sábado, 11 de setembro de 2021

PEDRO DE ORLEANS E BRAGANÇA NA CACHOEIRA DE PAULO AFONSO

 

Por Etevaldo Amorim


É muito conhecida a viagem que o Imperador Dom Pedro II empreendeu às províncias do Norte, em 1859, particularmente pela sua visita à Cachoeira de Paulo Afonso. Na ocasião, acompanhado de numerosa comitiva, da qual faziam parte personagens destacados da história do Brasil, como Tamandaré e Barroso, o monarca registrou em seu diário as suas impressões sobre as localidades por que passou.

Pedro de Orleans e Bragança

Mas pouco se sabe acerca da visita de um outro Pedro à célebre cachoeira. Trata-se de Dom Pedro de Alcântara Orleans e Bragança, filho da Princesa Isabel e do Conde D’Eu e, portanto, seu neto.

No dia 15 de outubro de 1925, ele chegou ao Rio de Janeiro, a bordo do transatlântico Elbée, justo no dia em que completava 50 anos, para assistir às comemorações do centenário de nascimento do seu avô, o Imperador D. Pedro II.

Ao final do mês de abril de 1927, os jornais da Capital Federal já noticiam a viagem ao Norte do país.

Nos primeiros dias do mês de maio, desembarca em Maceió, acompanhado da esposa, Princesa Elizabeth, e de sua filha Isabel, de apenas 17 anos, sendo recebido pelo governador Costa Rego (24/06/1924-07/06/1928). Em companhia deste, visitaram o busto de D. Pedro II, na praça de mesmo nome; a Catedral, além de outros pontos importantes da cidade. O Governador o convidou a se demorar em Alagoas. Combinaram que, no retorno da viagem aos Estados do Norte, iriam juntos até à Cachoeira de Paulo Afonso.[i] Ele próprio, o Governador, já estivera em visita às cachoeiras em junho de 1925. Aliás, o governador Costa Rego declarou, em Relatório enviado à Assembleia Legislativa, ter o Estado dispendido a importância de 159$500 (Cento e Cinquenta e Nove Mil e Quinhentos Réis).


D. Pedro de Orleans e a princesa Elisabeth, ao desembarque no Rio de Janeiro, com seus filhos Isabel de Orléans e Bragança (a moça de tranças), Pedro de Alcântara Gastão de Orléans e Bragança, Maria Francisca de Orléans e Bragança, João Maria de Orléans e Bragança e Teresa Teodora de Orléans e Bragança. Foto: Frou-Frou, outubro de 1925.

No dia 4 de maio, chega ao Recife, a bordo do vapor Itapuí. Hospedou-se no palacete do Conde Pereira Carneiro, na Rua das Ninfas.[ii] Nos três dias em que permaneceu na capital pernambucana, visitou a Faculdade de Direito, o Colégio Salesiano, a Santa Casa de Misericórdia e o Instituto Histórico de Pernambuco. E segue viagem.


Dia 11, Fortaleza. Recebidos pelo governador Desembargador José Moreira da Rocha (12/07/1924-19/05/1928), dirigiram-se à Praça do Ferreira. Visitaram a Catedral, o Palácio do Governo, o Colégio Militar, o Colégio da Imaculada Conceição, o Quartel do 23º Batalhão de Caçadores e a Escola de Aprendizes Marinheiros.[iii]


Dia 12, em São Luís, demorando-se algumas horas, visitando os principais pontos da cidade em companhia do governador José Maria Magalhães de Almeida (01/03/1926-01/03/1930).[iv]


Dia 16, chega a Belém. Na Capital paraense, os jornais da época relatam o encontro do príncipe com uma senhora negra, octogenária, que se apresentou a ele dizendo ter sido escrava do Conde D’Eu, e que o tinha embalado em seus braços quando criança. Depois de gentil acolhida, diz o Jornal do Recife, de 19 de maio de 1927, D. Pedro “lhe entregou um generoso mimo como lembrança daquele encontro após tantos anos de separação. ”


Dia 23, chega a Manaus a bordo do vapor Distrito Federal. Recepcionados pelas autoridades locais, o Major Floriano Machado e o Capitão Oliveira Goes, além do Governador do Acre, Hugo Carneiro, concentraram-se na Praça Oswaldo Cruz, sob aclamação popular. É o que conta o Jornal do Comércio, de 24 de maio de 1927.


