sábado, julho 19

ILHA DO FERRO – UM POUCO DE HISTÓRIA

 

Por Etevaldo Amorim

 

A Arte em Madeira da Ilha do Ferro. Foto: Juliana Justino


Quem não conhece ou já ouviu falar na Ilha do Ferro?!

 

O pitoresco povoado alagoano, situado na margem esquerda do rio São Francisco e pertencente ao município de Pão de Açúcar, tornou-se popular principalmente pelos seus dotes artísticos e culturais, mas também tem como atrativo a singularidade de sua paisagem sertaneja.

 

O bordado “Boa noite”, marca da habilidade e da tradição cultural de seu povo, de há muito se tornou conhecido pelo Brasil afora e até no exterior. Organizadas na Cooperativa Art-Ilha, as artesãs conservam o conhecimento adquirido de seus antepassados e fazem disso uma considerável fonte de renda[i].

 

A arte em madeira também se destaca como formidável manifestação cultural daquela gente, aproveitando o legado do mestre Fernando Rodrigues.

 

A ilha, entre Bonsucesso-SE e Ilha do Ferro.

A ORIGEM

 

A origem do nome se deve à constitução geológica da ilha que lhe fica pronteira, formada de rochas “de caráter siderolítico”, isto é, que tem rochas ferruginosas. O termo tem origem no grego sideros, que significa ferro. A sua formação remonta a um período chamado sidérico ou sideriano, intervalo geológico que ocorreu entre 2.500 e 2.300 milhões de anos atrás, e que foi “marcado por intensas mudanças geológicas na superfície do planeta terra, como a formação de grandes depósitos de formações ferríferas bandadas (BIFs), oxigenação dos oceanos e da atmosfera”.[ii]

Mapa de Johannes Blaeuw, 1647.

Em mapas antigos, como o de Johannes Blaeuw, de 1647, Primeiro Mapa da Capitania de Sergipe Del Rey, que remonta à época da invasão holandesa, aparece a denominação Ilha do Ferro comum às duas margens. No decorrer do tempo, a localidade do lado sergipano recebeu o nome de Bonsucesso, restando o original apenas ao povoado alagoano.

 

O mapa de Halfeld, de 1860, também mostra Ilha do Ferro, ladeada pelas Traíras e pelo Buqueirão, tendo Bonsucesso defronte, na margem sergipana.


O mapa de Halfeld, 1860.


UM POUCO DE HISTÓRIA

 

Cuidaram da educação dos ilha-do-ferrenses os professores e professoras: Maria Jesuina da Costa, em 1894[iii]; Manoel Alves da Costa Lima[iv] e Juracy Lima, em 1929[v] e Regina Emirantina Bello, em 1937[vi].

Aliás, o professor Manoel Alves dá nome à Unidade Municipal de Ensino. Aliás, durante a gestão do Intendente Manel Pereira Filho (de 7 de janeiro de 1925 a 7  de janeiro de 1928), foi criada uma Escola Municipal, segundo consta da Mensagem do Governador Pedro da Costa Rego ao Congresso Legislativo, na abertura da 2ª Sessão Ordinária da 18ª Legislatura, em 1926.

Há também uma Escola Isolada, construída pelo Estado em 1952.[vii]

Ilha do Ferro foi também marcada pelo naufrágio da lancha Moxotó, em 10 de janeiro de 1917, tragédia inesquecível, que se mantém viva na memória de todos. Para saber mais clique aqui.


Pela Lei Estadual nº 2.284, de 11 de agosto de 1960, foi criado o distrito judiciário de Ilha do Ferro, tendo sido instalado alguns anos depois.[viii]

 

Em 1º de setembro de 1994 foi inaugurado o sistema de abastecimento de água de Ilha do Ferro, obra da Fundação Nacional de Saúde, durante a gestão do prefeito Antônio Carlos Lima Rezende - Cacalo e do presidente da Funasa, o médico pão-de-açucarense Álvaro Antônio Melo Machado.


Por volta de 1965/1968, o povoado recebeu a visita do Major Luis Cavalcante, governador e deputado federal nesse período. A fotografia mostra um povoado humilde, cuja população se mantinha à custa da pesca e da agricultura de subsistência.

 

O povoado Ilha do Ferro entre 1961/1965,


Ilha do Ferro recebe a visita do Major Luis Cavalcante.

A Ilha do Ferro, hoje, experimenta uma era de prosperidade, acolhendo a todos com alegria, e podendo oferecer infra-estrutura para os que a escolhem como para desfrutar do sossego e a paz de espírito que o lugar inspira.

Ilha do Ferro em foto da década de 1990.



