voltando-se para Amália:
- E a senhora, não sabia que este senhor
era casado?
- Sabia, mas tenho amizade a ele...
- E o que espera dele?
- Casar na igreja, como ele me prometeu.
---*---
Em adiantamento da hora, o Sr.
Comissário ordenou o recolhimento do preso, sendo em sua presença revista sua
outra mala, que continha diversas peças de roupa de homem e de mulher, duas
redes, uma navalha, colarinhos, gravatas, cobertas, etc, etc..., e que foi
trancada, sendo-lhe entregue a chave.”
--- * ---
“OUTRAS NOTAS
O Sr. José Aurélio é trigueiro, e bem
disfarçado nos pareceu pelas respostas que dava às autoridades, mostrando-se
imperturbável, calmo...
A senhorita, que se chama Amália Bezerra
de Mello, é de um moreno-claro, simpática e filha do Capitão Manoel Bezerra de
Mello, da “Ilha do Ferro”, descendendo de família qualificada. É muito jovem
ainda.
Viajou 26 léguas dentro da mala,
trancada, tendo esta apenas alguns buraquinhos por onde respirava...
Em uma entrevista, disse-nos a Srtª
Amália que o Sr. José Aurélio foi hospede de seu pai e que este assistiu o
embarque dele e de sua célebre mala, acompanhando-o dois parentes seu (dela):
Júlio Almeida e Argemiro Alves da Costa Lima, que ignoravam o fato que
presenciaram aqui.”
“Em companhia do raptor vinha um seu
primo – José Basílio da Costa- indivíduo de cor preta, moço, natural de Alagoas
também, e residente em Pernambuco, que foi quem o auxiliou neste plano infeliz
de sedução, tendo sido igualmente hóspede do Cap. Manoel Bezerra, para mais de um
mês, e preso.
--- ---
A moça, que voltará à casa de seus pais,
segundo ouvimos do Sr. Comissário, é de bem que, sendo feito o respectivo exame
de sanidade, apurando ou não a verdade do que garantiu o Sr. Aurélio de nada
dever-lhe, sejam cumpridas enérgicas providências, no sentido de acabar-se com
este abuso de tipos perversos, além de abusar da confiança de pais incautos,
violando lares, procurem vergonhosamente implantar bigamia deste jaez!...
“E não pensavam os dois miseráveis de
virem direitinhos às barbas da Polícia!?
Bem feito.”
Depois
de interrogados em Penedo, os dois indivíduos foram transportados para Pão de
Açúcar no dia 11 de julho, onde ficaram presos à espera do julgamento. A
sentença, transcrita do jornal pão-de-açucarense A Ideia, saiu no dia 17 de
agosto.
O cais do Penedo. Foto H. W. Furniss, 1905. |
*** ***
UM POUCO DA HISTÓRIA DOS NOSSOS
PERSONAGENS:
RAMIRO DA SILVA RABELLO. Natural de
Pernambuco. Não era de se estranhar que andasse à caça de ouro: sua profissão
era ourives. Foi casado com a Srª Sabina de Jesus Vianna Rabello, uma das mais
antigas seguidoras da Igreja Presbiteriana.
Morou
por alguns anos em Pão de Açúcar, mas, em 1879, era Agente dos Correios na
cidade de Floresta-PE,[xii]
onde nasceu seu filho Júlio da Silva Rabello. Depois se mudou para Belém, no
Estado do Pará.
Por
volta de 1899, desenvolvia atividade de “agenciador
de emigrantes”, contratando nordestinos, especialmente de Pão de Açúcar,
para trabalhar no “matadouro do Rio
Negro, no Amazonas”, como afirma o jornal Gutenberg, de Maceió, em edição
de 16 de abril de 1899.
DR. PLÁCIDO STUART BORBA. Ainda segundo
Aldemar de Mendonça, “O Dr. Borba, que já
se familiarizara com a população, resolveu ficar por aqui mesmo e se casar com
uma moça da terra. Dir-se-ia que as bruxas houvessem prognosticado ter o Dr.
Borba de cair sempre em buracos. Ainda bem não se refizesse das decepções que
lhe causara um buraco, já desejava enfrentar outro, - o casamento.”
“E encontrou em Dª Benevenuta, cujo coração
devia ser para o Dr. Borba, um outro tesouro, a mulher com quem se uniu, até o
dia em que teve de entrar para o terceiro e último buraco.”
Na
última década do século XIX, o Dr. Borba atuava como médico na região do Baixo
São Francisco. Em 1893, esse anúncio, publicado no jornal A Verdade, que se
publicava em Pão de Açúcar sob a gerência de Serafim Soares Pinto, o Dr.
Plácido Stuart Borba oferecia seus serviços: “Médico Cirúrgico e Parteiro, especialista em moléstias de senhoras,
aceita chamados a qualquer hora em sua residência à Rua da Praia, nº 28, em Pão
de Açúcar.”
Em
26 de julho de 1894, foi nomeado Adjunto de Promotor no Município de Pão de
Açúcar,[xiii]
sendo exonerado a 23 de março do ano seguinte.[xiv]
Em
1900, aparece como participante da sessão de posse dos membros do Diretório do
Partido Republicano do Peres[xv],
ocorrida a 20 de maio daquele ano.[xvi]
AMÁLIA BEZERRA DE MELLO. Segundo José
Teixeira Dias, natural da Ilha do Ferro, as pessoas mais velhas relatavam que
Amália, logo após aquele lamentável incidente, veio a falecer.