Em viagem de retorno, a 13 de junho, nova passagem por São Luís de retorno do Norte, a bordo do vapor Itambé. Visita a redação do jornal Pacotilha. Dia 18. Chega a Teresina de trem. Dia 23, desembarca em Sobral, vindo de Teresina de trem. Dia 1º de julho – Natal.[v]


Dia 3 de julho, de volta do Recife, visita a Câmara e Senado e o Barão de Suassuna, na Usina Limoeirinho. A essa altura, os planos para a visita às cachoeiras estariam mudando. A promessa feita ao Governador Costa Rego não se cumpriria, pois se apresentava uma outra rota mais vantajosa: partir de trem para Garanhuns e, de lá, penetrar o território alagoano até chegar à Pedra de Delmiro.


Nota do O Jornal, do Rio de Janeiro, de 5 de julho, informa que o Governador de Pernambuco, Estácio Coimbra, ofereceu o seu automóvel oficial para o traslado do príncipe e sua família em suas visitas na Capital. Notícias outras, no entanto, falam da sua chegada àquela importante cidade do interior pernambucano na gare da Great Western.

Vista parcial de Garanhuns tomada do Alto da Boa Vista. Contava 2.350 casas e cerca de 10 mil habitantes. Foto: Revista de Pernambuco, 1925.


No dia 7, segue para Garanhuns, de onde partirá para a Vila da Pedra e Cachoeira de Paulo Afonso. Na Estação da Great Western de Garanhuns, foram recebidos por um grande número de pessoas. Entre elas o Coronel Euclides Dourado, Prefeito do Município; os doutores Jonathas Costa, Claudio Cavalcanti e Alfredo Vieira, Juiz de Direito, Juiz Municipal de Promotor Público, respectivamente; Dom João Moura, Bispo Diocesano; além de representantes da imprensa e associações locais. Senhoras e senhoritas lhes ofereceram lindas corbeilles de flores naturais, diz o Jornal do Recife em sua edição do dia 16 de julho de 1927.


Às expensas da edilidade, foram reservados aposentos no Hotel Motta, o melhor da cidade, localizado a poucos passos da Estação, “com instalações de água encanada e eletricidade”, diz o anúncio nos jornais da época. O estabelecimento fundado em 1880, ganhara novo prédio, inaugurado no dia 11 de abril de 1909. Seu proprietário era o Sr. José Motta.


O Cel. Almeida Filho (José de Almeida Filho, Ex-Prefeito do município e proprietário da Empresa Melhoramentos de Garanhuns) representante ali da Fábrica da Pedra, ofereceu os automóveis de que precisavam para a viagem à Vila da Pedra e Cachoeira. Aliás, lembra a reportagem, foi o pai do ilustre visitante, o Conde D’Eu, quem inaugurou o Ramal Glicério-Garanhuns, em 1889. A Estação Glicério passou a se chamar, a partir de 1940, Paquevira.


NA VILA DA PEDRA       


Às nove horas da noite do dia 8 de julho, os automóveis em que viajava a comitiva chegam à vila da Pedra. Além de sua esposa e filha, acompanhavam o Príncipe o seu secretário Tenente Mário Baldi[vi] e o Dr. Pedro Luiz Correia de Araújo,[vii] seu amigo particular.


Dirigindo-se à casa do Gerente da Fábrica de Linhas, Dr. Horácio Bráz da Cunha[viii]. Acompanhado pelo Sr. Manoel Simões Barbosa[ix], Presidente da Companhia Agro Fabril Mercantil,[x] apresentaram os visitantes aos presentes: Vice-Governador: Luiz Torres[xi], que representava o Governador Costa Rego, e o seu irmão Dr. Miguel Torres[xii]. Juiz de Direito de Água Branca; e o Sr. Aníbal Bebiano, técnico da Fábrica.[xiii]


A reportagem do jornal Correio da Pedra faz questão de mencionar o aspecto pessoal dos visitantes, informando que “trajava o Príncipe D. Pedro calça de brim amarelo e paletó de brim de cor diferente. Sua Alteza princesa Elisabeth, vestido de fazenda listrada e a princesa Isabel, blusa de maillot (Jersey) e saia azul. Os longos cabelos da jovem princesa de Orleans caiam-lhes pelos ombros divididos em duas bonitas tranças, a cujas extremidades se achavam presos lindos laços de fita”.


Falando sobre a viagem, D. Pedro disse ter tido boa impressão de tudo que vira; e não demonstrou incômodo com as condições das estradas, posto que já passara por outras piores. Jantaram às 22:00h.


No dia seguinte, 9 de julho, às 8:45h, os membros da comitiva, em seis automóveis, seguiram para a Cachoeira Paulo Afonso. O primeiro deles ocupado pelas princesas Elisabeth e Isabel, e o Dr. Horácio Bráz da Cunha. No segundo, iam o Príncipe D. Pedro e o Sr. Manoel Simões Barbosa. Os outros quatro eram ocupados por pessoas gradas da Vila.


Às 9:35h, já estavam nas cachoeiras. Depois de avistarem as grandes quedas, descerem pela escada “em parafuso” à Usina, tendo chegado ali em primeiro lugar a princesa Isabel.


Voltando, fizeram uma parada para descanso na casa da Diretoria, onde o Engenheiro Eletricista italiano Valentino Somigliana, ofereceu-lhes vermouth, que foi tomado por todos, exceto por Suas Altezas Imperiais, que preferiram café.

Após o descanso, seguiram a visitar a placa de bronze colocada pelo Engenheiro Carlos de Mornay, em 1869, por ordem do Presidente da Província das Alagoas José Bento da Cunha Figueiredo Junior, local que marca a visita do Imperador D. Pedro II, em 1859. O fotógrafo Álvaro Lemos[xiv] fez várias fotos desses momentos.

Volta, então, o repórter a tratar dos trajes dos visitantes imperiais. A princesa de Orleans trajava verde escuro e a princesa Isabel vestido listrado com cinto amarelo. O príncipe calça amarela e paletó de casimira cinzenta.

Às 12:00 estavam de regresso quando, no Cordeiro, encontraram-se com o Major José Lucena,[xv] Comandante das Forças Centro-Oeste do Estado, destacado em Água Branca. Por ordem do governador Costa Rego, veio colocar-se à disposição de D. Pedro de Orleans enquanto permanecesse em nosso Estado.

Registre-se que tal providência se revelava de grande valia, uma vez que grupos de cangaceiros já atuavam naquela Região. O próprio Major Lucena, há bem pouco tempo, fora vítima de uma emboscada no lugar denominado Salgado, próximo à Vila da Pedra, em que saiu sem vida o Capitão Eutíquio Raphael de Medeiros. Estava com eles o Juiz de Direito Miguel Torres, aqui referido. Ainda em dezembro daquele ano, seriam pronunciados os réus José Barbadinho, Anízio de Tal e Pedro Moreno pelo crime de homicídio contra o Capitão Euthíquio e tentativa de homicídio contra o major José Lucena de Albuquerque Maranhão. Foi despronunciado o suposto cúmplice Joé Torquato da Silva.[xvi]

Às 12:50h, entravam de novo na Vila da Pedra. Após o almoço e descanso, o príncipe, sua esposa e filha, acompanhados dos Srs. Dr. Horácio, Manoel Simões, Dr. Correia de Araújo e Major José Lucena, fizeram demorada visita às instalações da Fábrica e à Redação do Correio da Pedra, aonde chegaram às 15:30h, detendo-se na seção de Litho Typo.

Trajava nessa ocasião a princesa Elisabeth lindo vestido de seda cinzenta e trazia lindo colar de pérola. No corpete ostentava-se bonita rosa vermelha. A princesa Isabel trajava vestido simples e chic. Duas formosas tranças desciam-lhe nos ombros. De uma simplicidade encantadora, indagava vivazmente a utilidade de cada uma das máquinas da seção e dos serviços por ela realizados.

O Sr. Casimiro Novaes, Administrador Interno da via férrea Paulo Afonso (o titular era o Coronel Luiz Vieira, que se achava na Capital) apresentou-se ao príncipe como representante da Great Western e pôs a sua disposição um trem para o percurso Pedra-Piranhas.

A reportagem conclui dizendo que todas as pessoas que visitaram os descendentes da família imperial saíram agradavelmente impressionados com os seus modos simples e fidalgos.

No livro de visitantes da Cachoeira de Paulo Afonso, D. Pedro Orleans deixou as seguintes impressões:

Deslumbrados pela grandeza da cachoeira Paulo Afonso, assim como pela habilidade e esforços dos engenheiros que aproveitaram esta força, vemos nesse ponto da terra brasileira um grande futuro de progresso para nossa Pátria”.

(Pedro Orleans Bragança, Elisabeth princesa de Orleans Bragança, Isabel de Orleans Bragança).

Em notícia do Diário da Noite, de São Paulo, de 14 de julho de 1927, temos:

“MACEIÓ, 14. O príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança, acompanhado de sua família, durante a excursão que realizou pelo interior deste Estado, esteve na cidade operária da Pedra e visitou a cachoeira de Paulo Afonso. Dom Pedro e sua família seguiram pelo interior com destino ao Sergipe, de onde passarão depois à Bahia. ”

Com efeito, da Estação da Pedra, tomaram o trem para Piranhas. Na pitoresca cidade alagoana, ponto inicial da Estrada de Ferro Paulo Afonso, o fotógrafo registrou o aspecto do São Francisco: as altas serras, o rio pedregoso e, particularmente, a canoa em que se deslocariam até Propriá.

Na sequência, as fotografias feitas por Baldi, sobre as quais fazemos alguns comentários.

A princesa Isabel de Orleans posa ao lado de um mandacaru-gigante. "Seus longos cabelos caiam-lhes pelos ombros, divididos em duas bonitas tranças, a cujas extremidades se achavam presos lindos laços de fita." Foto: Mário Baldi,1927.

Pedro Luiz Correia de Araújo


Vila operária da Pedra.


Estação da Pedra


Automóveis atravessando um riacho. Foto: Mário Baldi

Em um “trole” sobre uma linha férrea da Fábrica da Pedra. Foto: Mário Baldi.





Diversos pontos da cachoeira. Foto: Mário Baldi




Piranhas. Crianças brincam com réplica de canoa. Foto: Mário Baldi, 1927.


Piranhas. Canoa de tolda em que viajaram até Propriá-SE. Foto Mário Baldi.

O fotógrafo Mário Baldi, sob o toldo, fez essa tomada em que aparecem a Princesa Elisabeth, a sua filha Isabel, o Príncipe D. Pedro de Orleans e um tripulante da canoa. Ao fundo, vê-se o pano traseiro da canoa. Foto: Mário Baldi.


Sob o toldo, mas desta feita no sentido da proa da canoa, Mário Baldi flagra a Princesa Elisabeth sentada sobre uma esteira de piripiri. Ao fundo, vê-se a porta de entrada da tolda.



A princesa Isabel de Orleans sentada sob o toldo. Em primeiro plano, a prancha de embarque/desembarque. Ao fundo, D. Pedro e a Princesa Elisabeth sentados sobre o banco postado defronte à tolda.


Nesta tomada do alto, vemos a tolda em primeiro plano; a princesa Elisabeth entre esta e o toldo; a prancha de embarque/desembarque; Dom Pedro de Orleans e o piloto ao lado do pano traseiro.


Tomada da popa da canoa, esta foto mostra o toldo de lona que se usava para proteger passageiros e mercadorias. Ao fundo, a tolda e o pano de proa enluvado (fechado). O ponto luminoso no interior da tolda é a escotilha de proa que, além de oferecer arejamento, também projeta, à noite, um feixe de luz produzida pelo lampião. É o que os canoeiros chamavam “farol”.


Nesta foto, Mário Baldi mostra a canoa por inteiro: a popa, vendo-se o leme, em cuja parte superior (chamada “cabeça do leme”) se insere a “cana-de-leme”, por meio da qual o piloto manobra a embarcação. Um remo repousa sobre o “carro-de-popa”, esse compartimento que encobre o porão, espécie de convés. Um toldo feito de lona encobre quase todo o vão intermediário da embarcação. À frente, a tolda coberta com palhas de coqueiro, sobre a qual o piloto faz reparos no pano de proa. 


A canoa em porto na região de Piranhas. Foto: Mário Baldi


A progressista cidade de Propriá-Sergipe. Foto: Mário Baldi.


O casal Pedro e Elisabeth sentado sobre o banco anterior da tolda. À esquerda, uma das escotilhas da tolda, para permitir a passagem de luz a ar. Foto: Mário Baldi. 


Presume-se que tenham viajado na noite do dia anterior (domingo), chegando a Propriá na manhã do dia 11.

No dia 13 de julho já estava em Salvador. Visitou as cidades de Cachoeira, São Félix e Feira de Santana. No dia 23, seguiram para o Rio de Janeiro a bordo do vapor Itaquatiara.

No dia 8 de agosto, o príncipe visita o Presidente da República Washington Luís (15/11/1926-24/10/1930) e, no dia 30, Parte para a Europa a bordo do vapor Raul Soares.

Pão de Açúcar, 2009. O Governador de Alagoas,Teotônio Vilela Filho; Dom João Henrique de Orleans-trineto de D. Pedro II e Bragança e o Prefeito Jasson Silva Gonçalves, diante do Sobrado que hospedou D. Pedro II em 1859.


*****      *****

O fotógrafo, que também servia de secretário particular, é um personagem digno de registro.

Mário Baldi. Foto: Revista Manchete, 1954.


Mario Joseph Anton Johann Baldi, mais conhecido como Mario Baldi ou apenas Baldi, nasceu em 18 de janeiro de 1896, na cidade austríaca de Salzburg, Europa. Filho do comerciante Alois Baldi e Louisa Baldi, vinha de uma família de artistas e comerciantes, emigrada da Itália para a Áustria em meados do século XIX.

Após a Primeira Guerra (1914-1918), deixou seu país em direção ao Brasil com seu irmão mais novo, Herbert, e desembarcou no Rio de Janeiro do vapor Poconé, uma antiga embarcação alemã incorporada à frota do Lloyd Brasileiro em 24 de março de 1921.

No mesmo navio vieram dois outros jornalistas alemães: Herhar Herz e Érich Weiser, com os quais Baldi havia trabalhado em diversos jornais de Berlim. Para suavizar a monotonia da viagem, Baldi fazia diariamente, à máquina, um pequeno jornal em que publicava todas as ocorrências de bordo, informando também, a cada dia, a distância em que o vapor se encontrava do Rio. Todos os dias, à tarde, o jornalzinho era afixado em um determinado ponto, sendo lido por todos. Aliás, era muito apreciado devido a uma seção de indiscrições.

Lá pela segunda metade da década de 1920, Baldi trabalhou na casa imperial em Petrópolis, onde conheceu o príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança. De empregado, Baldi passou a seu secretário e fotógrafo particular, e o acompanhou em viagens por todo o Brasil, como esta às províncias do Norte. As imagens produzidas nesse contexto foram aos poucos chegando à imprensa ilustrada brasileira. O fotógrafo retornou à Europa com D. Pedro em 1928.

Retornou ao Brasil e, nos anos 1950, Baldi já não tinha vínculos oficiais com a imprensa (havia deixado o jornal A Noite e se transferido para os Diários Associados em 1949). Continuou a publicar seus materiais em revistas como Manchete e outras europeias com as quais ainda mantinha contato. Casou-se pela segunda vez em 1955 com a holandesa Ruth Yvonne Fimmen (Emmy Baldi, sua primeira esposa,morrera vítima de câncer em 1953).

Em 1957, numa trágica viagem à região dos índios Tapirapé em Mato Grosso, Ruth foi morta por uma picada de cobra cascavel e, na tarde do mesmo dia, Mario Baldi sofreu um ataque cardíaco, vindo a falecer. Ambos foram enterrados na aldeia. Em 1961, uma fotografia da sepultura do casal foi feita pelo amigo Rubens Stückenbruck. É esse o último registro fotográfico da trajetória do fotógrafo austro-brasileiro Mario Baldi. Ele nos deixou as fotografias que ilustram este texto.[xvii]

PEDRO DE ALCÂNTARA DE ORLEANS E BRAGANÇA. Nasceu em Petrópolis, RJ, a 15 de outubro de 1875. Faleceu a 29 de janeiro de 1940 em Petrópolis.

ELISABETH MARIA ADELHEID DOBRZENICZ. Nascida em Chotěboř, perto de Praga, a 7 de dezembro de 1875, território então pertencente ao Império Austro-Húngaro (1867-1918) e hoje pertencente à República Tcheca, Elisabeth Dobrzensky era a única filha de Jan Vaclav II (1841-1919), conde João Dobrezensky de Dobrzenicz, e de sua esposa, Elizabeth de Kottulin e Krzischkowitz (1850-1929), Condessa de Kotulinsky von Kotulin[xviii]. Faleceu a 10 de junho de 1951, na Quinta do Anjinho, em Sintra, Portugal. Foi sepultada no dia 25 de julho do mesmo ano em Petrópolis.[xix]

ISABEL DE ORLEANS E BRAGANÇA. Nasceu no Castelo d'Eu, Sena Marítimo, 13 de agosto de 1911 e faleceu a 5 de julho de 2003). Casou-se aos 19 anos no dia 8 de abril de 1931, em Palermo, com seu primo Henrique de Orléans, Conde de Paris.Tornou-se escritora. Tornou-se escritora, com o livro DE TODO CORAÇÃO, publicado simultaneamente na França e no Brasil.

Em 2009, por ocasião das comemorações do sesquicentenário da visita do Imperador Pedro II à Cachoeira de Paulo Afonso, seu trineto, o Príncipe Dom João Henrique de Orleans e Bragança, filho de João Maria de Orléans e Bragança e da egípcia Fátima Scherifa Chirine, participou da caravana Caminhos do Imperador, revisitando todas as cidades ribeirinhas.

***   ***

Caro leitor,

 

Este Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, contém postagens com informações históricas resultantes de pesquisas, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso algumas delas seja do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.

***   ***

Nossos agradecimentos ao Professor Edvaldo Nascimento, prestigiado historiador da bela Delmiro Gouveia, pela cessão da reportagem do Correio da Pedra.

 



[i] JORNAL DO RECIFE. 6 de maio de 1927.

[ii] A PROVÍNDIA, 4 de maio de 1927.

[iii] O IMPARCIAL, Fortaleza, 12 de maio de 1927.

[iv] FOLHA DO POVO, São Luis, 12 de maio de 1927.

[v] O JORNAL, RJ, 3 de julho de 1927.

[vi] LOPES, Marcos F. de Brum. 2010. Mario Baldi: experiências fotográficas e a trajetória do “repórter perfeito” – (1896-1957). Dissertação de mestrado. Niterói: UFF.

[vii] Pedro Luiz Correia de Araújo (Paris, França, 11/05/1881 – Rio de Janeiro, RJ,10/11/1955). Pintor, desenhista e professor. De família tradicional pernambucana, é educado em Recife, onde se forma em Direito. Abandona a carreira jurídica e vai a Paris no início do século XX para estudar arte. Afasta-se dos métodos acadêmicos e torna-se autodidata. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural.

Filho de Pedro Francisco Correia de Araújo e Gasparina dos S. Correia de Araújo. Formado em Direito pela Faculdade do Recife. Era casado com a Srª Lilli Correia de Araújo, com que teve os filhos Pedro Gaspar Correia de Araújo (ceramista) e Luiz Correia de Araújo (proprietário de loja de plantas no Rio de Janeiro). Fonte: Correio da Manhã, RJ, 17/11/1955.