Museu Ilha do Ferro

____

NOTA:

Caro leitor,

Deste Blog, que tem como tema “HISTÓRIA E LITERATURA”, constam artigos repletos de informações históricas relevantes. Essas postagens são o resultado de muita pesquisa, em geral com farta documentação e dotadas da competente referência bibliográfica. Por esta razão, solicitamos que, caso sejam do seu interesse para utilização em qualquer trabalho, que delas faça uso tirando o maior proveito possível, mas fazendo também o necessário registro de autoria e a citação das referências. Isso é correto e justo. Tratamento de imagem: Vívia Amorim

 



[i] BARROS, Rachel Rocha de Almeida. Bordado Boa-Noite da Ilha do Ferro: patrimônio cultural, geração de renda e desenvolvimento regional.

 

[ii] BRASIL MINERAL. MAIOR CONHECIMENTO SOBRE AS ROCHAS SIDERIANAS NO NE. Disponível em:

< https://www.brasilmineral.com.br/noticias/maior-conhecimento-sobre-rochas-siderianas-do-ne>. Acesso em: jul-2025.

 

[iii] Almanak do Estado de Alagoas.

 

[iv] Almanak Laemmert, 1929.

 

[v] REVISTA DO ENSINO, Órgão Oficial do Departamento Geral de Instrução Pública de Alagoas, Ano III, nº 75, maio-junho de 1929.

 

[vi] Almanaque do Ensino, 1937.

 

[vii] MENDONÇA, Aldemar de. MONOGRAFIA DE PÃO DE AÇÚCAR.

 

[viii] MENDONÇA, Aldemar de. MONOGRAFIA DE PÃO DE AÇÚCAR.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A POESIA DE PÃO DE AÇÚCAR



PÃO DE AÇÚCAR


Marcus Vinícius*


Meu mundo bom

De mandacarus

E Xique-xiques;

Minha distante carícia

Onde o São Francisco

Provoca sempre

Uma mensagem de saudade.


Jaciobá,

De Manoel Rego, a exponência;

De Bráulio Cavalcante, o mártir;

De Nezinho (o Cego), a música.


Jaciobá,

Da poesia romântica

De Vinícius Ligianus;

Da parnasiana de Bem Gum.


Jaciobá,

Das regências dos maestros

Abílio e Nozinho.


Pão de Açúcar,

Vejo o exagero do violão

De Adail Simas;

Vejo acordes tão belos

De Paulo Alves e Zequinha.

O cavaquinho harmonioso

De João de Santa,

Que beleza!

O pandeiro inquieto

De Zé Negão

Naquele rítmo de extasiar;

Saudade infinita

De Agobar Feitosa

(não é bom lembrar...)


Pão de Açúcar

Dos emigrantes

Roberto Alvim,

Eraldo Lacet,

Zé Amaral...

Verdadeiros jaciobenses.

E mais:

As peixadas de Evenus Luz,

Aquele que tem a “estrela”

Sem conhecê-la.


Pão de Açúcar

Dos que saíram:

Zaluar Santana,

Américo Castro,

Darras Nóia,

Manoel Passinha.


Pão de Açúcar

Dos que ficaram:

Luizinho Machado

(a educação personificada)

E João Lisboa

(do Cristo Redentor)

A grandiosa jóia.


Pão de Açúcar,

Meu mundo distante

De Cáctus

E águas santas.

______________

Marcus Vinícius Maciel Mendonça(Ícaro)

(*) Pão de Açúcar(AL), 14.02.1937

(+) Maceió (AL), 07.05.1976

Publicado no livro: Pão de Açúcar, cem anos de poesia.


*****


PÃO DE AÇÚCAR


Dorme, cidade branca, silenciosa e triste.

Dum balcão de janela eu velo o seu dormir.

Nas tuas ermas ruas somente o pó existe,

O pó que o vendaval deixou no chão cair.


Dorme, cidade branca, do céu a lua assiste

O teu profundo sono num divino sorrir.

Só de silêncio e sonhos o teu viver consiste,

Sob um manto de estrelas trêmulas a luzir.


Assim, amortecida, tú guardas teus mistérios.

Teus jardins se parecem com vastos cemitérios

Por onde as brisas passam em brando sussurrar.


Aqui e ali tu tens um alto campanário,

Que dá maior relevo ao pálido cenário

Do teu calmo dormir em noite de luar.

____

Ben Gum, pseudônimo de José Mendes

Guimarães - Zequinha Guimarães.






PUBLICAÇÕES

PUBLICAÇÕES
Pão de Açúcar, Cem Anos de Poesia