JOSÉ AURELIO DE LIMA nasceu em
Alagoas (atual Marechal Deodoro) em 1871. Filho de João da Costa Lima e Maria
Rosa da Conceição.
Teve
vida longa. Quando faleceu no Recife, em 26 de agosto de 1960, aos 89 anos, era
viúvo de Belmira Maria de Almeida, com quem teve a filha Iraci de Lima Barros,
professora. Deixou ainda três filhos com Luiza de Almeida Lima: Maria de
Lourdes e Iracema de Lima Pereira.
*** ***
NOTA:
Caro
leitor,
Este
Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com
informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta
documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão,
solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em
qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo
também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é
correto e justo.
[i]
O “foro corredor” nada mais é que o fenômeno do “fogo fátuo”, inflamação
espontânea de gases. Quando um corpo orgânico começa a entrar em decomposição,
ocorre a emissão do gás metano (CH4). Este gás, em condições especiais de
temperatura e pressão, e em local pouco ventilado, desprende-se do material
orgânico e se mistura ao oxigênio do ar, inflamando-se espontaneamente.
[ii]
Notícia reproduzida pelo jornal O Republicano, de Cuiabá-MT, edição de 4 de
setembro de 1898.
[iii]
Dom Sebastião reinou de 11 de junho de 1557 a 4 de agosto de 1578.
[iv]
Filipe II de Espanha. Em 1580, com a extinção da dinastia de Avis que não
deixou descendentes, D. Filipe II da Espanha entra em Portugal e se faz
reconhecer rei nas cortes de Tomar, em 1581, como neto do monarca português D.
Manuel. Assim, Filipe II de Espanha, que se tornou Filipe I de Portugal, passou
a governar o reino.
[v]
Jornal de Caxias, São Luis-MA, 1898.
[vi]
Serra da Tabanga, localizada no município de Gararu-SE, defronte a Traipu-AL.
[vii]
A distância de Penedo a Pão de Açúcar pelo rio é aproximadamente 24 léguas,
cerca de 144 km.
[viii]
Jornal do Recife, 7 de dezembro de 1910.
[ix]
Jornal A Ideia, Pão de Açúcar.
[x]
Argemiro Alves da Costa Lima. Filho de Antônio Soares da Costa Lima e de
Silvina Dias da Rocha. Nasceu na Ilha do Ferro, Município de Pão de Açúcar-AL,
a 15 de abril de 1887. Faleceu em São Gonçalo, Rio de Janeiro, em 28/05/1967.
[xi]
Ildeffonso Francisco de Almeida Costa. Havia sido nomeado Comissário de Polícia
de Penedo em 29 de setembro de 1905. Filho de Maria da Natividade de Almeida
Costa e de Maria da Natividade de Almeida Costa. Foi casado com a Srª Blandina
Diamantina Machado Costa (filha do Ten-Cel Matheus de Souza Machado e de
Blandina Fernandes Machado).
[xii]
Diário de Pernambuco, 7 de março de 1879.
[xiii]
A República, 28 de julho de 1894.
[xiv]
Gutenberg, 30 de março de 1895.
[xv]
Distrito de Peres, criado pela Lei n.º 8, de 28-06-1893 e anexado ao município
do Recife.
[xvi] Jornal do Recife, 23 de maio de 1900.
A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR
PÃO DE AÇÚCAR
Marcus Vinícius*
Meu mundo bom
De mandacarus
E Xique-xiques;
Minha distante carícia
Onde o São Francisco
Provoca sempre
Uma mensagem de saudade.
Jaciobá,
De Manoel Rego, a exponência;
De Bráulio Cavalcante, o mártir;
De Nezinho (o Cego), a música.
Jaciobá,
Da poesia romântica
De Vinícius Ligianus;
Da parnasiana de Bem Gum.
Jaciobá,
Das regências dos maestros
Abílio e Nozinho.
Pão de Açúcar,
Vejo o exagero do violão
De Adail Simas;
Vejo acordes tão belos
De Paulo Alves e Zequinha.
O cavaquinho harmonioso
De João de Santa,
Que beleza!
O pandeiro inquieto
De Zé Negão
Naquele rítmo de extasiar;
Saudade infinita
De Agobar Feitosa
(não é bom lembrar...)
Pão de Açúcar
Dos emigrantes
Roberto Alvim,
Eraldo Lacet,
Zé Amaral...
Verdadeiros jaciobenses.
E mais:
As peixadas de Evenus Luz,
Aquele que tem a “estrela”
Sem conhecê-la.
Pão de Açúcar
Dos que saíram:
Zaluar Santana,
Américo Castro,
Darras Nóia,
Manoel Passinha.
Pão de Açúcar
Dos que ficaram:
Luizinho Machado
(a educação personificada)
E João Lisboa
(do Cristo Redentor)
A grandiosa jóia.
Pão de Açúcar,
Meu mundo distante
De Cáctus
E águas santas.
______________
Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)
(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937
(+) Maceió (AL), 07.05.1976
Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.
*****
PÃO DE AÇÚCAR
Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.
Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.
Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,
O pó que o vendaval deixou no chão cair.
Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste
O teu profundo sono num divino sorrir.
Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,
Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.
Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.
Teus jardins se parecem com vastos cemitérios
Por onde as brisas passam em brando sussurrar.
Aqui e ali tu tens um alto campanário,
Que dá maior relevo ao pálido cenário
Do teu calmo dormir em noite de luar.
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Ben Gum, pseudônimo de José Mendes
Guimarães - Zequinha Guimarães.