[viii] Horácio Bráz da Cunha. Gerente da Fábrica de Linhas. Filho do industrial Antônio Bráz da Cunha e de Hortência da Veiga Braz da Cunha. Nasceu no Recife a 7 de setembro de 1893. Casado com Ruth Macedo Thompson. Almirante reformado, faleceu no Rio de Janeiro a 22 de junho de 1966.

[ix] MANOEL SIMÕES BARBOSA. Nasceu em 1892. Conhecido por “Nozinho”. Natural do Recife. Filho de Adolpho Simões Barbosa e Ângela Parente Vianna Simões Barbosa. Casado com Corina Câmara Simões Barbosa. Faleceu no Rio de Janeiro a 16 de junho de 1939, quando era Diretor-Tesoureiro Companhia Brasileira de Construções e Comércio – BRACO S/A.

[x] CORREIA DA PEDRA, 10 de julho de 1927.

[xi] Luiz Vieira de Siqueira Torres, filho do Barão de Água Branca. (Água Branca - AL  15/05/1864 - Água Branca - AL 10/06/1928). Engenheiro Agrônomo formado pela Imperial Escola Agrícola da Bahia em 1890. Deputado estadual nas legislaturas 1897-98; 99-1900; 1915-16 e 19-20. Eleito senador para a legislatura 1921-22, logo depois renunciou para assumir o cargo de vice-governador do Estado, para o período do governo Costa Rego. Fonte: ABC das Alagoas. BARROS, Francisco Reynaldo Amorim de. Foi casado com Cecília Dourado Torres, de cujo casamento não deixou filhos. Fonte: A PROVÍNCIA, Recife, 14 de junho de 1928.

[xii] Miguel Arcanjo de Siqueira Torres. Nasceu a 14 de junho de 1857. Iniciou o curso de Direito na Faculdade de São Paulo (1883-1884), e concluído na Faculdade do Recife (1885-1886-1887). Em 12 de outubro de 1889, foi nomeado Juiz Municipal em Penedo e, por muitos anos, foi Juiz de Direito de Água Branca, aposentando-se em 29 de julho de 1931. Era casado com uma filha de Teófilo Fernandes dos Santos.

[xiii] ANNÍBAL BEBIANO. Recentemente chegado a Alagoas. Antes, foi técnico da Companhia Fiação e Tecidos Corcovado e Companhia Aliança e gerente da Fábrica de Tecidos Carioca. Nasceu no Rio de Janeiro em 1880. Filho de Domingos Bebiano e Cândida Freitas Bebiano. Casado com a inglesa Madeleine Chapman. Faleceu a 16 de setembro de 1955.

[xiv] Álvaro Lemos era comerciante em Garanhuns. Tinha uma filha chamada Florinda Lemos, que casou com José da Silva Rosa, co-proprietário do Hotel Motta. Em 1923, em parceria com Abdísio Vespasiano, publicou o Álbum de Garanhuns.

[xv] José Lucena de Albuquerque Maranhão. Depois, Coronel Lucena Maranhão, conhecido perseguidor do bando de Lampião. Nasceu em Quebrangulo - AL 15/5/1893. Deputado estadual, militar. Foi o primeiro prefeito constituinte eleito em Maceió, em 1953, tendo sido antes prefeito de Santana do Ipanema. Deputado estadual, pelo PST, na legislatura 1951-55. Patrono da cadeira nº 19 da ASLAC. Faleceu no Recife a 19 de maio de 1955, aos 62 anos de idade, sendo sepultado em Maceió.

[xvi] DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 4 de dezembro de 1927.

[xvii] LOPES, Marcos Felipe de Brum. Mário Baldi – Fotografias e narrativas da alteridade da primeira metade do século XX. Universidade Federal Fluminense, 2014.

[xviii] ANUÁRIO DO MUSEU IMPERIAL, 1953.

[xix] DIÁRIO DE NOTÍCIAS, RJ, 12 de junho de 1951.

 



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A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

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Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia