Por Etevaldo Amorim
O Pe. Lindolfo. Foto: Paróquia de NS de Fátima |
Houve um tempo, lá pelo início da década de 1970, em que os moradores do Limoeiro, pequeno povoado pertencente ao município de Pão de Açúcar, contavam nos dedos os seus filhos que lograram alcançar uma formação superior. Mesmo em todo o município, o historiador Aldemar de Mendonça, em seu livro MONOGRAFIA DE PÃO DE AÇÚCAR, só conseguiu enumerar, 52 pessoas.
Contavam apenas quatro limoeirenses: o Dr. Pedro Soares Vieira, Advogado, filho do Sr. Inocêncio Vieira e de dona Otília dos Anjos; o Dr. Neiwton Silva, Engenheiro Agrônomo, filho do Sr. Jaime Silva e dona Maria Alves Feitosa; e mais dois sacerdotes: o Padre Paulo Lima, filho do Sr. Jaime Castro e de dona Maria dos Prazeres Lima (Dona Prazerinha); e o Padre Lindolfo Lisboa, filho de Filinto Aragão Lisboa e dona Leopoldina Fernandes de Melo.
É esta a personalidade que enfocamos hoje. Pouco conhecido, pois deixou sua terra natal muito cedo e, ao que nos consta, não mais retornou, o Padre Lindolfo ali deixou seu irmão Danúbio e sues meios-irmãos Lauro Lisboa, Lienarde e dona Leonor (casada com o Sr. José Lima Sobrinho), estes de um segundo relacionamento de seu pai com a Srª Maria Umbiliana Rocha Lisboa, conhecida por “Maria do Ouro”.
Ele nasceu em Limoeiro (por muitos anos chamado Alecrim), no município alagoano de Pão de Açúcar, situado na margem esquerda do Rio São Francisco, no dia 1º de agosto de 1929.
Depois de longa carreira eclesiástica, toda ela na cidade do Rio de Janeiro, soubemos agora do seu falecimento, no dia 15 de setembro último.
De uma nota do Arcebispo Dom Orani Tempesta, publicada no Site do Arquidiocese, temos muitas informações sobre ele:
“Monsenhor Lindolfo Lisboa na casa do Pai
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2024
Com profundo pesar, comunicamos a partida do vigário paroquial no Santuário São Judas Tadeu, no Cosme Velho, monsenhor Lindolfo Lisboa, para a Casa do Pai, ocorrida neste domingo, 15 de setembro, às 21h, na CTI do Hospital São Lucas, no Rio de Janeiro, aos 95 anos e 63 anos de sacerdócio.
O corpo de monsenhor Lindolfo será velado no Santuário São Judas Tadeu, em Cosme Velho, na segunda-feira, dia 16 de setembro, e a missa de exéquias será às 14h30, seguida de sepultamento na quadra dos padres da Irmandade de São Pedro, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.
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Formou-se no Seminário Arquidiocesano de São José, cursando Filosofia de 1955 a 1957, e Teologia de 1958 a 1961. Recebeu a ordenação diaconal no dia 12 de março de 1961 e, pelas mãos do Cardeal Jaime de Barros Câmara, a ordenação sacerdotal, no dia 29 de junho do mesmo ano.
Como sacerdote, monsenhor Lindolfo, exerceu os ofícios de coadjutor na Paróquia Santo André, em São Cristóvão (nomeado em 1962), capelão do Hospital São Sebastião (nomeado em 1962), pároco da Paróquia Menino Jesus de Praga, em Bangu (nomeado em 1965), vigário cooperador na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana (nomeado em abril de 1971), pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Marechal Hermes (nomeado em outubro de 1973), pároco da Paróquia Nossa Senhora da Luz, no Rocha (nomeado em setembro de 1999), e vigário paroquial no Santuário São Judas Tadeu, no Cosme Velho (nomeado em fevereiro de 2005).
No dia 30 de maio de 2016, o Papa Francisco lhe conferiu, por nossa proposta, o título de Capelão de Sua Santidade, mais conhecido como monsenhor, em reconhecimento pelos serviços que prestou à Igreja do Rio de Janeiro.
À luz da liturgia deste 24º Domingo do Tempo Comum, podemos afirmar que, nos primeiros anos de sua vida, monsenhor Lindolfo foi convidando pelo Senhor a segui-lo (Mc 8, 34). Renunciando a si mesmo ele aceitou o chamado, e na presença do Senhor carregou sua cruz (Sl 114, 9), proclamou que Cristo é o filho de Deus (Mc 8, 29), deu testemunho de sua fé pelas obras e (Tg 2,18), na hora de sua partida para a eternidade, teve a certeza que salvou sua vida por causa de Cristo e do Evangelho (Mc 8, 35).
Ao reitor e pároco do Santuário São Judas em Cosme Velho, monsenhor Henrique Jorge Diegues, ao clero diocesano, familiares, amigos e fiéis que conviveram ou estiveram sob o pastoreio de monsenhor Lindolfo, manifesto minha unidade, solidariedade e orações.
Monsenhor Lindolfo combateu o bom combate, completou a corrida, guardou a fé e agora lhe está reservada a coroa da justiça (2Tm 4,7-8). Fortalecidos pela esperança que não decepciona (Rm 5,5), conquistada na cruz, pelo sangue de Jesus Cristo, Nosso Senhor, rezemos pelo seu descanso eterno e louvamos a Deus pela sua vida e vocação, pelo bem que fez e os exemplos que dele recebemos.
Que Maria Santíssima, a Senhora das Dores, que contemplamos pela fé, aos pés da cruz, tendo nos braços o corpo sem vida de seu Filho, seja a intercessora de monsenhor Lindolfo para que ele, sem dores e sofrimentos, possa viver a bem-aventurança eterna.
Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno. E que a luz perpétua os ilumine. Descansem em paz. Amém.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro-RJ.
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O Mons. Lindolfo Lisboa. Foto: Arquidiocese do RJ. |
Sobre a sua passagem pela Paróquia do Menino Jesus de Praga, o jornal católico A CRUZ, em edição de 26 de fevereiro de 1967, noticiou o que seria o nascedouro daquela circunscrição religiosa e o enorme esforço desprendido pelo padre, no tempo em que morava na casa numero 11, da Rua Eletricista:
“VILA ALIANÇA - PARÓQUIA DO MENINO JESUS DE PRAGA
Uma paróquia que se levanta. Vila Aliança, Bangu. Clima ameno, em cerca de 2 quilômetros de extensão, surge a Paróquia do Menino Jesus de Praga. Ali vivem perto de 10.000 almas. Gente humilde, pobre mas, sobretudo, trabalhadora. Nela, com grande dificuldade, num exíguo barraco de madeira onde as chuvas penetram intensamente, o atual pároco Reverendíssimo Lindolfo Lisboa celebra os Santos Ofícios. Com a ajuda do povo local, e com esmolas de outras igrejas, o reverendo construiu um modesto salão paroquial de 11 x 22, faltando apenas a cobertura para ter a edificação da futura igreja da paróquia.”
Em pequenas notícias de jornal, aqui e acolá encontramos traços da sua personalidade. Em 1970, em meio a acirradas discussões sobre uso de cabelos grandes pelos homens e uso de calças pelas mulheres, o jornal carioca Correio da Manhã publica uma matéria intitulada TODOS CONTRA PROIBIÇÃO DOS CABELUDOS NO FORUM.
O Tribunal de Justiça havia baixado uma Portaria proibindo o acesso de “cabeludos e barbudos) no forum do Estado da Guanabara (Unidade Federativa constituída apenas pela cidade do Rio de Janeiro, ex-Capital Federal, depois unificada à do Estado do Rio de Janeiro).
Dizia a matéria que Afonsinho, jogador do meio-campo do Botafogo, estudante do 3º ano de medicina, ameaçava deixar o futebol se fosse obrigado a tirar a barba. Dizia ele: “eu não tiro a barba de jeito nenhum”.
Por outro lado, o Governador Negrão de Lima aprovava o uso de calças compridas pelas funcionárias do Estado.
Sobre isso, disse o Padre Lindolfo:
“Autoridade é autoridade. Mas, na minha opinião, não há problema se a pessoa usa cabelo comprido ou não, desde que respeite a ordem. Quanto à quersão de a moça trabalhar de calça comprida, acho mais decente do que a mini-saia. O importante é a decência e a virtude está no meio termo. O carater do cabeludo não é determinado pela aparência, é só uma questão de ética, porque se o cabelo for muito comprido, é até anti- higiênico.”
Flamenguista declarado, o Padre Lindolfo era visitado constantemente em sua paróquia de São Judas Tadeu (padroeiro do Clube) para benzer as camisas dos jogadores e rezar pelo sucesso nas pelejas futebolísticas.
Pe. Lindolfo com Joel Santana e Márcio Braga. Foto Cézar Loureiro, Agência O Globo. Correio Braziliente, 11/03/2008 |
HOMENAGEM.
Em 1995, em Sessão Plenária realizada em 31 de março de 1995 a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou o Requerimento n º 611, de autoria do Vereador Américo Camargo, concedendo a Medalha do Mérito Pedro Ernesto ao Padre Lindolfo Lisboa. A Resolução, que tomou o número 2.646, foi publicada no Diário da Câmara Municipal em 5 de abril de 1995. É a mais alta condecoração concedida pela Câmara do Rio de Janeiro.
O Mons. Lindolfo |
O Mons. Lindolfo com o Arcebispo D. Orani Tempesta. |
Limoeiro (Alecrim), Pão de Açúcar-AL, terra natal do Pe. Lindolfo, 1968. Foto: Jim Squires |
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NOTA:
Caro leitor,
Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo.
Tratamento de imagens: Vívia Rodrigues Amorim.
Mons. Lisboa, 95 anos! Conheço a Igreja de São Judas Tadeu, no Cosme Velho, final da rua das Laranjeiras, no bairro homônimo. Nos anos 1950, o pároco do Cosme Velho era o Padre Campos Góes, torcedor fanático do Flamengo, que recebia vez por outra em suas missas jogadores rubro-negros interessados na 'ajuda' celestial para melhorar o desempenho da equipe do treinador Freitas Solich em campo. Dizem que as aspersões de água benta do Padre Campos Góes(não era meu parente-rs) foram decisivas na conquista do tricampeonato carioca de 1953/54/55, motivo até de reportagem na revista O Cruzeiro, do jornalista Mário Moraes que conheci pessoalmente no fim anos 1950 em Penedo. A mulher dele era penedense. Mário Moraes cobriu várias Copas do Mundo. Ele teve uma coluna intitulada 'A reportagem que não foi escrita'.
ResponderExcluirObrigado, Antônio Manoel!!!
ExcluirO resgate e registro, aqui neste respeitável blogue, de mais um personagem de nossa querida Pão de Açúcar, neste caso o Padre Lindolfo, que se enveredou por terras distantes, é por demais relevante para todos nós. Foram e são muitos conterrâneos que buscaram enfrentar seu destino longe de nossa terra, muitos logrando êxito em seus labores. Parabéns confrade, por mais essa bela homenagem.
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