domingo, 11 de março de 2012

FAZ CEM ANOS HOJE


CEM ANOS SEM BRÁULIO

Domingo, 10 de março de 1912. O centro de Maceió é tomado por extraordinária massa popular, protestando contra o retorno de Euclides Malta que, pressionado, houvera se ausentado do Estado há mais de um mês. Desde o porto de Jaraguá até o Palácio dos Martírios, embora escoltada por forte esquema policial, tendo à frente o General Olympio da Fonseca, a Comitiva teve que suportar insultos da população, enquanto os sinos das igrejas dobravam a finados.
            A passeata seguia pela Rua do Livramento. À frente o Dr. Bráulio Cavalcante, jovem liderança oposicionista, recém formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade do Recife, e a quatro dias de completar vinte e cinco anos.
            Os manifestantes alcançam a Praça Deodoro, recebendo cada vez mais adeptos. A seu lado, o acadêmico José Moreira da Silva Lima, repórter do Jornal de Alagoas, que seria depois Prefeito de Maceió e emprestaria seu nome a uma das principais artérias da Capital, a Rua Moreira Lima.
Tomam à direita a Rua do Macena (atual Cincinato Pinto) e, em seguida, adentram a Rua Augusta (depois chamada Ladislau Neto e hoje popularmente conhecida por “rua das árvores”). Dobram à esquerda e percorrem o último trecho da Rua do Comércio. Em meio àquela agitação, talvez tenha ele lembrado os tempos calmos da sua terra natal. Das apresentações do Grupo de Teatro Paz e Progresso no Politheama Goulart de Andrade, ao lado de Luiz Paulo e Antônio Maia; das crônicas e poemas publicados nos jornais locais, ou mesmo da inauguração da Banda Musical Euterpe de Pão de Açúcar, regida pelo Mestre Abílio Mendonça, há menos de um ano, quando usou da palavra ao lado do Promotor Luiz Medeiros.
Chegam finalmente à Praça dos Martírios.  Nada mais lhe vem à mente senão os temas do discurso que teria de fazer na condição de orador da Campanha.
            Segundo reportagem do Jornal de Alagoas, edição de 15/03/1912, ao aproximar-se da estátua de Floriano Peixoto, três soldados do 8º Pelotão o intimaram a interromper a manifestação. Bráulio ponderou que estava no exercício de um direito assegurado pela Constituição da República; que não se cogitava de desrespeitar as autoridades. A resposta foi a ordem de prisão contra ele, seguida de um tumulto incontrolável. Atravessado por uma bala, Bráulio caiu ferido mortalmente. Seu corpo, inicialmente colocado no saguão do Palácio, foi depois transportado para a casa do seu irmão Pedro.
Nos dias que se seguiram, Maceió continuou sob forte tensão com o povo nas ruas continuava promovendo manifestações. Entre elas, o funeral de Bráulio, num cortejo de cerca de oito mil pessoas, número significativo, considerando que a população de Maceió, em 1920, seria de 74.166, segundo o IBGE.
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Publicado na Gazeta de Alagoas, edição de 3 de março de 2012.

Um comentário:

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

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Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


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PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia